Liderando mudanças nas empresas para o sucesso
Se tivéssemos que escolher uma só palavra que resumisse o momento pelo qual passa o mundo em 2023, nossa opção seria a palavra mudança.
O significado e as implicações que essa palavra tem para as empresas, não parece ser totalmente aparente para a maioria delas e por isso, o seu sucesso, os seus resultados, serão severamente comprometidos até que entendam o momento atual e o que ainda está por vir.
Compreender porque é importante liderar as mudanças e como colocar isso em prática, é o que veremos hoje.
Um mundo em transformação
Estudar História, ensina-nos muitas coisas, mas dentre o universo de descobertas e aprendizados, um aspecto é certo: tudo sempre mudará em algum momento.
Seja porque novos conhecimentos foram adquiridos e transformaram o modo de se fazer algo, seja porque as circunstâncias exigiram, como a pandemia do coronavírus, por exemplo, seja porque era interessante para as pessoas envolvidas e que em geral, são as que têm algum nível de poder e decisão.
O que acontecerá amanhã, pouca gente tem certeza, embora alguns possam prever e imaginar com base em alguns fatores e avaliação do passado e do presente, mas que haverá mudança, isso todo mundo sabe.
O número de startups ligadas ao agronegócio é um exemplo. O agronegócio é a atividade econômica mais antiga da humanidade e que sempre se caracterizou pelo conservadorismo e a manutenção de modelos durante séculos, mas nas últimas décadas têm observado – e aprendeu a incorporar – uma série de avanços tecnológicos, como os que vêm por parte das pesquisas e desenvolvimento nas Embrapas, como também de startups que promovem inovações diversas na condução dessa ancestral categoria de negócios.
Quando pensamos em outro setor que é fortemente ligado às tradições e ao conservadorismo, logo vem à mente o militar. Por mais que tenha sempre existido aplicação de tecnologia nas táticas e estratégias de guerra, mas principalmente nos armamentos, para um soldado, sua arma sempre foi seu melhor aliado.
Mas isso está mudando também. Ainda que as armas não tenham perdido seu status, hoje a tecnologia, ocupa o mesmo espaço em importância.
É caso da guerra entre Rússia e Ucrânia. Seja com os drones que servem tanto para obter informação do inimigo, como para bombardeá-lo, sem colocar em risco suas tropas. Seja com algo que nem foi criado com o propósito que tem sido usado – o Steam Deck.
Quem é gamer, já deve saber do que estamos tratando.
Para quem não é, resumidamente o Steam Deck é um console de games portátil e que dá acesso biblioteca da Steam, a maior plataforma de venda de jogos online para computador.
Vídeos já circulam na Web, nos quais é possível ver soldados ucranianos sendo treinados para usar o dispositivo para controlar e disparar remotamente torres de metralhadoras e assim, combaterem sem que o “operador” da arma seja alvo do inimigo.
O aprendizado de técnicas de combate “corpo a corpo” e a perícia no uso da arma, deu lugar a habilidade no manuseio de um dispositivo dotado de sistema operacional nativo, controles ótimos, tela sensível ao toque e compatível com Linux, mais barato, menor, mais leve que as potentes armas antes empunhadas.
Uma mudança até pouco tempo inconcebível no conjunto de conhecimentos transmitidos nas academias militares!
A velocidade das mudanças
Raymond Kurzweil, guru de computação, futurólogo, detentor de várias patentes e sócio de um bocado de empresas, uma vez disse algo como: “lá por volta do ano 1000, uma mudança de paradigma acontecia a cada século e isso foi assim até por volta de 1800. Mas nesse século até 1900, ocorreram mais mudanças importantes do que nos 900 anos anteriores. Repetiu-se essa ‘loucura’, mas bastou a primeira metade do século XX para acontecer de novo. Já na virada do século, uma década era suficiente”.
Quando olhamos para essa grande aceleração nas mudanças do século XX, ela coincide com o que conhecemos como Globalização e com a indústria do cinema em Hollywood e que tornou glamouroso o ato de fumar e produtos como a Coca-Cola e a calça jeans, tornaram-se itens de consumo generalizado e o “american way of life”, virou o desejo de gente nos quatro cantos do mundo.
Antes, o tempo poderia parecer não passar em alguns lugares e década após década, tudo permanecia sendo feito do mesmo jeito, como tinha sido com os pais e desses, para com os seus pais e avós.
Entre tantas coisas, a globalização foi responsável por levar ideias, hábitos, conceitos, jeitos de viver e de fazer negócios, para além das fronteiras geográficas.
Depois veio a transformação digital, que mudou radicalmente os escritórios das empresas no século XX, moldando-os no que são no XXI.
