O endereço IP pode revelar sua identidade ou comprometer sua privacidade?
Muita coisa se fala a respeito de segurança na Internet, no mundo digital, sobre privacidade, rastreabilidade e revelação da identidade, envolvendo o endereço IP.
Há algumas poucas verdades, mas boa parte do que se acredita, é pura ficção!
E são justamente os filmes de ficção os maiores responsáveis por ajudar a disseminar conceitos errados a respeito do quanto um endereço IP pode revelar a seu respeito.
Chegou a hora de acabar com esses mitos e saber o quanto sua segurança na Internet – ou a falta dela – está associada ao seu endereço IP.
O que é endereço IP?
O primeiro passo é saber o que é o tal do IP que todos falam, mas poucos são os que realmente têm conhecimento a respeito. Você não precisa saber tudo – e há muito – sobre IP, mas o básico é necessário para compreender algumas das questões relacionadas que abordaremos a seguir.
Endereço IP é o endereço de “Protocolo de Internet” e que é a tradução de Internet Protocol, cuja sigla é IP.
Um protocolo por sua vez, é um conjunto de regras precisas e definidas de como alguma coisa deve acontecer.
Já a Internet é composta de muitas redes que conectam-se entre si e por onde trafegam os dados de tudo que está conectado nessas redes. São os servidores responsáveis pela hospedagem dos sites que você acessa e os apps do seu smartphone, o próprio smartphone, o notebook ou desktop, seu modem e/ou roteador, outros dispositivos diversos (ex: câmera IP, carro autônomo, caixa eletrônico de banco, etc) e até a própria infraestrutura do seu provedor de acesso.
Cada smartphone, cada servidor, cada dispositivo conectado, é um ponto ou nó que integra esse imenso conjunto de redes interligadas.
Para que a informação (os dados) trafeguem por cada um desses pontos ou nós da rede, é preciso atribuir endereços, que analogamente aos endereços físicos, são a única forma de direcionar – ou endereçar – algo e que no caso da Internet, podem ser os arquivos que compõem a página de contato de um site, o download de um arquivo, uma mensagem de e-mail, ou qualquer outro tipo de conteúdo presente na web.
Foi para resolver isso que se criou o protocolo de internet TCP / IP e que na verdade consiste de um conjunto de protocolos, do qual o protocolo IP faz parte. Já o TCP, é a sigla para Transmission Control Protocol ou Protocolo de Controle de Transmissão.
Atualmente ainda usamos endereços IP versão 4 (IP v4) e que corresponde a versão sobre a qual a Internet desenvolveu-se. Mas a quantidade de endereços possíveis, é bastante inferior ao número de dispositivos conectados na Internet e por essa razão, foi criado o IP versão 6 (IP v6), o qual disponibiliza uma quantidade muito superior de possíveis endereços.
O endereço IP é um número, composto de 4 números, separados por pontos e cada um destes números variam de 0 a 255, de tal forma que os IPs variam de 0.0.0.0 até 255.255.255.255, compreendendo um total de cerca de 4,3 bilhões de combinações possíveis. Um IPv4 típico, é algo do tipo 192.168.0.1.
Apenas a título de curiosidade, afinal não é esse nosso propósito, 192.168.0.1 é um endereço IP reservado, cuja utilização se dá apenas em redes locais. Dependendo do seu roteador ou modem, colocar esse endereço no navegador, vai conduzi-lo à página de administração do aparelho.
É possível rastrear um endereço IP?
Se pensarmos em rastrear um endereço IP, como sendo a determinação da localização geográfica de um endereço IP, a resposta é sim, mas na prática não significa muita coisa em termos de segurança, pois o que existe a respeito, tem como base apenas estimativas.
Há algumas ferramentas / serviços que informam a localização geográfica de um IP, porém o que é feito é uma aproximação com base na coleta de dados diversos, os quais variam de acordo com cada serviço ou ferramenta.
Alguns serviços de geolocalização mais genéricos, informam apenas o país ao qual está associado o IP. Isso porque os endereços IP são distribuídos mundialmente pela IANA (Internet Assigned Numbers Authority) sigla em inglês para Autoridade para Atribuição de Números de Internet.
Já os serviços que conseguem maior “precisão”, informando cidade e em alguns casos até um endereço físico, usam métodos diversos:
-
Ao preencher um cadastro em alguns sites, se esses sites têm alguma parceria com esses serviços, os dados de endereço são utilizados para tal objetivo;
-
Aplicativos que usam GPS, no smartphone por exemplo, da mesma forma que no tópico anterior, podem ser usados para associar o IP e uma região ou bairro da cidade correspondente;
-
Muitos provedores de acesso, atribuem faixas ou blocos de IPs a uma região, área ou bairro, por uma questão de administração da infraestrutura.
Além desses métodos, há outras possibilidades igualmente imprecisas.
O simples fato de você informar o endereço residencial, usando para isso a conexão do trabalho, já acarreta um erro.
