Os desafios e soluções da geração Z nas empresas

O conflito de gerações é algo que está longe de ser um assunto novo, mas não é exatamente sobre isso – o conflito de gerações – o nosso bate-papo de hoje e sim o avanço inevitável da Gen Z no mercado de trabalho e os impactos e desafios que isso significará para os seus gestores e as empresas.

Sim, porque as características da geração Z e que muitas vezes levam aos conflitos de gerações, têm sido tema de discussão nas empresas, as quais não estão sabendo como lidar adequadamente com eles e obter os resultados desejados e esperados.

Vamos falar a respeito?

Quem é a Gen Z?

A geração Z – também frequentemente chamada apenas de Gen Z – é constituída pelos nascidos entre os anos de 1996 e 2012.

Vale de destacar que apesar de ser uma generalização e, portanto, implica que existem exceções, os poucos que não se encaixam nos padrões, representam a minoria.

Em linhas gerais, o jovem Gen Z apresenta as seguintes características:

  • Engajados em causas sociais, como o meio ambiente e a sustentabilidade;

  • Valorizam a diversidade;

  • São impacientes em relação a assuntos que não os interessam;

  • Têm facilidade em romper paradigmas e revolucionar;

  • Resistem à hierarquia, aos cumprimento de horários, à burocracia e não gostam de rotina;

  • Têm raciocínio rápido e facilidade para a multitarefa;

  • Apresentam facilidade em lidar com novas tecnologias;

  • Lidam bem com imprevistos e certos tipos de problemas;

  • Priorizam sua saúde e boa remuneração em detrimento de uma carreira sólida e promissora.

A pequena lista de características acima, não define como um todo quem são os jovens da geração z, mas é suficiente para termos uma noção comportamental e de perfil.

Por exemplo, esses jovens costumam se antecipar e simplificar como as coisas são feitas, o que pode ser visto como uma característica extremamente valiosa nas empresas, pois significa agilidade e menos tempo para fazer as coisas. Se preferir, pode ser visto como melhor produtividade e otimização de processos.

Por outro lado, tal característica pode produzir impaciência em um gen Z, quando submetidos a rotinas que envolvem necessariamente algum nível de burocracia, ou processos rígidos de se fazer algo, produzindo no médio prazo, desânimo e desmotivação.

Em outras palavras, uma característica por si só não é absolutamente boa, nem absolutamente ruim, mas depende do contexto.

Qual o “problema” da Geração Z no mercado de trabalho?

Antes de prosseguirmos, é importante novamente fazermos outra ressalva: a Gen Z não é necessariamente um grupo de problemáticos.

Ocorre que há vários estudos e pesquisas recentes, os quais têm apontado que há dificuldade por parte das empresas em lidarem adequadamente com algumas dessas características que listamos anteriormente.

Para alguns, a solução seria contratar mais colaboradores das outras gerações, como os millenials, por exemplo.

No entanto, estima-se que em 2025, os jovens dessa geração representem aproximadamente 25% da força de trabalho global e até 2030, as projeções apontam eles serão 31%. Ou seja, em breve quase um em cada três candidatos a um posto de trabalho, serão da geração Z e a medida que passa o tempo, essa fatia de trabalhadores vai aumentar.

Em algum momento será inevitável empregá-los e, portanto, essa não é a solução.

Também é importante lembrar, que guardadas as devidas proporções e contextos, no passado também foi assim, quando novas gerações ingressaram nas empresas.

Quais os desafios das empresas com a geração Z?

Os desafios que as empresas têm enfrentado, referem-se em sua maioria aos comportamentos e posturas que esses jovens apresentam em boa parte das situações quotidianas e que as soluções que serviam no trato com as anteriores, mostram-se ineficazes.

Além disso, há fatos e questões práticas inéditas e algumas parecem até contraditórias.

Por exemplo, se é sabido que em sua maioria parecem se sair muito bem com as novidades digitais, afinal nasceram e cresceram em um mundo repleto de tecnologia por todos os lados, têm demonstrado absoluta dificuldade com algumas delas presentes nas empresas.

É o caso bastante comum da falta de domínio ou mesmo habilidades básicas no uso de alguma suíte de escritório.

Ao mesmo tempo que parecem dominar tudo o que um smartphone é capaz de fazer, boa parte deles têm dificuldade em usar um software de planilha como o Excel e que é um conhecimento básico e essencial em várias áreas das empresas.

Por contraditório que possa parecer, não é difícil encontrar a explicação.

Se no smartphone eles podem subir de modo rápido e fácil, para 3 ou 4 redes sociais, algumas fotos ou vídeos, o sistema do celular é pensado em facilitar essa e qualquer outra operação semelhante. Bastam 5 minutos para que eles aprendam tudo que é preciso para ser um expert no TikTok. Eles apenas aprendem o procedimento e o repetem inúmeras vezes.

Mas com o Excel ou com o Word – que eles não precisaram usar nunca no seu dia a dia – não é assim que funciona. Não se domina nem um, nem o outro, em 5 minutos, nem em 5 horas e tampouco em 5 dias.

