O que são as fake news e desinformação na Internet e quais seus impactos?
Muito antes da Web se tornar o principal meio para se manter informado, afirmações infundadas de que “o homem nunca pisou na Lua” e as imagens da NASA foram produzidas em Hollywood, geralmente divulgadas pelos adeptos de delirantes teorias da conspiração, já circulavam por aí, sendo aceitas como verdadeiras por muitos, consistindo de uma legítima fake news e produzindo desinformação.
Ainda que esse não seja um fenômeno novo, a rede mundial de computadores está servindo de importante instrumento para disseminar e amplificar as suas consequências nocivas.
Por isso, nesse importante bate-papo, vamos entender como podem ocorrer as fake news, a desinformação que produz, os impactos e como evitar esse problema.
O que são fake news?
Objetivamente, as fake news – notícias falsas, em português – são caracterizadas como um conjunto de ações e técnicas aplicadas na difusão da informação, alterando de forma deliberada o conteúdo associado, com intuito de produzir uma visão alterada da realidade, para enganar, manipular ou influenciar a opinião pública ou com outros propósitos diversos.
O termo tem ganho destaque nos últimos anos e em cenários mais amplos, tem sido tema de inúmeros estudos acadêmicos e discussões públicas, uma vez que com o espaço que a Internet tem na vida das pessoas, as fake news tem se alastrado de modo preocupante.
A propagação de notícias inverídicas, geralmente tem como principal motivo, atender aos interesses de grupos privados ou políticos associados, por meio da alteração da informação, a qual invariavelmente afeta a opinião pública e mesmo o discurso público em diferentes graus.
É quando aqueles por trás da manipulação da informação real, beneficiam-se ao criar uma imagem ou conceito a respeito de um tema, que lhes é favorável, mas que não é baseado em verdade e em fatos.
A alteração pode ser sutil, por simples omissão de dados importantes do todo da informação ou por simples distorção de outros dados / fatos, ou em casos extremos, pode não haver nenhuma fundamentação real.
Seja em que nível a informação sofra alteração ou qual o propósito de sua modificação, a consequência imediata é que todas as pessoas as quais são atingidas, não estão sendo informadas adequadamente. Não têm informação real, verídica, fundamentada, comprovada e assim, em vez de serem informadas, são desinformadas.
Mais que isso, estão sendo enganadas e dependendo da situação, podem estar sendo prejudicadas em diferentes níveis e até mesmo, estarem sob algum tipo de ameaça, de dano material, financeiro, físico e até moral.
Qual a diferença entre desinformação e fake news?
Embora nem toda desinformação seja resultante de fake news, toda notícia falsa produz desinformação.
Isso porque se entende que a desinformação pode ocorrer por uma série de circunstâncias;
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Pode ser originada por repassar boatos;
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Quando ocorrem diferentes problemas (níveis de ruído) na comunicação;
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Diferentemente das fake news, a transmissão da informação incorreta pode não ser intencional;
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Por imperícia ou descuido na checagem dos fatos relacionados com a notícia;
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Erros de interpretação, por exemplo, decorrentes de erros de português;
Ou seja, em linhas gerais, a desinformação não costuma ser intencional, ainda que as consequências possam ser tão severas quanto à difusão de fake news.
Assim, podemos definir a desinformação, como sendo o termo que caracteriza o conteúdo que contribua para o aumento de informação incorreta, não validada ou ainda, sem a devida clareza, transparência, fornecendo uma visão errada da realidade.
As fake news e a Internet
As fake news não são uma consequência direta da Internet e tampouco surgiram em função da rede mundial de computadores. Como já mencionamos, a desinformação se manifesta por exemplo, nos boatos, os quais existem desde os tempos mais remotos.
A disseminação de notícias falsas ou imprecisas, é um fenômeno acima de tudo social e pressente em várias esferas, vide a popular brincadeira do telefone sem fio, na qual uma informação pode ser totalmente distorcida, a medida que a mensagem original é replicada por diferentes pessoas, embora nesse exemplo, a alteração na informação, costume ocorrer de forma involuntária, por simples presença de problemas diferentes na comunicação ou fatores diversos que a afetem.
