Hard skills e soft skills: O que são e qual sua importância para as empresas?
Quando avaliamos muitos anúncios de empregos, é cada vez mais comum encontrarmos na parte relativa a requisitos exigidos do candidato ao cargo, algo como:
“Análise crítica e raciocínio lógico;
Vivência desejável na área Administrativa;
Bom conhecimento do pacote MS Office;
Nível superior ou em fase de conclusão;
Desejável conhecimento em sistemas de recebimento de mercadorias;
Organização e pró-atividade”
Entre algumas possíveis conclusões, o que nos interessa, é que nesse trecho do hipotético anúncio, o empregador requer um conjunto do que se chama no meio de hard skills e soft skills.
Mas afinal o que são hard skills e soft skills, por que são importantes, são algumas das perguntas que vamos responder nesse nosso post.
O que são hard skills?
Hard skills é um termo bastante comum na área de recursos humanos.
É um estrangeirismo compreensivelmente utilizado, porque sua tradução literal não designa bem o que é.
Separadamente, skills é o termo relativo a habilidade, ou capacidade em fazer algo e dependendo do caso, pode ser até o conhecimento necessário para saber fazer. Hard por sua vez significam duro, no sentido de ser difícil ou dar trabalho.
Um tanto quanto sem sentido, não é?
Não há muita informação confiável a respeito da origem desse termo, exceto pelo fato de que foi antes difundido nas empresas multinacionais norte americanas.
Mas quando investigamos as primeiras ocorrências, elas remontam a uma época em que inicialmente e mais comumente era usado o termo hard skills, como sendo o conjunto de habilidades para utilização de maquinário diverso e que pode ser designado de forma genérica como hardware.
Nesse contexto, hardware é também o equipamento de informática, mas também pode ser uma máquina em uma empresa metalúrgica, por exemplo. Seja no caso do primeiro, seja no segundo, pressupõe-se um treinamento, um curso de capacitação, de aprendizagem e os respectivos certificados que atestam que o participante adquiriu o conhecimento necessário.
Outra corrente plausível, apoia-se na teoria de que uma formação universitária, a fluência em um idioma estrangeiro e várias outras capacitações profissionais, exigem anos de estudo, dedicação, prática e experiência, trabalho duro, razão pela qual “hard” define como tal habilidade ou conhecimento foi adquirido.
Uma terceira corrente sobre a possível origem, é mais antiga ainda e refere-se aos tempos em que o grande contingente de trabalhadores estava associado ao trabalho braçal, o trabalho duro (hard), nas linhas de produção das fábricas que proliferavam à medida que o mundo se industrializava e as experiências correspondentes no desempenho das funções no ambiente fabril.
Independentemente de qual a origem verdadeira, hard skills estão associados às coisas que os profissionais estudam, aprendem e treinam para desempenho de funções nas empresas, como o curso de nível superior ou técnico, a pós-graduação e a especialização, a proficiência nos idiomas estrangeiros, o conhecimento em sistemas e softwares, as certificações, para citar apenas o que é mais comum.
Em um passado não muito distante, eram somente essas as qualificações exigidas e que apareciam no descritivo das vagas de emprego e consequentemente, o que candidatos preocupavam-se em informar em seus currículos.
No exemplo que abre essa nossa conversa, é a vivência na área administrativa, o conhecimento do pacote Office, o diploma universitário e o conhecimento do sistema de recebimento.
Tais habilidades – as hard skills – são verificáveis com certa facilidade, seja por um certificado ou diploma, seja pelo registro em carteira de trabalho, seja por algum meio comprovável, como uma carta de recomendação do antigo empregador, ou ainda em testes de aptidão específica, no processo seletivo.
Mas e as soft skills?
O que são soft skills?
Aspectos como o aumento da concorrência, exigências do mercado, qualidade contínua e total e toda uma avalanche de mudanças que invadiu as empresas e sua forma de atuar, fizeram-nas ver que apenas os requisitos exigidos como hard skills, muitas vezes eram insuficientes.
Algumas vezes não bastava um diploma de uma conceituada universidade para determinar o quão bom aquele profissional seria comandando uma grande equipe, ou ainda a extrema destreza de um operário no manejo de uma máquina, mas que contrastava com sua insubordinação em relação ao seu superior, por exemplo.
Nem a transformação digital, nem a tecnologia “roubando” certos empregos, ou o surgimento de novas formas de atuar, como o e-commerce em relação às vendas presenciais, foram capazes de eliminar o fator humano e todas as suas implicações.
Pelo contrário.
