O que é um robô de Internet? Tudo o que você deve saber
Muito do conceito do que é um robô, foi formado graças à indústria do cinema. Quase tão famosos quanto os protagonistas, quem não se lembra do C3PO e do R2D2 da franquia Star Wars? Há também o Sonny, o suspeito de um crime no filme “Eu, robô”, ou bem antes disso, em 1965, o B9 no seriado de TV “Perdidos no Espaço”, são alguns exemplos de robôs ilustres.
Embora existam pontos em comum com esse tipo de robô, o que é foco do nosso encontro hoje, são os robôs de Internet.
Você sabe que são os robôs de Internet? O que eles fazem? Como eles podem afetar nossas vidas e até mesmo os destinos de um país?
Se a resposta para alguma dessas perguntas, é não, chegou a hora de saber mais a respeito.
O que são robôs de Internet?
Os robôs de Internet, também conhecidos simplesmente como bots, são sistemas informáticos, podendo ser mais simples ou mais sofisticados, que automatizam determinadas rotinas e ações, mas também são capazes de aprender com as informações que coletam e a partir desse aprendizado, terem algum grau de autonomia no trabalho que realizam.
Dessa possível definição, podemos tirar várias conclusões:
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Área de atuação – diferente dos robôs que citamos na introdução, sua atuação é restrita à Internet;
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Aparência – também em relação aos exemplos que demos, os robôs de Internet não são humanoides, ou seja, não têm aparência que lembra ou se assemelha a um ser humano. Na verdade, geralmente não têm aparência alguma, já que basicamente são sistemas / softwares, ainda que em muitos casos sejam bem mais do que um “simples programa” de computador;
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Propósito – seu propósito ou objetivo, pode ser automatização de tarefas, trabalhos repetitivos ou substituição de trabalhos originalmente destinados aos humanos e até interação com as pessoas;
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Capacidade – frequentemente podem aprender a partir das informações que têm acesso e com isso, ter algum grau de decisão diante de diversas alternativas.
Na prática, um robô de Internet substitui com algumas vantagens, uma – ou várias – pessoa e o que ela poderia fazer na variedade de situações possíveis na Web.
Hoje eles estão presentes em inúmeras situações e é até improvável que alguém nunca tenha ao menos ouvido falar neles, ainda que não se saiba exatamente o que são e como identificá-los.
Independentemente disso, eles existem há muito tempo e não é exagero afirmar que parte significativa do que temos hoje, é resultado da sua atuação.
Desde que as primeiras ferramentas de busca foram criadas, eles passaram a existir.
Naquela época, poderiam receber muitas diferentes e denominações, como spiders (aranhas), spiderbots, spider crawlers, apenas crawlers ou apenas robots.
Diferentes nomes para designar a mesma coisa: um programa de computador que tinha por propósito principal, varrer / acessar diferentes sites e suas respectivas páginas na Web (teia em inglês), para então criar um índice (indexação) do conteúdo existente nesses sites.
Graças a esse trabalho – que hoje evoluiu, sofisticou-se, mas em essência ainda segue o mesmo princípio – que os mecanismos de busca do passado e até hoje com o Google e o Bing, você pesquisa alguma coisa e tem literalmente vários milhares de resultados.
Os robôs – ou simplesmente bots como popularmente também são conhecidos – evoluíram e hoje são capazes de muito mais coisas do que simplesmente alimentar os gigantescos bancos de dados dos buscadores.
Graças ao aprimoramento e disponibilidade de várias tecnologias, como Inteligência Artificial, Machine Learning, Deep Learning, Cloud Computing e Big Data, os bots de Internet hoje são capazes de atuar de modo quase humano, ou pelo menos, com resultados que tornam difícil identificar quando estamos interagindo com uma pessoa ou um programa de computador.
Alguns exemplos de robôs de Internet
Em termos práticos, tem sido bastante comum e fácil encontrarmos sites que fazem uso de robôs de Internet, especialmente aqueles em que há algum tipo de venda. Estamos falando dos populares chatbots e que nada mais são do que bots que atuam em uma ferramenta de chat de atendimento.
