Síndrome de Burnout: o que é, quais as suas causas e os sintomas?
As crescentes exigências profissionais e a carga de trabalho são além do razoável? A transformação digital e as novas tecnologias fazem com que você fique conectado ao trabalho além da jornada, no app de conferência remota, no WhatsApp ou respondendo e-mails, mesmo nos dias e horários de descanso e lazer? As metas, as cobranças, a competitividade e as responsabilidades só crescem?
Se situações como essas são comuns e você só acha que é o seu estilo de vida e que é capaz de lidar bem, mesmo cansado, irritado, com alguns probleminhas físicos e de relacionamento, cuidado! Você pode estar com Síndrome de Burnout!
O que é a Síndrome de Burnout, principais causas e sintomas, é o que discutiremos hoje!
Considerações iniciais
Embora o presente post tenha sido elaborado a partir de conteúdos de diferentes profissionais especializados no assunto, ele não tem como propósito servir de diagnóstico, nem tampouco estabelecer medidas para eventuais tratamentos.
Essas são atribuições e responsabilidades exclusivas de profissionais preparados, experientes e credenciados para tanto.
A ideia é que sirva de alerta e contribua na identificação de situações que podem levar ou mesmo já constituam o problema e a partir daí os envolvidos recorram à ajuda específica de um psicólogo e/ou um psiquiatra.
Também pode servir para que empresas e os gestores responsáveis conheçam a parcela de responsabilidade que têm, visto que desde 2019 foi incluída na CID 11 (Classificação Internacional de Doenças) pela Organização Mundia da Saúde, bem como já é reconhecida pela Previdência Social como doença do trabalho (Decreto 3048/99).
O que é Síndrome de Burnout?
Síndrome de Burnout, também conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional, é bem resumidamente, um quadro de estresse crônico e grave, em âmbitos físico e psicológico, causado por diferentes circunstâncias da atividade profissional ou do trabalho desempenhado.
É um transtorno psíquico que foi descrito na literatura médica pela primeira vez em 1974, nos Estados Unidos, mas que nos últimos anos tem recebido mais atenção e estudos e, desde 2019, a Síndrome do Esgotamento Profissional foi reconhecida pela classificação internacional de doenças (CID-11) da Organização Mundial da Saúde, como um fenômeno que afeta a saúde das pessoas em graus cada vez maiores.
Trata-se de uma doença que está em alta. Muitos profissionais de diferentes áreas vêm adoecendo e sendo diagnosticados com Síndrome de Burnout, mas não são raros os casos que recebem diagnósticos errados, como depressão, transtorno de ansiedade, ou síndrome do pânico, sendo que na verdade esses são quadros que também têm relação com o Burnout, que é o termo em inglês para esgotamento.
Frequentemente descrita como um “simples” distúrbio emocional, ou uma “mera” doença psíquica do trabalhador, ela difere de outros distúrbios emocionais como a depressão, ou o transtorno de ansiedade, porque ela está íntima e estritamente atrelada ao trabalho, tanto que o nome em português destaca que as causas do esgotamento são de origem profissional e não multifatorial como podem ser os demais transtornos.
Devemos deixar claro que apesar das definições a respeito enfatizarem que se trata de um cenário de estresse e exaustão extrema, ele não é eventual ou ocasional e que é natural e até aceitável no quotidiano de muitas pessoas em suas rotinas de trabalho. No caso, ele é contínuo, é crônico.
Nas situações eventuais e que podem fazer parte do dia a dia profissional, é algo que se resolve com uma pausa, ou com o descanso de final de semana ou até quem sabe, com férias, nos casos mais intensos.
Mas nos casos daqueles que estão sob a Síndrome de Burnout, isso não basta. Eles precisam de atenção, de tratamento e acompanhamento profissional e especializado e a depender do quadro, o período de tratamento pode exigir meses.
Ou seja, estresse e cansaço, todo mundo vivencia, mas não é disso que nós estamos falando. Nós estamos falando de uma situação muito mais séria que inclusive levam a algumas dessas pessoas, desses trabalhadores, que vivem sob essa condição por muito tempo e que chegam ao limite, até mesmo ao suicídio.
