O que é o nômade digital, vantagens e como se tornar um?
Por paradoxal que possa parecer, o mundo moderno fez ressurgir uma atividade e um comportamento ancestral quase extinto, porém com peculiaridades alinhadas com os novos tempos. Estamos falando do nômade digital.
Ainda não é comum encontrar ou ouvir de alguém que se declare como um nômade digital, mas o termo vem ganhando lugar em vários nichos de mercado e em algumas áreas deve se tornar popular mais rapidamente, do que em outras.
Se você é um dos muitos que ainda não tem o entendimento de tudo o que envolve o nomadismo digital, após ler o que preparamos para você, talvez até queira se tornar um.
O que é um nômade digital?
Costuma-se designar o nômade digital, como sendo aquele que não tem residência fixa e geralmente também, não possui um vínculo empregatício convencional com uma empresa e faz uso dos meios digitais para realizar o seu trabalho e garantir sua subsistência.
Para compreender melhor a definição acima, é essencial pensarmos nos significados das palavras associadas.
A primeira palavra do nosso termo, não é tão comum nos dias de hoje e talvez por isso exista dificuldade para muitas pessoas compreenderem o que é. Possivelmente a última vez que muitos de nós ouvimos sobre nômades, foi em alguma aula de História.
Então vamos voltar um pouquinho no tempo?
É possível arriscar sem muito medo de errar, que você tenha conhecido sobre esse comportamento, quando teve aulas de História antiga, já que atualmente há pouquíssimos povos nômades e esse era um comportamento – o nomadismo – mais comum quando a caça e coleta de alimentos e a criação de animais para subsistência, ainda eram as atividades predominantes.
E sim, a palavra nômade não se refere a uma atividade profissional, mas ao comportamento da pessoa que não fixa moradia e trabalho em um só lugar, mas em vez disso, migra em busca de condições mais favoráveis ou do seu interesse.
Na antiguidade, esse comportamento ocorria quando a caça e os alimentos na região em que habitava, tornavam-se escassos ou quando havia necessidade de novas pastagens para o gado que era criado pelo nômade.
Outro fator que também motivava o nomadismo, era o climático, forçando o homem a se mudar com a chegada das estações do ano, durante as quais houvesse impactos mais severos sobre o seu modo de vida, como o frio extremo, por exemplo.
Com o tempo e o desenvolvimento da agricultura por parte do homem, as populações nômades se habituaram a fixar moradia em um local, abandonando assim o comportamento migratório ou errante que antes as caracterizavam. Era preciso aguardar o resultado do trabalho de plantio, que não podia simplesmente ser abandonado.
Já o termo digital, é o que se refere ao trabalho e está associado a utilização de meios digitais para a atividade profissional.
Entende-se geralmente como meios digitais, aqueles relacionados às tecnologias digitais, como por exemplo, computadores e smartphones e todo dispositivo eletrônico que se conecte à Internet ou a determinadas redes ou meios digitais de comunicação.
O termo é novo, mas a atividade nômade, não
É certo que hoje as novas tecnologia e as atividades profissionais que surgiram em virtude dessas mesmas tecnologias, bem como dos novos mercados, com suas também novas exigências e características, favoreceram o aumento de atividades profissionais com características nômades, como veremos mais adiante, mas historicamente temos alguns profissionais que já desenvolvem um comportamento nômade há muito tempo e por exigências da profissão.
A atividade diplomática e consular, existe há séculos e tem como uma das suas características a migração. Diplomatas e cônsules têm por hábito viver por alguns anos em algum país e após um breve período, são transferidos para outros países, de acordo com os interesses e políticas de cada governo local e ao qual representam.
Jornalistas, mais notadamente os correspondentes internacionais de jornais e emissoras de televisão, habitualmente vivem por algum tempo em um país, até que o órgão de imprensa para o qual trabalham os realocam em outros países, para realizar a cobertura de algum evento, seja um conflito, seja uma olimpíada, seja uma catástrofe natural, ou fatos relevantes que mereçam uma cobertura presencial.
