Como usar os recursos de linguagem na produção de conteúdo Web?
Produzir conteúdo para qualquer tipo de site, pode representar um grande desafio, especialmente quando não se tem a prática, a experiência e, sobretudo, intimidade com alguns aspectos da escrita.
Entre todos os obstáculos que o redator Web precisa superar, há a linguagem.
Que linguagem adotar e quais dos seus recursos são os melhores? Como comunicar de modo eficiente? Como entreter ou prender a atenção do visitante? Como usar a linguagem de modo apropriado?
A notícia boa para quem tem essas e outras dúvidas, é que tudo isso pode ser aprendido. São habilidades que podem ser desenvolvidas a partir do conhecimento e do exercício de alguns conceitos básicos e até muitas vezes, intuitivos.
Por isso, se você precisa criar conteúdos e não se sente confortável, chegou a hora de mudar!
O que é linguagem?
Antes de ir além e colocarmos a mão na massa, é preciso nos certificarmos que alguns conceitos estejam bem claros.
Muita gente confunde língua e linguagem. É natural esse tipo de confusão.
Nem todos são linguistas ou gramáticos ou ainda bons conhecedores do idioma pátrio e dos detalhes que dele fazem parte.
Língua ou idioma, é o conjunto de códigos ou palavras que são usados por um grupo ou uma nação. Assim, a língua portuguesa, é o conjunto de palavras usadas inicialmente pelos portugueses para se comunicarem e que hoje é falado em vários países, incluindo o nosso.
Já a linguagem envolve tudo que usamos para nos comunicar, transmitir ideias, sentimentos, situações. A linguagem faz uso do idioma ou da língua, mas faz uso de recursos que vão além e que não dependem de qualquer língua, ou até mesmo se não houver nenhuma.
Quer um exemplo?
Libras ou a linguagem dos sinais, usada pelos deficientes auditivos. Um determinado sinal realizado com as mãos, tem o mesmo significado para o brasileiro ou para o alemão.
Quer outro? Os emojis! Sim, os emojis que você envia ou recebe, são uma forma de linguagem, na medida em que eles comunicam uma ideia a quem os visualiza.
As placas de trânsito fazem uso de uma linguagem por imagens e que não depende de palavras.
Portanto, linguagem é tudo que permite comunicação e que não é necessariamente verbal, como na língua. Não requer o uso das palavras, sejam elas escritas ou faladas.
Mais que isso, a linguagem assume variações de acordo com o contexto em que ela é exercida. Um exemplo já foi dado. O uso da linguagem dos sinais. Mas vai bem além!
No meio médico, entre advogados e juristas, entre profissionais de TI e tantas outras áreas, há termos e expressões que são usados com frequência e que aqueles que não fazem parte desses meios ou grupos de pessoas, não conhecem ou mesmo quando conhecem, não os utilizam no seu dia a dia.
É o chamado jargão da área ou simplesmente jargão.
A linguagem também varia de acordo com a classe social, com a região geográfica, com as diferentes gerações e até de acordo com os diferentes grupos étnicos.
Tudo que caracteriza um grupo, pode ser um motivo ou razão para desenvolvimento de variações da linguagem, como é o caso dos nerds. Quem não é um, ao ouvir uma conversa de temas relacionados com suas paixões, “ficará boiando”.
Inclusive, a gíria “boiar” e que é um exemplo de linguagem, indica a geração da qual faz parte quem a utilizou.
Por que a linguagem é importante?
Apesar de já parecer óbvia a importância da linguagem, vamos além.
E ao ir além e tratar de outros aspectos de relevância ou importância da linguagem, estamos sendo redundantes. Mas redundância é recurso da linguagem.
Usar de redundância, é importante quando se pretende garantir que um conceito – ou muitos – estejam claros e tenham sido compreendidos pelo seu interlocutor, ou por aquele a quem você direciona uma mensagem, afinal o objetivo principal da linguagem é exercer comunicação com elevada eficiência.
