Nuvem pessoal ou doméstica, você precisa de uma?
Você já pensou em ter sua própria nuvem, não aquela corporativa e cara, mas uma nuvem pessoal, doméstica, acessível o tempo todo e sob seu exclusivo controle?
Se a ideia parece absurda ou distante, saiba que pode ser mais fácil do que você imagina e por isso já passou da hora de criar a sua!
Nesse post, entre outras coisas, nós vamos explorar os porquês de ter uma “nuvem para chamar de sua”, da infraestrutura básica, dos conhecimentos essenciais para criá-la e até dos passos iniciais para colocá-la em funcionamento.
Pronto para dar o primeiro passo e construir a sua nuvem pessoal ou doméstica?
Por que ter uma “nuvem pessoal”?
Vivemos em uma era em que alguns dos nossos dados mais valiosos, como fotos e vídeos de todos os momentos, documentos pessoais e de trabalho, projetos profissionais ou pessoais, estão “guardados” nos chamados serviços de armazenamento em nuvem. Google Drive, iCloud, OneDrive e tantos outros, aos poucos e de modo sutil, tornaram-se parte integrante e indispensável das nossas vidas.
A primeira questão, a mais aparente – embora nem todo mundo note – é que por mais que pareçam incríveis e baseados nas mais avançadas tecnologias, como tudo nessa vida, esses serviços não são infalíveis. Basta uma pequena falha técnica ou de procedimento humano e, pronto, tudo fica fora do ar!
Adeus prazos, adeus trabalho e tudo o mais que é dependente do tal Cloud Computing!
E se já não fosse motivo suficientemente bom para você contar com uma alternativa, ainda há outras razões:
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Políticas – o uso desse tipo de armazenamento, é baseado em termos de serviço e políticas, os quais podem mudar a qualquer momento, limitando seus direitos de uso;
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Segurança – por mais que todos afirmem adotar diversos mecanismos e camadas de segurança, a verdade é que as falhas – humanas e técnicas – também podem acontecer, seja porque são alvos muito visados de ataques, invasões e vazamento de dados;
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Privacidade – outro aspecto que sempre gera discussões e controvérsia, é quanto à privacidade dos dados hospedados nessas nuvens. Até que ponto há de fato sigilo e anonimato, não é possível saber;
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Custo – a depender do volume de dados, as soluções gratuitas são insuficientes, sendo necessário pagar por planos que comportem tudo, lembrando que a cada dia geramos mais e mais dados.
Ou seja, é fácil percebermos o quanto estamos vulneráveis e dependentes de terceiros para guardar aquilo que tem muita importância nos dias de hoje.
Não seria mais seguro ter uma alternativa própria, sob nosso controle, funcionando como uma nuvem particular? Uma solução que não dependa das Big Techs e da sua competência, humor e interesses comerciais, mas sim da nossa própria responsabilidade?
A ideia da nuvem doméstica não é apenas sobre independência digital, mas também sobre privacidade, autonomia e resiliência. Afinal, se a nuvem pública pode falhar, por que não construir a sua própria?
Vantagens da nuvem doméstica
Nesse ponto do bate-papo, devido aos porquês anteriormente apresentados, você já deve imaginar alguns benefícios, mas a fim de que fique bem claro o que se ganha em implementar uma nuvem pessoal ou doméstica, vamos aos fatos:
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Controle total dos seus arquivos – nos serviços comerciais, os seus dados ficam em servidores de empresas espalhados pelo mundo. Na nuvem doméstica, eles ficam no seu próprio equipamento, dentro da sua casa ou escritório e que em termos práticos, você decide quem acessa, como acessa e o que pode ser compartilhado;
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Privacidade garantida - as empresas por trás dos serviços de armazenamento, podem analisar metadados (informações sobre seus arquivos) ou até usar seus dados para melhorar os serviços. Na nuvem doméstica, ninguém além de você tem acesso a nada;
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Sem mensalidades – os serviços gratuitos têm limites de espaço e, quando você precisa de mais, é necessário pagar planos mensais. Com a nuvem doméstica, o custo é apenas do equipamento inicial, que até pode ser um notebook ou desktop sem uso, um HD ou SSD externo (dependendo da solução escolhida) e a energia elétrica. Para além desse custo, não há cobrança recorrente;
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Mais usuários – apesar de estarmos tratando de uma nuvem pessoal, a depender da infraestrutura, ele pode ser capaz de atender todos os moradores de uma residência ou mesmo de uma microempresa ou pequeno escritório;
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Personalização – é possível instalar aplicativos extras, como calendário, contatos, galeria de fotos, notas, até mesmo ferramentas de colaboração. É como montar um “Google Drive” personalizado;
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Independência das Big Techs – se o Google, a Microsoft ou outra empresa da qual eles usam serviços, tiverem uma falha global, você não fica refém. Sua nuvem continua funcionando, porque sua infraestrutura é independente.
