Como o Princípio de Pareto melhora a gestão da empresa?
O que você acharia de saber que a imensa maioria dos resultados da sua empresa, pode estar vindo de uma pequena fração dos seus esforços?
Acha improvável?
Talvez, é porque você ainda não conheça o Princípio de Pareto!
Se você não sabe o que é, quais as implicações e aplicações, e como utilizá-lo para tornar a gestão do seu negócio mais eficiente, este conteúdo foi feito especialmente para você. Reserve alguns minutos e descubra como essa ideia pode transformar a forma como você administra sua empresa!
O que é o Princípio de Pareto?
Imaginemos que a sua empresa é como uma horta, uma analogia comum de ser feita quando o assunto são os resultados obtidos a partir do que se planta.
Sendo assim, você prepara o terreno, semeia várias sementes, rega todas com dedicação, mas a medida que as plantas crescem e começam a dar frutos, apenas algumas poucas plantas rendem frutos em boa quantidade e realmente saborosos.
Essa situação hipotética, mas baseada na realidade, exemplifica o que é o Princípio de Pareto: a constatação de que nem todo esforço gera o mesmo resultado.
Criado por Vilfredo Pareto, um sociólogo, teórico político e economista italiano do século XIX, o princípio surgiu da simples constatação que 80% das terras da Itália estavam nas mãos de apenas 20% da população. Com o tempo, essa proporção passou a ser observada em diversos contextos, incluindo o mundo dos negócios.
Mas cuidado, porque apesar de muitos imaginarem que essa proporção – 80% dos resultados vindo de 20% dos esforços – seja uma regra matemática, constitui apenas uma tendência probabilística.
Para os nossos propósitos aqui, o mais interessante é que esse princípio – também chamado de 80/20 – é observável em áreas tão diversas quanto Vendas, Marketing, Produção, Atendimento e até na Administração do Tempo.
Podemos deduzir que o verdadeiro valor do Princípio de Pareto, consiste em identificar quais são as causas que geram os melhores efeitos. Ao identificar esses 20% mais relevantes, você pode redirecionar seus esforços, o seu tempo e os recursos necessários, naquilo que realmente faz diferença.
Caso você não tenha atentado, há também o outro lado da moeda, ou seja, os 80% das ações remanescentes, que produzem os 20% dos resultados, estão carregados de ineficiência, desperdício, decisões erradas e uma variedade de outros problemas.
Visto de outra forma, aplicar o Princípio de Pareto é como fazer um cultivo estratégico na sua plantação, evitando as ações que acarretam plantas pouco produtivas, fortalecendo o que dá mais frutos e uma colheita mais qualificada e abundante.
Em resumo, o Princípio de Pareto não é apenas uma curiosidade estatística, mas uma ferramenta poderosa de diagnóstico. Ele nos convida a olhar com mais atenção para o que realmente gera valor, e a questionar se estamos investindo nossos esforços nos lugares certos.
Se você tem papel de liderança na empresa, entender esse princípio pode ser o primeiro passo para uma administração mais inteligente, mais enxuta, mas acima de tudo, mais eficiente.
Nos próximos tópicos, vamos mostrar como aplicar esse raciocínio na prática e como ele pode ajudar você a colher resultados mais consistentes.
Identificando os 20% que fazem diferença na empresa
Aplicar o Princípio de Pareto começa com uma pergunta simples, mas essencial: “O que está gerando mais resultado com menos esforço?”.
Aqui vão alguns passos práticos para começar:
1. Escolha uma área para analisar
Aqueles que se empolgaram, precisam se conter e evitar a tentação de aplicar a regra 80/20 em tudo, ao mesmo tempo. Escolha e comece por uma área crucial, como Vendas, Atendimento ou Suporte aos clientes, ou Recursos Humanos.
2. Colete dados simples
Suponhamos que você tenha escolhido o departamento de Vendas, afinal, quer potencializar as receitas.
Seja qual for a escolha, tenha em mente que você não precisa de um sistema dedicado e tampouco sofisticado. Provavelmente você já dispõe de muitos dados, seja do seu Sistema de Gestão de Vendas (SGV), seja do CRM, seja até das planilhas e relatórios de Vendas que utiliza. Não importa a fonte, desde que a informação seja precisa, seja fidedigna.
Responda a perguntas como:
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Quais produtos vendem mais?
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Quais clientes compram com frequência?
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Quais tarefas consomem mais tempo no seu dia?
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Quais canais de venda geram mais retorno?
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Quais vendedores têm melhor desempenho?
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Quais campanhas de Marketing trouxeram mais conversões?
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Quais regiões ou segmentos de clientes compram com mais regularidade?
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Quais reclamações ou problemas são mais recorrentes?
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Quais processos geram mais retrabalho ou problemas da não-qualidade?
Se não ficou claro, ao buscar essas respostas, você está caminhando em direção aos 20% que produzem os 80%! Essas perguntas ajudam a ampliar o olhar das lideranças, sem exigir ferramentas complexas.
