Serviços de e-mail gratuitos são bons?

Usamos muitos serviços gratuitos disponíveis na Web todos os dias e em meio a todos eles, um tem relevância especial e está disponível desde os seus primórdios, os serviços gratuitos de e-mail.

É improvável que qualquer pessoa não tenha ao menos uma conta em um dos vários existentes, especialmente nos mais populares, como Gmail, Hotmail ou mesmo o Yahoo Mail.

Mas esses e-mails gratuitos são realmente bons?

Responder a essa pergunta, passa por conhecer tudo o que está envolvido, suas características e seu funcionamento e até a história do e-mail.

A história do e-mail

O correio, o tradicional e que basicamente era responsável pela correspondência baseada no papel, foi por séculos a principal forma de comunicação entre pessoas fisicamente distantes.

Apesar das limitações e dos problemas, foi um importante meio de comunicação entre as pessoas.

Mas no início da década de 70, esse serviço ganhou uma nova perspectiva e a possibilidade de passar por uma verdadeira revolução. Foi exatamente em 1971 que Ray Tomlinson criou uma maneira de transmitir mensagens entre diferentes usuários, ainda na fase de projeto da Advanced Research Projects Agency Network (ARPANET), o sistema que precedeu a Internet.

Ou seja, nascia o e-mail, a abreviação de Eletronic Mail (correio eletrônico), antes mesmo da Internet como a conhecemos hoje, tomar forma.

Em 1971, já na sua concepção, Tomlinson instituiu o uso do “@” para separar os nomes do usuário e da máquina no endereço de correio eletrônico e na primeira mensagem enviada como teste para alguns membros do projeto, ele apenas comunicava a disponibilidade do sistema que chamou de e-mail.

Na ocasião eram apenas mensagens de texto e geralmente curtas, que eram exibidas nos terminais então utilizados, lembrando que na época não existiam ainda os sistemas operacionais gráficos, nem tampouco os PCs. O primeiro Windows seria lançado apenas em 1985.

Os demais recursos que se popularizaram e hoje fazem parte de qualquer mensagem básica, como a possibilidade de anexar arquivos, por exemplo, só foi implementada após a chegada do Multipurpose Internet Mail Extensions (MIME), em 1992.

Os protocolos POP e IMAP, só foram implantados em 1984 e 1986, respectivamente.

Tão logo se enxergou a motivação comercial da Internet, também as mesmas perspectivas foram vistas em relação ao e-mail, fazendo surgir uma gama gigantesca de serviços pagos, mas principalmente os gratuitos e que serviram para formar uma grande base de usuários, mas principalmente de dados de cadastro para as empresas que os ofereciam.

Não podemos esquecer que nessa época, a publicidade online já estava a todo vapor e uma conta de e-mail já era o principal meio de ingressar ou se preferir, cadastrar-se e usar quaisquer outros serviços na Web.

Ganhava corpo o e-mail Marketing e principalmente o SPAM, o qual começou a ser usado indiscriminadamente e na proporção direta do aumento no número de usuários de correio eletrônico, afinal por seu intermédio era possível divulgar qualquer coisa para qualquer um, já que todo mundo com acesso à rede mundial de computadores, começava a ter ao menos uma conta, nem que fosse uma gratuita.

Privacidade na rede, segurança, ou vazamento de dados, ainda não eram preocupações com o nível de importância que damos hoje.

Tem sido assim desde então, com a única diferença em relação ao começo, que alguns serviços já não existem mais e outros cresceram espantosamente, incorporando funcionalidades, benefícios, mas também desvantagens importantes, como veremos mais adiante.

Por que os serviços de e-mail são gratuitos?

A maioria apenas usa e se preocupa que o serviço funcione adequadamente. Mas sempre há quem questione, quem é que paga a conta pelo serviço oferecido?

Indiretamente é você quem paga!