Comunicação eficaz, é a troca da informação entre duas ou mais pessoas, com a menor presença de ruído que for possível, sendo que ruído aqui não é necessariamente o barulho que lhe impede de ouvir, mas tudo que atrapalha o recebimento e compreensão da informação por parte de alguém, incluindo também o eventual barulho.
Ao utilizar palavras que o outro não conhece, ocorreu ruído na comunicação. Por outro lado, quando usamos no segundo parágrafo “relevância ou importância”, usamos dois termos sinônimos para diminuir a possibilidade de que alguém não compreendesse o que queríamos dizer. Foi utilizada redundância e novamente recurso de linguagem.
Escolher e usar a linguagem apropriada, exige conhecer tão bem quanto possível, o seu público - a persona e que é a pessoa típica ou padrão que reúne o conjunto de características que o permite classificá-la em um grupo.
Assim, uma palestra ou mesmo o texto de um site, direcionado a um grupo de médicos, deve ser diferente em termos de variação de linguagem, do que aqueles tem como público, operários de uma indústria, sem maior mérito ou demérito ao primeiro ou ou segundo grupos.
São apenas personas diferentes e se o linguajar – a variação no uso da linguagem – não for condizente com o perfil da audiência, a mensagem está sob risco de não ser compreendida.
Um outro exemplo que torna evidente sua relevância, é o das palavras eficiência e eficácia. Ao consultá-las em dicionários, na maioria elas são consideradas sinônimos.
Mas muitos autores de livros de administração colocam-nas como diferentes e assim, uma pessoa eficiente, é uma pessoa que “faz certo a coisa”. Já o colaborador eficaz, é o que “faz a coisa certa”. Percebe a diferença?
Há uma sutil diferença, mas há. O eficiente faz de modo correto tudo que lhe é atribuído. Já o eficaz, entre tudo o que tem para fazer, opta pela melhor escolha ou aquela que produz o melhor resultado.
Por aspectos como esses, fazer o uso correto da linguagem pode significar a diferença entre se fazer compreender, ou parecer um grego falando.
Como usar os recursos da linguagem na produção de conteúdo?
Quando escrevemos no primeiro parágrafo do primeiro subtítulo (O que é linguagem?), “Antes de ir além e colocarmos a mão na massa”, usamos o que se conhece por figuras de linguagem.
Não vamos a lugar algum e não colocaremos a mão em qualquer tipo de massa. Mas deve ter ficado claro à maioria, o que queríamos dizer. Esse é um exemplo de uso dos vários recursos existentes.
Você não precisa saber o que é catacrese, metonímia, polissíndeto, hipérbole ou eufemismo e que são alguns dos nomes de figuras de linguagem da língua portuguesa.
Você pode até saber, mas não precisa para usá-las. E na frase anterior, usamos a elipse, outra figura de linguagem.
A frase do parágrafo acima em que usamos a elipse, sem ela, seria reescrita assim: “Você pode até saber os significados das figuras de linguagem, mas não precisa saber seus significados para usá-las”.
A elipse é a ocultação de termos sem prejuízo para a compreensão. Utiliza-se quando se quer algo mais simples, mais direto e no caso em questão, mais elegante, afinal é desnecessária a repetição de todos os termos que foram omitidos.
Entender as figuras de linguagem, ajuda a transmitir melhor as ideias que se pretende passar ao seu público, usando-as na medida e no momento certos. Torna o texto – e seu conteúdo – mais fluído ou simples e agradável para leitura.
Quais são as figuras de linguagem?
Ok, dissemos anteriormente que você não precisa saber o nome de nenhuma figura de linguagem para usá-las.
De fato, não é necessário. No entanto, conhecê-las e suas estruturas, pode ser útil tanto para seu uso mais consciente, como para tornar seus textos mais atraentes ao seu público, como também no processo de construção do seu estilo de escrita para Web e por tal razão, também são chamadas de figuras de estilo.