E nessa área, o computador e a Internet, foram decisivos. O que acontece lá em Timbuktu (Mali) ou em Genebra (Suiça), não fica mais somente lá. A depender de algumas conexões nas redes sociais, de um dia para o outro chega ao mundo todo.
E se já não fosse muito, ainda tem a inteligência artificial, que promete mudar muito mais e em apenas uma fração do tempo antes necessário.
Aliás já está mudando. De empresas que anunciaram que a tecnologia vai acabar com alguns milhares de empregos, como também daquela que ao longo da última década reinou como uma das mais poderosas big techs, mas que nos primeiros meses de 2023, está vendo sua até então aparentemente sólida hegemonia, sofrer forte e real ameça, na figura do ChatGPT e do “novo Bing”.
A liderança na era das mudanças
Lá naquela mesma época em que Kuzweil disse que as coisas levavam 100 anos para mudar, por volta do ano 1000, alguns cartógrafos (pessoa que faz mapas) colocavam em regiões ainda desconhecidas, como nos mares ainda não navegados, que ali “havia dragões”.
Ou seja, era o medo do desconhecido e do não ainda explorado e que servia de alerta para quem ousasse se aventurar.
Esse “medo” é o que sempre impediu pessoas e empresas – já que empresas são conduzidas por pessoas – de fazerem diferente. Ao fazer da forma que sempre fiz, sei que resultado esperar e que não há um “dragão” para enfrentar.
Por consequência óbvia, não dá para imaginar colher um resultado diferente, continuando a fazer como sempre.
Tom Peters – o guru dos negócios – em seu livro “Re-imagine!” (Reimagine!, em português), usa uma expressão interessante para isso: “pavimentando a trilha das vacas”.
As vacas seguem umas as outras, sempre fazendo o mesmo caminho em busca de pastagens e seus cascos formam uma trilha.
Até pouco tempo o que as empresas vinham fazendo, é seguir umas as outras nos mesmos caminhos – como as vacas fazem – e algumas no máximo preocupavam-se em melhorar esse caminho, pavimentando-o.
Em termos práticos, nas últimas décadas, o que se vê, é tão somente sistematizar processos antigos e consolidados durante décadas. Os nossos velhos e “bons” paradigmas ou formas únicas de se fazer as coisas, exceto que “pavimentados” graças aos sistemas / computadores.
O grande desafio para as empresas em meio a esse cenário de rápidas e radicais mudanças, é contar com líderes capazes de antever e liderar para esses novos tempos e descobrir que “não há dragões por todos os lados”.
Por que as pessoas / empresas resistem à mudança?
A primeira razão já está dada – o ser humano tem medo do desconhecido. Ou de dragões, se preferir.
No entanto, há outros fatores que contribuem para frear as mudanças:
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Paradigmas – paradigmas regem boa parte das situações das nossas vidas, como sendo a coisa certa a se fazer, porque tudo mundo faz ou porque sempre foi feito assim, por exemplo;
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Hábitos – os hábitos estão ligados a um mecanismo contraditório do cérebro e que é evitar que se tenha que pensar. O que fazemos por hábito, dispensa que tenhamos que nos concentrar em cada detalhe e no que é preciso fazer para completar a tarefa. É automático e libera o cérebro para fazer outra coisa paralelamente;
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Habilidades – qualquer mudança costuma também exigir o aprendizado ou o desenvolvimento de novas habilidades, as quais não se sabe se tem e/ou se seremos capazes de adquirir. Isso por sua vez, produz insegurança ou medo mesmo. No ambiente empresarial, significa ampliar suas hard e soft skills e que por sua vez, implica investir tempo, esforço e muitas vezes, dinheiro também;
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Gerações – as gerações anteriores aos “Zs” ou centennials / centenários têm mais dificuldade em reagir às mudanças, exceto alguns millennials, que já cresceram em uma época na qual elas já eram mais frequentes;
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Visão – mudar exige visão. Visão de mundo e do ambiente no qual a mudança acontece e como ela o afeta. Sem essa visão, a pessoa sabe que precisa mudar, mas não sabe o que é preciso fazer para.
Como liderar para a mudança?
Obter resultados por meio de liderança já não é tarefa fácil em um ambiente estável, de pouca mudança e boa previsibilidade. Mas diante do cenário que se desenha cada vez mais transformado e transformador, exige-se ainda mais dos gestores na condução de suas equipes.
Muitos gostam de chamar esse ambiente de intensa transformação de mundo VUCA.
O conceito se referia às constantes mudanças observadas no mundo após a atenuação das tensões no período histórico conhecido como “Guerra Fria”, no início dos anos 1990, para tentar explicar o cenário de incertezas na geopolítica mundial.