Sim, mesmo que você não tenha que dar nem mesmo uma moeda ao serviço supostamente gratuito, ele precisa de razoável receita para custear a gigantesca infraestrutura necessária para seu adequado funcionamento e manutenção.

Uma infraestrutura para fornecer e-mail, é algo bastante custoso. São necessários os servidores, os sistemas (software), espaço físico para acomodar os servidores, os quais fazem parte de uma razoável rede de computadores, o fornecimento de energia elétrica, os sistemas de segurança física e lógica, bem pessoas para montar e manter tudo funcionando.

Tudo muito caro!

Sejamos sensatos, nenhuma empresa no mundo em que vivemos, está disposta a investir milhões por simples altruísmo ou apenas em prol da inclusão digital. De alguma maneira direta ou indireta, essas empresas têm interesse em algo que você possa dar como contrapartida.

O meio mais comum para se conseguir retorno financeiro necessário para sustentar um serviço de e-mail, é a informação e que é o pilar da era em que vivemos – a chamada Era da Informação.

Em outras palavras, essa valiosa informação é essencialmente constituída pelos seus dados pessoais e pelos seus comportamentos de navegação, que por sua vez também são dados úteis.

Em termos práticos, um dos principais mecanismos responsáveis por dar retorno aos serviços de e-mail gratuitos, é a publicidade online feita por empresas junto a quem mantém tais serviços ou por intermédio de serviços especializadas em publicidade digital.

O fato de você trabalhar com seguros, ou serviços médicos ou engenharia e ver publicidade relacionada a uma dessas áreas, toda vez que acessa a interface do seu serviço de e-mail gratuito ou conforme navega pela Internet usando o navegador da mesma empresa, não é mera coincidência.

Essa é a implicação mais preocupante em relação ao uso de serviços gratuitos – sua privacidade não existe!

Embora não existam outras pessoas bisbilhotando o que você digita quando redige um e-mail e as empresas dos maiores e mais populares serviços já adotem criptografia, existem algoritmos capazes de extrair informações relevantes do conteúdo contido em cada mensagem.

Basicamente as pessoas acham que podem confiar no Google, que é a proprietária do serviço Gmail, ou talvez nem pensem a respeito, mas na prática se as pessoas querem usar uma série de outros serviços relacionados, elas não têm outra opção.

Quando você concorda com suas políticas e termos de uso, ao se inscrever e criar uma conta no serviço, está permitindo que o Gmail “leia” seus e-mails e use seus dados.

Mas o Google não é o vilão da história. Pelo menos não é o único. É exatamente assim que acontece com boa parte dos serviços gratuitos, cujo modelo de negócios é baseado em publicidade.

Resumidamente, em troca de usar um serviço teoricamente gratuito, você aceita ver publicidade baseada no conteúdo de sua caixa postal!

Abrir mão de sua privacidade para um sistema, é o preço que você paga. Esse tipo de informação, tem um valor inestimável.

Serviços de e-mail gratuitos são bons?

Não há como fazer uma análise global e com um parecer único e preciso, visto que há muitas opções, cada qual com suas particularidades. Mas em linhas gerais a resposta objetiva do ponto de vista técnico, é sim, são bons.

Há muitos serviços gratuitos de e-mail, verdadeiramente fantásticos e em especial os mais populares.

No entanto, a fim de que a avaliação seja objetiva, estabelecemos um conjunto de critérios para os quais a maioria dos serviços pode ser considerada ao menos boa ou aceitável comparativamente a um serviço pago.

1. Desempenho

Em termos de funcionamento, a grande maioria dos serviços cumpre o que promete.

Se pensarmos nos três maiores e mais antigos serviços gratuitos de e-mail e que são o Hotmail (Outlook), Gmail e Yahoo!, eles oferecem um serviço estável, com baixo índice de falhas / erros e cuja velocidade de acesso e carregamento da principal interface, é bastante boa.

