Todo mundo está nas redes sociais. Será mesmo?

Muita coisa é dita e tida como verdade absoluta. O problema é que ao assumirmos como verdade, deixamos de fazer questionamentos importantes. Pior ainda quando tudo o que é feito, tem como base essa pressuposta verdade!

“Todo mundo está nas redes sociais”, é um exemplo dessas verdades inquestionáveis, mas bastante perigosas.

Você deve estar se perguntando: “Ok, mas é daí?”

Para muita gente, ser verdade ou uma quase verdade, ou mesmo uma mentira, pouco importa. Não vai mudar nada em suas vidas, seja a real, ou a virtual.

Mas para quem usa a Internet com qualquer nível de pretensão profissional e/ou comercial, importa muito!

Por que é importante saber quem não está nas redes sociais?

Porque muita gente acredita que todo mundo está nas redes sociais.

Ok, voltamos ao ponto inicial dessa discussão. Mas contenha por enquanto sua possível ansiedade.

Entre as falsas crenças, ou meias verdades, há outra muito difundida, segundo a qual para se ter sucesso no mundo atual, é preciso estar na Internet. De fato as pesquisas, estudos e estatísticas nos fazem crer que é outra verdade indiscutível.

Não vamos entrar no mérito dessa afirmação – sucesso como resultado da presença digital – pois há uma série de motivações e justificativas ocultas e essa não é nossa proposta.

Talvez fosse mais honesto dizer que não construir uma presença digital ampla, aumente o tempo e o caminho para o sucesso, ou ainda que produza resultados inferiores, afinal há algumas marcas e produtos, que alcançam seus objetivos e o sucesso que pretendem, sem uma forte participação na web. Em alguns poucos casos, sem nem mesmo presença digital alguma, mas esses são exceções.

Passa a ser um problema, quando consolidamos essa crença como um paradigma, o qual passa a ser o ponto de partida para tudo o que fazemos.

Você sabia que 1 em cada 4 brasileiros não tem nenhum tipo de acesso à Internet? E que 3 em cada 10, não está presente em NENHUMA rede social?

Sem conhecer mais nenhum dado, já se sabe que não importa o que você faça na Internet, não será por ela que você chegará a aproximadamente 30% da população. Isso já deveria bastar para fazer muita gente repensar algumas supostas verdades.

Então que tal conhecer mais alguns números antes de tirar mais conclusões?

As redes sociais e a Internet no Brasil

Os dados que apresentaremos a seguir, foram colhidos de um relatório conjunto da We Are Social e Hootsuite, por meio da compilação de dados e pesquisas de fontes diversas, como GWI (GlobalWebIndex), Statista, GSMA Intelligence, Semrush, App Annie, Similarweb, Locowise, entre outras fontes tão ou mais fidedignas.

Colhemos informações do relatório global de julho de 2021 e do mesmo período, localizando dados apenas do Brasil.

Os dados completos podem ser acessados nos dois links acima.

  • Mais de 10 milhões de brasileiros com acesso à Internet, não acessa nenhuma rede social;

  • 23% dos usuários de redes sociais entre 16 e 64 anos, seguem perfis de empresas / marcas que elas compram, o que indica que 77% não segue nenhuma;

  • A camada da população entre 16 e 64 anos, representa 68,2% da população brasileira;

  • O alcance da audiência de publicidade do Instagram no Brasil é de 110 milhões de pessoas. Logo há outro contingente semelhante que representa audiência nenhuma;

  • 1 em cada 4 usuários de quaisquer redes sociais, não se interessam por quaisquer produtos divulgados nas redes sociais;

  • Entre as principais razões de muitas pessoas que estão nas redes sociais, é apenas estarem em contato com amigos e familiares (48,6%) e preencher o tempo livre (36,3%). Motivações comerciais aparecem apenas como principal razão, para 27,5% das pessoas, sendo a sexta justificativa no ranking;

  • O conhecimento e a compra de produtos, aparece em 7º lugar, com apenas 26,1% dos motivos para estar em uma rede social;

  • 74% dos brasileiros (1º lugar global!) entre 16 e 64 anos, com acesso à Internet, pesquisam online marcas e produtos antes de fazer uma compra, sendo que 91,4% destes pesquisaram online no último mês;

  • 59% dos usuários de Internet, fazem uso das redes sociais com propósito de trabalho;

  • Apenas 12,4% dos brasileiros se veem representados nas publicidades que lhes são apresentadas;

  • 35% usam alguma ferramenta de bloqueio de publicidade.