Desvantagens e desafios
Sendo honestos, nem tudo são flores e, portanto, há desafios que precisam ser superados e desvantagens a serem consideradas.
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Configuração técnica – embora existam tutoriais, vídeos e bastante material em fóruns, a parte da configuração não é tão simples, especialmente para os mais leigos. É preciso aprender a configurar a rede, adotar alguns mecanismos de segurança, como HTTPS, VPN e firewall;
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Consumo de energia – apesar do consumo de energia elétrica de um computador não ser elevado, é preciso considerá-lo, sendo que há soluções mais econômicas, como um Raspberry Pi ou um NAS;
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Manutenção – os serviços comerciais se encarregam dos backups e das atualizações dos sistemas utilizados. Na nuvem doméstica, você precisa lembrar de fazer cópias de segurança e manter o sistema atualizado para evitar falhas ou a exploração de eventuais vulnerabilidades;
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Conectividade – para sua nuvem estar sempre disponível, além da velocidade da Internet ser boa, é preciso que a conexão seja estável e confiável. No caso das soluções comerciais, há redundância para garantir essa disponibilidade.
O que você vai precisar para criar sua nuvem doméstica?
Se você chegou até aqui, é porque apesar das possíveis desvantagens, está considerando criar sua solução pessoal de armazenamento.
Basicamente você precisará de alguns componentes de hardware e software, sendo que no caso dos sistemas, há ótimas soluções open source e gratuitas, capazes de atender poucos usuários:
Hardware
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Servidor – não é necessário um servidor típico, a não ser que você tenha um. É possível usar um PC antigo que você já não usa, ou até um notebook. O importante é que ele possa ficar ligado permanentemente;
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Dispositivos dedicados (NAS ou Raspberry Pi)
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NAS (Network Attached Storage) – é como um HD externo inteligente, feito para funcionar como servidor de arquivos;
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Raspberry Pi – um minicomputador mais barato, pequeno e que consome pouquíssima energia. Ideal para quem quer algo discreto e econômico, mas vale ressaltar que dependendo do kit adquirido, é necessário comprar um cartão de memória microSD à parte;
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Armazenamento (HD ou SSD) – dependendo das configurações do seu servidor, será necessário um HD externo conectado para suportar o volume de dados armazenado. Eventualmente, um pendrive de alta capacidade também pode resolver;
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Modem / roteador – isso certamente você já tem. Porém é importante relembrar a questão da estabilidade e da velocidade da sua conexão. Adicionalmente, se você optar por um incremento na segurança, um cabo de rede para conectar o servidor ao modem ou roteador, evita alguns dos problemas de segurança do Wi-Fi;
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Fonte de energia – esse item não é fundamental para o funcionamento, mas para garantir a disponibilidade. Se possível, use um no-break para evitar desligamentos em caso de queda de energia.
Observações sobre o hardware
Para montar a sua nuvem pessoal, essencialmente você precisa de um dispositivo que funcione como servidor. Ou seja, não é necessário ter vários equipamentos diferentes, bastando escolher uma das opções anteriormente mencionadas:
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Desktop ou notebook – se você tem um computador antigo parado em casa, ele fará o papel de servidor da sua nuvem.
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Vantagem – fácil de reaproveitar e dar destinação àquele equipamento que ficou guardado desde a compra de um novo;
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Desvantagem – ocupa espaço e consome mais energia, já que precisa ficar ligado o tempo todo.
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NAS (Network Attached Storage) – é um dispositivo feito especificamente para armazenar e compartilhar arquivos em rede;
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Vantagem – já vem pronto para funcionar como servidor, com interface amigável e frequentemente oferece recursos extras;
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Desvantagem – o custo inicial é mais alto, pois se trata de um equipamento dedicado.
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Raspberry Pi – um minicomputador razoavelmente mais barato que desktops e notebooks, além de muito versátil para diferentes usos;
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Vantagem – é muito pequeno (menor que muitos HDs externos), silencioso e consome pouquíssima energia. Ideal para quem busca soluções discretas;
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Desvantagem – requer mais conhecimento técnico (não muito) e mais configurações manuais (poucas).
Em resumo, você só precisa de um desses equipamentos.
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Se quer praticidade, escolha um NAS.
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Se quer economia e gosta de aprender, vá de Raspberry Pi.
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Se quer reaproveitar o que já tem, use um PC ou notebook antigo.
Software
Para transformar o seu computador, NAS ou Raspberry Pi em uma nuvem pessoal, você vai precisar de alguns softwares. Vamos separar em essenciais (sem eles a nuvem não funciona) e opcionais (que aumentam a segurança ou oferecem recursos extras).
