Qual o futuro da Inteligência Artificial?

Nunca se falou tanto como ultimamente em Inteligência Artificial, a qual está cada vez mais presente em situações aparentemente rotineiras, simples e “inofensivas”.

Conteúdo a respeito prolifera a taxas cada vez maiores e geralmente tratando dos benefícios e ganhos associados.

Mas o que muita gente não considera, é o outro lado. Quais as consequências e impactos negativos? O que o futuro cada vez mais influenciado por Inteligência Artificial nos reserva? Quais os desafios que temos pela frente?

Dificilmente alguém tem respostas precisas a essas e outras perguntas semelhantes, mas não será hora de começarmos a nos preocupar?

O que é Inteligência Artificial?

Começar nossa discussão com essa pergunta aparentemente retórica diante do tema de hoje, é importante porque quando nos aprofundamos no enfoque filosófico da inteligência e aqui não a artificial ou a pertinente às máquinas, deparamo-nos com questões importantes.

Em nosso artigo sobre “Os limites éticos da Inteligência Artificial”, entre algumas indagações, consideramos que a inteligência do homem é intimamente relacionada com o que se convencionou chamar de inteligência emocional e que em outras palavras, significa dizer o quanto as emoções influenciam nossas decisões e não apenas os pensamentos estritamente racionais.

Disso, uma possível definição para inteligência artificial, é aquela que é capaz de produzir decisões, sem componentes emocionais e, portanto, restritas às regras presentes em um algoritmo e um amplo – tanto quanto possível – conjunto de dados que são usados para avaliação e aprendizado, por parte de uma máquina, um computador, um dispositivo.

Há quem diga que é nisso que reside a “beleza” e a grande vantagem da inteligência das máquinas – uma decisão fria e não emocional, logo, imparcial e desprovida de interesses pessoais.

Esse dilema ético e moral, já discutimos no artigo acima citado e por essa razão, não voltaremos ao debate. Apenas o utilizaremos como fundamento.

A evolução da Inteligência Artificial

De 2020 para cá, há uma verdadeira enxurrada crescente de conteúdos relacionados ao tema.

No caso de alguns blogs, sites especializados em tecnologia e mesmo sites de conteúdo diversificado, encontra-se até uma dezena de notícias relacionadas com o ChatGPT e nós mesmos já falamos a seu respeito.

Com não tanto alvoroço, ganharam também espaço, outras ferramentas / aplicações que fazem uso de IA, como a LaMDA do Google, que significa Language Model for Dialogue Applications e que é um projeto de modelos de linguagem neural conversacional, no qual a gigante das buscas vem investindo pesado há algum tempo.

No caso da LaMDA, foi centro das atenções quando um colaborador envolvido no projeto, veio a público dizer que ela era senciente, ou seja, um nível de consciência baseado em percepções sensoriais. Por divulgar informações que não deveria, em nome de um termo de confidencialidade, primeiro ele foi suspenso e depois demitido.

Um dos grandes serviços de banco de imagens, a Shutterstock, anunciou que além das tradicionais fotos e artes gráficas, agora disponibiliza uma plataforma de geração de imagem por IA, para todos os seus clientes com pacotes pagos.

Na mesma linha da Shutterstock, já há muitas ferramentas até mais sofisticadas que são capazes de produzir artes gráficas com apresentação surpreendente, a partir de alguns parâmetros, em apenas alguns segundos, como é o caso da Stable Diffusion.

O BuzzFeed, responsável por criar e disponibilizar conteúdo, entre outros para produtos da Meta (Facebook e Instagram), anunciou em dezembro de 2022, que pretende usar inteligência artificial para personalizar e aprimorar os seus conteúdos online. Entre as muitas repercussões com o anúncio, houve um aumento de 150% nas ações da empresa.