Já no contexto da Internet, da mesma forma que ela oferece os meios para disseminar de forma rápida a “boa informação”, também facilita em igual medida a expansão das notícias falsas.
E em meio a todos os meios, passar adiante qualquer dado, seja ele verdeiro, seja falso, está a um simples clique, graças às redes sociais e os seus mecanismos que facilitam o compartilhamento.
Não bastasse a facilidade de passar à frente um conteúdo qualquer, há ainda outros aspectos que favorecem a disseminação das fake news na Internet e em particular, nas redes sociais:
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Disseminação involuntária – a qual ocorre não porque se pretende obter algum tipo de vantagem, mas por uma mera questão comportamental. O ser humano tende a crer e confiar naqueles com quem se relaciona e assim, se as pessoas que compõem a sua bolha social e que em linhas gerais têm uma visão de mundo semelhante, presumem que se uma dada informação que é compartilhada por todos, tende a ser verídica e dispensa averiguação da sua veracidade;
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Viés de confirmação – quando um dado ou informação (ou desinformação?) serve para confirmar crenças, opiniões e conceitos próprios, para muitos há a tendência de desconsiderar outros dados que sejam contrários ou que coloquem em dúvida sua credibilidade. Ou seja, funciona como um aval que vem reforçar as próprias convicções e opiniões sobre o tema abordado;
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Refém dos algoritmos – os algoritmos das redes priorizam conteúdo baseado em métricas de engajamento, ou seja, a frequência com que é compartilhado, comentado e curtido, e não na sua veracidade. Além do objetivo de manter os usuários por mais tempo na plataforma, devem alimentar os assuntos de maior audiência e que produzem mais conteúdo para a própria rede social;
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Procedência – a informação falsa pode vir de qualquer fonte – ou não precisa obrigatoriamente de uma – e sem nenhum aval ou confirmação, com potencial de se difundir, de manipular as emoções e de exercer influência, de modo viral e determinante no público;
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Regulamentação – as empresas de redes sociais, diferentemente das editoras e dos veículos jornalísticos, não têm as mesmas responsabilidades jurídicas que os veículos de mídia tradicionais, embora já se venha discutindo uma regulamentação que estipule normas e responsabilidades;
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Inteligência artificial – com a evolução e popularização da inteligência artificial, os bots estão cada vez mais hábeis em imitar o comportamento humano de forma quase perfeita, assumindo o controle na produção de conteúdos para perfis nas redes, o que dificulta o processo de checagem da fonte e dos fatos contidos na notícia;
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Deepfakes – resultante da fusão de "deep learning" e "fake", são vídeos falsos criados usando recursos de inteligência artificial, para produzir vídeos que mostram eventos ou ações que nunca aconteceram realmente. Graças ao avanço da IA e do poder computacional, o produto final pode ser muito convincente e difícil de identificar como falso;
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Influenciadores – por redundante que soe, o aproveitamento da influência exercida por determinados influenciadores digitais sem responsabilidade, sem compromisso ético com seus seguidores, com sua audiência. Apoiam-se no princípio comportamental, de que fatos objetivos têm menos poder de influência na formação da opinião pública, do que apelos a emoções ou crenças pessoais dos seus seguidores;
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Tecnologia – o crescimento e o acesso às novas tecnologias, permitiu que qualquer pessoa se tornasse um produtor de conteúdo, compartilhando-o com qualquer outra pessoa em qualquer lugar do mundo, por meio das redes sociais.
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Era da informação – entre os muitos comportamentos que a Web estimulou, a necessidade de se manter informado sobre tudo o que está acontecendo, fez com que as pessoas aceitem apenas se submeter a volumes imensos de dados não filtrados e que costumam superar sua capacidade de analisá-la criticamente.
Não bastasse o cenário bastante propício acima, a propagação de fake news ou hoaxes (boatos) na Web, também é favorecida pela disponibilidade e diversidade de ferramentas e o custo da ordem de pouquíssimos centavos para envios usando robôs de Internet (bots), amplificando o alcance e tornando a atividade bastante lucrativa.