Representantes comerciais, engenheiros, artistas circenses, profissionais diversos que prestam serviços a instituições e organizações de atuação global como Cruz Vermelha Internacional ou WWF, são exemplos de pessoas que levam uma vida nômade em decorrência do que fazem profissionalmente.
Um médico da Cruz Vermelha, pode passar anos viajando entre países, sem retornar para seu país natal.
Porém nenhum dos exemplos mencionados, são nômades digitais, porque para sê-lo, a atividade deve ser primordialmente executada usando meios digitais.
Aqueles que residem temporariamente em diferentes localidades, mas realizam seu trabalho presencialmente, são apenas e em certa medida, profissionais nômades.
Quais os tipos de trabalho mais adequados ao nômade digital?
Há atividades profissionais com características que favorecem o nomadismo digital.
Por princípio, imagina-se que tudo que não exige a presença física, que permite atuar profissionalmente usando um meio digital, é propício para atuação como nômade digital.
Muitas atividades, em muitas empresas, já poderiam ocorrer em regime de home office e que é um fator que contribui para o nomadismo digital, mas que não ocorrem por diversos motivos, como a dificuldade em superar paradigmas de como podem ser a rotinas de trabalho no século XXI ou que só veem no trabalho presencial a possibilidade de controle dos colaboradores. Mas isso é assunto de outro bate-papo.
Existem inúmeras atividades profissionais tradicionais que podem ser desempenhadas remotamente, como o já citado trabalho de jornalista, o fotógrafo de eventos, o professor, o consultor de muitas áreas, além de outras, graças ao crescente desenvolvimento de tecnologias como realidade virtual, realidade aumentada, metaverso e várias outras associadas à Internet, como os Webinars, por exemplo.
Sim, porque graças à rede mundial de computadores, mudam os limites do possível, o fator presencial e a significação das barreiras geográficas.
E há também as novas atividades que surgiram nos últimos anos e em particular as que vieram com o imenso avanço da Web, como o web designer e a criação de sites, o profissional de conteúdo digital para diferentes mídias, consultores de Marketing digital, o influenciador digital, só para citar as que estão em maior evidência.
Na verdade, não há como elaborar uma lista finita e precisa, pois desempenhar o papel de um nômade digital depende apenas de poder efetuar um trabalho remotamente a partir de qualquer localidade, desde que haja conectividade.
Assim, o antigo dono de uma loja física, agora dá lugar ao dono de um e-commerce, ou vários outros empreendedores digitais e que são potenciais nômades digitais.
Resumindo, desde que você disponha de tecnologia e condições adequadas para efetuar seu trabalho, como um espaço de coworking e se conectar com quem lhe paga pelos serviços feitos, Nova Iorque, Tóquio ou em uma cidade qualquer do interior do Brasil, não serão obstáculo para se tornar um nômade digital.
Vantagens e desvantagens do trabalho como nômade digital
Da maneira que apresentamos e pelas possibilidades cogitadas até agora, para a maioria, o trabalho feito dessa forma, pode parecer ótimo, não é mesmo? Imaginar que você pode fazer uma videoconferência sobre um novo projeto em um hotel em Dubai e entregá-lo antes de embarcar em um iate na Costa Amalfitana, pode parecer romântico e quase cinematográfico, mas na realidade, como tudo na vida, há prós e contras.
A primeira coisa que é preciso ter em mente, é ser realista e dedicar atenção a aspectos que quaisquer modelos de trabalho exigem. Em alguns casos, até mais.
As vantagens da atuação como nômade digital
Há vantagens e benefícios que podem ser bastante sedutores, mas é um trabalho como outro qualquer. O retorno obtido dependerá muito dos resultados que entregar e de quem é você profissionalmente.
