Excesso de publicidade online e as consequências para o site
Se você fizer uma pesquisa sobre publicidade online ou na Internet, a quantidade de conteúdos disponíveis será muitas vezes maior do que você será capaz de consumir, ainda que dedique várias horas ou mesmo dias. Todo site que trata do assunto, tem um – ou vários – artigos falando das mil e uma maravilhas e vantagens dela.
A primeira consequência vem causando um problema que parece difícil de enxergar para os envolvidos, especialmente os sites de conteúdo, mas não apenas eles – o excesso de publicidade online.
Quanta publicidade online seu site exibe? Como saber qual o limite? Quais as consequências disso? Essas são algumas das perguntas que você será capaz de responder ao fim do nosso bate-papo de hoje.
A situação da publicidade em sites de conteúdo
De celular na mão, procurando notícias do seu interesse para passar o tempo enquanto está no ônibus, no metrô, ou em qualquer outro momento, não importa, você toca em um título de conteúdo do seu time do coração, sobre um novo e badalado reforço.
Ao começar a carregar a página, você já desliza para baixo buscando o primeiro parágrafo do texto. Em vez disso, primeiro uma publicidade entre o título e a imagem que ilustra a matéria. Logo outra aparece acima do título e empurra tudo mais para baixo.
Desce mais um pouco, mas depois na tela se abre um espaço em branco e mais outra começa a ser carregada e apesar de continuar deslizando, uma quarta surge, até que enfim, depois de descer, descer e descer, as duas primeiras linhas do parágrafo são exibidas.
Mas quando você parte para a leitura do terceiro parágrafo, sobe de baixo uma quinta e cobre quase todo o conteúdo.
Você tenta achar como fechá-la e ao clicar sobre o minúsculo “X”, que deveria livrá-lo dela, você vai “acidentalmente” para o site do anúncio. Aquele “X” é propositalmente pequeno para induzi-lo ao erro.
O toque para voltar, faz repetir todo o processo acima e além disso, uma sexta surge e logo abaixo um botão “saber mais” e que você acha que é o caminho para continuar a leitura. Ledo engano. Mais uma página vinculada à publicidade e mais um “truque” para enganá-lo.
Em um exercício de paciência, afinal sua curiosidade sobre quem está chegando para reforçar o ataque do seu time, é maior que sua irritação e você volta mais uma vez.
Só que no retorno, quando você posiciona o dedo na tela para outro scroll, mais outra aparece – já perdemos a conta de quantas foram – em um passe de mágica!
Agora mais atento aos botões “enganadores” e aos anúncios que surgem como pipocas estourando em uma panela, você finalmente consegue ler mais uma porção do texto. A informação e o nome de quem está chegando, ainda não está lá e por isso, é preciso continuar deslizando e vendo novas áreas em branco aparecendo para acomodar outros anunciantes.
Depois de insistir e ficar um tanto irritado, notícia lida e a descoberta de que uma informação que poderia consumir 30 segundos ou quando muito, um minuto, tomou-lhe muito mais tempo, deixou-o bravo, fez ver muito mais conteúdo publicitário do que o que lhe interessava e ainda vai fazer com que os toques acidentais e não voluntários, façam aparecer mais 4597 vezes as mesmas publicidades em outros conteúdos que resolver consumir.
Afinal, os cookies gravados vão indicar que você se “interessou” pelos produtos / serviços, que você não queria, mas clicou! E sendo cookies de terceiros, sua privacidade já foi comprometida e a LGPD em alguma medida foi ignorada.
É uma situação fictícia, mas que baseia-se na realidade de todos nós atualmente ao navegarmos por aí. Inclusive, muitos sites de notícias de futebol, são exemplos perfeitos desse exagero de publicidade online que tem dominado a Web.
Por que há excesso de publicidade online?
Com alguma razão, a quantidade de conteúdos a respeito dos benefícios e vantagens da publicidade online, é imensa! Todavia, ninguém – ou pouquíssima gente – fala das desvantagens do abuso ou de como fazer na medida certa.
É inegável que conduzido de modo profissional, há benefícios, mas como tudo na vida, é preciso bom senso e limites.
Seja quem paga para ter sua marca exibida na Internet, seja quem recebe por exibir em seu site essa publicidade, tem na motivação financeira a principal razão.
São em sua maioria adeptos do “quanto mais, melhor”.
A nossa descrição do cenário hipotético, está longe de ser uma exceção ou apenas um exemplo. Ao contrário, tem sido o novo “normal” e reforçado a equivocada ideia de que a quantidade é diretamente proporcional ao benefício
Quando um administrador de site menor e que ainda não tem uma boa audiência acessa e navega por alguns grandes e conhecidos, ele conscientemente ou não, assume que aquela enxurrada de anúncios pipocando na tela, deve ser bom e não traz consequências negativas e simplesmente copia a prática, mas em seu próprio site.
A diferença é que um site grande, popular e com dezenas de milhares de acessos diários, ainda que sofra as consequências negativas, também consegue alguns benefícios em função do volume. Eles são a exceção e não a regra.