Nesse sentido, não é necessário responder a todas as perguntas de uma vez. Foque naquelas que fazem mais sentido para o momento atual da sua empresa. E mais, considere outras perguntas que estejam mais alinhadas ao seu modelo de negócio e estratégias, afinal, ninguém conhece melhor sua realidade do que você.
3. Organize e analise os dados
Agora que você já reuniu informações relevantes, é hora de colocar tudo em ordem e analisar os padrões.
Fique atento e seja imparcial, evitando moldar os dados para que confirmem aquilo que você já acredita. O objetivo aqui é enxergar os padrões como eles realmente são e não o seu paradigma de como eles deveriam ser. Essa etapa é essencial para começar a enxergar os “20% que realmente importam”.
Você pode usar uma planilha simples, um quadro branco ou até papel e caneta. O importante é classificar os dados em ordem decrescente de influência. Por exemplo:
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Liste os produtos, dos mais vendidos aos menos vendidos;
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Organize os clientes pelo volume de compras;
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Classifique os canais de venda pelo faturamento gerado por cada um.
Ao fazer isso, você provavelmente vai perceber que uma pequena parte dos itens concentra a maior parte dos resultados. É o Princípio de Pareto se revelando diante dos seus olhos.
Se quiser facilitar ainda mais, use uma regra visual simples: marque os 20% do topo da lista. Esses são os elementos que merecem atenção especial. São eles que estão gerando cerca dos 80% dos resultados.
Suponhamos que os 3 produtos do topo da lista, representam 70% das vendas. Isso já é um sinal claro de Pareto em ação.
Aqui é importante destacar outro aspecto da regra 80/20, quando a proporção encontrada não é exatamente a que se espera, não significa que o princípio não é aplicável, mas que já se tem um nível de eficiência maior do que a média.
Sim, Pareto trata de médias, de aproximações, não de fórmulas exatas. O importante é entender o raciocínio por trás e usá-lo como bússola, não como régua, ok?
4. Tome decisões com base nos dados
Agora que você já organizou e analisou os dados, chegou o momento de transformar essas informações em decisões estratégicas. Essa é a etapa na qual o Princípio de Pareto se mostra aplicável e começa a gerar valor real para o seu negócio.
A ideia aqui não é fazer mudanças radicais, mas sim ajustar o foco. Sim, porque conforme tratamos nos posts sobre “Liderando mudanças nas empresas para o sucesso” e “A importância da gestão de mudanças nas empresas”, as pessoas são naturalmente resistentes às mudanças e quanto maiores elas forem, mais relutância haverá.
Concentre-se em apenas redirecionar os seus esforços, o tempo e os recursos dedicados naquilo que comprovadamente gera mais resultado.
Veja algumas possibilidades hipotéticas, mas práticas:
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Produtos – reforce a divulgação e o estoque dos produtos que mais vendem. Avalie se vale a pena manter os que têm baixo giro;
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Clientes – crie ações dirigidas para fidelizar os clientes mais ativos. Eles já demonstraram interesse, talvez só precisem de um incentivo extra para comprar mais;
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Canais de venda – invista nos canais que trazem maior retorno. Se um canal digital está performando melhor que o físico, talvez seja hora de redistribuir as atenções e os investimentos;
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Processos internos – identifique os gargalos e processos que geram mais retrabalho ou atrasos. Pequenas correções podem liberar tempo e melhorar a produtividade da equipe.
Importante: não se trata de abandonar os 80% restantes, mas de priorizar os 20% que fazem a diferença. Isso é especialmente valioso para pequenas empresas, onde tempo e recursos são limitados.
Aplicando esse raciocínio, você começa a administrar com mais inteligência e não apenas com mais esforço.
Por que o Princípio de Pareto é aliado estratégico para pequenas empresas?
Pequenas empresas enfrentam um desafio constante – fazer muito com pouco.
A realidade é que frequentemente muitos dos empreendedores dessas empresas, têm que lidar com recursos limitados, equipes enxutas e tempo escasso, seja para fazer o que precisa ser feito, seja para produzir resultados. É justamente nesse cenário que o Princípio de Pareto se torna um verdadeiro aliado.
Ao aplicar a lógica 80/20, você consegue:
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Priorizar o que realmente importa, sem desperdiçar energia em tarefas de baixo valor;
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Tomar decisões com base em dados, e não apenas em intuição;
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Aumentar a eficiência operacional, focando nos processos mais eficientes;
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Melhorar a rentabilidade, investindo nos produtos, clientes e canais mais lucrativos.
Em outras palavras, Pareto ajuda você a administrar com inteligência estratégica, mesmo diante de um cenário de escassez.
Possíveis aplicações práticas na empresa
Conforme havíamos adiantado, o Princípio de Pareto pode ser aplicado em diversas áreas da empresa.
