Mitos e verdades sobre o Linux

Apesar do importante crescimento na adoção do Linux no mundo todo e, portanto, da sua relativa popularização, ainda existem muitos mitos – mas também algumas verdades – relativas a ele.

A fim de evitar dúvidas e, sobretudo, desinformação e que geralmente atrapalha aqueles que podem se beneficiar do seu eventual uso, vamos lançar um pouco de luz sobre tudo o que comumente é dito sobre o “sistema do pinguim”.

Por que desmistificar o Linux?

Mais do que defender – ou não – o Linux, desmistificar alguns aspectos que normalmente são tidos como verdades, é uma questão de trazer informação verdadeira e que deve ser o posicionamento em relação a qualquer assunto.

Muitas pessoas acostumaram-se a usar a Internet como instrumento de verificação ou de confirmação de informações sobre praticamente qualquer assunto. Assumem que se um site qualquer divulga um determinado dado, uma informação, ela é correta – “é verdade. Eu vi no site tal.com

Infelizmente nem sempre é assim. Seja porque alguns apenas replicam o que leem e ouvem por aí, sem checar a sua exatidão, seja porque apenas copiam o que encontram em outros sites e blogs, com base na premissa de que se alguém publicou está correto, seja ainda porque deliberadamente ganham alguma coisa em passar desinformação, o que é ainda pior e que caracteriza as conhecidas fake news.

Independentemente da justificativa e particularmente no caso do Linux, a informação precisa a seu respeito, dá subsídios para que nós na condição de usuários, possamos fazer escolhas conscientes e mais acertadas.

Em qualquer segmento, quanto mais escolhas os consumidores têm para fazer, mais ganham, o que no caso de sistemas operacionais, o universo é bastante limitado.

Por fim, é necessário ter a mente aberta e, sobretudo, ter discernimento em relação às informações que você encontra sobre o assunto. Ao longo dos anos, ocorreu muita evolução e muitas coisas mudaram no Linux. Se em um determinado blog há uma informação divergente, pode ser que na época em que foi divulgada, fosse verdade.

Ou seja, sempre procure verificar o quão atual é a publicação do conteúdo, afinal esta é uma área bastante dinâmica, na qual dois ou três anos podem fazer toda a diferença.

20 mitos e verdades mais comuns sobre o Linux

Na abordagem que escolhemos, apresentaremos as afirmações – e informações – mais comumente divulgadas e que serão os nossos subtópicos e a seguir classificaremos cada uma como mitos, verdades e eventualmente quando forem parcialmente um ou outro, bem como comentaremos cada uma.

1. Linux é um sistema operacional

Esse é parcialmente um mito. Claro que há uma dose de preciosismo nisso e que já ficará claro o porquê.

Tecnicamente falando, genericamente Linux é o nome dado ao kernel que dá origem a uma imensa gama de sistemas operacionais.

Entre muitas possíveis definições de kernel, a mais compreensível para leigos, é a que o define como sendo o conjunto mais básico e funcional de todo sistema operacional e que é responsável pelo “meio de campo” entre homem (usuário) e máquina (hardware).

É o kernel o responsável pelo gerenciamento de memória e disco, por passar instruções para o processador e receber o resultado do processamento, entre outras muitas coisas.

Em cima do kernel, há outras camadas e que são responsáveis por dar funcionalidade e facilidade, como o conjunto de aplicativos (gerenciador de arquivos, gravador de voz, player de mídia, etc) e a interface gráfica, a qual organiza visualmente tudo para o usuário e que por exemplo, permite que em vez de digitar um comando para imprimir algo que é exibido na tela, seja feito por meio de um clique de mouse.

O Windows também tem um kernel, a diferença é que o seu kernel só dá origem a alguns “sabores” de uma mesma coisa.

Já no caso do Linux, podem haver literalmente dezenas de sistemas operacionais derivados de um mesmo kernel, mas com um conjunto de aplicativos e funcionalidades (desktop environment) diferentes, bem como interfaces gráficas também distintas.

É o caso por exemplo, das diferentes versões do Ubuntu e que eles chamam de Ubuntu Flavours.

O inverso também é verdade, ou seja, é possível ter dois sistemas operacionais baseados em dois kernels, mas que usam um mesmo desktop environment e interface gráfica.

Analogamente no mundo real, há situações parecidas, em que você tem diferentes modelos de um mesmo fabricante que compartilham uma plataforma (motor, suspensão, câmbio, etc), mas recebem outros componentes que fazem parecer um carro bem diferente do outro.

Via de regra e para o usuário final, pouco interessa e tem poucos desdobramentos práticos essas diferenças e assim é muito mais fácil falar que independente dessas particularidades, todos são Linux!

2. O Linux é difícil de usar

Esse é um dos mitos mais propagados e dos mais antigos.

