O que é Deep Web e Dark Web? É inseguro acessá-las?
Provavelmente você já tenha alguma vez ouvido falar na Deep Web e na Dark Web e sobre os muitos perigos e atividades suspeitas ou ilegais que ocorrem por lá, certo?
De fato, algumas das informações associadas, procedem. Outras, nem tanto.
Se você quer saber mais o que são, como funcionam e a verdade a respeito, acompanhe esse post até o fim.
Entendendo a Web
Entender o que é a Deep Web, passa por fazermos um retornou ao passado da Internet.
Quando a rede mundial de computadores nasceu em 1969 e que nem mesmo era chamada de Internet, mas de ARPAnet (ARPA: Advanced Research Projects Agency), ela apenas interligava laboratórios de pesquisa e umas poucas universidades nos EUA e em alguns outros países, as quais se conectavam a essa rede com motivação de pesquisa acadêmica.
Originalmente, a ARPAnet tinha exclusivo objetivo estratégico e militarista, mas a medida que ela cresceu e evoluiu, logo assumiu outros papéis e seu caráter comercial ficou evidente.
Naquela época, nem mesmo havia algum navegador web, lembrando que o primeiro só seria criado em 1990, por Tim Berners-Lee e que atualmente é considerado o pai da World Wide Web.
Não havia também Google e nenhum outro site de busca, como também o conceito de nomes de domínio personalizados para acessar os sites. Os acessos se davam por meio da comunicação direta do responsável por algum tipo de conteúdo, informando para os interessados em acessá-los, os respectivos endereços IPs.
Portanto e de acordo com nossa definição inicial, em seus primórdios, a Internet era toda Deep Web.
Foi só na década de 90, a partir do surgimento de serviços que se propuseram a criar diretórios que continham listas de links de sites eventualmente úteis ou interessantes, que os poucos internautas eram capazes de acessar os sites do passado.
Inclusive, esses primeiros sites, nem eram buscadores típicos. Alguém – geralmente o dono do site – precisava reportar e incluir os links se desejasse que seu site fosse indexado e tivesse visibilidade.
O Google e outros buscadores, que passaram a usar crawlers / spiders (robôs de Internet), só começaram a surgir e se popularizar, em meados da década de 90!
Ou seja, a medida que qualquer tipo de site pudesse ser facilmente encontrado, ainda que não fosse, que se começou uma distinção.
Atualmente a Web corresponde a uma quantidade incalculável de conteúdos diversos, sendo que esse montante pode ser dividido em Surface Web, Deep Web e Dark Web, onde cada parte tem diferentes proporções em relação ao todo.
O que é Surface Web?
Surface Web ou Web de Superfície, nada mais é do que todo tipo de conteúdo que é indexável e, portanto, acessível por parte de qualquer internauta.
Costuma-se recorrer à analogia com um iceberg, cuja parte visível, corresponde a minoria da sua totalidade e que é a Web de Superfície.
Por complemento, você já deve imaginar que a Deep e a Dark Web, são a parte submersa e correspondem à maioria do bloco, certo?
A Surface Web, é composta pela maioria – não tudo – do que acessamos diariamente, como os sites institucionais das empresas, as redes sociais, os sites de e-commerce, os portais de notícias e o que você conseguir se lembrar.
Ou seja, conforme mencionamos, é a parte não submersa e visível do iceberg, tanto por parte dos buscadores, quanto pelos visitantes.
Há quem diga que essa parte representa cerca de 5% do que realmente existe de informação espalhada em redes de servidores ao redor do mundo, mas não há como fazer uma estimativa razoavelmente confiável, afinal não há como ter números precisos do que não se vê, do que não se tem acesso.
O que é Deep Web (Web Profunda)?
Genericamente, a Deep Web – às vezes também chamada de Web Profunda – corresponde à parte da Web que não é indexada pelos sites de busca e tampouco é acessível por parte de qualquer pessoa.
Esse tipo de explicação, pode não ser muito esclarecedora, especialmente para aqueles que não sabiam que nem tudo que está online, pode ser encontrado pelos sites de busca e acessível a qualquer um.
