Estilo de escrita: o que é e como construir o seu?

Se algum dia você já se preocupou em pesquisar como escrever e, sobretudo, escrever bem, deve ter encontrado um universo de informações, dicas, orientações e conselhos e entre tudo o que dizem – ou escrevem – a respeito, costumam falar da importância do estilo da escrita nesse processo de se tornar um bom escritor.

Mas afinal o que é estilo de escrita? Por que ele é tão importante? Como se adquire ou se desenvolve um?

Apesar dos aparentes desafios associados a esse tema, no presente bate-papo tentaremos torná-lo mais ameno e consequentemente ajudá-lo a encontrar e moldar seu próprio estilo no uso das palavras.

O que é estilo de escrita?

Estilo de escrita pode ser definido como as formas que um escritor utiliza os diversos recursos linguísticos para transmitir informações, ideias e sentimentos e se fazer compreender por parte de quem lê seus textos.

Definições como essa, existem aos montes, mas como a maioria delas, não estimula a pensar no que há envolvido.

Estilo é uma palavra que pode aparecer acompanhando uma série de outras situações para além da escrita, como na moda, na música, na pintura e até na gastronomia, isso só para tratar de áreas que a maioria de nós vivencia diariamente.

Na moda, costuma-se falar em estilo casual, informal, despojado, clássico, social ou quem sabe elegante e que significa como a pessoa parece aos olhos das outras pessoas, vestindo-se de uma determinada maneira. Frequentemente, as pessoas têm um estilo que costuma caracterizá-las e que por isso, aquelas que têm um que é só seu, são imediatamente reconhecíveis por parte dos seus amigos, dos seus parentes e das pessoas do seu convívio.

Não é diferente na música, tanto que se você pensar nos seus artistas favoritos, é bastante provável que você os reconheça em poucos segundos, mesmo ouvindo uma música recém lançada e, portanto, inédita aos seus ouvidos. Pode ser por conta do timbre da guitarra, dos riffs produzidos e de como ela soa junto aos demais instrumentos.

Em outras artes, como no caso da pintura, o estilo do artista o diferencia dos demais e mesmo que muitos não sejam conhecedores nem de Michelangelo, nem de Picasso, basta apresentar umas poucas obras de um e do outro, que fica fácil reconhecer quem pintou o que, por intermédio dos traços, pelo uso das cores e das sombras, bem como das diferenças das técnicas presentes em cada pincelada.

Já na gastronomia, cada chef pode interpretar um prato tradicional da culinária ao seu modo. Peça ao Alex Atala, à Paola Carosella e ao Jefferson Rueda para fazerem suas versões do clássico prato feito e veja o quão diferentes podem ser os resultados, mesmo usando os mesmos ingredientes.

Ou seja, tal como nos exemplos citados, ainda que todo escritor disponha dos mesmos ingredientes e que nesse caso são as palavras, se convidados a descrever o que veem em uma foto, dez diferentes escritores podem – e vão – produzir dez textos absolutamente únicos.

Alguns melhores e outros piores. Uns mais criativos e emotivos e outros mais crus e diretos, também é verdade, mas ainda assim, únicos.

A forma como colocam as ideias em palavras, como descrevem as coisas, como explicam os sentimentos e as sensações despertados pela imagem, o formalismo ou a irreverência em relação às regras gramaticais, o uso das figuras de linguagem, são alguns dos elementos que vão determinar o estilo de escrita de cada um.

Qual a importância do estilo na escrita?

Antes de responder à pergunta acima, é preciso fazer duas considerações necessárias a respeito desse tema:

  • Nem todo estilo é reconhecível – há inúmeros bons escritores, mas mesmo entre eles, não há muitos como Arnaldo Jabor ou Machado de Assis, cujas habilidades no uso das palavras, são claramente reconhecíveis pelos seus leitores;

  • Nem todo mundo reconhece – mesmo nos casos dos dois ilustres autores, só são capazes de reconhecê-los, os leitores que tem algum conhecimento e contato e, acima de tudo, são bons leitores. Aqueles que o fazem mecanicamente, apenas – e talvez – conseguem notar que existem diferenças entre um e o outro.

Diante disso, alguns hão de se perguntar: “Se é pouco provável que eu seja um novo Arnaldo Jabor ou Machado de Assis e além disso, mesmo conseguindo ser, nem todo mundo será capaz de me identificar, por que me preocupar em ter estilo?”.

Porque há um conjunto importante de razões para talhar um estilo próprio e que o identifique:

1. Diferenciação e destaque

Quem não tem estilo próprio, é como um aluno de uniforme em meio aos demais, exceto aos olhos da sua mãe, ou talvez do seu pai.