Seu propósito é prestar um atendimento preliminar e ativo, caracterizado pela abertura de uma interface ou janela de chat, como se um atendente da empresa estivesse se colocando a disposição para esclarecer possíveis dúvidas, exatamente como faz o vendedor que lhe aborda ao entrar em uma loja física.
A partir da interação do visitante, o chatbot normalmente é capaz de responder às dúvidas mais comuns.
Os chatbots também estão presentes nas redes sociais, como é o caso do Facebook, onde o robô atua sobre a plataforma do Messenger. Em alguns casos, o nível de sofisticação é elevado e fica mesmo difícil desconfiar que você não está conversando com uma pessoa e sim um programa de computador.
Nos casos extremos, em que há uma elevada convergência de tecnologias, os bots acabam sendo “promovidos” a uma designação mais ampla e podem assumir o papel de assistentes virtuais inteligentes e atuam predominantemente no esclarecimento de dúvidas e em diversas situações de suporte.
Geralmente são sistemas grandes baseados em um data center, usando servidores altamente potentes e especializados, capazes de oferecer uma experiência de atendimento aos clientes, quase humana, como é o caso da BIA (Bradesco Inteligência Artificial).
Mas certamente que entre os mais populares robôs da Internet da atualidade, estão o ChatGPT por trás do novo Bing e o Google Gemini. Sim, essas IAs – ou Inteligências Artificiais, se preferir – são exemplos de robôs em sua expressão máxima.
Mas os bots não exigem montanhas de dinheiro de investimento em infraestrutura e programação , como nos casos mencionados acima.
A popularização do cloud computing e o advento do Low Code e No Code, tornou possível criar um robô para os mais diversos usos, com investimento acessível e com pouco e até nenhum conhecimento em programação. Obviamente que nesses casos, não se tem as mesmas capacidades, mas também nem sempre é exigido que tenha.
Como funcionam os bots da Internet?
O funcionamento pode variar em função do investimento e consequentemente da infraestrutura por trás da aplicação.
Pode ser algo simples e acessível financeiramente, como muitos chatbots presentes nos mais diversos sites que visitamos diariamente e que as vezes têm como papel apenas iniciar um atendimento com um cliente em potencial, o qual é posteriormente assumido por uma pessoal real, ou até soluções complexas e caras como a já citada BIA.
O que a maioria tem em comum, é um banco de dados e programação e nos casos mais avançados, tecnologias para reconhecimento vocal e modelos de linguagem natural. Tudo isso, visa reconhecer padrões e palavras-chave e, então, conseguir interpretar a intenção do humano com quem o robô está interagindo.
A programação também deve prever um conjunto de possibilidades de respostas que são dadas de acordo com cada caso.
O programa associado ao bot, é constantemente alimentado com informações e se por exemplo, o visitante de um site chega até a página de produtos da empresa e clica sobre um item específico, o bot pode ser programado para apresentar detalhes do produto, formas de parcelamento e pagamento ou qualquer outro tipo de ação que o Marketing da empresa ache conveniente.
Já um bot de uma ferramenta de busca, como é o caso do Googlebot, é capaz de “enxergar” centenas de fatores de ranqueamento em cada site acessado, para então determinar seu posicionamento nas páginas de resultados orgânicos do Google para cada palavra-chave pesquisada.
Nas redes sociais, os bots podem reagir de acordo com eventos específicos, como por exemplo, likes / curtidas, de acordo com a ocorrência de hashtags ou um conjunto de palavras-chave, também desencadeando ações como postagens, ou mesmo criando tuítes ou retuítes, que é o caso do Twitter e dessa forma podem interferir decisivamente nas tendências que um assunto pode ter.
Em muitas situações um bot pode nem se parecer ou ter um comportamento de um bot.