É justamente da antiguidade que vem a sua justificativa, uma vez que no passado e quando surgiram apenas as primeiras e poucas distribuições Linux, era de fato bem mais difícil de usar comparativamente ao Windows.

Há ainda distribuições Linux não tão amigáveis, mas a maioria atualmente leva em consideração justamente os hábitos e o perfil de usuários do sistema operacional líder de mercado.

Inclusive há distros – como são chamadas as distribuições pelos mais “íntimos” – que se assemelham esteticamente e funcionalmente ao sistema da Microsoft, justamente visando tornar eventual migração menos “traumática”.

Compreende-se a alegação em função da real de dificuldade que pode haver logo que um usuário que trabalhou por anos com o Windows e encontra alguma dificuldade em localizar um recurso que ele usava dezenas de vezes por dia no antigo SO, no novo.

Mas a dificuldade não é maior e nem diferente do que ele teve ao mudar do Windows XP para Windows 7, ou deste para o 10! Nada que não se resolva após alguns poucos dias e uma suave curva de aprendizado.

3. Linux também pega vírus

Sim, é verdade e o Linux tal como o Windows, também é suscetível a vírus e mais especificamente falando, a malwares.

No entanto, é verdade também que a incidência é muito menor, devido a alguns fatores:

  • O Windows é mais visado porque há mais usuários e, portanto, mais vítimas em potencial;

  • As atualizações no caso do Linux são mais rápidas e constantes. Quando são descobertos malwares baseados em falhas do sistemas, as atualizações costumam ser publicadas em horas até, coisa que raramente ocorre tão rápido no Windows;

  • De modo geral e por questões de ordem técnica, os sistemas baseados no Linux são menos vulneráveis a determinadas classes de malwares.

4. Há poucos programas para Linux

Outro mito nascido no passado. Há pouco mais de uma década, poderia ser uma verdade, mas ao longo dos anos e do crescimento e popularização de algumas distros, muitos fabricantes de softwares começaram a desenvolver programas para ambos os sistemas operacionais.

E assim como há programas exclusivos para Windows, também há para Linux.

Também é importante lembrar, que passamos por uma importante mudança de paradigma e atualmente muitos dos programas que no passado eram instalados, hoje já não precisam mais ser.

O Cloud Computing e a Internet, levaram para a nuvem muito que antes ficava em nossos HDs. Acessamos por meio de um navegador a nuvem e os temos para uso independente do sistema operacional usado.

5. Linux só funciona bem com linhas de comando

Ou em uma versão alternativa, segundo a qual só é possível usar bem o sistema, quem sabe usar linhas de comando e que constitui outro mito clássico.

A maioria das distribuições mais populares dispensam integralmente o conhecimento de linhas de comando, por mais simples que sejam. É possível fazer tudo o que se faz no Windows, apenas usando a interface gráfica.

O que há de verdade nisso, é que para aqueles que têm o conhecimento, por meio das linhas de comandos é possível ir além e ter ganhos importantes.

Assim, suponhamos que você tenha uma pasta com milhares de arquivos e quer selecionar apenas aqueles que comecem por uma determinada letra e movê-los todos para uma outra pasta. Por linha de comando pode ser mais fácil e rápido.

Porém é preciso confessar, que também é possível fazer a mesma coisa no Windows e também por linha de comando.

6. É grátis e por isso não tem suporte

Parcial verdade. É parcial porque há distros que tem sim suporte e há as que não são gratuitas.

Também não é totalmente verdadeiro, quando se pensa na forma que o suporte é fornecido. Atualmente a comunidade de usuários é mais engajada e para muitas questões é muito mais fácil encontrar sites, blogs, fóruns e canais no YouTube com tutoriais e respostas para problemas, do que no caso do Windows.

E quantas vezes é necessário recorrer ao suporte da Microsoft? E como ela presta esse suposto suporte? Só quem já teve que recorrer, que sabe como é...

7. É difícil instalar periféricos

Outro caso de mito surgido em um passado bem distante.

Há muito tempo que a totalidade, ou bem próximo disso, dos fabricante de periféricos (mouse, impressoras, monitores, etc) já fornece tanto instruções de instalação, como também os drivers eventualmente necessários para instalá-los no Linux.

Mesmo fabricantes menores ou menos conhecidos e “xing lings”, já adotaram a prática.

Algumas das distribuições mais amigáveis aos usuários, também preocupadas com isso, são capazes de assim como o Windows, identificar e buscar em repositórios os drivers eventualmente necessários e automatizam o processo de instalação de modo que o usuário realize o que se conhece como plug-and-play, ou seja, conecta e já pode usar, sem precisar de procedimentos manuais.

8. Atualização de hardware é complicado e não existem drivers

Muito parecido com o anterior, também é exemplo de mito, pelo menos em 99% dos casos.