Mas não é só isso que tem impulsionado o excesso de publicidade nos sites:
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Google – ferramentas do Google como o AdSense e Ads, fizeram com que a inserção publicitária seja acessível para os “leigos” nas duas pontas da cadeia, praticamente eliminando as agências, que entre outras coisas também fornecem consultoria em como a veiculação eficaz deve ser feita;
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Monetização vs publicidade – de um lado a busca frenética por monetização e especialmente dos sites que só sobrevivem graças a ela e do outro lado, a ansiedade por visibilidade do anunciante. No final, nem um, nem outro, pois a crença de que disponibilizar mais espaço publicitário aumenta a receita, estimula o excesso e diminui a eficiência;
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CMSs – tal como as ferramentas do Google, os CMSs possibilitaram que qualquer pessoa pudesse criar e manter um site, sem assessoria de profissionais especializados em vários dos conceitos que um site deve atender e negligenciando questões de design e layout, experiência do usuário, navegação, cores, fontes, ícones, etc. Fica tudo restrito ao gosto pessoal de quem cria;
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Métricas – como decorrência dos aspectos acima e que tornaram possível a qualquer um “administrar” um site, não é raro que não existam métricas para indicar seus rumos e tudo o que é feito nele, ou não se saiba interpretá-las adequadamente.
8 consequências da publicidade em excesso
Algumas consequências – ou problemas, se preferir – do cenário que descrevemos inicialmente, são bem visíveis e óbvias.
Um site como o descrito, é no mínimo, feio visualmente, cansativo e chato! Já seriam três motivos bastante bons para repensar a “estratégia” do excesso de publicidade.
Não por outra razão, que as extensões para bloqueio de publicidade fazem o maior sucesso!
Mas há outras implicações que precisam ser lembradas sempre que você pensar em abrir mais um espaço para publicidade online no seu site.
1. Ranqueamento no Google
Estima-se que existam cerca de 200 fatores de ranqueamento usados pelo Google para determinar o posicionamento de uma página nos resultados para cada pesquisa feita.
Entre os muitos fatores, pelo menos dois que são diretamente afetados pelo excesso de publicidade, acarretando nos efeitos que descrevemos em um site com publicidade excessiva, são a experiência na página e o PageSpeed Insights.
Não há dúvidas que a experiência será péssima e a velocidade de carregamento também, especialmente se o usuário não tiver uma conexão boa, como o 5G, ou mesmo um 4G “vitaminado”.
2. Desempenho do site
Para além da influência da velocidade de carregamento, o desempenho geral do site será seriamente comprometido e dependente da quantidade de anúncios carregados, bem como do peso de cada um.
É preciso ter em mente que apesar de muitos serem distribuídos por CDNs, visando melhor performance e disponibilidade, o número de requisições a servidores externos é um processo que sobrecarrega também o navegador do visitante.
Até mesmo alguém em um notebook ou desktop e com boa velocidade no Wi-Fi 6, notará que o desempenho de um site assim, é consideravelmente pior do que aqueles que sabem dosar.
3. UX Design
O UX Design refere-se à experiência como um todo que o visitante tem em decorrência do que ele visualiza. Nesse contexto, layout e design tem mais do que função estética e influência em como ele consome o conteúdo, a facilidade de navegação, de localização de recursos e até como ele usufruiu deles.
Portanto, é desnecessário dizer que um site como o descrito, todos esses aspectos serão arruinados, particularmente em sua versão mobile.
O excesso tem sido tão exagerado em alguns casos, que até mesmo na versão para desktop, o que se vê no acesso, faz querer abandonar o site imediatamente.
4. Estética e imagem
A questão estética, a hierarquia visual e todos os aspectos de design, passam a ser irrelevantes, por mais que se tenha investido recursos e tempo nisso.
Em um site dominado por publicidade, questões como diagramação, layout, cores, fontes, imagens, logos e tudo o que deveria servir para compor algo visualmente agradável e criar uma identidade visual, perdem função.
5. Visitação
A visitação poderá ser afetada, mesmo usando-se mecanismos para gerar tráfego.
Nos casos extremos, alguns sites ficam marcados pela poluição visual, pelo desempenho ruim e pela experiência negativa que proporcionam, literalmente espantando os visitantes, que após poucas visitas lembrarão e evitarão clicar em links que levem a eles.
6. Conversão
A taxa de conversão nos casos aplicáveis e a própria conversão dos anúncios será comprometida.
Durante os instantes em que o visitante permanece na página, tudo o que ele se concentra, é em tentar consumir o conteúdo que o trouxe. Tão logo ele consegue – às vezes não consegue –, sua reação imediata é clicar no botão de retornar.
Os anúncios – até mesmo os eventualmente interessantes – tornam-se barreiras que precisam ser evitadas a todo custo e sua única tarefa passa a ser tentar identificar o que não é o conteúdo que ele buscava.
7. Engajamento
As chances de que o conteúdo seja compartilhado, receba um comentário ou qualquer outra forma de engajamento, também diminuem drasticamente.
Esperar que alguém compartilhe com um amigo, acesse as redes sociais ou qualquer outra interação, é quase como esperar um milagre.
8. Marca
Mesmo sites que não têm papel institucional para uma marca, devem preocupar-se em criar um conceito de marca. Aliás essa é uma das premissas de Marketing, seja o tradicional, seja o digital.
Pense em sites que você conhece, gosta e visita regularmente e que não são de empresas, mas são essencialmente o negócio da empresa, como portais de conteúdo, por exemplo. Os maiores e melhores, fazem esse trabalho de vinculá-lo à sua marca.
Mas quando um site excede os limites do razoável em termos de publicidade, ele vai na contramão.
Além de ter comprometido esse objetivo, pelo conjunto de consequências negativas que já listamos, quando ele consegue associações na mente do visitante, elas são negativas e, portanto, produzem uma imagem ruim da marca.
Conclusão
O excesso de publicidade online em um site, produz uma série de consequências negativas, algumas vezes superiores às vantagens e podem até arruiná-lo.