Ele pode estar associado a uma conta – ou muitas – falsa ou perfil fake, com nome, foto e até dados de uma pessoal real.
Mais do que isso, geralmente é programado para realizar publicações como as que fazemos, “dizendo” que vai à academia, ou ao trabalho, seguindo outras pessoas e sendo seguido por algumas, as quais podem eventualmente serem outros bots. Tudo com o objetivo de simular os comportamentos de uma pessoa real.
E isso recai em uma discussão e preocupações que vêm ganhando importância e espaço, quanto às consequências e desdobramentos sociais, econômicos e até mesmo éticos.
Os bots do “bem”
São chamados de robôs ou bots do bem, porque seu principal propósito é prestar algum nível de suporte, auxiliar os internautas no que for preciso, orientar e tirar dúvidas, como fazem os assistentes virtuais inteligentes.
Alguns dos casos mais comuns, já foram apresentados e tem como representantes, os bots que são programados para fornecer qualquer tipo de ajuda, como por exemplo, os chatbots de vários sites de e-commerce.
Alguns sites desse segmento, têm robôs funcionando capazes de realizar atendimentos bastante completos e responder a uma grande variedade de perguntas que os clientes fazem.
Quando eventualmente algum atendimento não pode ser 100% conduzido pelo sistema, um atendente humano assume, mas geralmente a situação inédita ou que o sistema não foi capaz de lidar, é utilizada para treinamento, por meio de Machine Learning, de forma que na eventualidade da situação se repetir, o sistema já seja capaz de atuar de modo autônomo.
Os bots do “bem”, não são representados apenas pelos chatbots.
Se por exemplo, você recorre a uma ferramenta na Internet para pesquisar preços de produtos, passagens, hotéis e praticamente qualquer coisa que queira comprar, é bastante provável que exista um robô que coletou, organizou e avaliou os dados de inúmeros sites, para lhe apresentar sob a forma de um comparativo, de maneira que você possa realizar uma escolha adequada.
E se algum dia você já ouviu falar em algoritmos das redes sociais, saiba que eles nada mais são do que bots também.
Apesar das controvérsias em torno desses algoritmos e que fazem com que aqueles que os condenam, classificá-los como “bots do mal”, o seu objetivo é apresentar aos usuários conteúdos que eles possam se interessar, de acordo com seu comportamento, como os conteúdos que mais tempo foi dedicado, os que mais geraram curtidas e comentários, os compartilhamentos feitos e outras possíveis interações.
Novos contatos, sugestões de amizades e todo tipo de relações que são apresentadas nas redes sociais, só são possíveis porque existem bots avaliando suas características e interesses e cruzando com dados relevantes e outros perfis similares aos seus.
O que os críticos disso mais condenam, é o fato de que tudo isso tem como principal motivação, reter o usuário pelo maior tempo possível dentro do serviço.
Atualmente a publicidade online, é essencialmente baseada nos bots, que nada mais são do que algoritmos que podem ter maior ou menor participação de rotinas de Inteligência Artificial, para apresentar produtos e serviços alinhados com suas preferências e de acordo com sua navegação, informação essa que é registrada por meio de cookies.
Resumindo, boa parte das rotinas de automação de ações baseadas nas pegadas digitais que você deixa enquanto navega na Internet, é usada pelos bots para lhe mostrar novos caminhos, no que clicar, no que ver e por quanto tempo ver.
Os bots do “mal”
Assim como é no mundo real, na Internet há também o outro lado da mesma moeda.
A mesma tecnologia que permite reunir informação para fornecer serviços que beneficiam os usuários, pode ser usada para fins não tão nobres. Ou seja, da mesma forma que há uma série de utilizações benéficas, há utilizações maliciosas e que são exploradas a tanto tempo quanto existem os bots.
Atualmente há empresas que atuam fornecendo ferramentas para, senão erradicar, pelo menos diminuir os impactos que os bots maliciosos podem infringir às pessoas e às corporações.
Dados diversos dessas empresas, mostram que há bots maliciosos atuando nas mais diferentes áreas da Web.
