O que é NFT e por que está agitando a Internet?

No Google Trends o termo NFT aparece desde a última semana de fevereiro e todo o mês de março de 2021, com acentuado comportamento ascendente nas buscas mundiais, indicando elevado número de pesquisas sobre o termo.

Mas afinal por que as pessoas querem tanto saber a respeito de NFT?

Cifras cada vez maiores tem sido associadas ao termo e o auge até o momento, foi o leilão na mundialmente célebre casa de leilões Christie’s, do item “Everydays: The first 5000 days”, pela quantia de US$ 69.346.250,00!

É de se supor que para valer quase 70 milhões de dólares, deve ser alguma rara obra de arte de um ilustre artista renascentista ou algo do gênero, certo? Se você foi mais um que imaginou isso, enganou-se!

O que é “Everydays: The first 5000 days”?

Everydays: The first 5000 days, é uma obra de arte digital e que segundo a casa de leilões Christie’s, é uma “colagem monumental”, tendo sido a primeira obra de arte puramente digital, que faz uso do NFT, já oferecida em um leilão.

Chamada de Beeple (b. 1981), trata-se de uma imagem em formato JPG de 21069 x 21069 pixels (319.168.313 bytes), composto de outras 5000 imagens criadas uma a uma diariamente, durante mais de 13 anos pelo artista digital Mike Winkelmann, mais conhecido simplesmente como Beeple e que tem mais de 2 milhões de seguidores no Instagram.

Muita gente não compreende o que está envolvido e realmente é complexo e sem muito sentido para a maioria.

Afinal o que faz algo valer tanto?

Não é somente a “arte”, nem o NFT, nem a combinação de ambos, mas o momento e o marco que provavelmente isso representa. Logo você vai compreender. Vamos por partes...

O que é NFT?

NFT é uma sigla para o termo em inglês Non-Fungible Token, que em português é token não fungível.

Não explica muito, é verdade.

Especialmente porque fungível não é um termo do quotidiano de quase ninguém. Quando se busca sinônimos, fica mais fácil sua compreensão – substituível ou trocável.

Muitas coisas que temos em casa, especialmente os bens de consumo, são fungíveis, na medida em que podem ser trocados por outros de igual valor, pela mesma espécie e por diferentes quantidades de outras coisas, ou por dinheiro e que também é um item fungível.

Uma nota de R$ 50,00 reais, é trocável por outra igual, ou por cinco de R$ 10,00 e outras combinações de cédulas.

Já um item não fungível, é único, é exclusivo. Teoricamente não tem igual que o substitua em iguais condições.

Costuma-se dar exemplos de conhecidas obras de arte para fazer um paralelo, como La Gioconda ou Mona Lisa de Leonardo Da Vinci. O famoso quadro, é único, por mais que existam muitas imagens e até possíveis falsificações, mas apenas o exemplar do Louvre, é o autêntico e tem o valor histórico e monetário a ele atribuídos.

Tokens não fungíveis também são únicos.

Tokens são representações de algo no mundo digital, como também são usados para ativar os recursos de um aplicativo para o qual foram projetados. No caso do NFT, o token representa o item digital ao qual ele está associado e que pode ser um vídeo MP4, uma imagem PNG ou um arquivo de áudio FLAC, bem como conter metadados associados a esse item, como seu criador, nome do arquivo, dados do proprietário, por exemplo.

Eles usam a mesma tecnologia – na verdade um conjunto delas – que está associada às criptomoedas – como o bitcoin – e que é o blockchain.

O conjunto de conceitos e tecnologias associado ao blockchain faz dele o modelo mais seguro que temos conhecimento, na medida que em que adulterar ou fraudar uma operação na cadeia de blocos que caracteriza o blockchain, implica em controlar 50% mais um de todos os computadores que estão geograficamente distribuídos no mundo e sob controle de diferentes instituições.

Não é impossível obter tal controle, mas extremamente improvável.

Assim, o NFT produz ao item associado, uma identidade única e improvavelmente fraudável.

