Criando conteúdo para sites, sem “derrapar” no português
Esse ou este é um exemplo? A Maria estava meio ou meia cansada? É algo que é iminente ou eminente?
Quando o assunto é língua portuguesa, há inúmeras dúvidas e até mesmo usos bastante comuns – mas errados – de palavras e suas respectivas grafias, que comprometem e revelam que não são poucos os que “derrapam” ao usá-la.
Nosso encontro de hoje, é sobre a importância e como fazer uso correto do nosso idioma na produção de conteúdo para sites.
Por que é importante escrever corretamente?
A linguagem coloquial, ou informal e que é aquela que usamos no bate-papo na festa com os amigos, no elevador com os vizinhos, nas mensagens do Whats ou Telegram, ou nas postagens pessoais nas redes sociais, ou em muitas outras situações frequentes no dia a dia, não se prende e não exige o rigor da chamada norma culta, das regras gramaticais.
Até aí, tudo bem não ser exigente. Passa a ser um problema quando ela é destinada ao emprego do português nas empresas, nos negócios e profissionalmente.
Não é difícil fazer uma lista razoavelmente extensa dos porquês de escrever corretamente e que poderia começar por ser um critério de avaliação ao prestar concursos, como também pode ter o mesmo papel na contratação de pessoas em determinados processos seletivos de empresas.
Também poderia ser justificável caso seja preciso elaborar uma proposta comercial, em que tão essencial quanto o conteúdo, é a forma que ele é apresentado. Imagine uma que seja destinada a um grande cliente, mas repleta de erros gramaticais.
Ou quem sabe na preparação de uma apostila de treinamento, em que o conhecimento do instrutor pode ser colocado em questionamento, caso ele “assassine o português”.
Mas não é o caso aqui e hoje, porque nosso objetivo é focar na escrita correta usando nosso idioma na produção de conteúdo para sites.
Não, não se preocupe com o Google ainda, porque a Inteligência Artificial do seu algoritmo ainda não avalia o conteúdo do seu site quanto à correção gramatical. E dependendo do seu público, é provável que alguns, ou quem sabe até muitos, também não se importem com algumas “derrapadas” aqui e ali.
Mas se tudo estiver certo, seja um robô de internet, seja um visitante humano bem ou mal informado, seu conteúdo não perderá pontos por estar gramaticalmente correto. Já o contrário...
A escrita é um dos mais importantes recursos comunicativos usados em sites de diferentes tipos. O uso incorreto da língua pode em alguns casos, dar outros significados ou entendimentos a quem lê. Por exemplo, na frase “Maria estava meia cansada”, que usamos na abertura, a interpretação correta é que apenas metade da Maria está cansada.
Pode ser a metade de cima, ou de baixo. A metade esquerda, ou a direita. É até estranho pensar dessa maneira, mas é o que se interpreta por parte daqueles que conhecem a diferença.
Muitos acreditam que a palavra meio deve ir para o feminino por conta da Maria. Se fosse Pedro, usaríamos meio.
Está certo no segundo caso, mas não porque Pedro é nome masculino, mas porque quando meio é usado como advérbio de intensidade – significando um pouco ou mais ou menos – ele é invariável. Ou seja, quando Maria está um pouco cansada, ela está meio cansada.
Já quando tem o sentido de metade e, portanto, é numeral, varia de acordo com o substantivo que o acompanha. Logo, aqui sim é correto dizer ou escrever que é meia laranja (metade da laranja) e meio melão (metade do melão).
Para quem até agora não conhecia a regra ou não se lembrava da respectiva aula de gramática, se aparecer algo assim em qualquer texto que estiver lendo, não haverá problema algum. Mas para aqueles que conhecem, a cada erro cometido, um ponto a menos para o autor.
Depõe também contra a empresa ou pessoa por trás do site, em que na ocorrência de erro como esse, na visão dos visitantes, pode ser sinônimo de incompetência ou no mínimo de desleixo.