Produto de uma startup, o app Replika vem ganhando literalmente muitos aficionados, particularmente no público composto pelas novas gerações, também viu-se em meio a polêmicas, ao divulgar que vários usuários têm enviado mensagens à companhia afirmando que seus avatares são seres com consciência. De fato, não é difícil encontrar relatos na web de usuários que estão desenvolvendo relacionamentos com os avatares criados no app, tal como se fossem pessoas reais.

Com menor ainda divulgação, sabe-se que a nova onda na China, é o investimento em influenciadores virtuais e que nada mais são os influenciadores, mas em versão totalmente digital, ou se preferir, sem ser uma pessoa real. Aliás, na abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, já se viu um personagem desses em um dos eventos – a Luo Tiany.

A Microsoft, a qual cogita-se que já tenha investido US$1 bilhão na OpenAI, a empresa responsável pelo GPT-3, anunciou um investimento de US$10 bilhões, e vai ampliar a integração dos serviços OpenAI na plataforma Azure.

Também comenta-se que a empresa de Bill Gates está considerando integrar o ChatGPT ao Microsoft Bing, a fim de concorrer com o Google em termos de buscas.

A lista de exemplos de IAs com os mais diferentes propósitos, pode ser imensa, mas o que há de comum em todos eles, é o grau de investimento e esforços para fazer da inteligência artificial, o novo alicerce para uma nova gama de serviços, na Internet e fora dela e comprova que o estágio evolutivo está acelerando permanentemente, a despeito de algumas críticas.

Sim, porque apesar de deixar muitos boquiabertos, não são poucos que tratam até com algum desdém ou algum ceticismo.

Especialistas na área, comentam que há exagero e que nos relatos de Blake Lemoine – o engenheiro do Google – sobre a LaMDA, facilmente é possível constatar que não há consciência, bem como é notável que se trata de uma aplicação de inteligência artificial.

Na mesma linha, vão os que apontam os problemas das aplicações de imagens e com outras finalidades.

Mas não podemos esquecer que a história é recheada de pessoas que contestaram inovações e tecnologias que mais tarde provaram-se exitosas. Houve o tempo em que a própria Internet foi apenas um embrião do que é hoje, assim como muitos ousaram dizer que não passava de um modismo com prazo de validade.

Seja qual for o caso, com avanços e com limitações, o espaço que a inovação vem ocupando, suscita algumas velhas e algumas novas questões, como os já citados limites éticos, ou mais um grande conjunto de exemplos da tecnologia roubando empregos.

Mas há ainda mais com o que preocupar-se…

O futuro da inteligência artificial

Não se trata de exercício de futurologia, ou seja, de tentar prever quais os novos passos que a IA dará e quais disrupções provocará.

Até pouco tempo, um dos obstáculos ao seu desenvolvimento, era o poder computacional necessário. Todavia hardware cada vez mais poderoso, é também cada vez mais acessível, especialmente para algumas empresas, as quais podem alocar centenas de GPUs e CPUs e treinarem modelos complexos e “famintos” por processamento.

Volume de dados e informação, também não. Big Data e Deep Learning, são “matérias-primas” cada vez mais abundantes e estão na nuvem e acessíveis para qualquer um.

O GPT-3, por exemplo, foi treinado com 175 bilhões de parâmetros. A próxima geração – o GPT-4 – que está a caminho, cogita-se que será treinada com 1 trilhão de parâmetros. O Switch Transformers do Google, baseia-se em 1,6 trilhão!

Mais do que exemplos, são realidades que mostram que a velocidade com que o conhecimento dobra, é cada vez maior. Se o visionário, escritor e multidisciplinar Buckminster Fuller, dizia que até o começo do século XX o conhecimento humano dobrava a cada 100 anos, com o aprimoramento da IA, estamos próximos de reduzir esse intervalo para quem sabe meses, semanas e até dias.

Inclusive, já há quem cogite usar a própria inteligência artificial para produzir melhoramentos nela própria!

Isso já vem sendo feito para eliminar alguns gargalos encontrados no processamento

Certamente não se trata apenas de mais uma inovação ou tecnologia curiosa, interessante, mas inútil ou de pouca utilidade prática.