Na maior parte dos casos, o NFT está associado a “bens digitais”, se é que podemos usar tal conceito. Ou seja, um vídeo, uma imagem digital, uma música MP3, ou OGG Vorbis ou outro formato, ou jogos eletrônicos e que são chamados de ativos digitais.

No entanto, as aplicações do conceito ainda estão sendo estudadas e experimentadas, bem como os meios de se criar vínculos com bens materiais, criando os ativos digitais correspondentes a estes.

Em termos práticos e além da obra Beeple b. 1981, já se viu muita coisa. Estimam-se a ocorrência de cerca de 20000 transações de ativos digitais que usam NFT, na mesma semana que ocorreu o leilão da obra de Winkelmann.

Entre tudo o que se tem visto, até a famosa liga de basquete NBA já está lucrando, por meio da venda de vídeos de jogadas consideradas as melhores de cada jogador das equipes que participam da liga.

O comprador pode gabar-se de ser o “dono” do vídeo correspondente àquela jogada ou cesta que o Leandrinho fez em um jogo decisivo, por exemplo. Qualquer pessoa ainda poderá ver os vídeos das jogadas, mas somente quem comprou o Top Shot – que é como estão chamando – pode dizer que é dono da imagem e que teoricamente tem alguns direitos específicos sobre elas.

Vários lances em vídeos já foram vendidos e especula-se que a NBA já faturou algumas centenas de milhares de dólares com isso.

Como criar e como funciona um NFT?

Mintar é a terminologia associada. É um neologismo, uma vez que não existe um verbo que designe algo tão recente e que se baseia no correspondente em inglês para o processo de criar ou gerar um NFT – mint a NFT.

Não há um processo único e preciso para criar um NFT e associá-lo a um item qualquer, produzindo um ativo digital como resultado de “mintar”.

Ele varia de acordo com algumas escolhas e pode ser um processo mais complexo ou mais simples, usando para tanto, um aplicativo, uma carteira e uma conta NFT, junto a uma rede blockchain.

A blockchain mais usada atualmente, é a rede Ethereum, da criptomoeda Ether (ETH), a qual serve também a outras aplicações. Apesar de predominantemente a rede ser destinada ao uso da criptomoeda, também se presta ao funcionamento de outras aplicações, como jogos e tendo como o mais popular exemplo, o Decentraland.

Assim, pelo método mais simples, de posse da carteira e da conta NFT, cria-se o NFT por meio de um aplicativo, fornecendo as informações de cadastro, dos metadados e fazendo o upload do arquivo digital correspondente.

Embora a mais popular, a rede Ethereum não é a única em que se pode criar um NFT.

Como exemplo, é possível fazer uso de blockchains como a Bitcoin Cash, a Binance Smart Chain, EOS, Flow, Tezos, Cosmos e Tron, sendo que esta última já até criou um padrão para aplicações NFT – o protoloco TRC-721 – que contém metadados relativos ao ID do dono do NFT e de seu autor, além de outras informações possíveis.

Nesses metadados é onde estão contidas informações diversas, como dados de identificação do autor da obra, do seu proprietário e o que se chama “smart contract” ou contrato inteligente, em tradução direta.

Entre outras coisas, é no smart contract que são definidos os direitos de cópia, de propriedade e outras questões legais e que o autor pode definir para o usufruto da obra. É isso que garante a exclusividade do ativo digital perante quem o comprou e que direitos ele tem sobre a obra digital.

É também pelo NFT e o smart contract, que determina-se que se a propriedade é transferida, pode ser estipulado o pagamento de royalties ao seu criador e o novo comprador passe a constar como aquele que tem direito sobre o ativo digital.

Ou seja, se a obra for vendida dez vezes, o seu criador pode receber royalties por cada uma dessas dez transações, bem como cada proprietário deva constar no histórico.

A escolha do blockchain deve levar em consideração fatores como custo e tempo de criação, por exemplo. Sim, paga-se para usar uma blockchain para criar um NFT e o tempo necessário para sua criação, influi também nesse valor.

