Semana de 4 dias de trabalho: O que é, vantagens e como implantar?

Há crenças, hábitos, costumes e tradições que se consolidam de tal maneira, que não são questionadas jamais. Simplesmente continuam assim permanentemente e vida que segue.

No imenso rol de situações que se enquadram nisso e que começam a contradizer ou questionar o que foi estabelecido por muito tempo como certo, temos a semana de trabalho típica, compreendida entre segunda e sexta-feira, mas que em muitos lugares, o novo “normal” passou a ser a semana de 4 dias de trabalho.

Tem ouvido falar a respeito, mas não sabe exatamente do que se trata? Como funciona? Quais os benefícios? Como implantar?

Responder a esse tipo de pergunta, é nossa missão hoje!

A semana de trabalho e a história

Já houve um tempo em que não havia dias específicos para se trabalhar e para se ter folga. Aliás, ter folga já foi algo inusitado.

As pessoas trabalhavam todos os dias, exceto aos domingos, ou quem sabe aos sábados, mas apenas por questões religiosas, quando esse único dia de “descanso”, era reservado a Deus ou seu equivalente, a depender da fé que se tivesse.

Com a Revolução Industrial, nascida na Inglaterra e que aos poucos se espalhou pelo mundo, ganharam força conceitos de organização das empresas para que fossem mais produtivas. Produzir cada vez mais, aumentar o faturamento e os lucros, virou palavra de ordem.

Mas por volta da década de 1920, por iniciativa da Ford, foi instituída de uma jornada de 5 dias de trabalho, com folgas aos fins de semana.

Já foi naquela época uma medida que visava aumento da produtividade, a qual viria como consequência de funcionários mais satisfeitos, descansados e com menores índices de faltas (absenteísmo).

O movimento da Ford logo foi seguido por outras empresas, tanto porque viram as vantagens, tanto porque os sindicatos de diferentes categorias passaram a reivindicar o mesmo para seus afiliados.

Ou seja, um século inteiro de uma prática no mundo inteiro, produziu um paradigma dificílimo de superar, de que a semana de trabalho necessariamente precisa ter cinco dias de trabalho, por dois de descanso!

Não se trata apenas de romper com um paradigma rigidamente constituído, mas do fato de que se baseia em um modelo que poderia ser adequado ao século XX, mas certamente requer no mínimo uma reconsideração diante de um mundo que mudou totalmente e que promete ainda mais radicais e rápidas mudanças, como temos visto com o avanço da inteligência artificial.

O que é a semana de 4 dias de trabalho?

Há alguns modelos diferentes que propõem a semana de 4 dias de trabalho, mas a maioria se apoia no conceito 100-80-100, que resumidamente significa 100% do salário, trabalhando 80% do tempo e mantendo 100% da produtividade.

Em termos práticos, a proposta é que não haja redução na remuneração / salário (100%), mas que o colaborador em vez de trabalhar 5 dias, trabalhe 4 (80%) sem aumento da carga horária diária e exista o compromisso e o objetivo de manter a produtividade do modelo 5x2 (100%).

Entre as possíveis variações do modelo, há redução da jornada de trabalho semanal para 4 dias, porém a jornada diária passa de 8 para 10 horas, de tal modo que o colaborador ainda continua prestando o mesmo número de horas semanais, porém concentradas em menos dias. Esse modelo é praticado por exemplo, na Bélgica.

Existem modelos intermediários, em que também são trabalhados 4 dias, porém apenas metade da carga horária do quinto dia, é agregada, portanto, resultando em uma jornada de 9 horas diárias ou 36 semanais.

Quais as vantagens da semana de 4 dias?

Embora muita gente já imagina ao menos algumas das razões e dos porquês de instituir uma semana de 4 dias, é importante tratarmos de forma clara e aberta a questão.

Tal como foi por ocasião da consolidação da tradicional jornada de trabalho de 5 dias, há vantagens / benefícios tanto para quem emprega, quanto para os empregados.

É um movimento mundial que vem ganhando força e que recebe apoio de diferentes entidades / instituições, como da organização sem fins lucrativos 4 Day Week Global, da universidade americana Boston College, ou da inglesa University Of Cambridge, ou no Brasil, como a Reconnect Happiness at Work.

Dos muitos estudos, pesquisas e, sobretudo, das práticas implantadas nas mais diferentes empresas, de diversos portes e segmentos de atuação, em termos gerais foram observadas várias vantagens.

1. Saúde mental dos colaboradores

Ao mesmo tempo em que ser classificado com workaholic (compulsão por trabalho) na visão de alguns, ganhou o status de "qualidade" desejável em um profissional, houve aumento de problemas na saúde mental dos colaboradores, como a síndrome de burnout (esgotamento profissional).

Ansiedade, stress, distúrbios do sono e até frequentes licenças médicas, costumam acompanhar essa cultura do trabalho em excesso e a crença de quanto mais alguém se dedica ao trabalho, mais próximo está do sucesso.

As consequências todos nós já sabemos, tanto que o papel das empresas nas campanhas de janeiro branco, têm sido cada vez mais importante.