E aí que reside o problema. Lembra que eles não são muito afeitos a nada que exija muita dedicação ou procedimentos mais complexos?

Entenda que dominar tudo sobre redes sociais, não é sinônimo de conhecimento em informática, nem muito menos em tecnologia, que são assuntos muito mais abrangentes.

Se tiverem que fazer o upload de um tipo específico de formato de imagem, diferente daquele que o aplicativo de câmera gravou, eles já devem apresentar alguma dificuldade.

Foi diferente com os millennials – a geração que os precedeu – que aprendeu tudo sobre o que é a Internet e porque que um formato PNG é melhor do que um JPG, ou qual a diferença dos dois primeiros para um GIF, por exemplo.

Aliás, boa parte do avanço da web ocorreu pelas mãos e pelos esforços de vários millennials.

Outro aspecto que parece contraditório, são os problemas que enfrentam na comunicação, o que gera diversas consequências no quotidiano da empresa.

Mas é preciso lembrar que ainda que eles sejam capazes de “conversar” com 10 ou mais pessoas ao mesmo tempo em um aplicativo, é uma conversa amplamente baseada em memes, emogis e imagens, sem preocupação alguma com o português e ainda abusando do “copia e cola” e não nas formas de expressão verbal usada pelas gerações anteriores.

Não peça a um colaborador Z para usar um cliente de e-mail e elaborar e-mails corporativos. A “comunicação” por WhatsApp e Telegram, é muito mais fácil e fluída e não requer o “formalismo chato” das mensagens entre empresas.

Tudo isso é reforçado por muitos profissionais de Recursos Humanos, os quais revelam que há sérias dificuldades de expressão e comunicação já nas primeiras etapas do processo seletivo.

Mas mesmo quando conseguem avançar, terão as mesmas dificuldades em relação aos seus gestores e pares que eventualmente pertençam a outras gerações e isso se caracteriza tanto na redação de e-mails de trabalho, quanto na elaboração de documentos comerciais, como também ao criar um relatório ou na participação em reuniões.

Os recrutadores também destacam outras dificuldades no processo seletivo, como a falta de senso para se vestirem adequadamente, a dificuldade em fazerem contato visual durante uma conversa e até exigências salariais incompatíveis com os cargos que ocuparão.

Quais as dificuldades profissionais da geração Z nas empresas?

Há muitos estudos, pesquisas e entrevistas conduzidas por especialistas em RH, psicólogos e gestores, que contém conclusões diversas sobre a atuação profissional da geração Z nas empresas.

Eis algumas das principais dificuldades que apresentam:

  • Há a tendência de apresentar um comportamento mais arrogante, sendo pouco afeitos à hierarquia e por isso, não se submetem facilmente à gestão;

  • A maioria tem dificuldade em cumprir prazos e horários, bem como os princípios de administração do tempo não são muito eficientes quando aplicados a eles;

  • Não gostam de lidar com a rotina estabelecida, nem com procedimentos burocráticos ou com etapas rígidas que precisem ser cumpridas;

  • A implantação da cultura do feedback costuma falhar com eles, pois não gostam de emitir opiniões. Por outro lado, precisam receber feedback da sua própria atuação, sem o quê, costumam se desmotivar;

  • Cerca de 60% das empresas demitem recém-formados antes de um ano, na maioria dos casos, alegando falta de iniciativa e de comprometimento;

  • Um em cada 5 gestores entrevistados, afirma que os jovens não conseguem lidar com a carga de trabalho esperada e que um millenial já foi acostumado;

  • Quase 90% dos gestores pesquisados ​​afirmaram que os jovens que aderiram após a pandemia estavam pior preparados do que aqueles que aderiram antes de 2020;

  • Caracterizadas pelo pragmatismo e pela busca por equilíbrio entre vida pessoal e profissional, para o jovem Z é essencial um bom clima organizacional e que valorize o seu bem-estar, a inclusão social e a diversidade;

  • Muitos Zs relatam desconforto em trabalhar mesmo quando se trata de outros da mesma geração;

  • Muitos não demonstram interesse em assumir cargos de maior responsabilidade, preferindo acumular experiência e preservar sua saúde mental e trabalhar em empresas que reconheçam seus méritos;

  • Não se empolgam em desenvolver uma carreira e progredir em uma só empresa, tal como foi com os boomers e a geração X;

  • Mostram-se pouco envolvidos e interessados com os objetivos da empresa e só costumam aceitar postos de trabalho em empresas alinhadas com seus ideais pessoais;

  • 75% dos gerentes e supervisores entrevistados, declarou que a geração mais jovem precisa de mais tempo e recursos para apresentar o mesmo desempenho que a geração que a precedeu.

Não fossem desafios suficientes, é preciso lembrar que o momento em que muitos Gen Zs ingressaram no mercado de trabalho, coincidiu com a pandemia, com o isolamento social e o aumento do home office, que acabou “agravando” sua experiência profissional e o convívio em grupo.

Acostumaram-se a modelos de trabalho mais flexíveis e foram privados do convívio social e profissional.