E por falar em esse e este, para quem teve dúvida em qual usar, usa-se o primeiro quando referimo-nos a algo que foi dito no texto. Um outro exemplo ocorre na frase: “Este meu celular não é tão bonito quanto esse seu”. Ou seja, o uso de este aplica-se ao objeto que está consigo e esse, ao objeto da outra pessoa.
O mesmo raciocínio serve para nesse e neste, isso e isto, nisso e nisto.
Portanto, temos dois exemplos de que o uso que é feito das palavras, mais do que simples preocupação com as regras, dá o correto entendimento do que está escrito a quem lê, desde que este conheça a norma culta da língua.
Mas não é nosso objetivo falar dos erros, ou visto sob outra ótica, dos acertos da língua portuguesa. Para ajudá-lo nessa tarefa, existem muitos sites e ferramentas, os quais têm bons conteúdos e que vão servir para esclarecer as possíveis dúvidas.
Tampouco temos como objetivo dar aulas sobre o assunto ou muito menos de esclarecer qual o correto nas inúmeras situações quotidianas. É um conteúdo demasiado rico e extenso e sendo assim, não podemos ter a pretensão de abordá-lo com um mero post de blog.
8 dicas de como criar conteúdo gramaticalmente correto
Agora que você já tem ciência dos principais motivos para produzir conteúdo fazendo uso correto da língua portuguesa, vamos tratar de como fazê-lo.
A primeira e uma das principais dicas, já foi dada. Mas vamos um pouco mais a fundo na questão.
1. Uso de sites de língua portuguesa
Como dissemos, não é nosso objetivo listar todos os erros mais frequentes, nem mesmo os mais comuns na linguagem coloquial e principalmente na escrita. Seria um artigo extremamente extenso, cansativo e até certo ponto, sem propósito.
Sem propósito porque ao ter a pretensão de cobrir tudo ou pelo menos o mais comum, ainda poderia deixar passar alguma ou muitas coisas. Sem propósito também porque a localização do que se quer saber não é tão direta e simples como nos sites especializados.
E se já não fossem dois bons motivos, os sites especializados – como é de se esperar – oferecem conteúdos mais amplos e melhores a respeito.
À medida que houver alguma dúvida, é mais adequado fazer a consulta em ferramentas ou sites dedicados ao tema. Muitos desses sites, ou pelo menos os melhores, oferecem informações completas sobre o uso de palavras e dão até exemplos, como no caso do uso de esse e este.
Se você produz conteúdo com frequência, é conveniente eleger aqueles que achar melhores na apresentação do conteúdo e incluí-los nos seus favoritos. Todos os bons têm ferramentas de pesquisa interna, o que facilita localizar o que se procura.
Mas antes de escolher os que julgar melhores, verifique quem são os profissionais que são responsáveis pelo conteúdo, tanto para prestigiar seu trabalho, em detrimento daqueles que só copiam conteúdo da web, como para ter a certeza de que o conteúdo é correto.
Não é porque está na Internet, é fidedigno. Cuidado com a desinformação!
2. Use corretor ortográfico
Todos os bons editores de texto – e provavelmente você usa um – têm o recurso de correção ortográfica.
Isso significa que em vez de criar o texto diretamente no editor de texto do seu CMS, prefira criá-lo em um editor externo e somente após a revisão, copiá-lo e colá-lo no WordPress, por exemplo.
Dependendo de qual programa você usa para criar os textos, o recurso de correção ortográfica pode estar disponível de diferentes formas.
Em alguns, é possível habilitar para efetuar a correção automática, conforme você digita.
Em outros, ele marca as palavras as quais a grafia não está correta.
Há ainda o funcionamento mediante o qual ele faz a varredura no texto pronto e aponta possíveis erros e correções, cabendo a você aprovar a substituição ou não das sugestões.
Mas é preciso cuidado. Um texto que passa no corretor, não necessariamente está 100%. Eles ainda não são capazes de indicar o uso incorreto de esse e este, para dar apenas um exemplo.
