O que é ética e qual a sua importância nas empresas?

Os mais diversos resultados que uma empresa apresenta – ou deveria apresentar – passam quase que invariavelmente por pessoas. E pessoas se comportam de acordo com um conjunto de princípios e valores, os quais podem mudar individualmente ou coletivamente.

Mas para que não existam dúvidas e, sobretudo, a fim de que os interesses pessoais e individuais não se sobreponham ao senso e ao bem comum ou coletivo, que o que é determinado consensualmente ou majoritariamente como certo, prevaleça sobre o que é errado e até que o bem prevaleça sobre o mal, que é importante que a conduta das pessoas seja sempre baseada em ética.

Você sabe exatamente o que é ética? Qual a sua importância? Qual o seu papel nas empresas e em outras esferas?

O que é ética?

Bem resumidamente, podemos dizer que ética é o conjunto princípios, de regras, de normas, que é responsável por orientar o comportamento de uma pessoa – mas também das empresas – nas relações interpessoais e nas mais diversas situações do seu quotidiano e em cada ato ou decisão que requer um posicionamento.

Ao longo de nossas vidas somos bombardeados com centenas, às vezes milhares de definições de muitas coisas. Boa parte delas esquecemos ou não temos total compreensão. Com o termo ética, não é diferente.

Sendo assim, mais do que definir o que é ética, é importante compreender e ter muito claro em nossas mentes o sentido que há por trás da palavra.

A ética nos diz o que é correto fazer e o que não é. O que é de bom tom e o que não é. O que é honesto fazer e o que não é. Se podemos dizer ou fazer algo ou não.

É aquele embate que existe dentro das nossas mentes, quando nos deparamos com uma situação polêmica, um dilema ou mesmo algo mais corriqueiro, mas que nos traz dúvidas: O que fazer? Como fazer? E até, por que fazer?

Em uma primeira análise, pode parecer simples, afinal desde crianças somos ensinados sobre o que é o certo e o que é o errado, diante de uma variedade de situações e que acabam por constituir os hábitos, os costumes.

Mas nem sempre isso é suficiente para definir e ter o completo entendimento do que é ética.

De modo geral, os hábitos, os costumes que um grupo, uma sociedade, ou em termos mais amplos, até uma nação consolidam, é o que se chama de moral e não necessariamente, é ética.

Qual a diferença entre ética e moral?

É razoavelmente comum nos depararmos com circunstâncias nas quais moral e ética constem como sinônimos.

Algumas poucas vezes, até podemos assumir que sim. Mas sendo rigorosos, não são sinônimos.

Quer um exemplo?

Sabe-se que em alguns países a mulher é considerada inferior ao homem. De acordo com o que se ensina nesses países, o tratamento de submissão dado às mulheres nas mais diversas situações, é moralmente aceito. E é até tido como imoral qualquer comportamento contrário aos costumes estabelecidos.

Em outros tempos, mesmo nas sociedades nas quais hoje, mulher e homem são iguais em direitos e obrigações, nem sempre foi assim. Em tempos remotos, qualquer atitude que significasse rompimento com os hábitos constituídos pela presunção de superioridade masculina, poderia ser uma afronta à moral.

Portanto, em termos mais amplos, as respostas, as crenças sobre as questões mais diversas, variam com o tempo, com o ambiente, ou visto de outra forma, a moralidade humana precisa ser analisada sob contextos históricos e sociais. As sociedades mudam e também mudam os homens que as compõem e de carona, a moral também.

Sob o prisma da ética, todo ser humano, sem distinção, merece tratamento digno de modo a respeitar a igualdade, sem discriminações em relação a sexo, etnia, crenças ou qualquer outro aspecto ou valor.

Em termos práticos e por exemplo, a garantia do direito de livre expressão não pode se sobrepor a garantia do direito de igualdade.

Ou seja, ainda que alguém acredite ser superior a qualquer outra pessoa, por quaisquer características (etnia, gênero, crença, etc), ao exercer o direito de manifestar esse pensamento, estará ferindo o direito da igualdade e, portanto, estará sendo antiético. E se não fosse bastante, também imoral segundo os novos costumes da maioria das sociedades contemporâneas.

Logo, a ética consiste de uma importante ferramenta para o bom convívio entre as pessoas e para o bom funcionamento das relações e das instituições sociais. O seu objetivo, é tornar a convivência social pacífica e justa, seja nos comportamentos coletivos, seja nos individuais.

O que é um código de ética?

Em termos práticos é um documento, que pode e deve ser consultado por cada pessoa dentro de uma organização.

Mais ainda, deve também estar ao alcance dos clientes, dos parceiros e de qualquer um que tenha algum nível de relacionamento com a empresa.