A rede Ethereum não é a mais barata, mas é a mais rápida, bem como é mais utilizada e mais prática em relação a administração comparada a redes com custos de transação menores, o que também acarreta facilidades na sua comercialização, já que mesmo não sendo necessário efetuar o pagamento com criptomoeda, há transações para vincular o proprietário ao ativo digital comprado.

O fato é que o Ethereum tem um ambiente NFT maior e bem consolidado em relação a outras blockchains capazes de “mintar” NFTs, bem como há muito mais mercados e carteiras compatíveis que funcionam com o ecossistema NFT baseado em sua infraestrutura, como por exemplo, Nifty Gateway, Opensea, Makersplace, Rarible e Notfungible, os quais por sua vez tem se caracterizado com os mais ativos “comerciantes de NFTs”.

Por que o NFT tem envolvido valores tão elevados?

Como dissemos, os valores não estão apenas relacionados com o ativo digital e/ou a atribuição de um NFT a ele.

É preciso ir um pouco além.

Você consegue imaginar o valor que tem o sabre de luz originalmente usado pelos personagens Luke Skywalker ou o Darth Vader, nas filmagens da épica batalha travada por ambos no episódio VI de Star Wars?

Se você não é um fã da saga, possivelmente não.

Mas para alguns – ou muitos – possuir tal artefato e ter algum certificado que ateste sua legitimidade, pode ser algo que não tenha preço. Lembre-se, estamos falando do objeto original que foi usado e possivelmente único.

Para os não aficionados, no máximo pode ser um item que pode lhes render algum dinheiro, mas os mais fanáticos podem nem mesmo querer vendê-lo por dinheiro algum.

A raridade, a exclusividade de um item, pode render um valor imponderável para alguns poucos, mas a maioria é levada a pensar, afinal por eu pagaria 70 milhões – não importa a moeda – por uma imagem jpg que está disponível na Internet para qualquer um ver?

O que dá valor a um NFT?

  • Uma vez criado, não se pode alterar os metadados do token, ninguém pode remover o arquivo ou mesmo alterar seu nome. Isso significa que ele imutável, irremovível, perpétuo e a garantia da sua existência está vinculada à existência do blockchain;

  • Há recursos que são exclusivos do proprietário do NFT, como no caso do Beeple b.1981, a versão original em tamanho e resolução originais. Em casos de outros ativos, benefícios adicionais só estão disponíveis para o detentor do token, como no exemplo da banda Kings Of Leon, a primeira a lançar um álbum NFT, que pode dar aos seus compradores, um pacote com um álbum especial, outro com tickets de vantagens de shows e uma série de artes audiovisuais;

  • Cada NFT é único, por não ser possível criar outro NFT com o mesmo número de token. O criador pode até produzir cópias, porém cada uma tem um NFT único, tal como séries limitadas e numeradas, em que cada número é também um fator individualizador. Tal condição é a essência do blockchain, o qual garante que não existem dois IDs iguais;

  • O autor do ativo digital pode optar por conceder direitos plenos ao seu proprietário, estipulados no smart contract e assim o proprietário desse token tem irrestrito uso do ativo;

  • Como são únicos e não podem ser copiados, são raros. A raridade muitas vezes confere valor comercial e de revenda e capitalização do valor investido na aquisição;

  • NFT’s que representam um marco histórico associado a eventos, acontecimentos, como é o caso do Beeple b.1981, podem assumir cifras extraordinárias, pois sempre serão vinculados como o primeiro de uma série.

A verdade é que o uso do NFT é ainda uma novidade que não mostrou todo o seu potencial. Há quem diga que vivemos uma bolha e que algumas ações vinculadas à tecnologia não têm sustentação e que só o tempo mostrará o que é razoável, praticável e renderá desdobramentos úteis a toda a Internet e o universo digital.

Conclusão

O NFT (Non-Fungible Token) é uma tecnologia que faz uso do blockchain, para entre outras coisas, produzir autenticidade e exclusividade a itens digitais, resultando em ativos digitais não substituíveis ou trocáveis.

 
 

 

 

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