Em outras palavras, os resultados apresentados muitas vezes dependem de outros tipos de habilidades, como por exemplo, o bom e fácil relacionamento interpessoal e a empatia, a capacidade de liderar e os bons resultados na gestão de pessoas e a eficácia na comunicação empresarial em diferentes níveis.
É o patrimônio do indivíduo de natureza social e comportamental.
A esse conjunto de características, os recursos humanos designam como soft skills.
Soft é macio e aqui no sentido de ser fácil.
Tal como no caso de origem de hard skills, há os que defendem que convencionou-se usar soft por simples contraposição ao hard.
Mas há quem justifica que esse conjunto de habilidades, é incorporável de modo mais fácil e natural ao longo da vida, não exigindo a dedicação, o empenho, o tempo e trabalho que as hard skills exigem do profissional.
No entanto, ao pensarmos que muitas vezes várias dessas habilidades, podem ser determinantes no sucesso alcançado e talvez até para a realização na vida pessoal, não é o mais adequado chamá-las de soft, significando aqui fácil ou suave.
Desenvolver boas soft skills para o mercado de trabalho e suas atuais exigências, pode ser tão ou mais desafiador, do que qualquer graduação em uma conceituada universidade.
Assim, analisando os requisitos da nossa hipotética vaga, “análise crítica e raciocínio lógico” e “organização e pró-atividade”, são as soft skills desejadas.
Não vamos entrar nos méritos das polêmicas e discordâncias sobre as respectivas terminologias. O que é consensual entre os que concordam e os que não, é que tanto quanto possível, hoje organizações de quaisquer segmentos e portes, buscam profissionais que tenham um conjunto de ambas.
Qual a importância de hard skills e soft skills para as empresas?
Intuitivamente e até por conta do que tratamos até aqui, algumas razões da importância das hard e soft skills, já devem estar claras. Mesmo assim, vamos mais a fundo na questão, procurando entender o quanto o ambiente empresarial é dependente delas.
1. Clima organizacional
Um dos aspectos mais sensíveis ao conjunto de habilidades sociais e comportamentais (soft skills) e de qualificação profissional (hard skills), é o clima organizacional.
Ele é determinado pelo ambiente percebido ou sentido pelos colaboradores e que resulta da qualidade de vida no trabalho, de como ocorrem as relações horizontalmente – entre pares – e verticalmente – colaboradores e gestores – nas duas direções, o atingimento dos resultados e das metas pessoais e profissionais, das políticas de incentivo e da promoção da motivação, entre uma lista razoável de aspectos.
Quando o pessoal responsável pela gestão de pessoas, consegue constituir uma equipe que reúne um conjunto equilibrado de características fundamentais, o clima organizacional tende a ser positivo, saudável e harmônico e que por sua vez, interfere em outras áreas, como por exemplo, a próxima.
2. Interfere na produtividade
Conseguir bons índices de produtividade não depende apenas do quão hábil ou conhecedor dos temas que são exigidos para realizar uma função. Especialmente porque em muitas áreas os resultados são consequência do coletivo e, portanto, da interação das pessoas.
Isso não implica necessariamente em afinidade entre as pessoas, mas acima de tudo, respeito ao outro apesar das eventuais diferenças e que é uma soft skill.
Desse modo o equilíbrio emocional necessário nas relações com os demais, favorece que o conhecimento técnico produza o resultado esperado.
3. Qualidade de produtos e serviços
A qualidade de produtos e serviços de qualquer empresa já não é mais vista APENAS como resultado de boas matérias-primas, bons processos e funcionários bem qualificados (hard skills).
A qualidade do clima organizacional, os índices de retrabalho, a qualidade do atendimento associada ao produto ou ao serviço, o empenho e o engajamento dos funcionários envolvidos, são alguns dos muitos fatores que determinam em maior ou menor grau a qualidade do bem de consumo ou do serviço prestado e que por sua vez, são diretamente resultantes de várias soft skills.
4. Diminuição do tempo não produtivo
Uma pergunta a você que é gestor – quanto vale o seu tempo?
Não é raro encontrar gestores usando seu tempo de modo não produtivo, ou seja, realizando tarefas para as quais ele é muito caro. Algumas das razões comuns, referem-se ao próprio gestor, que por exemplo, não confia em delegar, ou a sua equipe, que não tem a capacitação (hard skills) necessária para produzir o resultado desejado.
Somos inclinados a imaginar que a falta de confiança em delegar deve-se a baixa capacitação técnica, no entanto, se o gestor tem uma equipe comprometida, com iniciativa, que busca o autodesenvolvimento (soft skills), é possível ter o resultado mesmo sem a qualificação, bem como o inverso também é verdadeiro.