Todo mundo, quem?

A partir de 2017 o pesquisador Filipe Techera com coautoria de Luiza Futuro, conduziram o projeto independente conhecido como “Todo mundo, quem?” e que resumidamente apresenta um mapa do Brasil que não está presente nas redes sociais.

Foram conduzidas pesquisas quantitativas e qualitativas, com um público entre 14 e 79 anos, de todas as classes sociais e nas 15 principais regiões metropolitanas, com quase 12 mil pessoas entrevistadas.

Há muitas conclusões decorrentes do estudo, que explicam tanto os que não usam a Internet, por barreiras diversas, como a má distribuição de renda e o analfabetismo. Entre aqueles que mesmo tendo acesso à rede mundial de computadores, não estão presentes em nenhuma rede social, os motivos são os mais diversos:

  • Nativos sociais – diferentemente dos nativos digitais e que são representados por aqueles que já nasceram em um ambiente modificado pela transformação digital, há quem priorize as relações presenciais ou a moda antiga. Mesmo tendo a possibilidade de aderir, preferem o “olho no olho” e tem uma consciência mais crítica quanto ao uso e motivos para se estar nas mídias sociais;

  • Ex-usuários – há ainda quem já esteve em alguma rede social, mas optou por abandoná-las, em função do discurso de ódio, ou pelas fake news, por falta de privacidade, pelo direito de não estar, a fuga do vício (nomofobia e dependência digital), ou outros motivos;

  • Obrigação – há usuários que têm acesso, mas por obrigação, como por trabalho ou por comunicação, no caso do WhatsApp, por exemplo;

  • Os medos – medo de fazer coisas erradas, vazamento de dados, perda de dinheiro e questões relacionadas com a segurança digital;

  • Gerações – diferentes gerações, como e quando tiveram acesso ao ambiente digital e a dificuldade ou a facilidade que elas têm para lidar com as questões digitais, também aparece como fator para participar ou não;

  • Classes – há uma boa distribuição dos que não têm acesso entre as diferentes classes sociais, não sendo esse um fator que determina a presença nas redes;

  • Idade – 39,2% dos entrevistados tinham menos de 45 anos e, portanto, a idade e a pouca familiaridade com a tecnologia, não é fator motivador;

  • Decisores – entre aqueles que não estão nas redes, 48% são os que pagam as contas e tomam as decisões;

Há inclusive um movimento que vem apresentando um crescimento mais acentuado em alguns países, como a Grã Bretanha, chamado de “Log Off” e que essencialmente vai na contramão de estar o tempo todo conectado.

25% daqueles que querem abandonar as redes, justificam sua intenção, pela negatividade nela presente e 35% veem sua autoestima sendo afetada em algum nível, ao participar das redes.

Luiza salienta que a Internet é também as redes sociais e que muitos daqueles que estão “ausentes” ativamente, participam de algumas delas, como o YouTube, mas no papel de consumidores de um conteúdo que tem sua faceta positiva.

Portanto, a questão é quais as redes sociais que nos ajudam e o que fazer para que sejam mais saudáveis.

Conclusões sobre a presença nas redes sociais

É claro que há muitas formas de se interpretar, tanto os dados do relatório elaborado pela We Are Social e Hootsuite, como pela Luiza Futuro e Filipe Techera, no estudo “Todo Mundo, Quem?”.

O nosso propósito aqui, é um alerta para as empresas que estão se dedicando se posicionar exclusivamente nas redes sociais e para as quais, o universo que a Internet representa, acaba sendo muito limitado e impedindo-as de colher outros resultados.

Não é também nossa proposta, demonizar nem o uso, nem a participação nas mídias sociais, ou tampouco questionar seu direcionamento. Ao contrário, é ampliar e aproveitar o caráter plural que a Internet tem e que vai bem além das redes.

É importante ter em mente que os dados podem ser mais ou menos favoráveis em alguns cenários, dependendo do ramo de atuação e do que é feito e como é feito. Não há uma verdade absoluta, mas diferentes verdades para diferentes condições.

Deixar de clientes de lado

A primeira conclusão óbvia de todos os dados a que tivemos acesso, é que ao escolher atuar apenas nas redes sociais, a empresa está deixando de atender muita gente.

Para todos os que não estão em nenhuma rede social, sua empresa é invisível. Quem sabe até para aqueles que estão em alguma, mas não estão naquelas em que a empresa decidiu estar.