Aliás, parte importante do que acessamos, pertence a Deep Web!
Sim, é bastante provável que você acesse a Web profunda diariamente, se acessa um sistema online da empresa, como um CRM por exemplo, afinal o conteúdo não é acessível para indexação por parte do Google, do Bing ou de outro site de busca. Tampouco é acessível por usuários que não tenham os dados de autenticação.
A lista de outros conteúdos nas mesmas condições e que por isso, pertencem à Deep Web, também incluem:
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Dados de contas bancárias;
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Dados relacionados a serviços públicos (SUS, INSS, Receita Federal, etc);
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Mensagens de e-mail;
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Bancos de dados de empresas privadas.
Ou seja, contrariamente ao que alguns afirmam, a Deep Web não é uma espécie de submundo da Internet e não necessariamente tudo que há nela, é conteúdo suspeito, ilegal e potencialmente perigoso.
As páginas de promoção do seu serviço de e-mail gratuito, fazem parte da Surface Web, mas o acesso à conta e às mensagens, que geralmente dispõem de um robusto sistema de segurança, correspondem à Deep Web, assim como seu disco virtual na nuvem, ou serviços pagos de streaming de áudio e vídeo.
Mas além dos serviços privados de acesso restrito, há também uma infinidade de sites que lá estão e que por razões diversas, não se tem intenção que estejam acessíveis a todos e não é porque precisam ficar ocultos, que consequentemente são maliciosos ou ilegais.
O que é Dark Web (Web Escura)?
A Dark Web é parte da Deep Web, na medida que seu conteúdo também não é indexável e acessível por qualquer pessoa, mas vai além já que o acesso depende de ferramentas e conhecimentos mais específicos.
Diz-se que a Dark Web é a parte do iceberg que se encontra em águas ainda mais profundas e por essa razão, ela é mais escura e seu conteúdo não é facilmente alcançável.
Não por outra razão, deep e dark, significam em inglês, profundo e escuro, respectivamente.
Se na Web profunda bastam os mesmos protocolos de Internet que estamos acostumados para acessar e navegar, na Dark há outros adicionais.
Para efetuar o acesso a esses sites, não basta saber o endereço – geralmente usando uma extensão de domínio .onion –, porque nesse caso, a estrutura da rede têm particularidades que a diferenciam da parte da rede composta pelos sites da Web pública.
São todos sites cuja comunicação com o navegador é feita de modo criptografado e ainda contam com um sistema de camadas de segurança que impedem o rastreamento dos visitantes, ou seja, garantem o seu anonimato.
A navegação nesses sites, é feita por navegadores destinados a esse fim, como o Tor, o I2P e o Freenet, sendo o mais popular deles, o Tor browser.
Mas se não bastasse as diversas camadas de segurança, criptografia e outros artifícios, há ainda outros desafios, como endereços que são alterados constantemente ao longo do tempo, para tornar a sua localização ainda mais difícil.
Não fosse suficiente, os endereços funcionam de modo oposto as URLs amigáveis, assumindo uma aparência tal como: http://6nhmgdpnyoljh5uzr5kwlatx2u3diou4ldeommfxjz3wkhalzgjqxzqd.onion
Devido ao alto grau de dificuldade de se localizar e ver conteúdo nessa camada, que se convencionou chamá-la de Dark Web, ou Web Escura ou da escuridão.
Tudo isso faz com que a privacidade e o anonimato sejam máximos, constituindo um cenário perfeito publicar conteúdo que se tenha intenção de ocultar, incluindo o que é ilegal e impossibilitando de rastrear as pessoas que o acessam.
Mas se por um lado o conjunto de tecnologias presentes é propício para o cometimento de crimes de diferentes naturezas e geralmente o conteúdo seja inapropriado e malicioso, não necessariamente 100% dele é nocivo e ilegal.
A Web escura é também o lugar de ativistas, cientistas e todos que de alguma forma precisam de um ambiente privado e sem algum controle na Internet, como censura. Foi o caso da “primavera árabe”, em que foram divulgadas imagens das tentativas de repressão por parte de governos.
Como funciona a Dark Web?