O que se observou na grande maioria dos casos e estudos em que se implantou corretamente a semana de 4 dias, que todas essas consequências negativas envolvendo a saúde mental dos trabalhadores, diminuíram drasticamente, na medida em que tiveram mais tempo com a família e disponibilidade para lazer e atividades diversas na vida pessoal, que se tornaram possível com um dia a mais.

A melhoria dos percentuais de vários aspectos psicológicos, foi sensível.

2. Absenteísmo

A diminuição das faltas (absenteísmo) foi outro aspecto observado em todos os lugares em que o modelo foi testado.

Com mais tempo, as pessoas podem se dedicar a questões que algumas vezes exigiam que elas se ausentassem do trabalho, como para resolver questões que só podem ser tratadas em dias da semana, como comparecimento a órgãos públicos ou serviços que só funcionam em horário comercial.

Mas a diminuição também se deu por melhoria da saúde física e mental e até por maior comprometimento com a empresa.

3. Igualdade de gênero

Com uma jornada de trabalho reduzida, especialmente quando ocorre com ambas pessoas de um casal, é mais fácil conciliar e coordenar os cuidados com os filhos e a carreira profissional.

Não é raro que quando isso não é possível, normalmente é a mulher quem abdica de sua carreira em detrimento dos filhos. Portanto, contribui para a igualdade de gênero nas empresas.

4. Ganho ambiental

Menos pessoas indo para o trabalho, menos emissões de poluentes, menor consumo de combustíveis e até de energia elétrica.

Mas significa também que haverá menos carros nas ruas e menos trânsito e que na prática implica que aqueles que estarão em seus “dias úteis”, chegarão mais rápido ao trabalho e gastarão menos combustível e com menos emissões.

5. Crescimento profissional

Se para alguns que ganharam um dia a mais na sua vida pessoal, significou um dia para não ter horário para acordar, para passear ou até não fazer nada, para outros foi motivo de dar um impulso na vida profissional.

Houve vários casos em que as pessoas se dedicaram a aprender um segundo idioma, retomaram os estudos ou fizerem um curso, seja investindo o tempo que antes não dispunham ou que até tinham, mas devido ao cansaço e esgotamento da rotina profissional, não tinham disposição em fazer.

6. Clima organizacional

Pessoas mais dispostas, menos estressadas, mais comprometidas com suas responsabilidades e com os objetivos da empresa, bem como com uma postura mais empática em relação aos seus empregadores, produziram uma melhora significativa no clima organizacional.

Outra consequência direta e indireta observada, foi a melhoria da qualidade de vida no trabalho (QVT).

7. Retenção de talentos

Nos casos das empresas que testaram e adotaram o modelo de 4 dias, houve melhoria na atração e retenção de talentos.

Há posições que são difíceis de preencher uma vaga, porque há poucos profissionais qualificados. É algo simples para grandes empresas, por meio da oferta de um salário acima da média de mercado. Mas não é para as pequenas e médias. Por outro lado, oferecer uma jornada de quatro dias, é possível e às vezes tem o mesmo efeito de uma melhor remuneração.

Na medida em que se tem colaboradores mais motivados e engajados, diminui o turnover e pode-se ter uma política de gestão de talentos mais eficiente.

8. Processos internos da empresa

Para serem capazes de entregar a mesma produtividade anterior à implantação da semana reduzida de trabalho, houve a necessidade de repensar e reformular os processos internos e os procedimentos operacionais padrão da empresa.

Assim, em todos os casos, o que se viu foi um aprimoramento dos processos, dos métodos, com reflexos positivos em diversas áreas.

Mas não só isso. Com colaboradores mais satisfeitos e criativos, melhoraram também as relações com clientes internos e também com os externos.

9. Faturamento e produtividade

A grande dúvida e a grande preocupação por parte das empresas, era como ficariam as receitas e a produtividade, com redução de 20% da presença física dos colaboradores.

Porém a prática logo tratou de mostrar que em todos os casos ambos os indicadores não só foram mantidos, como em muitos casos houve significativo aumento de receita e de produtividade, como consequência dos benefícios vistos anteriormente.

10. Redução de custos

Não bastassem os ganhos para colaboradores e empresa vistos até aqui, mesmo sem redução de salários, muitas empresas constataram que houve redução de custos.

Desde queda direta de gastos como energia elétrica e até de infraestrutura de escritório, nos casos em que houve menor necessidade de equipamentos para aqueles que são compartilháveis, como porque com processos otimizados, menores índices de erros e menor retrabalho, também produzem diminuição nos custos.

Ou até porque diminuíram os números de clientes insatisfeitos e melhorou a relação com fornecedores.

Onde já se pratica a semana de 4 dias?

Esse conjunto de benefícios e vantagens, não são mero fruto de estudos acadêmicos ou teses não comprovadas. Tudo o que foi apresentado, é resultado de prática, seja por iniciativa de ONGs como a 4 Day Week Global, seja por empresas, seja por governos, ou tudo isso combinado.