Apesar do crescente número de casos tem acometido tantos trabalhadores, é um tema ainda muito pouco falado e envolto em alguns tabus, já que a doença psíquica é encarada de modo diferente da que tem ordem física. Se uma pessoa torce um tornozelo desempenhando suas funções, às vezes essa pessoa tem mais atenção do que uma que está sofrendo psicologicamente todos os dias.
Além desse aspecto, há também o medo de perder o emprego.
Aliás, segundo a Associação Internacional de Manejo do Estresse (ISMA), no Brasil, aproximadamente 20000 brasileiros anualmente precisam de afastamento médico por doenças mentais relacionadas ao trabalho, mas muitos seguem trabalhando por medo do desemprego.
Há ainda aqueles que negam admitir sofrer de burnout, achando que é um estado passageiro, ou mesmo que é uma condição vergonhosa ou sinônimo de fraqueza.
Quem chegou ao esgotamento, na verdade aguentou o máximo e foi muito forte, porque suportou diferentes situações desgastantes, por um longo período. Em outras palavras, suportou além do que deveria e outras pessoas talvez já tivessem desistido ou dado um basta bem antes.
Quais os sintomas ou sinais da Síndrome de Burnout?
Não custa reiterar que o diagnóstico correto e preciso, requer consulta com um profissional dedicado ao assunto, como o psicólogo ou o psiquiatra, que deve ter conhecimento detalhado da sua rotina para relacionar os sintomas e realizar o enquadramento como Síndrome de Burnout, se for o caso.
Também é preciso salientar, que esses sintomas não necessariamente são sempre cumulativos, o que significa dizer que nem sempre quem está sob esgotamento, apresentará todos eles ao mesmo tempo.
A sua principal característica é o estado de tensão emocional extremo e estresse crônico provocado pelas condições físicas, emocionais e psicológicas desgastantes, sendo que os principais sintomas podem ser divididos em fisiológicos, emocionais e comportamentais.
Sintomas fisiológicos da Síndrome de Burnout
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Prostração e cansaço físico e mental excessivo e frequente;
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Problemas de memória e falta de concentração;
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Dores de cabeça frequente;
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Alterações no apetite;
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Distúrbios do sono, como insônia;
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Pressão alta;
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Dores musculares;
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Problemas gastrointestinais;
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Alteração na frequência cardíaca.
Sintomas emocionais da Síndrome de Burnout
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Tristeza sem motivo aparente e infelicidade com seu trabalho e até mesmo com sua vida pessoal;
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Pessimismo / negatividade constante;
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Sentimentos de derrota e desesperança;
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Falta de confiança para tarefas que normalmente desempenharia bem;
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Sensação frequente de insegurança.
Sintomas comportamentais da Síndrome de Burnout
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Irritabilidade e nervosismo, deixando a pessoa mais irritada que o normal, bem como alterações repentinas de humor;
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Diminuição do comprometimento ou o inverso, quando mesmo esgotada a pessoa insiste e vai além dos seus limites, porque não quer se mostrar incapaz;
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Isolamento e evita situações em que é necessário socializar com outras pessoas;
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Frieza e indiferença em relação às pessoas;
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Alterações diversas na sua personalidade e no seu jeito de ser;
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Evita e dá desculpas para momentos de lazer com amigos e família.
Quais são as causas da Síndrome de Burnout?
É natural deduzir que se o esgotamento é de caráter profissional, que muitas – ou pelo menos, algumas – das suas causas estejam no ambiente de trabalho, certo?
Todavia, é preciso se atentar ao fato de que não estamos falando de uma situação específica de estresse, a qual toda atividade profissional está sujeita.
Não se trata da jornada de trabalho do colaborador que foi estendida e ele ficou trabalhando além do horário, em um dia ou mesmo durante um período maior, como no final de ano, por exemplo. Ou que talvez ele tenha acumulado funções por ocasião da demissão de um colega, até a contratação de um novo.
Essas são situações pontuais.
Aqui a gente está falando de períodos maiores e de ocorrência frequente. De situações nas quais ele é submetido por longos períodos de trabalho e aguenta por muito tempo, até chegar ao seu limite ou pior, quando foi além dele.