Somada a essa imprecisão, conforme informamos anteriormente, o IPv4 tem um número de possíveis endereços bem inferior à quantidade de dispositivos, o que obriga que os endereços IPs atribuídos aos nossos dispositivos, sejam alterados pelo provedor de acesso ao longo do tempo, comportamento que dá o nome de IPs dinâmicos a eles.
Assim, quando um usuário não está usando sua conexão, o provedor atribui o seu endereço IP a outro usuário que precise efetuar algum acesso.
Esse comportamento, faz com que um mesmo endereço IP ao longo de um período de tempo possa ser usado por vários diferentes usuários na sua região e isso também explica porque não há precisão ou exatidão na correspondência entre um endereço físico e um endereço IP.
Ao longo de um mês, por exemplo, o endereço IP que você está utilizando para o acesso a esse artigo, pode ser usado por dezenas de vizinhos no seu bairro, ou até de outros bairros, caso o provedor efetue mudanças na atribuição de blocos ou ranges de IPs.
Um bloco ou range de IP, é um intervalo de endereços IPs e que pode ser 192.168.0.0 até 192.168.0.255. Ou seja, um total de 256 endereços IPs diferentes e que também pode aparecer na seguinte forma, significando a mesma coisa: 192.168.0.0/24.
Outro fator que impossibilita vincular IP e um endereço físico, são os IPs que são atribuídos a dispositivos móveis, como seu smartphone e mesmo fazendo uso do GPS, conforme o usuário do telefone se locomove, a localização muda.
A única forma pela qual é possível determinar a identidade de um usuário e o seu IP, é por decisão judicial.
De acordo com o Marco Civil da Internet, os provedores de acesso devem manter registros de acesso – os chamados logs – a aplicações de Internet, pelo prazo de 6 (seis) meses. Por meio desses logs, é possível saber quando (dia e horário) um IP foi utilizado por um usuário (a identidade do titular da conta).
Assim apenas sob determinação de um juiz, essa informação a qual é exata, é possível.
Saber meu IP, ameaça minha privacidade?
A privacidade também tem a ver com os mesmos aspectos de rastreabilidade do IP que já abordamos e assim, exceto por decisão judicial ou caso você informe voluntariamente seus dados, não é possível vincular endereço IP e informações pessoais.
Mas há outro fator relacionado a privacidade, que são seus hábitos ou comportamento de navegação. E nesse ponto, você pode ficar ainda mais tranquilo, pois conhecer o IP de um usuário que efetuou um acesso ao site, não revela outros sites ou serviços que tenha acessado previamente ou posteriormente.
A privacidade sob essa ótica, estará sob ameaça se você autorizar gravar cookies de terceiros.
Geralmente quando um site grava um cookie de outro domínio – e por isso é chamado cookie de terceiros – ele tem o propósito de rastrear o usuário, reunindo informações diversas, como seu histórico de navegação, objetivando por exemplo, a exibição de publicidade com base nos sites e páginas que o internauta acessou.
Sites que estão adequados e em conformidade com a LGPD, devem permitir ao usuário não gravar esse ou mesmo outros tipos de cookies, se assim ele desejar.
Uma forma de “estar imune” a esse tipo de prática, é usar o modo de navegação anônima que atualmente todos os bons navegadores web dispõem, já que entre outras ações, o navegador não grava nenhum cookie. Todavia, é importante salientar que o funcionamento adequado de alguns sites pode não ocorrer, ao realizar o acesso anônimo ou navegação privada.
Como ocultar o IP na navegação?
Mesmo sabendo que seu endereço IP revela poucas informações a seu respeito, pode ser desejável que um site não saiba seu IP.
Há duas maneiras razoavelmente simples e acessíveis a quase todos, que são os acessos por meio de um proxy ou uma VPN.
Ao efetuar o acesso usando qualquer desses métodos, o site “enxergará” o endereço IP do proxy ou da VPN e não o endereço que seu provedor de acesso atribuiu à sua conexão.
Há uma grande quantidade de proxies gratuitos, mas muitos permitem de forma não muito difícil descobrir o real endereço IP do usuário que usou o serviço. Outro problema de um proxy gratuito, é que geralmente há uma grande degradação no desempenho, em função de um grande número de usuários estarem usando-os.
Tanto o proxy pago, quanto a VPN podem ter que informar o real endereço IP do usuário, sob ordem judicial.
Quando o serviço é localizado em outro país, o que não é raro, isso pode ser mais demorado, pois requer outros trâmites legais e envolve a justiça do país em que o serviço está localizado.
Conclusão
Imagina-se que conhecer o endereço IP de um usuário na Internet, possibilita revelar sua identidade, ameaçar sua privacidade e outras questões relacionadas a segurança. A verdade, é que são bem raras e específicas as situações que o conhecimento do IP pode afetar em algum nível a segurança de um usuário na Internet.