Naturalmente que para explicarmos cada uma, é necessário usar seus respectivos nomes, que não precisam ser decorados, apesar de que alguns você talvez ainda se lembre do tempo da escola.
Antes porém, é necessário salientarmos que é comum que as figuras de estilo façam uso das palavras em seu sentido conotativo, ou seja, quando as palavras assumem um sentido figurado ou alterado em função do contexto no qual aparecem.
Diz-se que esse recurso confere maior expressividade, mais sentidos e significação às palavras.
As figuras de estilo / linguagem são divididas em quatro grupos ou tipos:
-
Figuras de palavras ou semânticas – são aquelas relacionadas com o significado das palavras (Comparação, Metáfora, Metonímia, Catacrese, Antonomásia ou Perífrase, Sinestesia);
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Figuras de pensamento – reúne as figuras associadas com a combinação de ideias e pensamentos (Gradação, Ironia, Hipérbole, Eufemismo, Antítese, Paradoxo, Apóstrofe, Personificação);
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Figuras de sintaxe ou construção – é o grupo daquelas que alteram a estrutura gramatical da frase (Hipérbato, Anacoluto, Anáfora, Pleonasmo, Elipse, Polissíndeto, Assíndeto, Silepse, Zeugma);
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Figuras sonoras ou de harmonia: estão associadas à sonoridade resultante da pronúncia das palavras (Aliteração, Assonância, Paronomásia, Onomatopeia).
Como as figuras sonoras são predominantemente usadas na comunicação falada e nosso foco é conteúdo textual, não as trataremos aqui, focando-nos apenas nos três primeiros tipos.
1. Metáfora
É possivelmente a mais conhecida e mais utilizada, tanto na comunicação verbal e oral, como na escrita e também constitui um ótimo exemplo da conotação das figuras de estilo, já que ela se caracteriza pela comparação de dois elementos que originalmente não tem relação entre si.
“Seus olhos são como duas estrelas”, claramente indica o intenso brilho no olhar da pessoa, bem como outros sentidos que uma estrela pode ter por associação.
Na produção de conteúdo, ela é especialmente útil para explicar conceitos abstratos e/ou que podem não ser de amplo conhecimento, trazendo para o leitor comparação com aspectos que ele está mais familiarizado. É o caso por exemplo, do post sobre “A lição do 'bife a cavalo' em Administração”, no qual foi feito um amplo uso da figura não apenas no texto, mas na abordagem do assunto.
Porém é preciso cuidado na escolha e no uso das metáforas, quando elas dão margem a mais de uma interpretação, fazendo com que o leitor assuma um sentido diferente daquele pretendido pelo autor do conteúdo.
2. Comparação
Diferentemente do caso da metáfora, que a comparação é implícita, aqui a comparação é explícita.
Se antes fizemos uso do sentido figurado que os objetos podem assumir, na comparação explícita ela é específica e objetiva.
Fica mais claro perceber a diferença, se alteramos o exemplo anterior para algo como: “Seus olhos brilham como as estrelas”. Ou seja, o aspecto que se pretende destacar, é o brilho no olhar e não outro que eventualmente pode estar associado às estrelas.
Como a comparação não dá margem à variadas interpretações, ou a possível à subjetividade na interpretação do leitor, sua utilização é mais segura nas situações em que se quer precisão.
Também é comum para explicar terminologias, como é o caso de firewall, termo comum em informática e que designa a aplicação que serve como uma “parede (wall) de fogo (fire)” que impede o acesso àquilo que o firewall protege.