Nele estão contidos os objetivos da empresa, os papéis dos envolvidos (colaboradores, pares e gestores) e naturalmente o conjunto de regras de conduta que balizam o comportamento de cada um que o código atinge, definindo claramente o que é aceitável e o que é inaceitável dentro da organização.

Ele deve ainda conter informações sobre as possíveis sanções aplicáveis ao não cumprimento de quaisquer princípios, bem como os canais de contato para comunicação de violações, assim como de sugestões de melhorias e adendos.

Qual a importância da ética nas empresas?

Já deve estar claro a importância da ética na sociedade, como também nas empresas, mas presumir isso, é perigoso. É preciso nos certificarmos que os porquês das coisas, são sabidos por todos.

É vital que se tenha ciência dos objetivos ou a finalidade de um código de ética, que consiste de um documento no qual são estabelecidos como a empresa – e todos aqueles que dela fazem parte – oficialmente se posiciona diante dos mais variados cenários.

Ao estabelecer tais objetivos, fica mais evidente a sua importância.

O primeiro ponto de importância, é que TODOS dentro de uma empresa devam saber que há um código de ética e o conheçam suficientemente bem. Se a sua empresa ainda não tem um, é momento de considerar seriamente a criação de um.

Ao produzir e instituir um código de ética, ele passa a ser uma referência formal e institucional que orienta a conduta pessoal e profissional de todas as pessoas que integram a empresa, independentemente do cargo que ocupam, de forma a orientar o comportamento e o relacionamento entre clientes internos e externos.

Mais do que isso, uma empresa nunca é uma ilha. Há diversas esferas de relacionamento e por isso, vários públicos de interesse, os quais precisam ser considerados:

  • Clientes constituídos e mercado consumidor em geral (clientes externos);

  • Colaboradores, pares e gestores;

  • As empresas concorrentes;

  • Parceiros comerciais;

  • A cadeia de fornecedores;

  • Prestadores de serviços;

  • Governos em todas as esferas – municipal, estadual e federal

Como essenciais atores da sociedade da qual fazem parte, ao deixarem clara e sabida sua postura e atuação por intermédio de um código de ética acessível, as empresas também promovem outros benefícios:

  • Ao criar, implantar e fazer saber sobre o código de ética, viabiliza um comportamento pautado em valores compartilhados por todos, por serem justos e pertinentes, bem como no respeito e cumprimento do ordenamento jurídico (Constituição Federal, Leis Complementares, Leis Ordinárias, etc);

  • Reduz-se também a subjetividade das interpretações que cada pessoa pode ter das situações;

  • Contribui para que a ética seja aplicada em todos os públicos de interesses com os quais há relacionamentos, não importando o seu nível. Assim, promover, multiplicar, praticar e cobrar comportamento ético de fornecedores, parceiros, concorrentes, clientes e órgãos governamentais em todas as suas esferas;

  • Estabelece uma relação de confiança e respeito de clientes, mas também nas demais esferas de relacionamento;

  • Contribui para o fortalecimento da cultura organizacional, alinhando os comportamentos dos colaboradores com os valores e a missão da empresa;

  • Promove a transparência e padroniza os procedimentos internos, garantindo que todos os colaboradores sigam as mesmas diretrizes e princípios, especialmente nas situações mais controvertidas;

  • Ao estabelecer normas claras de conduta, o código de ética ajuda a reduzir fraudes e práticas corruptas dentro da empresa, bem como garantir que a empresa seja administrada de forma transparente e responsável, a chamada governança corporativa;

  • Frequentemente um código de ética pode contemplar também o papel e a postura da empresa perante a sociedade (responsabilidade social) da qual ela faz parte, promovendo a inclusão social, por exemplo, bem como internamente, ou em relação aos seus colaboradores em todos os níveis (responsabilidade social corporativa), ao combater o etarismo e ao promover a diversidade e igualdade de gênero, por exemplo;

  • Outro aspecto que tem ganho cada vez mais atenção e importância, é o comportamento responsável em relação ao meio ambiente, a adoção de práticas produtivas sustentáveis, o adequado tratamento e descarte de e-lixo, o uso de matérias-primas, entre outros vários aspectos;

  • Ao instituir os três fatores anteriores (governança corporativa, responsabilidade social e preocupação ambiental), ela dá um importante passo na adoção de uma pauta ou agenda ESG;

  • Por fim, mas não menos importante, produzir uma melhor imagem da empresa perante todos os seus públicos de interesse, mais do que um desejável objetivo, é uma consequência de uma postura ampla e verdadeiramente pautada em ética.

Como produzir um código de ética?

Há diferentes tipos de negócios, formas de atuação, tamanhos e características que diferenciam as empresas, seus públicos e como se relacionam mutuamente, o que impede que exista uma fórmula ou receita de produção única para todos

No entanto, há também muitos aspectos que as aproximam, mas acima de tudo, há valores que são universais e, portanto, que devem existir em qualquer código de ética criado e estabelecido.

