Plágio de conteúdos Web, o que é, problemas e soluções?
Escreve, escreve e escreve, até que para um pouco e lê o que foi escrito. Apaga e reescreve um trecho. Muda uma palavra, duas, depois remove uma vírgula aqui e coloca outra acolá. Volta e lê o parágrafo inteiro. Ainda não está bom Escreve novamente. Quem sabe agora esteja?
Essa é a rotina diária de quem escreve, de quem produz conteúdo e cuja principal missão, é expressar ideias e sentimentos por meio de palavras.
Consiste de um trabalho meticuloso e repleto de detalhes e cuidados e quem o faz, sabe do que estamos falando.
Mas aí, chega um dia que esse trabalho aparece sob a “assinatura” de um outro “autor”, na situação conhecida como plágio!
Quase na mesma proporção que cresce a quantidade de conteúdos diversos na Web, também se avolumam os conteúdos plagiados e, portanto, se você ou a sua empresa produzem conteúdos para a rede mundial de computadores, precisamos conversar a respeito!
Considerações iniciais
Antes de tratarmos o assunto de modo claro e direto, é importante fazermos algumas considerações sobre o presente conteúdo:
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Conforme veremos ao longo das nossas reflexões, atualmente o plágio pode ficar caracterizado em relação a conteúdos acadêmicos, publicações científicas, artigos jornalísticos, músicas, vídeos, imagens, enfim, uma variedade de formatos. Nossa abordagem é especificamente sobre conteúdos para Web, com ênfase no conteúdo textual;
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Há no ordenamento jurídico do Brasil, legislação que trata do plágio, seja caracterizando-o, seja estabelecendo o tipo de crime e as respectivas penalidades. No entanto, não nos aprofundaremos nesse tipo de enfoque e quando for o caso, é recomendável buscar orientações junto aos especialistas no assunto e aos profissionais de Direito;
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Internacionalmente, também há legislação que protege a propriedade intelectual e os direitos de cópia e distribuição de material protegido. Tal como a ressalva anterior, não é nosso propósito tratar de questões nesse âmbito.
Ou seja, nesse post, nossa atenção é prioritariamente concentrada nos conteúdos destinados a publicação e uso na Web.
O que é plágio?
Resumidamente, o plágio nada mais é do que a apropriação e reprodução da obra intelectual de outra pessoa, como se fosse sua e, portanto, sem dar o devido crédito ao autor legítimo.
Bem, se você está aqui e reservou alguns minutos a essa leitura, é bastante provável que saiba o que é, embora muita gente não saiba.
Mas o que mais pessoas ainda não sabem, é que o plágio não se caracteriza apenas pela transcrição "ipsis litteris" da obra de outro autor, como se fosse sua.
O entendimento a respeito, é amplo e o classifica em diversos tipos, conforme consta a seguir.
Quais os tipos de plágio?
Além da cópia integral de uma obra, o plágio pode ficar caracterizado quando e ser tipificado como:
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Plágio direto ou completo – consiste da situação mais característica, que é quando ocorre a cópia e o uso integral, nos mesmos termos ou tal como está escrito (ipsis litteris) no texto primário de um autor, sem que haja informações sobre a autoria original, a fonte, ou seja, sem que os devidos créditos sejam dados a quem de direito;
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Plágio parcial – muitos não sabem, mas copiar apenas uma parte ou um trecho, recai no que é conhecido como plágio parcial. Logo, o uso de “apenas” um parágrafo ou mesmo uma frase, sem a citação à fonte / autoria, também constitui uma irregularidade;
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Plágio indireto – outra prática que pode caracterizar plágio, é quando um conteúdo é reescrito, mas se baseando nas ideias / conceitos criados por outro autor, sem também fazer menção à fonte da qual extraiu tais ideias. Por esse motivo, às vezes é chamado de plágio conceitual. Também costuma ser referida como paráfrase, que consiste em reescrever o texto original com palavras diferentes, mas mantendo a mesma estrutura e ideias. Nesse contexto, é considerado plágio, pois não há uma contribuição original do plagiador;
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Plagio de fontes – esse tipo ocorre, quando se faz menção às mesmas fontes, referências e citações, da obra onde elas originalmente constavam, porém sem informar a sua origem;
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Autoplágio – tal como no meio acadêmico, onde já acontecia há algum tempo, tem aumentado na Internet a ocorrência do autoplágio, que é quando um autor reutiliza material criado por ele mesmo, em uma nova publicação, mas como se fosse um conteúdo novo ou independente do original, ou seja, sem informar que não se trata de conteúdo inédito, ainda que seja de sua própria autoria;
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Plágio mosaico – nesse tipo, o falsificador – que é o que o plagiador é – combina trechos de obras de diferentes autores, criando um conteúdo aparentemente novo. Pelo fato de utilizar-se de partes distintas, tal como em mosaicos, que recebe tal denominação;
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Plágio acidental – como é de se supor, é a irregularidade que ocorre quando quem a comete, não faz de modo voluntário e consciente, seja porque desconhece que é incorreto / ilegal, seja por esquecimento, seja por outra razão. Qualquer que seja a justificativa, também não é aceitável e tampouco, não é permitido;
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Plágio consentido – é tipificado como plágio consentido, quando o autor permite que outro faça uso de sua obra em troca de algum benefício ou vantagem, como na comercialização de trabalhos acadêmicos.