Ou seja, graças aos softwares que a “mágica acontece”, pois são eles que vão transformar o seu computador ou dispositivo, em uma nuvem pessoal acessível de qualquer lugar.
Na elaboração da lista a seguir, priorizamos a escolha de softwares open source e gratuitos, para manter o serviço confiável e acessível financeiramente.
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Essenciais
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Sistema operacional – entre outras coisas, o sistema operacional é o “ambiente” no qual os demais softwares rodarão e responsável por gerenciar o hardware;
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Linux (Ubuntu ou Debian) – há muitas distribuições Linux boas, mas o Ubuntu e o Debian, além de gratuitos, como a maioria costuma ser, são estáveis e são escolhas frequentes para ambiente de servidores;
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Windows – não é a escolha mais comum para servidores, mas pode ser usada e funciona. Entretanto, saiba que serão necessários mais ajustes e o licenciamento é pago;
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Observação – é importante ter um sistema atualizado e confiável;
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Servidor Web – o Servidor Web é o que permitirá que você acesse sua nuvem pelo navegador, de modo semelhante a qualquer site. Pense nele como a “porta” que dá acesso à sua nuvem. Sem porta, ninguém entra;
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Banco de dados – o serviço de banco de dados é essencial, pois ele organiza informações sobre usuários, permissões e arquivos. Imagine como uma “agenda” que guarda tudo em ordem;
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MariaDB – o MariaDB é um fork (projeto derivado) do MySQL, sendo compatível com ele, mas com melhorias em termos de desempenho e segurança e, portanto, é a solução gratuita e popular de banco de dados que recomendamos;
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MySQL – não dá para falar em banco de dados e não considerar o MySQL, por conta da ampla documentação e tutoriais disponíveis;
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Plataforma de nuvem pessoal (open source) – esse é o coração da sua nuvem. É o software que cria a interface para você acessar os arquivos de qualquer lugar;
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Nextcloud – o Nextcloud é a opção mais popular, com interface amigável, aplicativos móveis e recursos extras como calendário e contatos;
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OwnCloud – o OwnCloud é uma alternativa semelhante ao Nextcloud, também gratuito e confiável;
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Seafile – o Seafile é focado em desempenho e sincronização rápida;
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Observação – você só precisa escolher um desses. Sem esse software, o seu servidor será apenas um computador comum ligado e não funcionará servindo o serviço de nuvem;
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Aplicativos de sincronização – cada plataforma oferece apps oficiais para Windows, macOS, Android e iOS. Eles permitem acessar e sincronizar os seus arquivos a partir de qualquer dispositivo;
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Opcionais (mas altamente recomendados)
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Certificados HTTPS (Let’s Encrypt) - garantem que o acesso à sua nuvem seja seguro, criptografando os dados durante a transmissão. Saiba que para acesso seguro e de fora de casa, a criptografia HTTPS é fundamental;
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VPN (Rede Privada Virtual) – incluir uma VPN na solução, é recomendável pois adiciona uma camada extra de segurança, permitindo que você acesse a sua nuvem como se estivesse dentro da sua rede doméstica;
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Ferramentas de backup automático – um sistema de backup também é indicado para garantir que seus arquivos não sejam perdidos em caso de falha de hardware;
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Firewall – o firewall é uma camada extra de segurança, ajudando a controlar quais conexões entram e saem do servidor, reduzindo riscos de invasão ou acessos maliciosos;
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Antivírus – em servidores Linux não é tão comum, mas se o sistema operacional escolhido for o Windows, incluir um antivírus se torna quase obrigatório, ou também se o servidor manipular muitos arquivos vindos de fora;
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Endereço amigável (URL) – além de acessar sua nuvem pelo endereço IP da sua conexão, você pode configurar um endereço fácil de lembrar, como “cloud.seunome.com”. Isso é feito com serviços de DNS dinâmico (DuckDNS – DNS dinâmico, ou No-IP – endereço IP dinâmico) ou até registrando um domínio próprio. Assim, você não precisa decorar longas sequências numéricas e pode acessar sua nuvem de qualquer lugar do mundo.
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Observações sobre o software
Não mencionamos anteriormente, mas caso do hardware, caso a escolha seja pelo NAS, a boa notícia é que ele já vem com software próprio de gerenciamento.
Marcas como Synology e QNAP oferecem sistemas operacionais próprios (DSM, QTS) que já incluem aplicativos de nuvem, compartilhamento de arquivos, backup e até apps móveis. Porém, caso você queira usar o Nextcloud ou o OwnCloud em NAS, alguns modelos permitem instalar esses softwares adicionais via pacotes ou Docker.