3. Metonímia
Consiste de recurso de estilo que é baseado em substituição de palavras por associação ou proximidade e que podem ser de diferentes tipos:
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Parte pelo todo – em “são muitas cabeças coordenando esse projeto”, não se pretende dizer que somente a cabeças das pessoas fazem parte do projeto, mas destaca a capacidade intelectual delas;
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Efeito pela causa – quando se diz que “esse trabalho é resultado de muito suor”, na verdade se quer dizer que o esforço foi grande para realizá-lo;
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Autor pela obra – se alguém lhe diz que “passei as férias lendo Tom Peters”, significa que leu vários livros do Tom Peters;
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Abstrato pelo concreto – ocorre quando um termo concreto é substituído pelo seu conceito abstrato ou vice-versa, como em “use a cabeça e encontre outra solução”, em que cabeça (substantivo concreto) toma lugar de inteligência (substantivo abstrato).
Na produção de conteúdo, considere a seguinte frase: “o guarda-roupas dela era só Armanis”.
Para começar, os mais atentos devem ter notado que além da metonímia, também há metáfora. Mas para além disso, indica que é um guarda-roupas que só tem roupas da famosa grife, que é um símbolo tanto do gosto da sua dona, como também indica que é marca prestigiada, tudo isso em uma sentença de poucas palavras.
Também é comum o uso de metonímia quando marcas assumem a condição do substantivo que designa o produto que elas representam, como são os famosos casos de Bombril e Gilette, para palha de aço e lâmina de barbear, respectivamente.
4. Catacrese
Catacrese é um tipo de metáfora, na medida que deixa de ser recurso estilístico e se integrou à língua, sendo também chamada de metáfora morta. Ocorre a catacrese em situações em que não há um termo apropriado que possa ser utilizado e é empregado fora do seu contexto original.
“Ele consertou o pé da mesa que estava quebrado”, sendo que mesa não tem pé.
5. Antonomásia ou perífrase
É quando se faz referência a lugar, a algo ou alguém, sem utilizar o nome direto, geralmente por meio de características que são peculiares e conhecidas.
Assim, Paris é conhecida como “Cidade Luz” e o Rio de Janeiro como “Cidade Maravilhosa”.
Esse é um recurso que cabe bem em várias situações, como por exemplo, quando se quer destacar a característica associada e ao mesmo tempo usar uma variação do termo original, mas que já ocorreu próximo no texto.
“Ele viajou de férias ao Rio de Janeiro. Ao chegar lá, foi logo conhecer as praias mais famosas da Cidade Maravilhosa”.
6. Sinestesia
A sinestesia ocorre quando se adota uma condição de um dos sentidos (visão, tato, olfato, audição e paladar) a uma situação fora do habitual.
Em “ela se virou com um olhar faminto em direção ao garçom, assim que sentiu o aroma adocicado e cítrico do prato que ele trazia”, há diferentes ocorrências de sinestesia, na medida que mistura olhar com faminto e aroma com adocicado e cítrico, sendo sensações correspondentes a outros órgãos.
Esse tipo de uso é frequente em artes, como na música ou em obras literárias, mas também em Publicidade e Marketing, quando o que se quer é reforçar alguma característica importante de um produto / serviço.
7. Gradação
Gradação é o uso de termos ou expressões e ideias que indicam a progressão até um máximo (crescente) ou clímax ou a regressão até seu mínimo (decrescente) ou anticlímax.
“Ele aos poucos tratou de conter, de sufocar, de matar qualquer sentimento que ainda tivesse por ela”.
Na literatura é comum justamente para caracterizar uma situação que evolui. Tem ainda aplicação em conteúdos com outras finalidades, como por exemplo, a progressão do sentimento de um consumidor, ou talvez quando se quer enfatizar o benefício de um produto.
Inclusive um conhecido youtuber que comanda um canal de churrasco, usa um bordão baseado em gradação: “é bom, é muito bom, é bom demais!”.
8. Ironia
Essa figura é das mais conhecidas e é o uso de um adjetivo ou palavra em sentido contrário ao que ele normalmente tem.
“Ele era tão delicado como um elefante em uma loja de cristais”.