E mesmo para a grande maioria que está, é preciso lembrar que muitos estão lá por outras razões. É o mesmo que tentar fazer a coisa certa, mas no lugar ou momento errados.

Relacionamento com clientes

O Marketing de Relacionamento é anterior ao surgimento da Internet. Naturalmente com o seu surgimento e com as redes sociais, vieram novas possibilidades e alternativas.

No entanto, abandonar os métodos do passado e abrir mão de outros tipos de site, próprios e não dependentes de uma rede social. É abrir mão de relacionar-se com um contingente importante de clientes constituídos.

Ao tornar exclusiva sua presença digital nas mídias sociais, sua empresa e sua marca estabelecerá relacionamento nenhum com uma parcela de clientes que não pode ser desprezada. Não custa lembrar, que só no Brasil, dos que têm acesso à Internet, são mais de 10 milhões de pessoas!

Conquista de novos clientes

Se o objetivo da sua empresa é conquistar novos clientes, vários dados demonstram que a tarefa não é tão simples assim, se sua única opção são as redes sociais.

Tanto porque as cinco principais motivações das pessoas, não incluem conhecer marcas e produtos nela presentes, como porque a eficiência da publicidade é baixa, o engajamento relativo às marcas e produtos é pífio, a rejeição à publicidade é elevada e porque a grande maioria prefere pesquisar nos sites de busca quando querem comprar algo, do que nas redes.

E isso – pesquisa para conhecer e comprar – tem uma outra consequência direta – a busca orgânica.

Busca orgânica

A busca orgânica refere-se aos resultados exibidos nas páginas de resultados dos motores de busca (SERPs) e que contém os resultados que não resultados de publicidade.

Existem links que levam para as redes sociais. Sim, existem. Mas eles não são a maioria.

A verdade é que o trabalho de SEO, seja visando o Google, ou o Microsoft Bing, ou qualquer outro, trás melhores resultados para sites quaisquer, do que para as mídias sociais, exceto quando falamos de vídeos, em que o destaque é o YouTube e que por coincidência ou não, é também do mais popular motor de busca da Internet.

A busca local é outro aspecto de SEO que é comprometido quando se opta apenas por estar presente nas mídias sociais.

Associado a eficiência do SEO, ainda há o Marketing de Conteúdo e Inbound Marketing.

Marketing de Conteúdo e Inbound Marketing

Produzir conteúdo para redes sociais, é quase um trabalho de enxugar gelo. Isso porque diferentemente de um blog, ou um site de conteúdo, o consumo de conteúdo é imediato e muito dependente do momento.

Quantos conteúdos produzidos há um ano ou mesmo no mês passado, recebem curtidas, comentários ou compartilhamentos. Qual engajamento um conteúdo antigo produz?

Se não viralizam, os conteúdos nas redes sociais são efêmeros.

Já os sites baseados em conteúdo, têm um poder de atração (Inbound Marketing) maior e por mais tempo, especialmente quando contém conteúdo evergreen. Soma-se a isso, tanto ao melhor resultado que produzem aplicando-se técnicas de SEO, como pelo fato dos internautas preferirem os motores de busca quando pretendem fazer uma compra.

Concentração e dependência

Outra grave consequência de resumir sua presença digital apenas às mídias sociais, é a concentração e dependência.

Em 2021, já em duas ocasiões que Facebook, Instagram e WhatsApp ficaram fora do ar. Na última, foram várias horas de indisponibilidade nos serviços, o que trouxe um grande impacto especialmente para as pequenas empresas que concentraram suas operações comerciais em alguma das três.

Mesmo quando operaram regularmente, depender das limitações e políticas de terceiros, é limitar o que pode ser feito, bem como não ter garantias futuras, uma vez que se cria uma dependência perigosa de uma empresa que tem seus próprios interesses.

Limitar a concorrência

Quando se fica limitado ao que oferece uma mídia social, você deixa de competir em um campo muito mais vasto e que é determinado por outros tipos de sites que a concorrência pode eventualmente ter e que vão prevalecer nos resultados das buscas orgânicas.

Quanto mais opções os seus concorrentes tiverem, tanto mais chances eles terão de aparecer para seu público e consequentemente, mais chances seu público terá de ir a um concorrente.

Conclusão

Assumir como verdade que todo mundo está nas redes sociais, para definir o tamanho da sua presença digital, é perigoso e pode comprometer seus resultados.

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