Ainda que sua maneira de trabalhar as palavras não seja reconhecível, quando ela é única, seu trabalho consegue se diferenciar em meio à enxurrada de textos pasteurizados e que parecem ter saído todos de uma mesma linha de produção.

Basta acessar e ler conteúdos que deveriam ser únicos em diferentes sites e ver o quanto são iguais. Dizem por aí, que a principal razão, é porque se preocupam mais com os robôs, do que com as pessoas.

E vai piorar, porque aumenta dia a dia a quantidade de conteúdos feitos por inteligência artificial!

2. Respeito ao leitor

Se o leitor dedicou valioso tempo – cada vez mais caro no mundo moderno – e atenção ao seu texto, é preciso retribuir com algo que valha a pena para ele.

Bom estilo faz o leitor captar o que é preciso, acima de tudo, de modo claro e rápido, poupando o tempo que ele empenhou e que cada vez menos as pessoas estão dispostas a gastar em um texto qualquer, um texto descuidado, cansativo, prolixo e desinteressante.

Respeitar o leitor é também entregar a ele uma experiência rica e humana, que cada vez está mais rara de acontecer, porque os parâmetros que determinam se um conteúdo é bom, passam primeiro por princípios de SEO e de Marketing Digital.

3. Conquista

O leitor é o cliente do escritor e como tal, é sua razão de existir. Portanto, atenda-o da melhor forma possível!

É como todo cliente que teve uma experiência gastronômica deliciosa, ou que recebeu um atendimento personalizado, atencioso, gentil e interessado em uma loja, ou quem sabe ainda, foi surpreendido acima das suas expectativas com um produto que comprou. Nos três casos, o cliente acaba sendo conquistado e retorna.

Sim, se a sua escrita conseguir fazer o mesmo, você terá conquistado a preferência do leitor quando ele precisar.

4. Envolvimento do leitor

Boa leitura em seu sentido mais amplo, só acontece quando se consegue envolver o leitor emprestando beleza ao texto. Por meio da palavra cuidadosamente escolhida, da frase bem construída, o tom mais agradável, o exemplo perfeito, a metáfora que ilumina a ideia e no final de tudo, a perfeita compreensão do que se queria transmitir.

Todos esses aspectos estão intimamente relacionados com o estilo da escrita.

5. Comunica e/ou informa

A depender da natureza e do propósito do seu conteúdo, o estilo cumpre papel essencial na eficiência da comunicação exercida e/ou na assimilação das informações fornecidas.

Seja porque houve a escolha do tom mais apropriado, seja porque os recursos linguísticos foram bem usados, assim como a linguagem adotada foi adequada ao perfil do leitor.

E aqui voltamos ao respeito ao leitor, porque quando ele existe, existe também a preocupação em eliminar todo ruído que dificulte a compreensão da mensagem.

6. Receptividade

A receptividade e a aceitação das ideias, dos conceitos e até dos sentimentos eventualmente transmitidos, dependem do quão habilidoso é o escritor na apresentação dos mesmos.

Por meio da devida engenhosidade ao usar os recursos linguísticos e da linguagem apropriada, que se consegue que o leitor veja a mesma cena que ele tem em mente e até que veja o mundo pelos seus olhos, se for esse o caso.

Algumas palavras, quando bem usadas, têm o poder de ativar áreas específicas do cérebro. Se bem escolhidas e alegrarem, emocionarem, ensinarem, esclarecerem ou acalmarem, terão como “pagamento”, a confiança do leitor.

7. Empresta personalidade

Quem escreve para marcas, para empresas, para blogs de terceiros talvez, precisa ser capaz de emprestar personalidade, a qual se faz presente nos seus textos.

Sem estilo, não há o que emprestar. Não parecerá autêntico, único, ou original. E não há personalidade sem originalidade.

Ao contrário, será impessoal, frio e artificial, mesmo diante do abuso de adjetivos.

8. Interpretação e intelecção

A diferença entre interpretação e intelecção de um texto, reside em ir além da mera significação do que é escrito ou ler nas entrelinhas, como gostam de dizer alguns, ou  então se restringir ao que está escrito, respectivamente.

Por meio do estilo, consegue-se tanto uma, quanto a outra finalidade.

Como desenvolver meu próprio estilo de escrita?

Uma vez convencido do quão essencial é o estilo para um escritor, o passo seguinte e naturalmente esperado, é saber qual o caminho percorrer, certo?