Sendo assim, em muitos casos, você só precisa ativar os serviços e configurar os usuários.
Qual plataforma usar?
Existem várias plataformas open source para criar sua nuvem pessoal, como as mencionadas Nextcloud, OwnCloud e Seafile. Todas são gratuitas e confiáveis, mas nesse guia vamos usar o Nextcloud como exemplo.
O motivo é simples, o Nextcloud é a opção mais popular, tem ampla documentação, uma comunidade ativa e aplicativos oficiais para Windows, macOS, Android e iOS. Isso facilita muito a vida de quem está começando e garante que você encontre ajuda facilmente caso tenha dúvidas.
Se você optar por OwnCloud ou Seafile, não há problema, pois são boas soluções também. O processo de instalação e configuração é semelhante – instalar o servidor, configurar usuários e acessar pelos aplicativos oficiais – apesar das particularidades. As principais diferenças ficam por conta da interface e de alguns recursos extras.
Tutorial prático: como instalar o Nextcloud
Antes de apresentarmos os passos para criar a nuvem pessoal, é importante destacar alguns pontos:
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Esse é um tutorial pretende ser apenas um guia geral das etapas, ou seja, não constam os passos de instalação de cada um dos serviços, pois há variações de acordo com as escolhas feitas;
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A ideia do tutorial, é dar uma visão superficial do trabalho que precisará ser feito e da ordem de cada coisa, caso se queira criar uma nuvem para uso doméstico ou em pequenos negócios;
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Orientar sobre que tipo de conteúdos buscar para concluir o projeto e se os procedimentos necessários são viáveis.
A título de exemplo, e que ilustra alguns dos desafios que você terá que superar, para acessar a sua nuvem fora de casa, você precisará configurar o seu roteador para "redirecionar" o tráfego da internet (porta 80 e 443) para o seu servidor. Este é um passo essencial, mas que requer atenção à segurança.
1. Preparação do ambiente
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Escolha o equipamento – um PC ou notebook antigo, ou um Raspberry Pi;
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Instale o sistema operacional:
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Linux (Ubuntu Server ou Debian) - recomendado pela estabilidade e por ser gratuito.
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Windows – no caso de equipamentos antigos, verifique a compatibilidade com o Windows 11 e o requisito de TPM 2.0, que pode inviabilizar o uso;
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Atualizações – qualquer que for a escolha, antes de avançar ao próximo passo, baixe e instale todas as atualizações, para garantir a segurança e a estabilidade da nuvem.
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2. Instalação do servidor web
O Nextcloud precisa de um servidor web para funcionar e, por isso, dependendo do sistema operacional, você deve escolher a alternativa de sua preferência.
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Linux – no Linux, a instalação do servidor web (Apache ou Nginx) geralmente é feita junto com PHP e o banco de dados, formando a chamada Pilha LAMP (Linux, Apache, MySQL, PHP) ou LEMP (Linux, Nginx, MySQL, PHP);
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Windows – use o XAMPP, que já vem com Apache e outras ferramentas úteis para outros fins.
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Atualizações – tal como no caso do sistema operacional, certifique-se de aplicar todas as atualizações disponíveis antes de avançar.
3. Instalação do banco de dados
Sem um banco de dados, sua nuvem não funciona, pois ele é responsável pelas informações sobre usuários, as permissões e arquivos.
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Instale MariaDB (recomendado) ou MySQL.
4. Instalação do Nextcloud
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Vá até o site oficial do Nextcloud e baixe a versão Server;
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No Linux, extraia os arquivos para a pasta do servidor web (ex.: /var/www/nextcloud);
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No Windows, coloque os arquivos na pasta “htdocs” do XAMPP;
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Configure as permissões para que o servidor consiga acessar os arquivos.
5. Configurar pelo navegador
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Abra o navegador e digite o endereço do servidor (ex.: http://seuIP/nextcloud);
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O Nextcloud abrirá uma tela de configuração inicial;
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Crie um usuário administrador e informe os dados do banco de dados.
Se você cumpriu todos os passos corretamente, então parabéns, você acaba de criar sua própria nuvem pessoal!
6. Instalar aplicativos de sincronização
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Baixe os apps oficiais do Nextcloud para o sistema operacional dos dispositivos que acessará a nuvem (Windows, macOS, Android e iOS);
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Configure com o endereço do seu servidor e o usuário criado.
Agora você pode acessar seus arquivos de qualquer dispositivo.
Conclusão
Montar sua nuvem pessoal é mais do que um projeto técnico, é uma declaração de independência digital. Embora exija algum investimento inicial de tempo e aprendizado, o controle total sobre os seus dados, a privacidade garantida e a independência das empresas de tecnologia, tornam todo o esforço gratificante.


