Navegação anônima ou privada é segura? Funciona?

Não é por falta de razões que a preocupação com segurança e privacidade na Internet tem crescido e uma das práticas que muitos usuários têm adotado nesse sentido, é usar o modo de navegação anônima ou privada que os browsers mais populares oferecem.

Mas de fato esse recurso melhora a segurança e protege a privacidade dos usuários durante o seu acesso aos sites visitados? Quando usar a navegação anônima? Que dados a navegação anônima oculta?

Essas são algumas das dúvidas mais comuns e que pretendemos responder com esse artigo, bem como derrubar alguns mitos e confirmar algumas verdades sobre esse importante recurso.

O que é modo de navegação anônima ou privada?

Navegação anônima ou privada, é um recurso presente em todos os navegadores de internet mais populares e que impede que as informações relativas ao histórico de navegação sejam mantidos no dispositivo ao fim da navegação.

Quando acessamos qualquer site na Internet pelo modo convencional, ou seja, abrimos o navegador de nossa preferência e digitamos o endereço de um site ou clicamos no link de um resultado de uma pesquisa em um buscador qualquer, o carregamento da página acessada implica no armazenamento de uma série de dados:

  • A URL (endereço da página) da página;

  • Arquivos que compõem a página e que consistem do arquivo HTML relativo a ela, bem como imagens, eventuais outros arquivos contidos no HTML, como arquivos de áudio e vídeo, por exemplo;

  • Cookies e dados do site;

  • Informações preenchidos em formulários;

  • Arquivos de downloads;

  • Permissões e personalizações feitas nos sites.

Entre outras razões, isso permite que a cada acesso refeito, conteúdos anteriormente acessados, não tenham que ser novamente baixados, dados de acesso – usuário e senha – tenham que ser novamente fornecidos, bem como preferências – como a personalização de um serviço – tenha que ser novamente feita.

Sob essa perspectiva, os dados salvos facilitam a navegação, especialmente em situações recorrentes de acessos.

Por outro lado e principalmente devidos aos cookies, os sites visitados e as pesquisas feitas no Google, no Microsoft Bing ou outro site de busca qualquer, acabam por coletar informações valiosas sobre o comportamento ou hábitos de navegação dos usuários.

Além dessa coleta de dados por parte dos sites e que envolve a política de privacidade do site, esse histórico dos sites acessados, fica disponível a qualquer pessoa que tiver acesso ao dispositivo (notebook, desktop, smartphone, etc) em que a navegação ocorreu, desde que o histórico não seja limpo ao fim dos acessos.

Isso é indiferente do sistema operacional usado e do dispositivo.

Ao fazer uso da navegação anônima ou privada, ao encerrar o navegador, quase todas essas informações são removidas.

No Google Chrome, ele é chamado de modo anônimo. No Microsoft Edge, baseado no Chromium, chama-se modo InPrivate. Nos navegadores Firefox, Opera e Safari, é navegação privada.

No entanto, existem algumas importantes sutilezas, as quais passam desapercebidas especialmente por parte dos mais leigos no assunto e independente do navegador que se utilize.

A primeira delas, é que os dados continuam sendo gravados em um cache diferente do que é usado na navegação dita “normal”, mas com o encerramento do browser, esse cache é limpo.

Cache do navegador, é uma pasta criada na memória de armazenamento do dispositivo, de acesso exclusivo do navegador e que é onde são mantidos os cookies, os HTMLs e demais arquivos relativos a cada página acessada. Cada navegador tem seu próprio cache.

Porém se por exemplo, durante a navegação ocorrer um encerramento anormal do navegador, os dados não são removidos e posteriormente podem ser acessados.

Outra peculiaridade, é que todo arquivo de download, é mantido na pasta em que foi salvo.

A terceira e mais importante, é que de fato e sob certas circunstâncias, você não está realmente anônimo perante todo o mundo e nem tem total privacidade, como alguns erroneamente imaginam.

