Qual o futuro e os desafios do metaverso?
Embora não fosse um termo novo, ganhou os holofotes, muitos conteúdos em sites especializados e ainda maior número de pesquisas por parte dos curiosos, no segundo semestre de 2021, quando o Facebook anunciou a mudança no nome da empresa que controla o Facebook, Instagram e WhatsApp, que passaria a chamar-se Meta.
Na mesma época, Zuckerberg também anunciou parte dos planos para o desenvolvimento da plataforma própria do que muitos consideraram os novos rumos da Internet e que popularizou-se por metaverso.
Porém ultimamente o otimismo, a empolgação e o alvoroço criado em torno do metaverso, parece ter mudado de direção e tem suscitado questionamentos quanto ao seu futuro, razão pela qual tentaremos estabelecer o cenário relacionado ao tema.
O que é Metaverso?
Caso você faça parte do grande grupo das pessoas que procurou informações a respeito, quando estava em alta nos sites e blogs de tecnologia, nós temos um artigo explicando o que é metaverso, exemplos, usos e possibilidades.
Se você não quer dispensar tanta atenção à resposta, tão resumidamente quanto é possível, trata-se do neologismo formado pelas palavras meta e universo, em que meta é o prefixo grego para “além de” ou “depois de” e, portanto, significa algo como “algo além do universo” o qual tradicionalmente imaginamos e nos referimos.
Pode-se dizer que seria uma alternativa ao universo “convencional”, sendo que poderiam haver vários outros e não apenas um.
No caso em questão, o metaverso ou universo alternativo, existiria no mundo virtual, baseado na Internet e em um conjunto de sistemas e tecnologias especificamente usados para sua viabilização, como por exemplo, realidade virtual, realidade aumentada e blockchain, nesse caso e mais especificamente, os Tokens Não-Fungíveis (NFTs, na sigla em inglês).
Será o fim do metaverso?
No entanto, o entusiasmo e até parte da euforia que havia tão logo o assunto ganhou atenção, arrefeceu bastante, a tal ponto que alguns cogitaram até mesmo o fim do metaverso, antes até de se consolidar.
Se você é um dos que aguardavam ansiosos o dia em que as muitas promessas de novas possibilidades e experiências tornassem-se reais, mesmo que virtuais, deve estar se perguntando: Afinal o que aconteceu? Cadê esse tão falado metaverso?
Não, provavelmente não é o fim e inclusive ainda há pesados investimentos ainda sendo feitos e várias iniciativas para além do projeto da Meta – cuja área responsável se chama Reality Labs – e que nos fazem crer que, pelo menos por enquanto, ainda deveremos aguardar pelas novidades.
Inclusive Zuckerberg determinou que dedicará 20% de seus recursos da Meta à divisão de negócios responsável pelas tecnologias ligadas à realidade virtual e que é um dos alicerces do Horizon Worlds, o videogame online gratuito desenvolvido pela Meta Platforms.
Também é preciso lembrar que apesar do alvoroço inicialmente provocado pelos planos ousados da Meta, o metaverso não é iniciativa e muito menos exclusividade da empresa antes conhecida como Facebook. Muitas empresas vêm conduzindo seus próprios projetos, alguns inclusive em estágios mais avançados de desenvolvimento e com resultados mais apreciáveis e “palpáveis”, por paradoxal que pareça o uso do termo.
Mas então por que ainda os usuários ainda não veem os resultados? Ou por que o assunto “esfriou”?
Há uma série de desafios e questões que precisam ser superados e que são decisivos para o futuro do metaverso…
Quais os desafios que o metaverso enfrenta?
Há um grande número de empresas que ousam afirmar que já oferecem aos seus usuários experiências de metaverso em suas plataformas ou em parte dos serviços Web que fornecem.