Pelas mesmas razões do anterior, os fabricantes de hardware e as distros, têm trabalhado para tornar o processo de instalar um SSD ou fazer um upgrade de memória ou até uma placa de vídeo, ser o menos trabalhoso possível.

É cada vez mais comum você trocar um componente de hardware em qualquer dos sistemas seguindo exatamente os mesmos passos.

Para ser justo, eventualmente algumas situações muito específicas, como é o caso de um ou outro modelo de placa de vídeo da AMD, pode reservar algum problema, mas representam pouquíssimas exceções.

9. Instalação do Linux é complicada

Instalar o sistema operacional é tão ou mais simples – dependendo da distro – do que Windows e, portanto, é outro mito.

Já há distribuições em que o procedimento de instalação requer menos cliques de mouse, menos decisões e informações e leva menos tempo do que uma instalação padrão do Windows.

Nelas o sistema identifica o hardware, instala e configura os drivers mais adequados, bem como aplica as configurações mais comuns, tornando a tarefa de instalação o mais simples possível, até mesmo para quem nunca tenha feito isso antes.

10. É só para programadores, nerds, hackers e profissionais de TI

Se você leu todas as afirmações anteriores, já deve supor que trata-se de outro mito e que de fato há mais de uma década deixou de ser verdade, afinal entre as diferentes distros que foram criadas para mudar essa realidade, temos o Ubuntu que surgiu em 2004.

De lá pra cá, muitas distros seguiram seus passos e adotaram o conceito user friendly, ou seja, que é preciso ser amigável ao usuário e tudo o que isso implica.

Seja um hacker, seja um nerd, seja um profissional da área, o que há de comum nesses públicos, é sua exigência quanto a sistemas e nisso o Linux mostrou-se desde o início bastante sólido e de fato consistiu da escolha de muitos.

Mas a evolução tornou-o atrativo aos usuários da outra ponta. Como dissemos no item imediatamente acima, desde a instalação, há algumas até mais simples e fáceis e que podem surpreender positivamente mesmo os mais ardorosos usuários do SO da Microsoft.

11. Linux só é bom para servidores

Compreende-se a origem desse mito, pois de fato o Linux avançou primeiro em servidores, tanto os corporativos e graças ao RedHat, como também e principalmente em servidores para a Web.

Devido ao desempenho, à estabilidade e segurança, bem como a flexibilidade e baixo custo de implantação, características extremamente favoráveis, o Linux mostrou-se superior ao Windows nesse tipo de ambiente.

Há algum tempo ele domina o segmento de servidores, tal como o Windows em desktops.

Mas apesar de ser ótimo para esse tipo de uso e por tudo que já explicamos até aqui, ele é igualmente bom para um notebook ou desktop e não é por outra razão que fabricantes consagrados de notebooks, como Dell e Acer, ofereçam equipamentos com Linux instalado.

12. Não há jogos para Linux

É mito, apesar de haver de fato muito mais títulos para Windows e no passado a diferença já foi ainda maior. Mas a quantidade de títulos que já oferecem opções para ambos os sistemas vem crescendo a cada novo lançamento.

Assim, o que há de verdadeiro por trás da afirmação, é que jogos mais antigos geralmente só estão disponíveis para Windows e que mesmo alguns títulos mais recentes não têm versões para Linux.

Também há plataformas e serviços, como Proton e Steam, cujo objetivo é oferecer algumas opções populares e consagradas ao Linux.

Também cresce o mercado exclusivo de opções para Linux.

13. É mais inseguro por ser open source (código aberto)

Já cai por terra ao afirmar que é mais inseguro. E não é só por ser mais seguro que é um mito, mas porque o simples fato de ser open source não torna um sistema ou software mais inseguro.

Qualquer programa open source tem seu código aberto, o que significa que qualquer pessoa tem acesso a ele e que assim, pode identificar possíveis falhas de programação.

A prática tem demonstrado que as falhas não são apenas identificáveis e exploráveis quando se tem acesso à programação associada e o Windows recorrentemente serve para embasar isso.

Inclusive o fato de ser open source da mesma forma que permite a descoberta de problemas, também das soluções. Não raramente sistemas do tipo têm atualizações e correções oriundas na comunidade de desenvolvedores, o que no caso de software baseado em código proprietário, fica exclusivamente dependente da empresa responsável.

14. Não dá para usar em empresas

Essa declaração, bem como uma similar que afirma que o “Linux não se destina a usos profissionais”, não encontram respaldo prático e, portanto, constituem mais um mito.

O nível de adoção do Linux em empresas vem crescendo de modo importante, justamente graças a conteúdos como esse e por conta de profissionais da área de TI que conhecem as vantagens da sua adoção.