Mas não é apenas a diminuição do tempo não produtivo – ou o aumento do tempo produtivo – dos gestores. Em todas as áreas da empresa e em todos os níveis hierárquicos, um bom equilíbrio entre hard e soft skills favorece a uma melhor administração do tempo.
5. Times de trabalho
Algumas empresas têm equipes de trabalho. Outras, têm times de trabalho.
Qual a diferença?
Nas primeiras, são reuniões ou grupo de pessoas. Nas segundas, assemelham-se a times esportivos, em que cada um tem um papel fundamental e bem conhecido por todos, no atingimento de objetivos comuns.
Reunir pessoas que tenham habilidades complementares e equilibradas, favorece que se saiba o que esperar (confiança) do seu parceiro e do que e quanto ele pode entregar.
Portanto, a previsibilidade do resultado, aumenta. Como aumentam também a sinergia, o tempo produtivo, a qualidade do resultado e ainda favorece o próximo fator.
6. Desenvolvimento da liderança
Há diferentes tipos de liderança. Não vamos nos aprofundar no tema, até porque temos um artigo que trata de como desenvolver liderança sobre equipes de trabalho.
Um gestor que pretende ser um líder facilitador, encontra um ambiente mais propício quando tem sob seu comando um time que reúne o conjunto certo de habilidades – tanto hard skills como soft skills – para colocar em prática esse tipo de liderança.
Como o nome sugere, o líder facilitador é o que tem a capacidade de usar as diversas variáveis do ambiente organizacional, para facilitar a obtenção dos resultados. É aquele que é hábil em aproveitar-se das melhores qualidades de cada um para alcançar os objetivos.
Em tempos nos quais é cada vez mais comum o trabalho remoto – home office, coworking e nomadismo digital – tornam-se mais importantes características tanto dos líderes, quanto dos seus times, que permitam que esses modelos alternativos entreguem os mesmos ou até melhores resultados, comparativamente ao modelos presenciais.
Como desenvolver hard e soft skills?
O caminho mais curto e rápido para uma empresa beneficiar-se, é contratar as pessoas certas para cada cargo, cada função.
Mas e o que fazer com o capital humano existente?
Diz-se por aí, que empresas contratam pelo conhecimento e demitem pelo comportamento.
Embora, possa ser uma verdade em muitas das vezes, não é desejável e por vezes, nem viável ir por esse caminho.
Felizmente alguns paradigmas a respeito estão sendo superados e hoje cresce a crença de que muitas vezes é oportuno ter políticas que visam o desenvolvimento de hard skills e soft skills junto ao capital humano da empresa.
Desenvolvendo hard skills
Pode parecer mais fácil – apesar do nome – desenvolver hard skills, porque o conjunto de medidas já vem sendo praticado há algum tempo e consiste de:
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Palestras sobre assuntos de interesse;
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Reciclagem;
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Treinamentos internos e externos;
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Ajuda de custo e bolsas de estudo;
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Assessoria e consultoria;
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Programas de capacitação.
Dependendo do porte da organização e, sobretudo, de como ela enxergue a importância do conhecimento, não é difícil encontrar aquelas que têm uma área constituída especificamente com a finalidade de fornecer capacitação continuada e permanente a todos os seus funcionários.
Desenvolvendo soft skills
Por contraditório que pareça por conta do nome, o trabalho mais difícil está relacionado com as soft skills, justamente por envolver a natureza humana e o conjunto de fatores que surgem das interações sociais e dos comportamentos constituídos ao longo da vida.
Cada empresa, cada equipe, tem seu próprio cenário. Não há portanto, uma “receita” que atenda qualquer realidade. Nem realidades aparentemente semelhantes.
Por isso, na ausência de profissionais capacitados dentro da empresa, é fundamental recorrer a consultoria especializada externa. Isso porque antes de mais nada é preciso de um diagnóstico individualizado, que passa entre outras coisas, por avaliações que têm por objetivo o levantamento do perfil de cada colaborador, de cada área.
O psicólogo especializado nessa área, é essencial nesse processo.
A promoção das mudanças, também é particularmente difícil porque requer reconhecimento por parte das pessoas que são alvo do desenvolvimento e disposição delas na mudança. Ninguém se dispõe a mudar nada em si próprio, primeiro se não enxerga e em um segundo momento, entende como um problema ou mesmo um empecilho.
Os resultados vêm com o tempo e este varia de acordo com cada indivíduo.
Conclusão
Entender o que são hard e soft skills, bem como sua importância para a empresa, é determinante no atingimento da maioria dos resultados pretendidos.