No entanto, antes de prosseguirmos, precisamos novamente fazer algumas ressalvas:

  • Tempo – apesar de algumas características de expressão escrita de cada pessoa já estarem presentes desde nossas primeiras redações, ainda na época escolar, o estilo próprio é algo que ocorre de modo gradual e leva tempo para se manifestar e se consolidar;

  • Evolução – além do tempo necessário, mesmo quando o estilo já apresenta um razoável grau de maturidade, é natural que evolua e mude – mesmo que sutilmente – ao longo dos anos;

  • Ensinamento – não se ensina estilo a ninguém! Mas é possível “aprender”.

Não, não se assuste com a última observação e tampouco vá embora!

Por mais estranha ou paradoxal que pareça a afirmação, é na verdade bem lógica.

Consideremos novamente a música. Há inúmeros talentos que são unanimidades, nos mais diferentes gêneros musicais e entre os atributos que costumam caracterizá-los, o estilo ao tocar seu instrumento, é um deles.

Eles não assumiram os estilos de seus professores, dos seus mestres, ou de outros músicos que serviram de inspiração ou que admirassem. Como também muitos deles tiveram seus pupilos, que da mesma forma como eles, desenvolveram suas identidades musicais, ainda que com alguma influência.

Ou seja, não houve alguém que “ensinasse” como Jeff Beck, Eddie Van Halen ou Stevie Ray Vaughan emocionassem suas audiências quando emitissem notas reproduzíveis por quaisquer outros guitarristas, mas que só sob suas mãos soassem como soavam.

Assim como Clarice Lispector, Rachel de Queiroz ou Cecília Meireles, que passaram pelas mesmas escolas que tantos outros, mas só elas desenvolveram a capacidade de explicar a vida e o mundo por meio das palavras.

Cada um dos nomes citados, aprendeu a ouvir, ver, observar, pensar, sentir, experimentar, reformular e combinar os muitos ingredientes que estavam disponíveis, para produzir novas "receitas" musicais e literárias.

Com isso em mente, vamos ao que interessa…

1. Tenha e conheça sua paixão

O que há de comum entre todos os nomes que citamos, inclusive de outras áreas, é a paixão pelo seu ofício.

Para o apaixonado há beleza naquilo que ninguém foi capaz de perceber. Ele ousa e vai além. Não vê limites nas regras gramaticais e torna seus textos elegantes, apenas fazendo com que a norma culta língua se encontre com o linguajar popular.

Ele se destaca dos pedantes e dos arrogantes e daqueles que acreditam que escrever bem, escrever bonito, é escrever difícil e de uma forma que só os cultos entendem.

O apaixonado, preocupa-se antes de mais nada, de se expressar para quem quiser lhe emprestar uns momentos de atenção. Conhece e exerce seu ofício com dedicação e paixão.

2. Escreva para seu leitor

Por mais óbvio que possa parecer, esse passo fundamental muitos se esquecem de dar, seja no começo, seja depois quando estão mais experientes e confiantes.

Deixam-se levar pelos prazos, pelas regras de SEO, pelo engajamento que devem produzir, sendo que isso deveria ser consequência e não a finalidade.

Nunca se esqueça que o sorriso e a satisfação do leitor, são o combustível do escritor!

É fundamental conhecê-lo para saber qual a linguagem mais apropriada, quais são seus interesses, as suas dúvidas, as necessidades e os desejos, o que o emociona e o que não.

O mal escritor é aquele que é incapaz de ser empático o suficiente para se colocar no lugar do seu leitor

3. Nada é tão ruim

Hoje os computadores e os editores de texto fizeram com toda ideia que não pareça tão boa, que seja “deletada”.

Muitos escritores dos tempos da caneta e do papel ou das máquinas de escrever, guardavam tudo, mesmo que o não se tornava definitivo, o que não passava na revisão e que não era publicado.

Toda ideia que ganha forma por meio das palavras, pode ser aproveitada em outra ocasião, em outro contexto.

Se em algum momento o seu cérebro escolheu aquelas palavras, naquele momento elas eram importantes e fizeram sentido. Mais que isso, foram seu treino e servem para mostrar a você mesmo, as alternativas e diferentes possibilidades de expressão verbal.

4. Prática

É por intermédio da prática, da repetição, inclusive do aproveitamento das “ideias ruins” e naturalmente, com a avaliação dos resultados obtidos, que o estilo é moldado.

Escreva muito. Quanto mais você escreve, em frequência e quantidade, mais as características próprias de expressão verbal aparecem, destacam-se e se consolidam.