Dizemos que ousam, porque na maioria dos casos, são apenas alguns dos muitos conceitos que estão presentes em uma experiência como aquela em que a Meta está se propondo, como por exemplo, uma aplicação de realidade virtual, ou quem sabe, um NFT como meio para viabilizar uma economia digital dentro da plataforma.
Em qualquer dos casos, continuarão sendo apenas um serviço com realidade virtual e outro com NFTs, mas não contemplam o conjunto de coisas que se espera e se imagina de um que contemple um universo além daquele que estamos acostumados.
Há vários desafios para levar a cabo, mas nos concentraremos apenas nos maiores e mais imediatos...
1. Investimento e infraestrutura
O primeiro desafio e que compreende o binômio investimento e infraestrutura, aspectos praticamente indissociáveis, especialmente em plataformas como a pretendida pela Meta, são um dos requisitos básicos.
Significa tecnologia existente e que precisa ser desenvolvida ou aprimorada, servidores em data centers, cloud computing, softwares, CDN, para citar apenas os aspectos primários, mas ainda há questões que não são tão aparentes, mas que são igualmente essenciais, como segurança e tudo o que é necessário para garanti-la.
Ainda tendo como exemplo a Meta, boa parte disso ou ela já possui ou tem expertise e mesmo assim, serão bilhões de dólares investidos em 2023. Para quem não tem o mesmo poder de fogo, o caminho pode ser bem mais longo, ou até impercorrível.
2. Situações práticas da vida real
Uma experiência completa e imersiva nos moldes já imaginados e também praticáveis por algumas plataformas, são incompatíveis com muitas situações quotidianas.
Um exemplo imediato e concreto, são os óculos de realidade virtual. Muitos dos melhores modelos existentes, incluindo o próprio produto da Meta, são da ordem de vários milhares de reais, sendo que os mais caros entram na faixa dos cinco dígitos. Sim, há óculos de mais de R$ 15.000,00.
E não é só o preço, que já é um importante limitante ao número de usuários, mas imagine ter que usar um no transporte público ou em ambiente externo para poder usufruir de um recurso de alguma plataforma. É impraticável na maioria das situações.
3. Requisitos para o usuário
Dependendo do quão completa for a experiência, para que ela seja fluída e funcione adequadamente ou mesmo em padrões mínimos, mas satisfatórios, os requisitos do lado do usuário devem atender padrões mínimos também.
Na prática significa que nem todo hardware servirá, algumas vezes exigindo mais memória RAM, bons processadores, eventualmente uma placa de vídeo dedicada, conexões de internet com boa velocidade, largura de banda e sem limites de franquia.
Soma-se a isso, o já comentado óculos de realidade virtual e eventualmente outros recursos. E como conseguir tudo isso em um smartphone?
A situação fica evidente nas plataformas de games, que são o nicho mais “adiantado” quando o assunto é metaverso.
No entanto, o público gamer, geralmente já investe pesado nesse tipo de itens, pois sempre os títulos mais populares foram exigentes quanto a isso.
Muitos aspectos de infraestrutura também costumam acompanhar a indústria de jogos para computador, o que também em parte ajuda a explicar porque parece estarem um passo a frente dos demais.
4. “Fim” das redes sociais
O futuro das redes sociais e que ultimamente vem sendo tratado como “o fim das redes sociais”, tem produzido um ambiente de incertezas nesse grupo de empresas que aparecem como candidatos mais prováveis a “patrocinadores” do metaverso.
Aqui mais uma vez é impossível não usar como exemplo, a Meta. Investidores e acionistas da empresa, têm questionado e tentado conter a destinação de recursos para a divisão responsável pelo projeto de metaverso, afinal só nos primeiros nove meses de 2022, as perdas atingiram a cifra de 9,4 bilhões de dólares.
Há quem apontasse por ocasião do anúncio, que o futuro de Facebook era o metaverso, uma vez que na época já havia indícios de que o apogeu da rede social já havia acontecido e daí em diante viria o seu declínio.
