Vendas pela Internet durante a quarentena
Além do impacto sanitário evidente e que tem sido a maior preocupação do mundo todo, a consequência imediata da pandemia de coronavírus e ao longo dos próximos meses na economia, é o segundo ponto de maior destaque e preocupação, claramente justificável.
Em meio ao caos que se vislumbra e que se faz sentir já em muitos segmentos, um vem sendo o ponto fora da curva e que graças a Internet, que se não é a salvação de alguns negócios, tem pelo menos servido para amenizar os prejuízos que muitos setores vem enfrentado – o comércio eletrônico.
O comércio eletrônico e distanciamento social
O distanciamento social – inquestionavelmente necessário como medida de contenção do avanço da COVID-19 – entre os muitos impactos em muitos níveis (sanitário, social, econômico, profissional, etc), também afetou o comércio eletrônico, tanto em termos negativos, como positivos.
De modo geral, como a grande maioria das atividades econômicas, o movimento é descendente, ou seja, houve uma natural queda tanto resultante das preocupações quanto ao aumento de demissões, quanto das incertezas futuras daqueles que ainda não sabem como o mercado irá se comportar ao fim do período de isolamento e até mesmo quanto tempo ele durará.
No entanto, há setores que atuam com e-commerce, que apresentaram aumentos de até 180%, segundo a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), como é o caso das empresas que atuam no segmento de alimentos e bebidas e beleza e saúde.
Os números ainda são preliminares e somente ao longo do tempo teremos condições de ter levantamentos mais precisos dos efeitos e como se comportou cada setor da economia, porém já era de se esperar algumas consequências:
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Setores de bens de consumo, predominantemente os itens essenciais, como alimentação, higiene e medicamentos e com canais de comercialização na Internet, seriam menos impactados;
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Empresas com forte orientação ao comércio eletrônico e em maior grau aqueles que tem suas atividades 100% dependentes da Internet, também estariam menos suscetíveis à desaceleração econômica;
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Independente do segmento de atuação, empresas que têm parte do seu faturamento oriundo da Internet, seriam menos afetadas do que aquelas que no máximo tem uma presença digital voltada ao institucional;
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Uma forte corrida por parte de quem ainda não tinha nenhum canal digital ou daqueles que apesar de presentes, não investiam adequadamente, com planejamento e expectativas de retorno.
É inegável e até mesmo intuitivo, mesmo aos mais céticos em relação à Internet e o que ela pode trazer de resultados, que em muitos casos tem sido a tábua de salvação principalmente das micro e pequenas empresas, que rapidamente trataram de se adaptar como puderam e com os recursos que tinham às mãos, como vendas através do WhatsApp e ode serviços de delivery de autônomos.
O grande desafio que muitos pequenos empresários que anteriormente não estavam presentes, foi ter que adaptar-se rapidamente e mesmo assim, às vezes ainda ser insuficiente para ao menos sobreviver.
Portanto, um pequeno restaurante que antes vivia das vendas de refeições comerciais, em meio às ações de distanciamento social, no máximo conseguem algumas vendas junto aos poucos clientes que já tinham o hábito de usar o WhatsApp para fazer pedidos, ou algum cartaz eventualmente à frente do estabelecimento.
A verdade é que o princípio de quem larga primeiro, tem ampla vantagem, aqui se faz sentir sobremaneira. As empresas que já tinham um aplicativo para smartphone, um site ou loja virtual com um bom número de visitantes, presença ativa nas redes sociais, estão não apenas um, mas muitos passos à frente.
Como ingressar na Internet?
Muitos desses que se viram sem saber o que fazer, quando tiveram que baixar as portas, sabem que se a Internet pode não ser a salvação, pode significar continuar respirando por algum tempo.
Isso se fez sentir em plataformas como o Mercado Livre, que desde o início da pandemia, viu segmentos que tradicionalmente não eram significativos, crescerem fortemente, enquanto os mais tradicionais tiveram queda, o que faz com que a empresa estude aproveitar o momento para ingressar na comercialização de perecíveis, representado pelos supermercados.