2. Interface

As interfaces (painéis de visualização) são modernas e razoavelmente amigáveis, com boa integração com vários aplicativos e alguns recursos adicionais para além de um cliente de e-mail básico, como a possibilidade acesso ao Office 365 e Microsoft Teams no caso do Outlook ou de uma gama de serviços do Google (ex: Workspace, Maps, Meet e Drive), no caso do Gmail.

Os principais serviços também oferecem algum grau de personalização, de modo a tornar o uso mais adequado a diferentes níveis de preferências do usuário.

3. Infraestrutura

Os principais serviços do gênero são amparados em infraestruturas gigantescas e que são frequentemente atualizadas. Criticá-los sob este prisma, é no mínimo imprudente.

A infraestrutura nunca é um ponto de gargalo, garantido disponibilidade e boa velocidade de acesso.

4. Segurança

Apesar de alguns problemas, os quais nenhum serviço Web está isento, em linhas gerais o investimento em tecnologias e infraestrutura capazes de garantir a segurança, é compatível com o alcance dos serviços.

No entanto, vale destacar que justamente pelo fato de principalmente o Gmail e o Outlook reunirem o maior contingente de contas, serão sempre os serviços mais visados pelos criminosos digitais.

5. Privacidade

Não é 100% e ainda que a privacidade seja um aspecto de elevada relevância e crescente preocupação para a maioria, é possível que em determinados cenários o uso de um serviço gratuito, pode ser suficientemente bom.

Para quem utiliza a conta apenas para mensagens corriqueiras, sem a troca de informações importantes e cujo teor não exija sigilo, pode ser uma alternativa a ser considerada.

6. Armazenamento

O espaço de armazenamento é bastante bom quando consideramos como sendo serviços gratuitos:

  • Gmail – até 15 Gb de armazenamento, compartilhado entre Gmail, Google Drive e Google Fotos;

  • Outlook – 15 Gb de armazenamento e tal como o anterior, compartilhado com os serviço de armazenamento em nuvem OneDrive e o Microsoft 365;

  • Yahoo Mail – é disparado o maior armazenamento, com 1 Tb por conta de e-mail.

Em outras palavras, tecnicamente falando, os principais serviços de e-mail gratuitos, são bastante bons e não há como negar. Afinal são anos de expertise acumulado.

Adicionalmente, os serviços menores e menos conhecidos, também apostam em alguns dos conceitos semelhantes dos principais e, sendo assim, assemelham-se uns aos outros, em linhas gerais.

Se tudo o que você precisa, é de uma conta de e-mail para uso em situações não sensíveis, comunicação trivial e cadastros em serviços menos importantes, ou até precisa de uma segunda conta de e-mail, é sem dúvida uma ótima opção e não há porque optar por um serviço pago para tais casos.

Em termos de avaliação mais específica dos recursos, cremos que é desnecessária esse tipo de avaliação, primeiro porque já há muitos artigos que comparam recursos dos serviços mais populares. Em segundo, a maior parte deles oferece tudo o que a grande maioria dos usuários domésticos necessitam. Por fim, os recursos oferecidos em cada serviço, variam com o passar do tempo, tornando este tipo de comparação desatualizada rapidamente.

Quais as desvantagens de um serviço gratuito de e-mail?

Se por um lado há vantagens inegáveis em muitos serviços gratuitos de e-mail, a começar pelo aspecto financeiro, também há ressalvas, principalmente quando se necessita de um serviço com proposta profissional.

É redundante afirmar a importância do serviço de e-mail no âmbito profissional, seja por parte de um profissional autônomo, como um freelancer, seja para um profissional liberal, seja para uma grande organização.

Boa parte das relações entre empresas, clientes, parceiros e fornecedores, é constituída usando o e-mail, ainda que alternativas como o WhatsApp Business venha ganhando espaço, já que esta não é a opção mais adequada para todos os casos e tampouco oferece tudo o que o e-mail tem.