Os problemas e consequências do plágio de conteúdo
Há muitos problemas sérios e consequências negativas toda vez que um conteúdo é copiado – ainda que parcialmente – sem que seu autor receba os devidos créditos e nós vamos tratar de todos eles, mas em tempos que conteúdo na Web vale ouro, comecemos pelo mais importante, o criador do conteúdo original.
Lá no início, tentamos mostrar o que pode ser o trabalho de um autor e a sua preocupação com a significação e a impressão de um estilo próprio de escrita, que prenda e surpreenda o leitor, mas que também desperte identificação nele, ao mesmo tempo que o escritor compartilha as suas experiências ou apresenta um ponto de vista inédito.
Tudo fica ainda mais complicado quando o que precisa ser dito, consiste de um conteúdo mais técnico, mais específico e, principalmente, quando as palavras escolhidas devem ao mesmo tempo serem precisas e esclarecerem, educarem os leigos.
Publicar algo que gere envolvimento, de fácil absorção e entendimento por parte de quem lê, é atingir o resultado esperado lá no começo, quando as primeiras palavras surgiram. É para muitos, a difícil "arte" da comunicação verbal.
Quando se consegue tudo isso, abre-se uma grande porta para que o plagiador se interesse e utilize o que outrem produziu e por paradoxal que pareça, ao mesmo tempo que ele reconhece a competência do autor, afinal ele escolheu a sua obra para falsificar, ele oculta a verdadeira origem e reivindica o mérito como criador.
E aqui há duas consequências decorrentes de um mesmo desvio moral, ou se preferir, da falta de ética:
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Faltou ética ao assumir como seu e sem quase nenhum esforço, algo que exigiu horas – talvez dias – de dedicação, estudo e leitura, vivência e conhecimento, por parte de outra pessoa;
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Também não houve uma postura ética perante os leitores do plagiador, os quais não tem ciência que aquele conteúdo não é seu e que por vezes, serve para gerar influência, para conquistar confiança e até reconhecimento, sendo que tudo isso, vem da sua audiência.
Para além da falta de ética, há também outros problemas associados ao plágio para todos os envolvidos (autor original, plagiador e internautas):
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Monetização – conteúdo é um dos meios – direta e indiretamente – para monetização de sites e quem faz uso de conteúdos alheios, está obtendo lucro por meio de trabalho dos outros, além de afetar a monetização de quem foi plagiado;
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Reputação – a reputação digital do autor pode ser abalada, já que muitas vezes não é aparente aos internautas quem plagiou quem. Logo, quando as pessoas notam conteúdos iguais, a sua autoridade no assunto é afetada;
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Desinformação – geralmente o plagiador, não é profundo conhecedor do assunto que “escreveu”. Se fosse, não precisaria recorrer a essa atitude condenável. Em função disso, é possível que o conteúdo gerado, contenha imprecisões, informações incorretas, desinformação e até fake news, prejudicando os leitores / visitantes;
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Riqueza das informações – por não contribuir com novas ideias / conceitos, com novas informações, ou até mesmo conferindo uma nova abordagem e enfoque ao assunto, também não contribui para a riqueza e diversidade das informações circulantes na Internet;
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Pasteurização dos conteúdos – outro fenômeno que vem sendo observado, é a chamada pasteurização dos conteúdos, os quais cada vez mais, são iguais uns aos outros, são impessoais, frios. Não comunicam e muitas vezes, são pouco úteis. Enfim, as consequências são similares ao usar inteligência artificial para conteúdo do site, afinal, muitas IAs ditas generativas, são de fato “copiativas”;
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Ranqueamento – o posicionamento orgânico nas páginas de resultados dos motores de busca (as SERPs) é determinado por vários fatores e a originalidade de conteúdo, tem constituído um aspecto relevante. Porém, como o plágio vai na contramão da originalidade e não é útil à audiência, impacta negativamente no ranqueamento, como pudemos comentar no post sobre o Core Update de Agosto / 24;
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Afetam as IAs – de forma semelhante ao que ocorre com o aumento de conteúdos criados por IA, conforme comentamos no post “Conteúdo criado por humanos, o novo “ouro” da Internet?”, o plágio também favorece o viés nas informações, as alucinações de IA, entre outros agravantes;
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Penalidades e questões legais – conforme já mencionado, há legislação sobre a questão, a qual estabelece que é crime o uso não autorizado de propriedade intelectual, sendo o infrator passível de penalidades, como multa e detenção.