Há ainda a boa fé ou aqueles que têm um comportamento crédulo e que pelo simples fato de constar como conteúdo em um site ou blog, presumem que a informação é verdadeira. Há muitos sites que divulgam informações imprecisas, muitas vezes não por má-fé, mas por estarem reproduzindo dados de outros sites que também não checaram a exatidão da informação veiculada.
Por fim, o fato de haver um smartphone em cada bolso ou bolsa, fez da Internet uma ferramenta portátil, onipresente e que tem sido determinante na relação das pessoas com as mais variadas situações do quotidiano. O internauta consulta um assunto e basta umas poucas linhas de informação para assumir que “se está na Web, deve ser verdade”!
Para evitar situações como essa, que o Wikipedia contém alertas sobre determinados conteúdos que carecem de fontes confiáveis. Mas apesar disso, é comum encontrar pessoas que sustentam seus argumentos, afirmando: “Eu vi, eu li no Wikipedia. Vá lá e veja você mesmo”.
Assim, se o grupo no qual alguém está inserido, é integralmente partidário de uma ideia, notícias falsas que fundamentam tais ideias, provavelmente não serão questionadas. Ao contrário, servem para reforçar seus pontos de vista e aumentar o abismo que as separa de quem pensa diferente, intensificando ainda mais a desinformação.
As consequências das fake news e da desinformação na Internet
Há projetos de lei que tramitam há algum temponas casas legislativas, no sentido de responsabilizar até mesmo criminalmente a disseminação de fake news ou mesmo informações que forem divulgadas sem que tenham sido verificadas previamente quanto à sua veracidade, independente do motivo da incorreção.
No entanto, não há ainda legislação específica a respeito, trazendo importantes consequências negativas da desinformação, independente de como se manifestam.
Em casos extremos e não raros, podem trazer perdas financeiras e até mesmo casos fatais, como de Fabiane Maria de Jesus, vítima de linchamento por divulgação de informações falsas em redes sociais.
O impacto da desinformação na Internet, já virou até mesmo motivo para instauração de uma CPMI da Fake News (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) no Senado e Câmara Federal, com intuito de avaliar as responsabilidades e impactos que as fake news podem ter tido nos destinos da nação.
Esse não é um “privilégio” brasileiro e movimentos similares tem sido observados globalmente, como por exemplo, na eleição de Donald Trump em 2016, para citar apenas o caso mais emblemático, mas que evidencia o quão relevante é a questão, na medida que os rumos de uma eleição podem ser alterados usando-se de fake news.
Em termos mais objetivos, as principais consequências das fake news e da desinformação, são:
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Quando as pessoas não conseguem distinguir entre notícias reais e falsas, isso cria confusão e mal-entendidos sobre questões importantes, como por exemplo, assuntos de ordem sanitária, como as campanhas de vacinação, levando as pessoas a tomarem decisões equivocadas sobre sua própria saúde;
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A medida que cresce a sensação de que não se pode acreditar em tudo o que se lê, também se começa a questionar e aumentar a desconfiança nas fontes de notícias legítimas;
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Ultimamente tem ocorrido a intensificação da polarização relativa a muitas questões e, sobretudo, no âmbito político e social. As bolhas em que as pessoas vivem, intensificaram essa segregação de opiniões e que se observa acima de tudo nas redes sociais, como reflexo de grupos cada vez mais bem definidos com base em ideário comum;
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O aumento de conteúdos imprecisos, tem tido impacto também nos conteúdos produzidos por inteligências artificiais, produzindo as chamadas alucinações de IA, que é quando os resultados apresentados são incorretos ou enganosos, tanto porque os dados de treinamento insuficientes, como por suposições incorretas feitas pelos modelos e principalmente, quando há vieses nos dados usados para treiná-los;
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Usar informações para o trabalho, para o desenvolvimento acadêmico e profissional, ou para qualquer ganho de conhecimento, baseado em informações incorretas, afetará os respectivos resultados e desempenho;
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A reputação digital e a imagem de marcas / empresas são afetadas, seja nos sites de reclamação, seja nas avaliações do Google, os quais têm sido usados como ferramentas para disseminação de informações inverídicas, com objetivo de prejudicar uma empresa;
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Empresas com posturas bastante questionáveis, fazem campanhas publicitárias com informações claramente distorcidas. Em muitos casos, o que se vê são anúncios que prometem resultados excepcionalmente bons de produtos totalmente desconhecidos, como por exemplo, o emagrecimento rápido em prazos mínimos ou a solução definitiva para a calvície, com consequente prejuízo financeiro e moral ao consumidor;
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Em um território que parece não ter lei, o clickbait se tornou uma prática comum e agora parece que tudo é permitido em troca de um acesso, de um clique e com isso, cada vez mais prolifera conteúdo de pouco valore enganoso para os internautas;
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Quando envolve pessoas físicas, as fake news podem produzir uma série de consequências graves na sua reputação, na sua imagem, causando complicações não só econômicas, mas também, pessoais e até de natureza psicológica.