É preciso critério e cuidado no seu uso, principalmente na linguagem escrita, mas se bem empregada, a ironia pode caber em situações bem-humoradas ou naquelas em que um pouco de sarcasmo seja apropriado.
9. Eufemismo
Usamos o eufemismo quando queremos dar um tom mais suave, ou mais ameno a uma situação. O significado não é alterado, mas a frase resultante tem um tom menos direto, menos contundente ou depreciativo que teria sem seu uso.
“Costumam dizer que suas habilidades cognitivas não estão entre suas principais qualidades”, é um eufemismo para burrice.
Consiste de recurso comum no atendimento a clientes. Não é uma alternativa para chamá-lo de burro, obviamente, mas quando se quer que a situação não pareça tão grave ou desfavorável. Porém é preciso cautela para que não pareça que está se tentando enganá-lo.
10. Hipérbole
A hipérbole é justamente o oposto do eufemismo e, portanto, é um exagero em relação à situação real.
“Quase morri de tanto trabalhar” é um exagero, desde que não seja de fato um trabalho que ofereça risco à integridade física.
Seu uso é oportuno quando se quer dar ênfase destacada em algo e na Publicidade costuma envolver sentimentos, como felicidade por exemplo, para evidenciar alguma qualidade / benefício do produto / serviço.
11. Antítese
A antítese fica caracterizada sempre que há a utilização de palavras ou expressões de sentidos opostos, geralmente através do uso de antônimos, de modo a apresentar contrastes.
É recurso que fortalece e evidencia o trecho em que a figura é usada e geralmente pretende destacar um ponto de vista.
“Eles eram tão incompatíveis como água e óleo, como dia e noite, como amor e ódio”, é um exemplo de como a antítese foi usada – também com gradação – para evidenciar o grau de incompatibilidade existente.
12. Paradoxo
Quando é usada em uma mesma construção sintática que demonstre uma contradição lógica e aparente, ela recebe o nome de paradoxo.
“O eloquente silêncio dos alunos era um indício que eles nada estavam entendendo”.
É importante salientar, que diferente da antítese, aqui há atribuição de uma “qualidade” que é contraditória ao silêncio, já que eloquência é a capacidade de falar com desenvoltura.
Apesar de muito usada na literatura, também pode servir a outros propósitos, já que chama atenção para os termos que aparecem como contraditórios.
13. Apóstrofe
Trata-se da figura utilizada para chamamento, invocação ou ainda consiste de um vocativo, ou seja, quando se chama algo ou alguém, geralmente em uma exclamação que interrompe ou que inicia um enunciado.
“Minha nossa Senhora! Você não sabe o que me aconteceu!”
É comum que a apóstrofe apareça destacada por vírgulas ou algum sinal de pontuação que passe destaque.
Também usada para indicar surpresa, indignação ou outro sentimento, como em:
“Minha amiga! Como você está linda!”
Observação: É importante não confundir apóstrofe com apóstrofo. O apóstrofo – diferente da figura de linguagem apóstrofe – é um sinal gráfico (’) usado para suprimir algumas letras e palavras.
14. Prosopopeia ou Personificação
Quando é feita a atribuição de predicativos próprios de seres animados a seres inanimados, dá-se o nome de prosopopeia ou personificação, sendo comum emprestar sentimentos, ações, sensações e gestos físicos e de fala a objetos.
“A empresa abriu sorridente, as suas portas aos novos colaboradores no novo ano que se inicia”.
Ou seja, mesmo sendo uma figura comum nos poemas e em livros, há sim usos para além desses contextos. No exemplo acima, quis se dar um caráter mais humano à empresa e sua relação com seus clientes internos.
15. Hipérbato
Hipérbato é a figura de estilo na qual ocorre a inversão da estrutura lógica do enunciado e, por isso, também pode constar como inversão. Seu nome vem do grego e significa “transposto” ou “ao contrário”, já que inverte a posição dos termos que compõem o enunciado.