Ou ainda no uso de parônimos, que são palavras que têm sentido diferente, mas grafia e pronúncia semelhante, como no exemplo de eminente e iminente que usamos no início. O primeiro é usado para designar importância, grau elevado ou superior. O segundo, indica algo que está prestes a acontecer.
Assim, você pode estar usando um, pensando que está querendo dizer uma coisa e na verdade está dizendo outra. O corretor não identificará o erro, porque ambas palavras existem e desde que grafadas corretamente, o erro não será apontado.
3. Tenha um dicionário
Seja por falta de acesso à Internet, seja porque se trata de uma dúvida que seus sites preferidos não foram capazes de eliminar, ou seja porque você não tem total confiança na fonte, um dicionário pode ser a solução.
Os dicionários mais populares apresentam uma série de informações relacionadas a cada verbete, como uma extensa lista de sinônimos que podem e às vezes devem ser usadas para enriquecer o texto e não torná-lo cansativo e repetitivo, ou quando há a necessidade de utilizar repetidamente um termo.
O uso de sinônimos também é adequado, tanto para não comprometer o SEO por uso exagerado de uma palavra-chave, como também porque há pessoas que utilizam as palavras sinônimas em suas pesquisas.
E os melhores, mais completos e volumosos, contém além de sinônimos, as classes gramaticais (verbo, adjetivo, substantivo, pronome, advérbio, etc), etimologia (estudo da origem das palavras) e até exemplos.
4. Leia muito
O hábito da leitura vai além de adquirir conhecimento e tornar-se mais culto.
É sabido que aqueles que leem muito, têm melhores chances de serem também melhores escritores. Isso porque ao ler, seu cérebro acostuma-se de forma natural e automática com o conteúdo e a variedade de formas que esse conteúdo é apresentado.
Porém cabe a ressalva que é preciso dar boas experiências ao seu cérebro, o que significa ler bons autores. Não apenas aqueles que são hábeis em colocar ideias e sentimentos em palavras, mas o fazem com correção gramatical.
Se você lê frequentemente as pessoas escrevendo “às vezes ele vem aqui nos visitar”, quando tiver que escrever, saberá que como locução adverbial indicativa de tempo, que significa de vez em quando, em alguns momentos ou situações, ou ainda ocasionalmente e por essa razão, leva crase.
Por outro lado, saberá que na frase “ele fez as vezes de anfitrião”, cujo significado é de substituir ou ter o papel de, não leva crase. Ou em “todas as vezes que ela comprou naquela loja”, que o artigo a também não é craseado.
5. Seja versátil
Aprenda a ser versátil, o que significa saber usar um arsenal de expressões, palavras e seus sinônimos e variar como emprega as palavras. Essa é uma capacidade que se desenvolve com a prática e com a leitura.
Você não precisa parar o texto que está escrevendo porque tem dúvida quanto ao uso que fizemos de “às vezes”, em nosso exemplo. Se na frase em questão cabe e faz sentido, que tal usar “ocasionalmente ele vem aqui nos visitar”?
Inclusive a versatilidade contribui para que se melhore o estilo de escrita.
Considere a sentença “Às vezes ele está pronto. Às vezes ele não está”. Não há erro algum. Nenhuma regra o impede de escrever assim. Mas não é o modo mais elegante. Entre diferentes alternativas, o escritor versátil pode optar por “Algumas vezes ele está pronto. Outras, não”.
Mudou a forma, mas o sentido manteve-se o mesmo, sem que ele tivesse que interromper para consultar se faz ou não uso da crase.
Uma dica para desenvolver a versatilidade, especialmente para os novos escritores, depende de um bloco de notas (físico ou digital) ou mesmo um gravador de voz. Há alguns para celular.
Sempre que se deparar com termos, construções ou expressões novas ou melhores formas de verbalizar ideias, ao consumir outros autores, tome nota.
Quando puder e for oportuno, use-as. O hábito e, portanto, a incorporação desses novos termos na sua comunicação, na sua escrita, aos poucos se consolidará por meio da repetição.