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Flexibilidade – a flexibilidade que se adquire ao não ter que desempenhar uma atividade com dias e horários fixos. O profissional pode atuar de acordo com suas preferências e disponibilidade, desde que cumpra os prazos estipulados para entregar os seus trabalhos, projetos ou jobs, como também costumam ser chamados;
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Qualidade de vida – a qualidade de vida no trabalho tende a ser maior, tanto pela flexibilidade, como pelo fato de que geralmente o nômade está onde quer estar, mais tempo com a sua família, com os amigos, com o companheiro, ter mais disponibilidade para hobbies, viagens, lazer, etc;
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Desempenho – melhor desempenho profissional e saúde mental, por ser mais dono do seu tempo e até decidir quais projetos assume e quais abandona, além das consequências diretas dos benefícios anteriores, bem como de condições ambientais mais favoráveis, como o conhecimento de novas culturas, pessoas e experiências de vida. Não fosse suficiente, a ausência de rotina – um privilégio nos dias de hoje – é outro fator importante, pois rotina não gera monotonia, cansaço e até perda da motivação;
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Independência – o nômade digital tem independência na condução da sua vida e em alguns casos, também independência financeira, quando consegue fazer com que a flexibilidade conquistada, permita-lhe se desenvolver profissionalmente e se tornar um profissional mais valorizado perante o mercado;
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Realização – alguns nômades se realizam, seja porque conseguem atuar na área que desejam, seja porque são independentes, seja porque são competentes na sua subsistência, seja porque têm uma boa qualidade de vida. Em outras palavras, quanto mais benefícios conseguem ter, mais realizados tendem a ser.
As desvantagens da atuação como nômade digital
Como já adiantamos, nem tudo são flores, ou se preferir, há sempre o outro lado da moeda.
Por exemplo, a confiança e liberdade que lhe dão, deve vir acompanhada de pontualidade e responsabilidades. Mas antes mesmo, para a conquista da confiança dos seus clientes – quem lhe dá trabalho, é seu cliente – requer um longo caminho.
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Paradigmas – citamos anteriormente que o paradigma que prevalece em muitas empresas, é do trabalho presencial, o que faz com que até mesmo o home office encontre resistência. Pior ainda o trabalho de um nômade, que pode ser visto de forma desconfiada por alguns;
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Contingência – por não dispor dos recursos e infraestrutura de uma empresa, o nômade precisa ter um plano de contingência para quando as coisas não funcionarem como se espera;
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Segurança financeira – se por alguma razão não consegue oportunizar sua condição, não dispõe da segurança e previsibilidade que os empregos convencionais podem lhe prover, como dias de licença por doença, décimo terceiro e férias remuneradas. Ao contrário do que muitos pensam, nômades digitais não estão “sempre de férias”. Quem não trabalha, não tem como pagar as contas do mês. Além disso, até se estabelecer, é preciso ter uma reserva financeira e para eventuais instabilidades;
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Família – o nomadismo em si – dependendo do que as pessoas envolvidas mais valorizam – pode ser bastante desgastante, principalmente quando se constitui um núcleo familiar – marido, mulher e filhos. Se todos o acompanham, há a necessidade de adaptação de todos às novidades constantes. Se a família permanece fixa e apenas o nômade mantém-se errante, o distanciamento físico pode abalar os laços e relações familiares. Por essa razão, em termos práticos é mais comum encontrar pessoas solteiras atuando assim;
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Relacionamentos – se por um lado há a oportunidade de conhecer mais pessoas, os relacionamentos sociais costumam ser mais superficiais e menos duradouros. O caráter migratório constante, que impede de criar vínculos mais profundos, é determinante para afastar algumas pessoas desse tipo de atividade, já que parecerá que se está eternamente se despedindo das pessoas, toda vez que parte para uma nova cidade;
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Adaptação – mudanças constantes também exigem elevada capacidade de se adaptar às condições locais. Nem sempre haverá a melhor infraestrutura, o melhor ambiente de trabalho e algumas vezes, pode ser até menos do que o mínimo necessário para o desempenho;
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Insegurança pessoal – o cenário de instabilidade e incertezas que pode ocorrer ocasionalmente, gera muito desconforto e insegurança em algumas pessoas. É preciso trabalhar muito para ser reconhecido e, mesmo depois que já estiver bem estabelecido no seu mercado, ainda podem ocorrer épocas de rendimentos menores. O planejamento é essencial para lidar com essas situações;
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Legislação local – especialmente em outros países, podem haver dificuldades para trabalhar. Por exemplo, no Brasil, a Resolução Normativa nº 45, de 9 de Setembro 2021 é destinada aos nômades digitais, sem vínculo empregatício no país, estabelecendo as regras trabalhistas e tributárias e as questões socioeconômicas relacionadas, como evitar a concorrência do imigrante com a mão de obra do país.