Por essa razão, avaliaremos como os serviços gratuitos se portam diante de exigências fundamentais para o uso profissional:

1. Privacidade

Embora tenham crescido globalmente as restrições envolvendo eventual violação de privacidade, as políticas e termos de uso dos principais serviços gratuitos, ainda não são claras quanto a garantir 100% de privacidade.

Certamente esse é o maior problemas de todos os serviços gratuitos, que têm sua receita baseada em publicidade e que coincidentemente, é o caso dos maiores e mais populares.

Como privacidade é essencial para uso profissional, não são adequados para tanto.

Para além disso, não há como falar em segurança, se não houver privacidade.

2. Segurança

Em linhas gerais, são tão seguros quanto a maior parte dos serviços pagos, mas costumam ser alvos mais atrativos e bastante visados pela quantidade de contas que podem ser acessadas, em caso de sucesso quanto à invasão, cujo vazamento de dados é potencialmente melhor para o invasor.

Mas há outros tipos de ameaças digitais aos quais estão mais sujeitos, como ataques DDoS, por exemplo.

3. Suporte

Há raras exceções de serviços gratuitos com algum suporte, mas que geralmente é restrito a tutoriais e FAQs, os quais visam cobrir as situações mais comuns.

Quando há, o suporte costuma ser bastante precário e demorado quando se precisa dele. Alternativamente, uns poucos contam com um sistema em que a própria comunidade se ajuda, mas que também pode ser um auxílio demorado e que nem sempre garante a solução adequada.

4. Políticas e termos de prestação de serviço

As políticas e termos de uso do serviço, podem – e costumam – mudar com frequência e consequentemente afetam seus direitos e os moldes nos quais o serviço é prestado.

Geralmente as mudanças são comunicadas pouco tempo antes da aplicação e não estão sujeitas a questionamentos.

5.Mudanças gerais

Mudanças nos recursos, no funcionamento deles, remoção de outros, a mecânica de funcionamento geral da interface, podem ser frequentes.

Váriosaspectos do serviço podem ser alterados, como por exemplo, espaço reservado ao armazenamento de mensagens, tempo em que mensagens podem ser mantidas, limpeza automática da lixeira, tamanhos máximos de mensagens e anexos e principalmente os comportamentos de conteúdos relativos aos parceiros (entenda-se publicidade).

6. Impessoalidade

Particularmente no caso dos grandes serviços, não há personalização no atendimento e os usuários representam apenas um código de usuário, isso nos casos em há suporte.

7. Limitações

A maioria dos serviços gratuitos oferecem recursos insuficientes para as necessidades empresariais, que fazem uso mais intenso, ou total ausência de recursos mais específicos, o envio de newsletters ou outras formas de e-mail Marketing.

Algumas vezes, a modalidade gratuita é oferecida apenas como chamariz para um serviço pago, menos restritivo ou completo.

8. Não profissional

Essa é outra desvantagem importante, já que o uso de domínio próprio, é essencial no caso de empresas, que sempre devem privilegiar as contas de e-mail profissionais.

É bastante prejudicial à imagem da empresa e de sua marca, enviar mensagens ou divulgar uma conta de e-mail que normalmente a vincula a um serviço gratuito, passando uma impressão de amadorismo e até desleixo no trato com os clientes e com as outras empresas.

9. Publicidade

A exibição de publicidade torna o ambiente / interface visualmente desagradável e no caso de alguns serviços, bastante poluído visualmente e algumas vezes atrapalhando até mesmo a navegação.

10. Autoridade de domínio

Quanto mais pessoas verem seu domínio associado ao seu usuário de e-mail, mais pessoas são propensas a acessarem seu site e usufruírem do que ele oferece. Isso se aplica aos seus clientes, mas também seus parceiros comerciais e até seus fornecedores.

Ter sua marca lembrada, indiretamente contribui para autoridade de domínio.

Conclusão

Serviços de e-mail gratuitos podem ser muito bons em alguns contextos ou como segunda conta de e-mail, mas contém várias desvantagens para uso profissional.

Comentários ({{totalComentarios}})