6. Saiba como e quando usar as palavras
Saber usar as palavras, os termos em um texto, é escolher as melhores palavras. Não é só uma questão de palavras-chave e SEO.
Lembre-se para quem você produz o conteúdo. Não deve ser apenas para robôs, mas para pessoas. Não quaisquer umas, mas aquelas que dedicam parte do seu valioso tempo para consumir o que você escreve.
Por essa importantíssima razão, preocupe-se com a linguagem utilizada. Ela deve ser compreensível por parte das personas as quais se destina.
Se for absolutamente necessário o uso de terminologia específica, linguagem técnica ou jargão da área, procure ter links ou breves explicações do que se referem. Não se esqueça que todo especialista um dia já foi um leigo.
Outro cuidado importante, é quanto ao uso de estrangeirismos. Naturalmente e-mail ou smartphone são exemplos de palavras de origem estrangeira cujo uso e conhecimento, são amplos e disseminados. Tudo bem utilizar palavras como essas.
Mas há casos em que o uso é absolutamente desnecessário, especialmente quando há o correspondente na língua portuguesa e cujo emprego na fala ou escrita, são comuns.
Por que usar budget, quando orçamento tem o mesmo significado e todos sabem o que significa?
Tenha em mente que comunicação eficaz pressupõe eliminar ruídos e que nesse caso, significa tudo que atrapalha a compreensão da mensagem por parte do seu interlocutor.
Ao abusar ou utilizar de forma desnecessária de estrangeirismo, o ruído ocorre quando seu público não conhece o termo empregado, sendo que há um correspondente que é conhecido e usado em nosso idioma.
7. Cuidado com a “contaminação”
Da mesma forma que a leitura de bons autores influência nosso cérebro com bom conteúdo e a forma que ele é apresentado, o inverso também é verdade.
As redes sociais, os aplicativos de mensagens (Whats, Telegram, Signal, Skype, etc) e até mesmo a linguagem falada, são fontes inesgotáveis de conteúdo que vai no sentido contrário de tudo o que defendemos até agora.
Não estamos querendo dizer com isso, que você deva abrir mão de se relacionar nesses canais, mas que saiba diferenciar que o que a maioria pratica, não é necessariamente o correto.
Não é porque todo – ou a grande maioria – atendente de call center lhe diz algo como “vamos estar agendando, para estarmos fazendo uma visita técnica e podermos estar identificando o seu problema”, que este tipo de construção é correta e agradável, para dizer o mínimo.
Chama-se a isso de gerundismo. Como ele, há outros vícios de linguagem que podem acabar com qualquer chance de produzir um conteúdo correto, ou pelo menos elegante do ponto de vista gramatical e comercial.
Portanto, não se deixe contaminar pelo que a maioria faz.
8. Tenha bom senso
Por fim, mas não menos importante, a prática da escrita e da leitura, também devem produzir um senso crítico quanto ao que é melhor, o que serve, o que cabe, como e quando fazê-lo.
Atente para nosso título. Usamos derrapar, que é um verbo que se usado rigorosamente, não deveria estar associado ao uso do idioma.
No entanto, ele admite esse uso figurado que fizemos dele. É pouco provável – mas não impossível – que algum leitor não tenha compreendido o que se pretendia.
E por ter sido empregado fora do seu contexto habitual, grafamos o termo entre aspas duplas.
Bom senso na escrita, é saber que há situações em que as regras, as normas, as convenções, podem dar lugar ao coloquial, ao informal, ao popular.
Escrever bem e corretamente, não significa usar tudo que há no dicionário, muito menos escrever usando palavras pouco conhecidas ou difíceis.
Não é exagerar no formalismo. Pelo contrário.
Lembre-se da versatilidade e como e quando usar as melhores palavras, para não "derrapar" ao falar ou escrever.
Conclusão
Escrever conteúdo para sites correto gramaticalmente não é simples, mas é perfeitamente possível por meio de um conjunto de dicas bastante úteis e práticas.