Podem haver várias palavras que compõem cada um, mas os conceitos e ideias, serão sempre os mesmos:

  • Honestidade;

  • Respeito ao próximo;

  • Dignidade do indivíduo;

  • Respeito aos direitos;

  • Decoro da função;

  • Garantia da segurança (clientes internos e externos, parceiros e fornecedores);

  • Transparência e responsabilidade na atuação dos colaboradores em todos os níveis;

  • Justiça social;

  • Direitos e deveres fundamentais (ordenamento jurídico);

  • Diversidade;

  • Igualdade;

  • Liberdade de pensamento e expressão;

  • Humanidade;

  • Responsabilidade social;

  • Responsabilidade ambiental.

A despeito desse conjunto de princípios fundamentais – e outros não menos importantes – e valiosos para a condição humana, deve-se ter em mente que um código de ética não é estático, ou seja, uma vez criado, o trabalho não está concluído.

Ao contrário, ele deve estar em constante evolução, sendo incluídas todas as situações eventualmente não imaginadas em sua elaboração inicial e que podem / devem surgir da atuação no mercado em que atua, como por exemplo, no atendimento aos clientes.

Devem participar desse processo de construção e aprimoramento do código de ética, representantes de todas as áreas da empresa.

A ética e a presença digital

O momento em que vivemos é de pura e intensa participação dos mais variados segmentos de negócios, de empresas de todos os portes, comercializando produtos e/ou serviços nos meios digitais, mais notadamente na Internet.

A transformação digital e a necessidade de manter a competitividade e até mesmo de sobrevivência de praticamente qualquer tipo de negócio, faz com que raríssimas empresas não tenham marcada presença digital, por meio de sites institucionais, e-commerces, fóruns, blogs, redes sociais, ou o que se conseguir imaginar.

Qualquer que seja o meio escolhido, é a representação da empresa digitalmente.

Por essa razão, não há como dissociar ou separar a atuação digital do que é feito presencialmente pelas pessoas que atuam nas empresas em que um código de ética esteja presente.

Como exemplo, toda vez que uma informação ou notícia incorreta consta (fake news) de um site ou mesmo de um e-mail enviado ou retransmitido, para todos os efeitos, faltou ética. Mesmo que informação não tenha sido originalmente na empresa, mas se de alguma forma serviu como forma de sua propagação, há responsabilidade envolvida e faltou compromisso ético.

Mas não para por aí. A preocupação com a garantia da ética, deve estar presente em questões como:

  • Se a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) e o Marco Civil da Internet, não forem plenamente cumpridos em todos os seus tópicos e princípios, além de uma infração legal, também estará faltando ética;

  • A ética deve estar presente na produção de conteúdo original e autêntico, presente em qualquer tipo de site que se crie e mantenha. Cresce sem parar conteúdo criado por inteligência artificial, como se fosse conteúdo autoral, o que é desonesto com quem o consome;

  • A menção – quando necessária – a um ou mais concorrentes, deve ser respeitosa e nunca colocar em dúvida quaisquer aspectos que possam lhe trazer algum prejuízo financeiro ou a sua imagem e ao fazê-lo, estar faltando com a ética;

  • As informações contidas nos meios digitais, devem ser fidedignas e não podem produzir qualquer nível de prejuízo moral, financeiro ou de qualquer ordem a quem dela usufruir;

  • Não garantir que qualquer pessoa que estabeleça contato por canais digitais com a empresa, tem assegurados os mesmos princípios e valores das relações presenciais (honestidade, respeito ao próximo, dignidade do indivíduo, decoro da função, etc), está se faltando com a ética;

  • Prover transparência quanto ao que é feito e dito, usando quaisquer canais online, é comportar-se eticamente;

Os tópicos acima, da mesma forma que os conceitos e ideias fundamentais que devem nortear qualquer código de ética por mais básico que seja, são os mais elementares que devem existir em qualquer presença digital de uma empresa.

Da mesma forma, a experiência, o quotidiano e todos os participantes (colaboradores, pares e gestores) devem ser parte ativa na construção e constante melhoria de uma presença ética nos meio digitais.

Sobretudo, pela falta de uma legislação específica e que contemple todas as particularidades das relações que podem ocorrer nos meios digitais e na Internet, assegurar uma conduta ética, é também um meio de tapar os buracos que a ausência de um conjunto de leis específicas acarreta.

Conclusão

A ética é um conceito cada vez mais fundamental, que garante equidade, justiça, respeito e uma série de direitos e responsabilidades a todos envolvidos. Nos meios digitais, mais do que nunca, devido ao momento em que a sociedade atravessa e pela quase inexistência de regulação e legislação, é fundamental que todos os players adotem consistentes e amplos códigos de ética.

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