Alguns cinéfilos sabem que clássicos e campeões de bilheteria, como Shrek e Avatar, foram produzidos usando pesada computação gráfica em máquinas baseadas no Linux, o que ajuda a derrubar a inverdade de que não serve para uso profissional.

A indústria de hosting (hospedagem) e que é a base sobre a qual se apoia a Internet, faz uso predominantemente de servidores Linux e até a própria Microsoft tem uma plataforma Azure com distros Linux.

15. Não tem tudo o que tem no Windows

É verdade, pelo menos em parte e sob determinadas óticas.

Se formos pensar em termos de alguns softwares para Windows, alguns não encontram versões para Linux.

Já em termos de recursos, certamente os nomes podem variar, mas há correspondentes apenas que sobre outros nomes.

Em outras palavras, os aplicativos nativos do sistema operacional, podem aparecer com nomes diferentes, mas desempenhando as mesmas funções. Assim, o recurso de fila de impressão, pode receber nomes que variam de acordo com a distro, mas todas têm um.

16. Não dá para usar o Linux e também o Windows

Para quem acha que não pode usar o Linux e continuar a usar o Windows, em situações como por exemplo, aquele programa que só tem versão para o segundo, saiba que há muito tempo esse é outro mito difundido, mas infundado.

Desde muito tempo e em distros como o saudoso Kurumim (distro brasileira), muitos oferecem a opção de dualboot e que nada mais é do que um recurso que permite instalar dois ou mais sistemas operacionais em uma mesma máquina e decidir qual sistema inicializar assim que o computador é ligado.

Além disso, o próprio Windows já oferece a opção de executar o Linux a partir do Windows em execução, o chamado WSL (Subsistema do Windows para Linux).

17. Não é possível ter uma rede com máquinas Windows e Linux

Uma rede de computadores não precisa ter computadores que rodem todos o mesmo sistema operacional, logo esse é outro mito.

Inclusive, mesmo em redes cujas máquinas dos usuários (clientes) sejam todas equipadas com Windows, há anos já é prática razoavelmente comum e difundida, que os servidores sejam Linux, o qual já comentamos é muito indicado para a tarefa.

Podem ser servidores para backup, impressão, proxy e outros fins.

Mas mesmo entre os usuários, é possível ter máquinas rodando os dois sistemas e trocando dados, desde que os sistemas envolvidos sejam capazes de atender ambos clientes.

Novamente recorremos ao exemplo mais comum e clássico, que é a Internet e que nada mais é do que uma conjunção de inúmeras redes, onde os diferentes sites que acessamos, não fazem diferenciação quanto ao sistema instalado no dispositivo do visitante.

18. Por causa de tantas distribuições, é difícil escolher uma

O número de distribuições e as diferentes características que oferecem, fazem com que seja uma verdade.

Se no caso do Windows pela quase ausência de alternativas não tenhamos muitas dúvidas, a coisa muda drasticamente no sistema do pinguim.

No entanto, existem blogs, canais no YouTube e sites especializados que têm se esforçado em avaliar e destacar o que cada uma das distros mais populares oferecem e para quais públicos são mais indicadas.

Canais como o Diolinux, são um ótimo exemplo, tanto porque contém um farto e diversificado material, como porque mostram em detalhes e de forma transparente, tanto os prós, como os contras de cada opção.

19. A estrutura de arquivos do Linux dá trabalho para encontrar meus arquivos

Eis um mito com uma base de verdade. É mito na medida em que as pastas com conteúdo dos usuários podem ser criadas de modo idêntico ao Windows, talvez com nomenclatura padrão diferentes, é verdade, mas nada que não possa ser contornado com renomeação.

A estrutura de arquivos do sistema operacional, realmente é diferente e por razões óbvias, você não encontrará a pasta Windows ou Arquivos de Programas. Mas quantos usuários precisam acessar essas ou outras pastas de sistema?

Se estamos falando de pastas e estrutura para armazenamento de conteúdo do usuário, ela pode ser idêntica a que você já tem e utiliza.

20. São complicadas as atualizações do sistema operacional

Como muitos dos que vimos até aqui, esse é outro mito com origem em um passado distante.

Houve sim uma época em que atualizações eram feitas via linha de comando.

Mas desde a ampliação do número de distribuições objetivando ser amigáveis ao usuário, atualizações do sistema operacional podem ocorrer de forma muito parecida ao que já estamos acostumados no sistema mais popular.

Na verdade, às vezes até mais fáceis, porque geralmente você não verá um alerta informando que é preciso reiniciar o sistema para concluir uma atualização. Muitas atualizações do Linux não requerem reinicialização para terem efeito.

Conclusão

Há muitos mitos – e algumas verdades – sobre o Linux, que acabam por produzir ideias equivocadas a seu respeito e até impedem que até seja experimentado.

 

 

 

 

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