Os seus smartphones – usados desde a tenra idade – se tornaram a porta de acesso ao mundo, graças a tudo o que os mais variados apps permitiram que fizessem, dando a falsa impressão de que eles são experts em tecnologia, a qual não se resume a apenas isso.

A verdade é que o aprendizado em redes sociais e ferramentas associadas, não os habilitou a entender o mundo corporativo, ou mesmo outros círculos para além das redes sociais.

O outro lado dessa mesma moeda, é que a ilusória crença que eles têm de si mesmo, que sabem tudo sobre informática, apenas porque sabem tudo do seu smartphone e dos apps que usam, impede que eles admitam que na esfera profissional eles precisam aprender muito mais.

Por fim, mas não menos importante, os muitos algoritmos da Internet e até como os apps funcionam, acostumaram o usuário a ter tudo de modo cada vez mais rápido e fácil, apenas “recompensando” as horas de atenção diária, que são dedicadas a eles.

Tudo é pensado e projetado para que, com um ou dois toques na tela, o que se quer, seja feito. O Gen Z não precisa cumprir longas sequências de passos de um tutorial para nada daquilo que ele está acostumado a fazer. Nas empresas, isso é bastante comum.

Por que criar uma tabela com fórmulas, dados de entrada e um gráfico correspondente, não pode ser tão simples assim, como compartilhar um conteúdo? Acaba sendo um verdadeiro mistério para muitos deles, que apenas se sentem frustrados e preferem desistir.

Como lidar com a Gen Z na empresa?

O que vimos até aqui, foi suficiente para que a maioria reconheça os desafios que temos que enfrentar, afinal querendo ou não, gostando ou não, eles são uma realidade que não pode ser ignorada.

Eles já são parcela significativa da população economicamente ativa. E tal como a geração anterior, também ocuparão o espaço deixado pelos boomers e X.

Como fazer? Como lidar com eles e integrá-los à realidade das empresas?

Nós já tratamos brevemente e de forma mais geral e não apenas em relação aos Zs, no post “Como lidar com diferentes gerações no mercado de trabalho?”, sobre como tirar o melhor das competências de cada geração.

O primeiro grande passo, necessariamente envolve os seus gestores, os quais precisam praticar mais ainda sua capacidade de se adaptar ao ambiente e suas variáveis e que significa na prática empatia e disposição para administrar pessoas e gerir essa geração e suas características.

Passa também por esses gestores, o papel de liderar para as mudanças necessárias e que envolve muito mais, como por exemplo os seguintes aspectos:

  • Educação corporativa – a promoção da educação corporativa em todos os níveis – do mais básico ao mais avançado – tem se tornado uma necessidade cada vez mais difícil de abdicar, tanto porque a realidade dessa geração exige, como também porque a velocidade na produção de novos conhecimentos requer atualização constante. Mas isso precisa ser feito sob novas abordagens didáticas, porque a sala de aula tradicional não é atraente para eles;

  • Gestão de talentos – esperamos que tenha ficado claro que um legítimo Gen Z, não tenha só características conflitantes com os interesses das empresas. Eles têm talentos também, como todas as demais gerações e cabe aos gestores identificá-los, fazer a gestão desses talentos, para tirar proveito deles;

  • Gamificação – apoiar-se naquilo que eles sabem fazer bem e gostam, é sinal de inteligência. Nesse sentido, sempre que oportuno implantar estratégias envolvendo gamificação, produz resultados melhores e se consegue maior engajamento espontâneo;

  • Clima organizacional – o clima organizacional e os aspectos que direta ou indiretamente estão relacionados, como a qualidade de vida no trabalho, por exemplo, produz desdobramentos positivos não apenas na geração Z, que valoriza as questões associadas, mas em todos os colaboradores;

  • Valores – os valores da empresa precisam estar cada vez mais alinhados com as preocupações que essa geração se importa, mas que o mundo também se importa, como a responsabilidade social, ou a sustentabilidade e meio ambiente e compromisso com a ética. Empresas com pautas ESG, são as mais almejadas por eles;

  • Diversidade – como vimos, entre o que valorizam e gera um ambiente propício e confortável, está a diversidade. Não só por eles, mas porque também é um movimento que tem crescente adesão, a promoção da inclusão social, ou o combate ao etarismo nas empresas, são instrumentos para estimular a diversidade;

  • Comunicação – nada disso pode alcançar os melhores resultados, se os problemas de comunicação nas empresas e suas causas não forem identificados e devidamente tratados. Empatia e saber escutar, é um dos caminhos para melhorar a comunicação;

  • Generalização – conforme mencionamos anteriormente, cuidado com a generalização. Não trate todos como se fossem iguais. Ou seja, há também Boomers e Xs que são intransigentes, preconceituosos, apegados a muitos paradigmas e estereótipos e que não conseguirão usar sua vivência para desenvolver relacionamentos transparentes e diplomáticos com os Zs, especialmente se forem gestores.

Conclusão

Integrar profissionais da geração Z nas empresas, requer conhecer suas características e adotar uma série de medidas para aproveitar suas qualidades.

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