Os sinais de falta de fôlego de algumas importantes empresas de setor, as antes inéditas quedas no faturamento e até prejuízos eventuais e as ondas de dezenas de milhares de demissões, acenderam o alerta e fizeram muitos reavaliarem se valeria a pena investir pesado na nova aposta, em um ambiente de tantas incertezas e resultados negativos.
5. Aposta grande e circunstâncias
E por falar em aposta, possivelmente alguns não consideraram uma circunstância muito particular, que foi a pandemia e o isolamento social, que fez com que a Internet e as redes sociais fossem o abrigo de milhões que foram obrigados a prescindir do convívio social.
Com o arrefecimento das medidas de isolamento e a volta à “normalidade”, não que a Internet perdeu espaço, mas as pessoas quiseram matar as saudades da vida em comunidade em relações presenciais e não mais apenas no virtual.
Para muitos inclusive, foi uma oportunidade de lembrar que pode ser bacana tudo o que o virtual oferece, mas o presencial algumas vezes é insubstituível.
Frequentemente algumas das demissões que estamos observando em empresas de tecnologia, são uma readequação a um superdimensionamento ocorrido na época da pandemia, quando a grande rede foi muitas vezes a única alternativa para o mundo não parar.
6. Segurança e privacidade
Se questões como o escândalo da Cambridge Analytica e Facebook, ou os cada vez mais frequentes vazamentos de dados, são desafios de difícil solução, o que dizer disso transportado para um cenário no metaverso?
Como fica uma conta roubada ou clonada? E a privacidade e exposição resultante da interação dos usuários da rede de relacionamento?
Se no modelo “convencional” de rede social, um vazamento de dados já representa uma séria ameaça, o que significará em um cenário em que experiências / vivências inteiras de um usuário estarão armazenadas em um servidor ou na nuvem de uma plataforma?
Implementar e garantir políticas e protocolos mais rígidos e seguros, será crucial e passa além desses aspectos, por outros que precisam ser resolvidos para o próprio futuro da Internet.
O futuro do metaverso
Bem, naturalmente a pergunta que fica, é: qual o futuro do metaverso?
Tal como as redes sociais não acabarão em 2023, nem nos próximos anos, o metaverso também não.
Nós não temos a resposta do que será o metaverso em 2023, nem depois e até Zuckerberg, um dos mais empolgados com a ideia, já é mais contido em seu ímpeto inicial, ao declarar recentemente que imagina um prognóstico positivo para o metaverso, nos próximos 5 a 10 anos.
Oras, isso – 5 ou 10 anos – é muito tempo quando o assunto é inovação tecnológica e Internet!
No entanto, não corremos muito risco em afirmar que será realidade, mas talvez de modo mais orgânico, o que significa dizer que é preciso que algumas mudanças que estão em curso, amadureçam primeiro, como por exemplo, as tecnologias das quais sua implantação dependa, afinal não dá para imaginar que todo mundo vá investir pelo menos R$ 5.000,00 nos óculos de realidade virtual mais baratos e nem que nós vejamos todo mundo os usando por aí.
Como também não dá para imaginar que especialmente as gerações mais velhas, incorporem-na na mesma velocidade de um jovem da Alpha ou mesmo um jovem da Z.
Também é possível arriscar que alguns que hoje mais fazem Marketing do que apresentam resultados consistentes, nem mais estarão aqui quando o metaverso chegar para ficar, tal como aconteceu com a primeira bolha de Internet, em que todos aqueles que não tinham bases sólidas, fecharam as portas.
Por fim, da mesma forma que o TikTok rompeu o paradigma aparentemente inabalável de algumas redes sociais, alguma startup ou quem sabe um até então desconhecido do outro lado do mundo, estabeleça um novo modelo de metaverso, diferente do atualmente proposto.
Conclusão
O que será do metaverso nos próximos anos, passa necessariamente por responder a alguns desafios que são essenciais para sua consolidação e sucesso.