Também é preciso ter em mente, que isoladamente cada causa não necessariamente é decisiva, mas que combinadas, elevam significativamente as chances do esgotamento profissional se instalar no colaborador.
1. Exigências do mercado
O mercado de trabalho tem cada vez mais exigido níveis crescentes de qualificação profissional e de modo contínuo.
Tem seu lado positivo, tanto para o empregador, como também para o empregado, sob a ótica do autodesenvolvimento dos indivíduos. No entanto, muitas vezes parece que não há limites, mesmo em áreas que o conhecimento atualizado não é primordial.
Essa insuficiência e a cobrança associada, também é desgastante e pode agravar a situação, quando a personalidade da pessoa reforça essa necessidade de permanente aprimoramento profissional, sem o que vem a frustração por não corresponder às expectativas.
É preciso estabelecer um equilíbrio entre necessidades da empresa, desejo de crescimento e os limites dos colaboradores.
2. Cobranças excessivas
Quando objetivos dão lugar a obsessão por resultados, números, desempenho, lucro e produtividade em níveis máximos, inevitavelmente é gerado um ambiente de cobrança excessiva sobre os colaboradores.
Cobranças de metas, as quais frequentemente são irreais / inalcançáveis, cobrança por prazos mais curtos do que são possíveis, por tarefas que não são exequíveis, excesso de controle , avaliações de desempenho com caráter punitivo ou qualquer outra situação além do razoável, vai além do papel da liderança na busca por resultados.
Qualquer tipo de cobrança que se caracterize como excessiva, abusiva, em vez de produzir os resultados desejados, pode funcionar ao contrário.
3. Alta carga / volume de trabalho
Alta carga ou volume de trabalho, jornadas extenuantes, ainda que devidamente dentro dos parâmetros legais, como com o pagamento de adicionais, banco de horas, etc, quando são a prática e não a exceção, também têm poder de esgotar os profissionais.
E ainda acaba se misturando à causa anterior, quando se exige que o trabalhador acumule funções e produza o equivalente, caracterizando um volume de trabalho incompatível com sua capacidade.
4. Poucas pausas / descanso
Complementarmente às elevadas cargas / volumes de trabalho, ocorrem poucas – ou mesmo nenhumas – pausas e descansos, sejam as pausas para almoço, jantar ou aquelas nas atividades em que o intervalo das refeições não é previsto, como é o caso do Telemarketing, sejam os descansos aos finais de semana, feriados e equivalentes para aqueles que têm jornadas distintas do comum.
Algumas vezes o baixo volume de pausas e descansos, não é decorrente do volume e das jornadas extenuantes, mas condicionadas às remunerações, escalas inadequadas, equipe insuficiente, etc.
Seja qual for a justificativa, é elemento que favorece o esgotamento.
5. Responsabilidades
Ter e assumir responsabilidades é inerente ao desempenho profissional, porém passa a ser problema quando ocorre em demasia. Ou seja, não estamos tratando de responsabilidades básicas, como cumprir o horário ou quem sabe a resolução de problemas junto aos seus clientes.
Há empresas que atribuem responsabilidades que vão além do que o senso comum determina, como determinados ressarcimentos financeiros incompatíveis com a remuneração, ou atribuições que deveriam ser de cargos superiores.
6. Clima organizacional
É sabido a influência que o clima organizacional tem nos resultados, tanto para o bem, como para o mal, bem como os demais aspectos relacionados, como as condições de trabalho, o estilo de liderança aplicado, ou a qualidade de vida no trabalho.
Não podemos esquecer que na maioria dos casos, é dentro da empresa que muitas pessoas passam a maior parte do seu tempo e por isso, um ambiente tóxico, de perseguição, de conflito, especialmente quando há outras causas, favorece o burnout.
7. A tecnologia
Não é de hoje que a tecnologia tem “roubado” empregos, mas ultimamente a tecnologia nas empresas, tem sido usada para além de trazer benefícios como produtividade.
Ela pode sim, ser o motivo da perda de emprego, como tem sido divulgado com as muitas soluções baseadas em inteligência artificial e que prometem substituir pessoas e que é um elemento de pressão e instabilidade, mas estamos falando do tempo que a pessoa fica conectada com o trabalho.