A resposta mais rápida, prática e com menores investimentos, para aqueles que ainda não estão presentes na Internet ou sua presença é irrisória, são os marketplaces (Mercado Livre, B2W, Magazine Luiz, Carrefour) e os serviços de delivery (iFood, Uber Eats, Rappi, Delivery Much, Aiqfome, Loggi, …). Hoje a gama de opções é grande
É importante salientar, que se por um lado alternativas como essas, tem ajudado a evitar um colapso definitivo de muitos negócios, essa não é a saída definitiva e nem a mais adequada para aqueles que já deveriam ter feito seu ingresso na Internet há muito tempo.
No curto prazo, mesmo nas plataformas mais simples e consolidadas, vai exigir de muitos negócios, um conjunto de mudanças para adaptar-se ao novo modelo de negócios que estas alternativas de comércio eletrônico representam.
Obviamente, é um início e é melhor do que simplesmente cruzar os braços e esperar a tempestade passar. Todavia, deve servir de alerta para essa realidade inevitável que vem crescendo há muitos anos, sobre a necessidade de migrar senão todo, pelo menos em parte os negócios para o ambiente digital, mesmo em segmentos onde o hábito de consumo presencial, é o paradigma, como é o exemplo dos supermercados.
Empresas com Carrefour e especialmente o Pão de Açúcar, já oferecem essa modalidade aos clientes, onde pode se fazer a compra até mesmo de perecíveis, como carne por exemplo, recebendo em casa ou mesmo fazendo apenas a retirada da compra em uma loja física.
Ingressar na Internet verdadeiramente, com os dois pés, exige planejamento, tempo e muitas ações, como qualquer outra ação no mundo físico, de forma a colher resultados mais consistentes.
A parte mais visível de muitos negócios de sucesso na Internet, é a loja virtual, mas muitas empresas célebres rede, costumam ter uma sustentação digital ampla e estruturada, com blogs, vlogs, webinários, redes sociais e até mesmo sites institucionais bem concebidos.
Um exemplo real e importante dessa afirmação, é a empresa de varejo Magazine Luiza, que mesmo com mais de 1000 lojas em 18 estados brasileiros, teve no ano de 2019, mais de 56% de aumento no faturamento no e-commerce, frente aos pouco mais de 24% do total (varejo, e-commerce e marketplace) e cujo canal no YouTube, tem quase 2 milhões de inscritos.
Vender pela Internet é algo que não é novo, mas décadas após seu surgimento, ainda haviam quem não comprasse e quem não vendesse, pelo menos até hoje. Daqui em diante, é bem provável que isso fique ainda mais restrito a uns pouquíssimos.
Se você ainda não tem um domínio expressivo da sua marca ou do que você faz, um site por meio do qual seus clientes em potencial podem saber mais sobre seus produtos e serviços, uma loja que dê a comodidade aos seus clientes de comprar com alguns cliques, um blog que amplie as fronteiras de uso de seus produtos e uma interação personalizada e humana pelas redes sociais, na próxima vez que lhe for exigido tudo isso, pode ser tarde demais!
Assim, ao mesmo tempo que o coronavírus entre outras coisas nos fez lembrar o quão importante é um sistema público de saúde, os cuidados com a higiene, a importância da comunicação e do conhecimento, entre tantos aspectos relevantes, deve servir de alerta àqueles que em alguma medida viam-se resistentes ao ingresso na Internet.
Conclusão
A pandemia do coronavírus destacou entre muitas coisas, a importância que a Internet tem tanto nas relações quotidianas entre pessoas, como também as relações comerciais. Empresas com maior presença digital, se não estão imunes aos impactos econômicos, tem tido melhores condições de suportar a forte desaceleração econômica observada na maior parte dos setores.