Modo anônimo ou privado realmente garante privacidade?

Não, o modo anônimo ou privado da maior parte dos navegadores não garante a privacidade perante muitos sites acessados.

É importante relembrar a “definição” do que é esse modo na maior parte dos navegadores que o oferecem - “...impede que as informações relativas ao histórico de navegação sejam mantidos no dispositivo ao fim da navegação

Ou seja, outras pessoas que acessarem o dispositivo em que a navegação ocorreu, não verão que sites foram acessados fazendo uso de guias ou abas anônimas ou privadas.

Mas os sites que foram acessados, ainda terão no mínimo o endereço IP de quem efetuou o acesso.

Em muitos casos, mais do que simplesmente o IP. Tanto porque há mais mecanismos de rastreamento do que apenas os cookies, mas também porque em diferentes situações, você precisa se identificar, como no caso das redes sociais e que constam entre os maiores coletores e utilizadores de rastreamento, com a finalidade de obter retorno financeiro usando dados a seu respeito.

Ou você acha que as redes sociais são gratuitas?

Mas o suposto anonimato durante a navegação, não se resume a isso.

Se o acesso ocorre em uma rede corporativa ou educacional, os respectivos administradores dessas redes, têm meios de saber tudo o que foi acessado, de forma detalhada e documentada.

Assim, usar a funcionalidade não vai ocultar o acesso a uma rede social por meio do desktop do trabalho ou da faculdade, ou qualquer outro acesso não recomendável de ser feito nesses ambientes.

E se você achava que seus passos na World Wide Web só poderiam ser revelados nessas situações, saiba que não.

O seu ISP (provedor de acesso à Internet) também sabe detalhadamente cada site acessado, um eventual proxy também registra tais informações, um serviço de DNS diferente do ofertado pelo seu ISP e até uma VPN, mantém registros dos acessos feitos e se necessário, podem identificá-lo.

A diferença, é que no caso da VPN, o site acessado só “saberá” quem é você, se você tiver que se autenticar por meio de usuário e senha. E nesse caso, o máximo que você só conseguirá, é “enganá-lo” para que ele não saiba seu real endereço IP.

Portanto, mesmo no modo privado, as informações que você fornece direta ou indiretamente, como as pesquisas na busca interna do site, os links que são clicados, somados com outras tecnologias de rastreamento, ainda podem ser monitoradas e gravadas pelos sites visitados.

É mais seguro usar o modo anônimo ou privado do navegador?

Depende, mas em linhas gerais resolve pouco. Privacidade e segurança não são sinônimos, embora dentro de alguns cenários a preocupação com privacidade pode melhorar a segurança.

Nesse ponto, você deve estar se perguntando, como a privacidade pode afetar a segurança?

Se eventualmente os cookies de rastreamento forem utilizados para conhecer hábitos de navegação e assim direcionar ações de phishing, por exemplo, ao bloqueá-los diminuem as chances desse tipo de golpe virtual.

Porém a gama de possibilidades de fraudes e golpes no mundo digital, é bastante ampla e requer uma série de cuidados que não se restringem a cuidados com navegação em modo anônimo ou privado via navegador.

O cuidado com uso e adoção das senhas, avaliação de anexos recebidos, prudência no acesso a determinados sites, o controle parental, uso de ferramentas locais como firewall e programas antimalwares / antivírus, informação sobre segurança digital, continuam sendo algumas medidas para tornar o mundo digital mais seguro, fazendo ou não uso de navegação anônima.

Modo anônimo ou privado do navegador não serve de nada?

É importante não esquecer que o anonimato ou a privacidade, é parcialmente conseguida e limita-se ao dispositivo em que os acessos são feitos.

Sendo assim, se você pesquisou um presente para dar a sua mãe, seja no seu aniversário ou no dia das mães, usando para tanto o desktop da família e não quer limpar o histórico e que ela descubra, esse recurso funciona muito bem.