O modelo de uma semana de 4 dias de trabalho, não é algo exatamente novo e já há países em que além de testado e avaliado, já foi implantado.

  • Reino Unido – é dos casos mais célebres, havendo empresas (61 empresas e 2900 colaboradores) com semanas de 4 dias e outras com redução da jornada de 40 para 32 horas semanais, mas mantendo os 5 dias de trabalho. Houve aumento da receita média em 35% e 90% dos colaboradores revelaram felizes com a mudança. Também ocorreu 71% de redução nos sintomas de burnout;

  • Emirados Árabes Unidos – um dos países pioneiros em implantação com apoio governamental, tanto que desde janeiro de 2022, os funcionários de órgãos públicos trabalham 36 horas semanais, divididas em quatro dias úteis;

  • Japão – a Panasonic tem oferta de postos de trabalho de 4 dias para quem se interessar. A filial da Microsoft no país, realizou o teste e constatou um aumento de 40% na produtividade;

  • França – o modelo comumente praticado é de 4 dias, com jornada semanal de 35 horas;

  • Bélgica – no país a carga horária foi mantida, mas os funcionários podem optar por trabalhar 4 ou 5 dias, cumprindo a jornada semanal de 38 horas. Há ainda a possibilidade de trabalhar até um total de 45 horas e descontar o excedente na semana seguinte;

  • EUA e Irlanda – em 2022 a 4 Day Week Global conduziu testes em 33 empresas, sendo que 25 além de terem considerado um sucesso os resultados, resolveram manter a jornada reduzida, com aumento médio de 8% nas receitas.

Há uma série de países, na maioria europeus, como Espanha e Portugal, nos quais durante o segundo semestre serão conduzidos testes com acompanhamento da 4 Day Week Global.

No Brasil, teve início em junho / 2023 o teste, sob coordenação da Reconnect Happiness e da 4 Day Week Global. Até o momento 300 empresas mostraram-se interessadas.

Em novembro, o piloto será colocado em prática e depois de três meses, serão obtidos os dados sobre o desempenho das empresas envolvidas, em um processo de seis meses de duração, período no quando serão avaliados os dados e apresentados resultados.

A semana de 4 dias e a legislação trabalhista

De acordo com a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), há o limite máximo de horas semanais e que é de 44 horas, porém não existe nada que impeça a adoção da semana de 4 dias, nem tampouco estipula uma jornada mínima.

No entanto, é preciso ter atenção com igualdade / isonomia.

O valor das horas trabalhadas precisa ser o mesmo para todos os colaboradores que desempenham uma mesma função.

Outro aspecto, é que além de não haver a redução salarial em caso de uma semana de 4 dias, isso não pode afetar os valores pagos do 13º e das férias remuneradas.

Como implantar a semana de 4 dias?

Nesse ponto e diante dos dados e das aparentes vantagens, deve haver quem se interessou e quer saber como implantar a semana de 4 dias.

A “notícia ruim”, é que não basta que os Recursos Humanos alterem uma política da empresa, a qual torna oficial que ninguém mais trabalha nas segundas, ou nas sextas, ou quem sabe nas quartas-feiras.

Apenas fazer isso, invariavelmente deve produzir problemas e desvantagens, em vez dos benefícios.

Sim, porque uma empresa não é uma ilha. Ela faz parte e interage com o mercado, o que significa que tem parceiros comerciais, fornecedores e clientes que não vão simplesmente aceitar que em um determinado dia da semana, ninguém trabalha naquela empresa.

Mais do que isso, um colaborador que de repente se vê diante da necessidade de fazer tudo o que ele entregava em 5 dias, agora em 4, provavelmente estará sob maior stress e pressão. Como dissemos antes, processos precisam ser otimizados, mas também é preciso supri-lo com subsídios diversos, como tecnologias mais eficientes, por exemplo.

Trata-se de um processo minucioso com começo, meio e fim. Os mais atentos, viram que a Reconnect Happiness at Work é uma instituição com expertise no assessoramento necessário.

Por ser algo novo que muda e impacta o quotidiano, é preciso avaliar detalhadamente o modelo de negócio, suas características e tudo o que precisa mudar.

Envolve cultura – da empresa e das pessoas – e comportamentos, aspectos que não se muda do dia para a noite.

Por fim, mas não menos importante, a decisão sobre a mudança não pode se apoiar apenas em sensações, mas precisa ser baseada em números. Isso é parte do que a Reconnect e a 4 Day Week fazem nos testes que serão coordenados no Brasil.

Só ao fim deles e de posse de indicadores confiáveis, é que se pode determinar o sucesso ou não da iniciativa.

Sendo assim, é preciso recorrer a uma consultoria não apenas com expertise em Recursos Humanos, mas nesse tipo de transformação, para que se possa encontrar o modelo mais adequado à realidade da empresa, das suas possibilidades e necessidades.

Conclusão

A semana de 4 dias de trabalho, mais do que mudança de paradigma, representa vantagens para funcionários e colaboradores em um mundo no século XXI.

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