Também é pela prática, que é possível identificar características e traços que são apenas seus, que tornam a sua escrita única, como o uso de uma figura de linguagem pouco usual como o hipérbato, por exemplo.

O estilo não vem nos primeiros textos. Ele vem com o tempo e a medida que você se sentir confortável escrevendo. Tal como quem anda de bicicleta, que só consegue manobras mais ousadas, depois de vários tombos.

5. Explore as possibilidades

Não se prenda às convenções e não se limite apenas aos assuntos que você mais trabalha. Procure se interessar também por assuntos que você não domina.

Ao explorar outros estilos usados em outras áreas, além da construção de um vocabulário mais vasto e rico, seu cérebro é posto em contato com outras maneiras de traduzir ideias e conceitos em palavras.

Ou você acha que a pizza Califórnia não foi resultado de um pizzaiolo comendo um tender no Natal?

6. Leia, leia e leia

Não há bons escritores que não sejam também leitores compulsivos. Há os que leem até bula de remédio.

Calma! Não precisa exagerar. Não dessa forma.

Quanto mais você lê, mais bagagem adquire para trazer novos pontos de vista, evitar repetições de palavras e melhorar os seus textos.

Ao ler muito, você encontra quem se prende às convenções e quem ousa ir além. Encontra os que fazem relatos precisos e técnicos, mas também os que pintam um quadro como Salvador Dali. Talvez até queira mudar de profissão ou quem sabe se apaixonar ainda mais por ela.

O fato é que ao explorar o universo, você inevitavelmente encontrará o que funciona, o que serve para você, ou quem sabe o que nem imaginava ser possível ou existir. Verá os caminhos que cada um percorre e saberá quais passos seguir e quais não.

Não há problema algum em se inspirar. Como dissemos, os gênios da guitarra também tiveram seus mestres!

7. Peça opinião e ouça

Amigos, parentes, outros escritores, bem como os leitores, são essenciais no processo de identificar seus pontos fortes e fracos, bem como contribuir para definir e refinar o seu estilo. Mas tudo isso depende de saber escutar de modo impessoal e reflexivo.

Ainda que o estilo seja algo pessoal e que ninguém possa ensiná-lo ou orientar seus passos, o que as pessoas observam e relatam, ou mesmo aconselham, ajudam a mapear novas possibilidades e caminhos que podem ser explorados e o que precisa ser feito de outra maneira.

Seja receptivo e aprenda a diferença entre escutar e ouvir, afinal é para os outros que o estilo que você está lapidando, servirá.

8. Faça autocrítica

Um dos passos no processo de construção do próprio estilo, é a reflexão sobre que aspectos você valoriza na escrita e o quão próximo – ou distante – você está deles.

Você dá preferência às mensagens lacônicas e diretas? Ou gosta de apoiar suas ideias em metáforas e riqueza de detalhes? Gosta de falar ao cérebro ou ao coração? O quão hábil você está sendo nessas intenções?

Mas cuidado! Nunca se esqueça de quem é o seu público. Se para o especialista em um determinado assunto, é natural falar de commodities e balança comercial, para o brasileiro comum entender esses termos e porque eles são importantes no todo da fala, pode ser um esforço imenso e inclusive fazê-lo parar a leitura.

Encontrar um estilo que seja esteticamente agradável e intelectualmente estimulante, não significa arranjar as palavras compreensíveis apenas para um grupo seleto.

Os mais talentosos comunicadores conseguem fazer sua mensagem chegar a todo mundo!

9. Supere os paradigmas e preconceitos

O internetês, os neologismos, os estrangeirismos e a linguagem coloquial, vieram para ficar, por mais que muitos profissionais da escrita, torçam o nariz e acreditem que esses movimentos estejam acabando com a beleza da norma culta do nosso idioma.

Pense que ao longo da história vários momentos equivalentes já aconteceram e que constitui um movimento natural a que toda língua está sujeita.

Aliás é a superação dos paradigmas que essas mesmas normas costumam impor, que favorece que cada pessoa construa seu modo de se expressar. Muitas das palavras e termos que hoje usamos com naturalidade, foram resultado de subversão de termos do passado.

Você, um dia já foi “vossa mercê”!

Nomes consagrados da literatura souberam se aproveitar dessa evolução genuína do vernáculo e usaram-na na construção dos seus estilos.

Apegar-se a preconceitos em qualquer área, é fechar as portas para a descoberta e a inovação.

Conclusão

A diferença entre um amontoado de palavras e um conteúdo que comunica, emociona e conquista, passa por encontrar e moldar um estilo próprio de escrita.

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

 

 

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