Vale ressaltar, que o nômade digital não é assim classificado apenas pelo trabalho remoto em viagem fora do seu país, mas todos que atuam dentro do próprio país, mas que adotam essa filosofia de vida.
Naturalmente nem tudo pode ser classificado exclusivamente como ponto positivo ou negativo. Há pessoas para as quais esse caráter de mudança constante, pode ser desafiador e incompatível com sua personalidade. Para outras, pode ser justamente o que as atrai.
Características pessoais e profissionais de um nômade digital
Não se trata de pré-requisitos fundamentais, mas há características que se presentes na pessoa e no profissional, podem contribuir favoravelmente ao seu sucesso atuando como nômade digital.
Há muitos pontos que aproximam o nômade digital da atuação dos freelancers e muitas vezes um nômade é também um freelancer, embora a recíproca não seja verdadeira, se este tem residência fixa.
Assim, se você vê que tem condições e gostaria de atuar como freelancer, já é um bom ponto de partida de que pode atuar como nômade digital.
Mais objetivamente, é adequado que o nômade digital tenha as seguintes características:
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Disciplina e responsabilidade – a disciplina, assim como a responsabilidade, são características de muito peso para quem pretende atuar nessa atividade. Não cumprir dias e horários em um escritório físico da empresa, sob a supervisão e os olhos de um gestor, exige do profissional que trabalha de forma independente, que saiba muito bem o que e quando deve ser feito;
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Autonomia – diferentemente da independência como condição, é preciso saber ter autonomia para realizar o trabalho, já que nessa forma de trabalho, não há a colaboração e participação de outras pessoas, da mesma forma que se dá quando se compartilha o ambiente profissional;
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Adaptabilidade – estar sempre recomeçando a cada mudança, exigirá do nômade capacidade de adaptação ao novo, velocidade para reagir aos imprevistos, flexibilidade e versatilidade, mas acima de tudo, constante evolução. Tudo isso é colocado a prova toda vez que desembarcar em uma nova cidade, mundo afora;
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Resiliência – resiliência e paciência, são duas características essenciais, já que o tempo necessário para colher os resultados, pode ser razoável;
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Organização – ser organizado, seja por meio de como administra seu tempo, seja como estabelece e acompanha suas metas pessoais e profissionais e, sobretudo, como cria e atualiza seu planejamento para cada lugar onde se estabelece;
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Autodesenvolvimento – tanto pelas maiores exigências profissionais que normalmente recaem sobre o profissional, como para se manter atualizado com tudo do que depende sua atuação, é preciso investir no autodesenvolvimento permanente.
Certamente não é o modelo de vida de pessoas com perfis mais conservadores e que presam pela segurança, estabilidade e previsibilidade.
Ser nômade é precisar de renovação, de constantes desafios, novos ares, pessoas, ideias e comportamentos.
Pode ser assustador ou fascinante, dependendo de quem você é!
Conclusão
O nômade digital é a pessoa que tem o mundo como residência e se beneficia da transformação digital e das suas competências, para realizar o seu trabalho.