Ou se por acaso você utilizou um computador em uma lanhouse e não quer que o usuário seguinte saiba o que você acessou, funciona bem.

Eventualmente também, se você pesquisa por alguma coisa no Google ou no Bing e não quer que depois anúncios referentes aos produtos / serviços fiquem pipocando na área de publicidade dos sites acessados, pode servir.

Resumidamente, toda situação em que um dispositivo pode ser acessado por outros usuários e que não se deseja que uma URL acessada seja autocompletada ou uma olhada no histórico revele o que você andou fazendo na web, ou simplesmente você não quer ter sua navegação inundada por publicidade que você absolutamente não se interessa, pode ser uma alternativa eficiente.

Como ter privacidade?

Mas se você é daqueles internautas para os quais privacidade é realmente importante, existem sim opções.

Nesse caso, vai ser necessário romper com alguns paradigmas e sair do lugar comum.

Você deve estar se perguntando, como?

A começar por utilizar alternativas aos principais e mais populares navegadores. O navegador Brave entre algumas características que o diferenciam, tem a privacidade do usuário como destaque. Por padrão, cookies e até mesmo alguns scripts que eventualmente possam ameaçar a privacidade, são bloqueados.

Ao lado direito do campo de endereço, um ícone exibe o número de bloqueios realizados para cada site acessado, o que pode ser mudado, permitindo-se a gravação dos cookies quando for o caso.

Mas quando se opta por um acesso anônimo, ele de fato acontece e para tanto, além do comportamento padrão dos demais browsers, ele faz uso da rede TOR e, portanto, similar ao modo de navegação usando o TOR Browser.

Sim, o TOR é aquele navegador bastante usado para surfar na Deep Web. Mas não se assuste, pois tanto o navegador, como a rede que ele usa para garantir privacidade, são absolutamente seguros, independente do que se diga a respeito da web profunda.

De forma simplificada, a rede TOR usada pelo browser de mesmo nome, permite o acesso a qualquer site fazendo por meio de nós ou pontos de uma rede com pulos aleatórios e criptografia entre cada ponto ou nó dessa rede, de tal forma que a cada acesso feito os IPs de acesso não são os seus, mas do último nó antes da efetivação do acesso e qualquer tentativa de rastreamento, acaba sendo ineficaz.

Outro fator de fortalecimento da privacidade que o Brave utiliza, é usar como sugestão para site de busca alternativo ao Google, o DuckDuckGo.

O DuckDuckGo não grava seu endereço IP, não registra histórico de cliques e nem grava cookies, diferentemente do que fazem os demais sites de busca.

Porém é importante ressaltar que ao usar uma alternativa como a navegação privada do Brave, a velocidade de acesso aos sites é reduzida, devido ao maior caminho que os dados devem percorrer por cada nó e pela etapas de criptografia cumpridas entre cada salto.

Outro aspecto, é que sites que usam o endereço IP para personalizações, de idioma por exemplo, a cada acesso feito podem apresentar um diferente idioma, sendo necessário usar uma extensão de tradução caso seja um idioma que você não fale.

Também é importante ressaltar também que alguns sites / serviços, podem não funcionar adequadamente dependendo do recurso de rastreamento que tiver sido bloqueado e nesses casos, é preciso usar o modo convencional.

Por fim, mas não menos importante, todo e qualquer serviço que exige sua autenticação e que é o preenchimento de usuário e senha, como seu e-mail gratuito do Hotmail ou Gmail, as suas redes sociais, ou outro que requeira tal procedimento, saberá que você está acessando e incluirá o acesso ao histórico próprio do sistema e continuará exibindo publicidade com base nos dados que já possuem a seu respeito.

Conclusão

Ao contrário do que o nome sugere, o modo de navegação anônimo ou privado oferece privacidade restrita a alguns poucos cenários e conhecer como isso funciona, evita que se tenha uma falsa sensação de segurança quanto à sua identidade perante a navegação na Internet.

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