Em resumo, perdem todas as partes envolvidas!
Como um autor pode evitar o plágio?
Não há muitas ações efetivas que um autor ético possa adotar e que impeça que seus conteúdos sejam plagiados, no entanto, algumas medidas podem diminuir as chances e/ou dificultar o “trabalho” dos falsificadores de conteúdo:
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Plugins – se o seu site é baseado no WordPress, saiba que existe uma variedade de plugins que dificultam o trabalho de copiar conteúdo do site, como por exemplo:
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Licenças – ao utilizar uma licença que proteja seu conteúdo, você se resguarda da autoria. Existem dois tipos que podem ser utilizados de acordo com a sua intenção:
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Copyright – todos os direitos reservados. Essa licença deixa bem claro para quem consome qualquer tipo de conteúdo, seja ele escrito ou audiovisual, que ninguém tem direito de utilizar o que você produziu. Nem sequer uma palavrinha, mesmo citando quem é o autor da obra, sem a permissão dele;
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CreativeCommons – alguns direitos reservados: informa aaos consumidores intelectuais que você compartilha alguns direitos com eles. Isso pode implicar alterações de trechos e reproduções, dentre outras possibilidades, inclusive para fins comerciais. Mas, não tem a ver como “abrir mão do que você elaborou”. A única restrição comum a todos os direitos é a citação do autor original da obra.
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Registro – realizar o registro dos seus conteúdos, é uma medida preventiva e que garante uma prova autoral e de anterioridade, se eventualmente os seus conteúdos forem utilizados indevidamente. Há algumas empresas especializadas nisso, como por exemplo, a Authora Digital, o Registro Autoral e o Avctoris.
O que fazer se seu conteúdo foi plagiado?
Se mesmo se precavendo, houver alguém se aproprie inadequadamente do que você criou e publicou, é recomendável agir de modo a se resguardar, mas também buscar um caminho mais fácil e amigável. Ou seja, se possível, evite o conflito:
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O primeiro passo é recolher o máximo de informações possíveis – nome, nickname ou nome de usuário no caso de redes sociais, o nome / URL da página do plagiador, site contendo o plágio, data, captura de telas, etc;
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Busque informações que permitam entrar diretamente em contato com quem o fez. Esse contato inicial pode ser feito por uma mensagem de e-mail, WhatsApp ou até mesmo um comentário direto na publicação;
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Informe o responsável pela cópia, que tem ciência do ato, bem como é o autor original do conteúdo e peça a remoção ou que seja feita a devida concessão dos créditos, se entender que é oportuna essa alternativa;
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Caso isso não resolva, você tem outros caminhos a percorrer. Identifique a empresa que hospeda o conteúdo do plagiador. Para isso, basta analisar a URL – blogspot.com; wordpress.com, entre outros;
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Após isso, entre em contato com o serviço utilizado, informando o que houve, ressaltando que é necessário dispor do máximo de informações sobre o falsificador. Eles têm autonomia e interesse em adotar as medidas para retirar o conteúdo falsificado;
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Caso o infrator utilize um serviço de hospedagem de site pago, você pode acessar o whois (responsável por informar quem é o detentor do domínio e a empresa de hospedagem) para dar continuidade ao processo e que é similar ao item anterior. As boas empresas de hosting, têm políticas que coíbem o plágio.
Se as vias amigáveis falharem, é indicado buscar um especialista no assunto, que poderá orientar sobre os trâmites legais e o melhor caminho a ser adotado.
Conclusão
O plágio de conteúdo da Web, é uma prática crescente, mas irregular e nociva a todos os envolvidos, que precisa ser compreendida e coibida.