Como identificar uma fake news?
Apesar das fake news contarem com um arsenal de recursos que as tornam cada vez mais verossímeis, há um conjunto de medidas que permitem identificar com razoável grau de certeza, que se tratam de desinformação:
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Não leia apenas o título, mas sim a notícia inteira. Títulos sensacionalistas e que induzem a conclusões equivocadas, são comuns nesse tipo de conteúdo;
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Confirme a fonte e a autoria do conteúdo. Embora não seja uma regra rígida, a falta de transparência pode ser um indício. No caso de um site, verifique o endereço da página, pois é comum que sites de fake news usem nomes similares de fontes conhecidas e confiáveis, mas usando extensões de domínio menos comuns, como ".info", por exemplo, a fim de confundir o visitante;
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Cheque as credenciais do autor, sua reputação, seu histórico e se ele tem autoridade para tratar do assunto. Além disso, as agências de notícias internacionais, costumam dispor de recursos para checagem de fatos, o que constitui um bom aval;
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Pesquise a mesma notícia em sites reconhecidos por seu compromisso com a informação. Sendo informação relevante, certamente haverá outras fontes para a mesma informação. Caso seja uma notícia falsa, é provável que encontre informação que permite confrontar e identificar a sua falta de veracidade;
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Compartilhar notícias antigas pode também ser considerado desinformação, a depender do contexto. Por isso, esteja atento a data a qual a notícia de refere. Nesses casos, checar em outros sites, também é recomendável;
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É comum que fake news que usem um estilo de escrita com apelo emocional, visando convencer ou capturar a atenção do leitor. Use seu senso crítico e analise o porquê ou a necessidade desse tom. A maior parte dos veículos isentos, tende a apenas relatar os fatos e usar uma linguagem mais neutra e compreensível à maioria;
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Receber uma notícia de alguém conhecido, não deve ser encarado com atestado de autenticidade. As demais verificações devem ser feitas, independentemente de quem lhe retransmitiu a notícia;
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Verifique os dados contidos, como números, estatísticas, pesquisas, citações e falas de entrevistados e links para outros conteúdos relacionados. As notícias falsas costumam falhar em amarrar os dados à narrativa;
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Em sites e conteúdos que permitem comentários dos visitantes, verifique-os. Leitores atentos e bem informados, podem apontar incorreções e até darem a informação correta;
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Habitue-se a acompanhar uma rede bastante diversa de informação, para assim fugir de estereótipos e não se isolar em uma bolha. Com isso, você alimenta seu cérebro com outras perspectivas;
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As imagens relacionadas a um conteúdo, também podem ser falsas. Busque sinais de edição, como irregularidades, sombras, cores e texturas. Faça uma pesquisa no Google do assunto relacionado à imagem, para encontrar outras fontes da mesma informação;
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Use um site de checagem de fatos. Com o enorme crescimento das fake news, já existem alguns especializados nesse tipo de conteúdo, especialmente para notícias polêmicas ou que envolvem interesses nacionais.
Conclusão
Com a Internet, as fake news e a desinformação, são amplificadas em quantidade, alcance e velocidade de difusão, impactando negativamente toda a sociedade.