VUCA é o acrônimo formado pelas palavras Volatility (Volatilidade), Uncertainty (Incerteza), Complexity (Complexidade) e Ambiguity (Ambiguidade).
Como é comum com tudo que pode ser replicado e/ou aplicado nos negócios, o conceito VUCA entrou rapidamente nas empresas, para por exemplo, ajudar a lidar com os impactos da globalização e dos avanços tecnológicos.
Nesse panorama, um líder precisa basear-se em uma série de fundamentos se quiser ser o comandante de uma equipe capaz de assimilar as transformações e quem sabe até, desencadeá-las.
1. Modelo
Toda transformação exterior começa por uma transformação interior, o que significa que ele próprio – o líder – deve promover primeiramente em si mesmo, aquilo que ele quer ver nos demais.
Se o líder não for um modelo do que ele quer, espera e propõe, ele até pode conseguir algum resultado pela autoridade do cargo.
Entretanto, conseguir melhores resultados e menor resistência para adesão, passa necessariamente por seu time enxergar nele o comportamento que ele “cobra” deles.
2. Comunicação
A qualidade na comunicação empresarial, é um pressuposto de eficácia.
Significa que toda informação relevante alcança quem precisa dela e que deve ser um caminho de mão dupla.
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Comunique de forma clara sobre as mudanças que estão ocorrendo na empresa e justifique porque elas estão ocorrendo;
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Explique porque a empresa precisa que os funcionários devem agir de uma nova maneira, sempre que possível apoiado em fatos, números e exemplos;
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Procure obter feedback sobre as expectativas, as opiniões e dúvidas sobre as novidades anunciadas. Deve haver um clima propício para todos fazerem perguntas, expressarem seus sentimentos e darem sugestões;
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Negocie com a equipe sobre o que ela fará para atingir as novas metas e obter os melhores resultados. Quanto mais quantificável e preciso for, melhor;
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Dê espaço e abertura para mudanças de rota, como nos casos em que algo não sair exatamente como planejado / desejado, pois diminui o medo e a insegurança que naturalmente acompanham o novo. As pessoas saberão que eventuais deslizes não serão o fim.
3. Conscientização
Outro fator de importância da comunicação, é que ela é o principal meio para promoção da conscientização.
Em primeiro lugar, o processo de conscientização costuma ser menosprezado. Supõe-se que as pessoas compreendam por si mesmas a razão da mudança, o que não costuma ser o caso.
Ou então se supõe que nem todos precisam compreender.
Ao ter essa presunção, pessoas essenciais para o processo de mudança acabam ficando fora dele.
De qualquer forma, quando as pessoas não compreendem plenamente o "por quê”, o “o quê” e o “como" da mudança, apresentam maior resistência e levam mais tempo para conduzi-la.
Conscientização é um processo quase que educativo.
4. Motivação
É preciso descobrir quais os motivos que desencadeiam ações de mudança. Quanto mais fortes forem esses motivos, mais motivação haverá para mudar.
Porém esses motivos devem ser claros e aparentes e acima de tudo, precisam ser motivos para os envolvidos e não para quem está de fora.
É diferente de simplesmente impor um novo sistema, apenas dizendo que ele é melhor. Quem o usa, é quem deve enxergar as vantagens e benefícios que ele fornece na sua rotina de trabalho. Neste caso, prática e acompanhamento são necessários.
5. Visão
A velocidade cada vez maior das inovações disruptivas, das novas tecnologias, produz muita complexidade e incertezas nos mercados em que as empresas atuam.
Um líder com visão, não acaba com as incertezas, nem torna as coisas menos complexas, mas possibilita aos seus comandados enxergar melhor os caminhos e as soluções, bem como ele próprio.
Quando o líder consegue enxergar a frente e, sobretudo, quando ele compartilha com sua equipe, ele diminui as inseguranças.
6. Agilidade
É necessário que a equipe saiba reagir a cenários que mudam com muita rapidez, sobretudo, sob pressão. É o oposto do comportamento baseado em hábitos e que consiste em ver que é preciso encontrar um novo caminho para chegar ao trabalho todos os dias, porque hoje um acidente provocou trânsito no caminho usual.
Ser ágil é a principal resposta ao um ambiente volátil, ou seja, que no qual o que era uma verdade até ontem, hoje já não é mais.
Mas a agilidade também precisa estar acompanhada de alguns requisitos, como preparação (conhecimento), autonomia de decisão e até certa dose de antecipação, que tem nos PDCAs e planos de contingência, bons exemplos.