Veja alguns exemplos:
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Vendas – visando identificar os produtos que geram mais receita e assim, concentrar os esforços neles;
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Marketing – permite avaliar quais campanhas resultam em mais conversões e assim, otimizar os investimentos;
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Atendimento ao cliente – descobrir quais tipos de reclamações são mais recorrentes, as suas origens e, a partir daí, propor soluções para as principais causas;
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Gestão de tempo – garantir a correta classificação das tarefas diárias e a priorização daquelas que realmente são importantes (o “dilema” do urgente vs importante em Administração);
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Controle de estoque – para focar nos itens de alta rotatividade e redução daqueles de baixo giro;
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Recursos humanos – reconhecendo os colaboradores que mais contribuem para os resultados e a partir disso, conduzir uma gestão de talentos mais efetiva.
Esses são alguns dos possíveis casos de aplicação da regra 80/20 que não exigem grandes investimentos, apenas um olhar atento, organização e ação estratégica.
Usando o Princípio de Pareto em sinergia com outras técnicas
O Princípio de Pareto ganha ainda mais força quando combinado com outras ferramentas simples de administração.
A seguir mencionamos alguns conceitos que talvez você já conheça – quem sabe até já utilize – e que aliados ao 80/20, podem potencializar ainda mais os resultados.
Os “5 Porquês”
Uma técnica de análise de causa raiz – tal como Pareto faz – conhecida como a técnica dos “5 porquês”, às vezes também chamada de 5Ws (vem de 5-Whys, onde a palavra “why” é “por que” em inglês), consiste em perguntar “por quê?” cinco vezes seguidas em relação a um problema, com o intuito de chegar à real origem de uma questão.
Exemplo: Se 80% das reclamações vêm de atrasos na entrega, os “5 porquês” ajudam a descobrir se o problema está na logística, no fornecedor ou na comunicação interna.
Diagrama de Ishikawa (Espinha de peixe)
O Diagrama de Ishikawa é uma ferramenta que ajuda a visualizar as causas de um problema, agrupando-as em seis áreas ou assuntos de interesse que integram os processos para a produção de um produto ou serviço (Máquina, Material, Mão de obra, Método, Medição e Meio Ambiente) e a partir daí, distinguir quais as possíveis causas ou origens do problema conhecido e que impedem que a qualidade pretendida seja alcançada.
Uso com Pareto: Use Pareto para identificar os problemas mais frequentes e o Ishikawa para entender as suas causas / origens.
Matriz GUT (Gravidade, Urgência, Tendência)
A Matriz GUT é uma ferramenta de priorização que ajuda a decidir quais problemas ou ações devem ser tratados primeiro, com base em três critérios:
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Gravidade – qual o impacto do problema?
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Urgência – qual a necessidade de agir rapidamente?
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Tendência – qual a chance de o problema piorar com o passar do tempo?
Cada critério recebe uma nota de 1 a 5, e o produto dessas notas indica a prioridade da ação. Quanto maior o resultado, mais atenção o item merece.
Integração com o 80/20: Suponha que você identificou, com Pareto, que 80% das reclamações vêm de falhas no atendimento. A Matriz GUT pode ajudar a decidir quais aspectos do atendimento devem ser resolvidos primeiro, por exemplo, demora nas respostas, falta de treinamento ou falhas no sistema.
Após identificar os 20% mais críticos com o Princípio de Pareto, aplique a Matriz GUT para priorizar a ordem de resolução. Assim, você foca no que mais impacta e age com mais eficiência.
Ciclo PDCA (Planejar, Executar, Verificar, Agir)
O Ciclo PDCA é uma metodologia de melhoria contínua, amplamente utilizada na gestão empresarial. Seu nome vem das iniciais de quatro etapas:
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Plan (Planejar) – definir metas, identificar problemas e traçar um plano de ação;
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Do (Executar) – colocar o plano em prática;
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Check (Verificar) – medir os resultados e comparar com o que foi planejado;
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Act (Agir) – corrigir desvios, padronizar acertos e recomeçar o ciclo.
Ou seja, o PDCA é uma ferramenta poderosa para implementar mudanças de forma estruturada, evitando decisões impulsivas ou mal fundamentadas. Mais do que isso, é um instrumento eficiente de melhoria contínua.
Uso com Pareto: Após identificar os 20% mais relevantes com o Princípio de Pareto, o PDCA ajuda a executar melhorias de forma organizada e sustentável.
Por exemplo, se você descobriu que 80% das vendas vêm de 20% dos produtos, pode usar o PDCA para planejar ações de reforço, executar campanhas, verificar os resultados e ajustar a estratégia conforme necessário.
Essa combinação permite que você melhore continuamente o que já funciona bem, e corrija o que precisa de ajustes, tudo com base em dados, método e foco estratégico.
Conclusão
Use o Princípio de Pareto para focar no que realmente importa e tornar a gestão da sua empresa mais eficiente e estratégica.