“Felizes ficaram as crianças com seus presentes”, sendo que o usual seria que “as crianças ficaram felizes com seus presentes”.
Embora pouco usual, tal como algumas outras figuras de estilo, o termo invertido recebe mais atenção do leitor e não raras vezes, a sentença toda, já que por ser pouquíssimo comum, muitos não compreendem na primeira leitura que fazem.
16. Anacoluto
O anacoluto ocorre quando há uma quebra na estrutura lógica e natural da frase, que muda de modo repentino. Embora possa causar confusão com o hipérbato, o anacoluto apresenta uma irregularidade na estrutura gramatical do período e que inclusive faz com que alguns gramáticos o considerem como um erro gramatical.
“Meus amigos, fizeram-me uma grande surpresa”.
É importante notar que no exemplo dado, basta a supressão da vírgula e a colocação da preposição em próclise (antes do verbo), para que o enunciado assuma a estrutura lógica e esperada.
De pouca utilidade, deve ser evitado mesmo como figura de estilo na produção de conteúdos para Web.
17. Anáfora
Outra figura razoavelmente utilizada e que se caracteriza pela repetição de palavras ou expressões com o objetivo de reforçar uma ideia ou sentido.
“O antivírus limpou a memória, limpou os discos, limpou os programas, limpou todo o PC das infecções”, é um exemplo de anáfora, pela repetição da palavra “limpou” para reforçar que o PC estava livre de vírus.
Ela acontece de forma sucessiva no começo nas frases, nos versos ou nos períodos. É bastante usado em Marketing para destacar uma qualidade de um produto / serviço.
18. Pleonasmo
O pleonasmo fica caracterizado, quando se usa na expressão ou na mesma frase, palavras com o mesmo significado e que torna a sentença redundante.
Assim como os demais recursos que rompem com a estrutura habitual, é usada para dar ênfase.
“O invasor invadiu todos os sistemas Web da empresa”, a construção da frase com “invasor” e “invadiu” visa por pleonasmos reforçar o que ocorreu com os sistemas.
Quando a repetição da palavra ou da ideia contida na frase, implica uma redundância desnecessária que agrega nenhum valor ou modifica o que está sendo dito ou escrito, é considerado um vício de linguagem e chamado de pleonasmo vicioso.
Exemplos conhecidos de pleonasmo vicioso: “entrar para dentro” ou “subir para cima”.
19. Elipse
A elipse é uma figura que já havíamos comentado e que fica evidente quando palavras ou trechos podem ser omitidos sem que ocorra prejuízo na compreensão da mensagem.
“A privacidade na Internet precisa ser discutida. Temos direito a ela. Precisamos que seja respeitada e garantida”.
Se não fosse pela elipse, a frase seria: “A privacidade na Internet precisa ser discutida. Nós temos direito a ela. Nós precisamos que seja respeitada e garantida”.
Portanto, fica claro que é bastante oportuno o seu uso quando se quer conferir mais objetividade ao texto, bem como evitar repetições que podem tornar a leitura menos agradável e até não configurar SPAM perante os algoritmos dos sites de busca.
É mais uma que merece ser classificada como figura de estilo, dada sua contribuição para o estilo da escrita.
20. Zeugma
Tal como o recurso estilístico anterior, a zeugma prioriza a objetividade do texto, uma vez que se baseia também na omissão de palavras, porém aquelas que já apareceram anteriormente.
O mesmo exemplo da elipse, também utiliza zeugma e a palavra “privacidade” foi omitida na segunda e terceira frases.
Também estão certos aqueles que a veem como grande aliada na construção do estilo de escrita.
21. Polissíndeto
A ocorrência do polissíndeto se dá quando há a repetição de conectivos ou conjunções coordenativas aditivas – normalmente o “e” – ligando termos ou períodos da oração, ressaltando que síndeto é a designação de elemento de conexão e “poli” é o prefixo que significa vários ou muitos.