7. Condições
Deve-se criar as condições propícias para conduzir as transformações.
Uma teoria biológica que – adaptada ao mundo empresarial – diz que a maioria das estratégias de mudança está fadada ao fracasso desde o início. Isso porque, como em uma planta, há uma grande variedade de itens que determinarão se um processo de mudança no ambiente, permitirá que a planta se desenvolva ou não, como a seca prolongada ou a chuva em excesso.
Se um deles não receber a atenção necessária, o projeto morre em pouco tempo.
Assim, o líder precisa contar com um suprimento de água se ela faltar, ou um método eficiente de drenagem, se ela for em excesso, bem como as condições do solo, insolação, etc.
8. Democracia
Toda vez que determinações são impostas e pensadas de cima para baixo, sem uma participação efetiva da base, não há outro resultado senão o fracasso.
Não surgem novas ideias do pessoal das linhas de frente, porque elas se sentem intimidadas demais para colocar a “cabeça para fora”.
Aí está o segredo vital para o desenvolvimento e o sucesso de um programa eficaz de mudanças na cultura de uma organização. A estratégia, as informações e a autonomia de decisões precisam se espalhar por toda a organização, desde o presidente até o operário. Não se libera energia para criar novos produtos ou compartilhar ideias, porque as pessoas estão ocupadas demais competindo entre si para agradar seus “chefes”.
9. Kaizen
Kaizen é uma das muitas lições de administração aprendidas com o oriente e que bem resumidamente consiste em ciclos sucessivos de pequenas melhorias contínuas.
Segundo o Kaizen, nada, nunca está suficientemente bom. Sempre algo pode ser melhorado / aperfeiçoado.
Com base nisso, os gestores precisam institucionalizar a capacidade de adaptação contínua das pessoas e dominar o paradoxo de criar um ambiente estável / seguro para mudanças.
As competências essenciais exigem a capacidade de prever e implantar mudanças futuras, desenvolvendo continuamente novas estratégias e se adaptando a novas realidades de mercado. E, então mudam todos os aspectos da organização para que possam ser congruentes com as novas estratégias.
Elas são compostas por pessoas que entendem a necessidade de transformar estruturas, processos e comportamentos para atender novas necessidades e que mudam o desenho organizacional à medida que o mercado e os clientes mudam.
Quando isso se incorpora idealmente a filosofia da empresa, em vez de adaptar-se às mudanças, será ela própria que as ditará.
Mas tais mudanças são graduais e de pequena magnitude. Logo, são menos “traumáticas”, porque consistem só de algo novo e não radical.
Muitas das empresas de maior sucesso do mundo, são exemplo disso, como é com a Apple. Steve Jobs parecia um eterno insatisfeito com seus produtos, que sempre sucediam um ao outro, com a proposta de fazer ainda melhor que o modelo predecessor.
Mudança e transformação, são palavras que tanto não assustam, como são a tônica de empresas desse tipo.
10. Conhecimento
A falta de conhecimento associado à mudança, é dos principais motivos de resistência por parte das pessoas.
Quando falamos de conhecimento, é daquele necessário para beneficiar-se da transformação e fazer parte dela. No caso da Internet, por exemplo, quando surgiram as primeiras lojas virtuais e os sites de comércio eletrônico, muitos daqueles que estavam de fora e não sabiam nada do que era preciso para também surfar a onda, apenas sentiram que seus negócios físicos seriam ameaçados.
Mais ainda, questionavam e alguns até duvidavam da sua continuidade. “É só um modismo que logo vai passar”; “Isso não é para mim”; “É muita tecnologia, investimento e eu não tenho acesso a esse tipo de coisa”; “Será que é seguro? As pessoas vão receber o que estão comprando?”; “Os clientes precisam de um vendedor, pegar e ver as coisas que estão comprando. Isso de comprar pelo computador, é uma furada!”.
Ou seja, a falta de conhecimento mais técnico de tudo que está associado, coloca de fora aqueles que deveriam participar dela.
Isso pode ser contornado com cursos, treinamentos, workshops, palestras e, acima de tudo, educação corporativa, a qual capacita e ajuda a formar profissionais aptos a lidar com uma maior diversidade de assuntos e dessa forma, não apenas acompanhar as mudanças, mas algumas vezes a também serem os protagonistas delas.
Líderes que se preocupam com o constante aperfeiçoamento da sua equipe, além de tê-la em melhores condições de assimilar novas tecnologias e inovações, também conseguem melhores resultados globais em condições “normais”.
Conclusão
Liderar para as mudanças, é necessário em um mundo no qual tudo se transforma o tempo todo. Preparar uma empresa para isso, é responsabilidade dos gestores.