É o caso do web scraping, por exemplo, que tem por objetivo colher o máximo possível de dados dos mais variados, para usos também diversos, geralmente com finalidades questionáveis ou ilícitas.
Fazendo também uso de “bots do mal”, não é raro aqueles destinados a coleta de dados de identidade, quando você realiza um cadastro, por exemplo, ou dados de acessos a diferentes serviços, endereços de e-mail para envios de SPAM, roubo / sequestro de contas em redes sociais, entre uma série de outras ações.
Algumas das ações mais conhecidas, podem afetar drasticamente um grande número de usuários, como por exemplo, os ataques distribuídos de negação de serviço, conhecidos como ataques DDoS e que se baseiam em uma rede de máquinas zumbis e que por sua vez são computadores e servidores infectados com malwares, permitindo ao invasor sobrecarregar de acessos e requisições uma determinada página — ou serviço de Internet — de tal forma que esse site acabe saindo do ar por ser incapaz de suportar a demanda.
Outro tipo de ação que vem ganhando espaço nos últimos anos e que tem mostrado o seu poder, são os bots associados às redes sociais, com objetivo de interferir no discurso público e político.
Nas últimas eleições nos Estados Unidos, ficou evidente sua utilização, onde estima-se que mais da metade dos seguidores de Donald Trump, eram bots!
Até aí, nenhum problema.
O problema reside no fato do “comportamento” que os bots assumem de acordo com certos acontecimentos, como por exemplo, ataques aos opositores de Trump, quando de alguma manifestação contrária a ele era feita.
Devido ao imenso volume de hashtags produzidas em situações assim, por vezes o assunto principal era ofuscado pela ofensiva feita pelos bots. A disseminação de fake news, é outro comportamento geralmente presente nesse tipo de situação.
No Brasil não tem sido diferente e há diversos estudos e pesquisas, que mostram uma massiva participação de bots nas redes sociais, atuando de forma a contaminar o discurso público e político e que vem tendo participação intensa desde as eleições de 2014.
Ainda não é possível afirmar o quanto isso representa na determinação dos resultados de uma eleição, no entanto, é claro que há interferência e se vale do que se chama de “comportamento de manada” e que consiste de provocar uma reação motivada pelo que a maioria faz.
Sendo assim, aqueles que não tem convicções a respeito de determinados temas, estão mais suscetíveis ou inclinados a agir conforme os passos da maioria, que muitas vezes é constituída de um número elevado de bots. Ou seja, não é um comportamento orgânico ou natural, mas manipulado.
O professor Philip Howard, do Instituto Oxford de Internet, considera que a manipulação da opinião pública, usando as redes sociais, representa um sério risco à democracia.
Os dados de um relatório que constam no site da Universidade de Oxford, são preocupantes, na medida de que mostram o crescimento e a influência que tais práticas têm sobre o eleitorado, podendo mesmo ser decisivos em prol daqueles que melhor se utilizarem de tais “ferramentas”.
Sendo assim, é nítido que os interesses financeiros, políticos e de poder e, porque não dizer da confluência dos três, tem se utilizado do conjunto de tecnologias que envolvem os robôs de Internet, para assegurar seu status quo e seus interesses.
As próprias redes sociais, que é o ambiente onde tem se constatado uma atuação maciça dos bots maliciosos, têm adotado medidas no sentido de tentar coibir práticas que ofereçam risco à segurança, como por exemplo, bloqueio das contas que são identificadas como falsas e/ou relacionadas a bots.
Todavia, a capacidade dos sistemas que usam em proveito próprio os bots, tem se revelado superior às ações das redes sociais nas quais os robôs estão mais presentes e tão logo alguns milhões de contas são bloqueadas, novas surgem e tomam lugar das anteriores.
Conclusão
Robôs de Internet são cada vez mais numerosos e presentes nas mais diversas situações da rede, podendo tanto ser muito úteis, ou muito prejudiciais.