Há também outros conectivos, como “nem”, “ou”, “também”, por exemplo.
Entretanto, é mais característico em construções como:
“Nem Maria, nem João, nem Ana, nem José, sabiam de nada”, ou talvez “e vieram, e se reuniram, e discutiram...”
A utilização dessa figura deve ser bem restrita na redação para Web, sendo mais frequente na literatura.
22. Assíndeto
O assíndeto é o inverso do polissíndeto e, portanto, é quando são omitidos os conectivos / conjunções aditivas e as vírgulas têm a função de separar os termos.
“Ele foi à feira e comprou verduras, legumes, frutas, peixe, ovos, tudo para a semana toda”.
É evidente que seu uso é indicado para inúmeras situações, tanto por se aproximar da linguagem falada, de hábitos que já temos e por contribuir para a objetividade dos textos.
23. Silepse
Ocorre a silepse quando a concordância das palavras é feita de acordo com uma ideia ou com uma situação e não com uma palavra. Em outras palavras, ela é feita com um elemento implícito ou oculto, podendo acontecer nos seguintes âmbitos: de gênero, de número e de pessoa.
“No passado, os internautas sofríamos com a velocidade das conexões”.
Na frase acima, que aparentemente tem um erro de concordância verbal, que levaria a troca de “sofríamos” por “sofriam”, ao usar essa concordância, dá a ideia de “nós, os internautas, sofríamos…”.
Apesar de ser permitido esse uso, não é muito indicado seu uso na produção de conteúdos Web, visto que não é das construções mais populares e pode ser visto como um erro gramatical e, portanto, depondo contra a imagem do site.
10 dicas de como usar a linguagem na criação de conteúdos
Agora que você já entendeu como a linguagem é decisiva ao criar conteúdo do seu blog ou do site institucional que está criando, vamos ao lado prático da coisa.
Elaboramos um conjunto de dicas de como pensar na linguagem que será adotada, nos recursos e nas figuras de linguagem que podem enriquecer e tornar seus textos mais úteis e atraentes aos seus visitantes, ou visando produzir um efeito específico em quem lê.
1. Conheça a persona
Antes de mais nada, conheça muito bem a persona, ou seja, o perfil muito bem definido e predominante do seu público.
Você pode até ter mais de uma persona, mas evite ser muito abrangente, pois isso pode comprometer o alcance e acima de tudo, inviabilizar um direcionamento de quem você pretende atingir.
Sem saber para quem você escreve, não há como escolher a linguagem mais apropriada e consequentemente uma compreensão ampla do conteúdo, já que vimos que há muitos fatores que são determinantes na linguagem de cada público.
2. Cuidado com o uso de terminologia técnica
Só utilize o jargão técnico ou o linguajar específico de um grupo, se o conteúdo for exclusivamente direcionado a tal público.
Pode-se correr o risco de ser demasiadamente técnico e abusar do uso de terminologias, quando seria adequado um direcionamento mais abrangente e que contemple também conteúdo para leigos, já que mesmo que predomine um grupo, ao exagerar no jargão da área, você pode estar negligenciando os iniciantes.
3. Garanta a compreensão
Considere o uso moderado de redundância, explicando termos que sejam menos conhecidos.
Aqui é preferível “pecar” pelo excesso, do que pela falta. Use metáforas, analogias, comparações e sempre recorra àquilo que todo mundo conhece.
Não corra o risco de que os visitantes tenham que voltar à página de resultados dos sites de busca (SERP) e clicar nos links de outros sites, porque suas explicações foram superficiais ou não totalmente compreensíveis.
4. Exemplos e mais exemplos
Exemplos são recursos essenciais, porque geralmente se baseiam em questões conhecidas.
Sempre os utilize para reforçar os conceitos mais importantes e para diminuir as chances de incompreensão ou dúvidas do conteúdo por parte do leitor.