O notebook e o smartphone, a disponibilidade de conectividade desses dispositivos, bem como a variedade de softwares / soluções, colocam o funcionário diante do trabalho em qualquer lugar que ele esteja e a qualquer hora.
Não há mais dia e horário para responder um e-mail, fazer uma reunião virtual com um cliente ou atualizar um sistema da empresa com diferentes dados. E não estamos falando do nômade digital e nem daqueles que trabalham em regime de home office.
É o colaborador que cumpre a sua jornada na empresa e depois quando deveria estar com a família, com os amigos, passeando ou descansando, está resolvendo questões que poderiam – e deveriam muitas vezes – serem tratadas exclusivamente no seu horário.
8. O Workaholic
O workaholic é geralmente definido como aquele que tem uma incontrolável necessidade de trabalhar incessantemente.
Ele tem uma aparente incapacidade de limitar a quantidade de tempo que gasta no trabalho, apesar das eventuais consequências negativas, de forma semelhante ao que ocorre com a compulsão pelo consumo de bebidas alcoólicas.
O anseio desmedido de algumas empresas por níveis cada vez maiores de produtividade e a competitividade no mercado de trabalho, fizeram do típico workaholic o modelo padrão de colaborador e uma “qualidade” sem igual, servindo para alimentar ainda mais essa compulsão.
Quando se vê as consequências do comportamento do profissional que tem essa necessidade incontrolável, algumas são comuns com os aspectos do Burnout:
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Frustração diante dos resultados;
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Perda da motivação;
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Prazos próximos do limite ou estourados;
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Relacionamentos profissionais tensos;
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Instabilidade emocional;
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Queda na produtividade;
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Problemas de saúde.
Inclusive, não é raro que workaholics típicos em algum momento desenvolvam a Síndrome do Esgotamento Profissional.
Por que é difícil reconhecer o Burnout?
Como mencionamos, é bastante comum que se associe outros quadros como depressão, transtorno de ansiedade, ou síndrome do pânico, porque geralmente os sintomas do Burnout não aparecem todos e não se estabelecem da noite pro dia.
Não é uma condição a pessoal sente-se “normal”, bem e desempenhando como sempre, sente-se feliz e de repente, acorda e está com Síndrome do Esgotamento Profissional. É um processo gradual e lento e que faz com que as pessoas demorem para perceber que está acontecendo alguma coisa de errada.
Alguns desses sintomas, como a baixa energia, o cansaço, ou a irritabilidade são possíveis de ocorrer com qualquer um e nas muitas situações que todos vivenciamos. Pode ter sido um projeto que exigiu dedicação extra ou uma jornada longa na frente do computador e que são vistos como as possíveis causas.
“Logo eu me recupero e tudo volta ao normal”, costumam acreditar.
A “ficha caí”, quando vem o apagão sem motivo aparente, quando não conseguem mais levantar da cama frequentemente ou quando têm um estresse repentino e injustificável no ambiente de trabalho.
O problema quando o diagnóstico é tardio, é crônico, o indivíduo geralmente precisa de cuidados maiores. É quando o afastamento é o mais indicado e mais demorado é o tratamento.
Qual o tratamento para a Síndrome de Burnout?
O tratamento como em qualquer doença, depende de cada caso, mas em linhas gerais ele é feito principalmente com psicoterapia.
Porém, dependendo da gravidade ou até da presença de outras doenças, é necessário acompanhamento medicamentoso com psiquiatra e não só um medicamentoso, mas também reposição de vitaminas. Isso porque o estresse crônico acaba afetando o corpo da pessoa em outros níveis.
Na terapia, o paciente é convidado a uma série de reflexões e análises, como por exemplo, rever sua relação de trabalho, afinal se após a recuperação ela for exposta às causas novamente, ela desenvolverá a síndrome outra vez.
Além disso, a empresa na figura do seu gestor, é convidada a participar e fazer sua parte, pois a Síndrome do Esgotamento Profissional não é só uma questão do indivíduo, muito pelo contrário. A empresa tem a sua parcela de responsabilidade do ambiente que ela oferece para esse colaborador frequentar.
Conclusão
A Síndrome de Burnout é uma doença moderna e decorrente da atividade profissional, que tem feito muitas vítimas e exigido repensar as relações de trabalho.