Se você não sabe como funciona a Internet, em navegadores que a maioria de nós utiliza diariamente no smartphone ou no notebook, ao digitar o domínio no campo de endereço, ocorre um processo de resolução desse endereço digitado ou do nome de domínio, através de um sistema conhecido como DNS.
Já no navegador Tor, ao informar um endereço que deseja acessar, o fluxo dos dados ocorre de maneira diferente, por meio de diferentes camadas, as quais são responsáveis por instituir um maior grau de segurança e não permitir a rastreabilidade do usuário.
O próprio acrônimo Tor, significa The Onion Router ou “o roteador de cebola” e assim como o vegetal, constitui um modelo de diferentes camadas de segurança. Esse modelo foi originalmente desenvolvido em meados dos anos noventa pelo US Naval Research Laboratory.
Ele funciona devolvendo o tráfego de dados por meio de uma série de servidores ou retransmissores. Em cada retransmissão e que corresponde a uma “camada da cebola”, o endereço IP é alterado para diminuir a possibilidade de localização e rastrear a identidade do internauta.
Um exemplo do funcionamento desse modelo de segurança, é que a navegação por meio do Tor, impede que sites com publicidade baseada nos acessos anteriores que você fez, exibam anúncios correspondentes.
Isso porque as muitas camadas de segurança bloqueiam e impedem que os servidores e sistemas tenham acesso e armazenem dados que permitam identificá-lo.
Assim, entre as várias possíveis razões para usar o Tor, temos jornalistas que escrevem sobre assuntos polêmicos, ativistas políticos, cientistas que precisam compartilhar dados de pesquisas críticas e muitos outros que se preocupam com sua privacidade e anonimato no mundo digital.
A Deep Web é insegura?
Essa é uma das perguntas mais feitas sobre quem já ouviu algo sobre a Deep Web.
A resposta correta, é: depende!
O primeiro ponto é compreender que há todo tipo de conteúdo na Deep Web.
Há sites e conteúdos bons, assim como na Internet pública e requerer algum grau de anonimato não é condição única e suficiente para classificar seus conteúdos como negativos, ou potencialmente prejudiciais, ou ainda ilegais.
O segundo ponto, é que a segurança digital na Internet que está aparente, pode ser tão ou mais violada do que na Web profunda. Aliás, uma parcela importante dos golpes online e dos crimes digitais, ocorrem na Web de superfície, quando por exemplo, um site é invadido e um site falso / fraudulento é publicado.
Aliás, é também na porção visível da Internet, que diariamente a sua privacidade é violada e a segurança dos seus dados é exposta.
Portanto, a Deep Web não é insegura por conceito ou definição.
A Dark Web é insegura?
Tal como na pergunta anterior, a Dark Web não é insegura por natureza.
Ao contrário, se pensarmos na sua estrutura, ela oferece até mais mecanismos de segurança, na medida que não é tão simples a um suposto cracker (hacker do mal) obter seus dados pessoais. Vendo por esse lado, ela é até mais segura que a Web pública.
Ao garantir privacidade, anonimato e camadas de segurança que não estão presentes nos sites da Internet “visível”, ela é inerentemente mais segura.
No entanto, a insegurança vem do acesso inadvertido a determinados sites, do download e instalação de conteúdos nocivos infectados com malwares e outras negligências em aspectos de segurança que são fundamentais para qualquer internauta, já que a exposição a conteúdos maliciosos é significativamente maior.
Tal como ocorre na Web que a maioria acessa, é importante lembrar que a informação e o conhecimento do que se está fazendo, é o ponto mais importante quando o assunto é a segurança. Em outras palavras, não é recomendado sair acessando sites da Deep Web, sem ciência do que se está fazendo e dos possíveis riscos, bem como usando os meios adequados.
Mas mesmo havendo questões de segurança e insegurança, o que deve ficar evidente, é que da mesma forma como ocorre na vida real, toda questão que envolve sigilo extremo, pode estar associada a questões perigosas e ilegalidades.
Conclusão
Desmistificar e ter informação ampla e correta sobre a Deep e a Dark Web, é o primeiro passo para desfrutar das possibilidades do universo digital.