5. Facilite a leitura
Algumas figuras de linguagem / estilo são ótimas para tornar textos profundos e carregados de significados, mais leves e dinâmicos. Saiba identificar quando lançar mão delas.
Elipse, zeugma e assíndeto, usadas nas doses certas, além de contribuírem para conteúdos mais objetivos, se usadas adequadamente melhoram seu estilo de escrita.
6. Abuse do vocabulário
Aqui não significa usar palavras que ninguém conhece ou que se tenha que recorrer a um dicionário. Mas é frequente deixar monótono um texto, por repetir sempre as mesmas palavras.
Use e abuse dos sinônimos, tanto no mesmo parágrafo – como quando usamos “relevância ou importância” – como ao longo do texto, começando sempre a partir do termo mais popular, para o menos popular.
Isso também afeta negativamente o SEO, na medida que diferentes pessoas podem fazer pesquisas por sinônimos de palavras que você não considerou como palavras-chave.
Por fim, mas não menos importante, ao usar variações, ganha-se também no estilo final.
7. Semântica e etimologia
Outro recurso de linguagem que é bastante útil para desenvolver as ideias e explicar conceitos, é usar a semântica ou significado das palavras-chave de um texto e a etimologia, que é o estudo da origem das palavras.
Explicações que fazem uso de ambas, costumam ser mais didáticas e se apoiam na compreensão lógica e por essa razão, são mais difíceis de serem esquecidas.
8. Destaque o que importa
Faça uso de ênfase em tudo o que é mais importante.
Na alternativa ao exemplo de anáfora, como no trecho: “...é preciso acabar com os vírus, acabar com os trojans, acabar com todo tipo de malware e com tudo que ameaça a segurança digital”.
A repetição da palavra “acabar”, dá ênfase ao que se deve fazer. Mas cuidado ao escolher o que é importante e como usar cada recurso, para que não seja exagerado e, portanto, tenha efeito diferente do pretendido.
9. Escreva para pessoas
A Internet está repleta de conteúdos chatos, monótonos e pasteurizados. Dependendo do assunto, se você leu um, parece ter lido todos.
Parte do motivo disso, é que a grande maioria está mais preocupada em aplicar as regras de SEO e “contentar” os robôs do que as pessoas.
Inverta o processo e primeiro pense na primeira dica, ou se preferir, no que aquela pessoa com nome, idade, profissão, gostos, desejos, necessidades e expectativas, gostaria de encontrar ao privilegiar seu site com um clique.
Esse visitante só será cativado, se você falar a mesma língua que ele e que no caso, não se resume ao mesmo idioma.
Só depois de cumprir essa missão, ajuste para os algoritmos.
10. Revise tudo
Sobretudo e independente do uso dessas dicas ou de quais recursos de linguagem aplicar, lembre-se de construir um texto que tenha coesão entre os elementos usados, que seja comunicativo, que cumpra o seu objetivo, que é trazer pessoas ao seu site e quando saírem, estejam satisfeitas com o conteúdo encontrado.
Certifique-se do uso adequado de cada substantivo, adjetivo e verbo e que não está “derrapando” no uso do português.
Verifique também se há lógica na apresentação das ideias e conceitos e a escolha de cada palavra atende a proposta do conteúdo.
Com o tempo e a prática, a linguagem deve fluir com naturalidade e fazer parte do seu estilo de escrita.
Evolua lendo muito sobre todo tipo de assunto. Diferentes autores e diferentes temas, enriquecem nossa experiência de colocar ideias e sentimentos em palavras, bem como nos apresentam novas possibilidades de comunicação
Com isso em mente, sucesso no seu próximo texto!
Conclusão
Saber fazer uso dos recursos e figuras de linguagem, bem como os diversos aspectos linguísticos, é um requisito fundamental para produzir conteúdos que sejam atraentes e comunicativos para o público do seu site, do seu blog, ou qualquer tipo de site.