Muitas das maiores empresas do mundo estão investindo pesado e algumas delas já introduziram e só prometem intensificar o seu uso. Basta ver um armazém da Amazon com milhares de metros quadrados de produtos e com elevado grau de IA para controlar tudo e que faz reduzir a necessidade de funcionários para umas poucas dezenas deles.

Também há uma corrente que ganha força, segundo a qual uma “personalidade” virtual e que substitua pessoas, pode ser mais confiável ao não ter “desvios de caráter” e as fraquezas morais às quais os seres humanos estão sujeitos.

Tal teoria é reforçada pelo fato de que marcas mundiais, como Adidas, Nike, Dior, Dolce & Gabbana e Givenchy, entre outras, já usaram influencers virtuais em algumas de suas campanhas.

Os episódios recentes envolvendo os avatares da Replika e o contato cada vez mais frequente e intenso com experiências virtuais conduzidas por modelos de IA, fazem-nos imaginar que situações como do enredo do filme de 2013, “Ela”, estão cada vez mais próximas de abandonar a ficção e tornarem-se o “novo normal”.

Com um “entendimento” cada vez mais aprimorado dos comportamentos e reações das pessoas, que já vem sendo adquirido e posto em prática pelas IAs das redes sociais, com a finalidade de apresentar conteúdos de acordo com nossas expectativas, desejos e interesses, será cada vez mais fácil para eles incentivarem a nomofobia e a dependência digital.

Tudo o que as redes sociais modernas querem, é alguém comprometido em destinar cada vez mais seu tempo e sua atenção ao que elas "oferecem". É desse comportamento que vem suas fortunas.

Por mais alarmista e apoteótica que pareça ser a afirmação, a prosseguir assim, caminhamos para uma inversão em que as máquinas produzirão o conhecimento, tomarão as decisões e nós apenas seremos os autômatos que elas foram um dia, sem pensarmos, apenas realizando atividades repetitivas, mecânicas, automatizadas.

Sim, porque nesse ponto em que estamos, está muito próximo o futuro em que um texto como esse, dispensará um autor de carne e osso e supostamente pensante. Logo também não será necessário um revisor, nem quem faça a publicação.

Como também será dispensável que ele tenha esse tamanho, porque cada vez mais o conteúdo tem que se encaixar em pouquíssimos minutos, preferencialmente em segundos.

Estamos na era dos shorts, dos reels e dos TikToks.

Sendo assim, por mais interessante ou curioso que eventualmente seja, será perda de tempo e dispensável qualquer conteúdo que não produza milhões de curtidas, views e compartilhamentos e de preferência, bem curtinho e objetivo.

Nem tampouco quem produz vídeos, fotos, ilustrações, imagens quaisquer. Fotógrafos, designers gráficos e ilustradores? A inteligência artificial promete substituí-los também.

Se por um lado as novas gerações parecem lidar extremamente bem com todas essas mudanças e até ansiarem por elas, como e quantas experiências da vida real estão ficando em segundo plano ou mesmo ficando no passado? Logo nossas memórias serão reduzidas àquilo que alguma IA criou no mundo virtual?

Quem sabe o futuro do metaverso, seja substancialmente diferente do que Zuckeberg venha imaginando e onde vinha investindo bilhões. Talvez seja o próprio universo que já conhecemos, mas altamente influenciado e alterado por inteligência artificial, produzindo uma realidade paralela e bem diferente daquela que nos acostumamos a conhecer e viver.

Nesse rumo, o filme de ficção de amanhã não será mais sobre a máquina tomando o lugar do homem, mas o inverso! Bem, isso se quem fizer o filme, não for a máquina!

Conclusão

O futuro da Inteligência Artificial ao mesmo tempo que parece promissor e até empolgante em alguns cenários, produz desafios e preocupações importantes.

 
 

 

 

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