O que é Linux?

Muita gente já ouviu falar no Linux, não é mesmo? Mas o que de fato você conhece a respeito?

Por exemplo, sabe dizer com segurança e rapidamente, o que é?

Responder de modo correto e preciso, a essa e outras perguntas relacionadas, pode ser uma tarefa difícil. A dificuldade fica por conta de dois fatores: a quantidade de informação que pode estar associada e identificar o quão técnico ou leigo é quem recebe a resposta.

Sendo assim, primeiramente devemos enfatizar que o presente post não tem a pretensão de esclarecer tudo sobre Linux, porque nem mesmo um pesado livro conseguiria fazê-lo.

Nosso intuito, é que ao fim você tenha uma ideia do que é Linux, bem como tenha desmistificado alguns mitos e confirmado algumas verdades. Em segundo, tentaremos fazer com que a compreensão seja simples até para os mais leigos.

Vamos lá?

A história do Linux

Não dá para trazer luz ao assunto, sem antes contarmos como tudo começou e, portanto, fazendo um breve relato do seu surgimento.

O início é bem antes do seu efetivo lançamento, sendo importante entender um pouco do que era o cenário de software alguns anos antes, pois o conceito na época, era substancialmente diferente do que vem sendo ao longo dos últimos anos.

Na década de 60 e 70, software não era um produto em si e tampouco, era comercializado a parte do hardware, como é hoje, mas sim como um complemento essencial.

As empresas focavam em hardware e o software era desenvolvido pelos fabricantes do hardware, para que ele fosse utilizável, afinal, sem o software, o hardware simplesmente tinha função nenhuma.

Logo, era uma época na qual o software além de gratuito, era parte integrante do hardware.

Apesar da designação ainda não existir, era como o software livre e o open source, e os usuários – desde que soubessem – poderiam alterá-lo de acordo com suas demandas, mesmo que não fosse uma prática comum. Era assunto de pouquíssimos e geralmente restrito às grandes corporações.

Na década de 1980, foi quando ocorreu a expansão das empresas de software, por conta da “popularização” do PC (Personal Computer ou Computadores Pessoais) e em paralelo, o conceito de software proprietário, visto que agora havia empresas que viviam exclusivamente de criar e comercializar programas para computadores.

Se até então apenas algumas grandes empresas contavam com enormes e caros sistemas, ainda baseados no modelo de mainframe e terminais, agora as médias e as pequenas empresas ou quem sabe até um usuário doméstico, podia ter um computador e com ele, uma série de programas para os mais diversos fins.

Ao mesmo tempo que um grande contingente de empresas surgia para suprir essas novas demandas, era importante que se criassem meios para que outras empresas não utilizassem o trabalho feito pelas primeiras, em um produto concorrente.

A Microsoft é o exemplo mais famoso de empresas que prosperou surfando essa onda, a do software proprietário e do código fechado.

Chegamos aos anos 90, em que quase tudo que se utilizava era baseado em software proprietário e o que ainda não era, caminhava nessa direção. Foi quando Linus Torvalds da Universidade de Helsinque, iniciou o trabalho de criar uma variação do Minix, um sistema operacional desenvolvido como uma ferramenta educacional para demonstrar conceitos de sistemas operacionais e baseado no Unix.

Em um ponto do trabalho, ele postou uma mensagem em uma BBS, comunicando o que estava fazendo: "Estou criando um sistema operacional (livre) (apenas hobby, não será grande e profissional)... ".

Em pouco tempo, milhares de outros programadores amadores passaram a colaborar com o desenvolvimento e assim surgiu o ambiente e as condições para que em breve, nascesse o Linux.

Na verdade a comunicação de Torvalds foi um pouco mais ampla que apenas esta curta transcrição, mas esse trecho ilustra quais eram suas pretensões iniciais e o espírito que envolvia o projeto.

No meio do caminho, veio a incorporação do Projeto GNU, fundado por Richard Stallman em 1983, com o objetivo de criar um sistema operacional totalmente livre e compatível com Unix.

GNU significa “GNU’s Not Unix”, um acrônimo recursivo que reforça que, embora inspirado no Unix, o GNU é livre e não proprietário e, sendo assim, o projeto é focado na liberdade do usuário em executar, estudar, modificar e compartilhar o software.

O Projeto GNU deu importantes contribuições, como:

  • Compiladores – como por exemplo, o GCC (GNU Compiler Collection), essencial para compilar o próprio kernel Linux e produzir o executável;

  • Shells – fornecer um shell, como o Bash, presente e usado na maioria das distribuições Linux;

  • Bibliotecas – uma série de bibliotecas do GNU, essenciais a muitos programas, como por exemplo, a libiconv usada em diferentes codificações de caracteres;

  • Utilitários de sistema – comandos / utilitários essenciais e usados via linha de comando, tais como o ls, cp, grep, tar, make, entre vários outros;

  • Editor de texto – o editor o Emacs, uma ferramenta essencial para desenvolvedores;

  • Licenciamento – a GPL (General Public License) criada pelo GNU protege o software livre e garante que o Linux permaneça aberto.

Com o tempo o Linux foi sendo aprimorado e se desenvolvendo, com cada nova versão ampliando suas funcionalidades, melhorando as existentes e corrigindo falhas e bugs, mas sempre tendo o conceito de desenvolvimento colaborativo, que possivelmente foi um componente fundamental para que ele se tornasse o que é hoje.

Como resultado, o Linux foi licenciado sob a GPL versão 2 em 1992, permitindo entre outras coisas, que ele incorporasse vários dos componentes do Projeto GNU, dando origem ao que muitos chamam de GNU/Linux.

O que é o Linux?

Você já sabe como ele surgiu, mas sabe responder o que é?

A resposta mais curta possível e provável, tanto pelo que acabamos de ver, como pelo que a maioria diz, é: um sistema operacional, certo?

No entanto, rigorosamente, é errôneo designar como muitos fazem, que o Linux seja um sistema operacional.

O correto é dizer, que o Linux faz referência ao kernel ou núcleo central usado no desenvolvimento de uma série de sistemas operacionais, conhecidos como distribuições Linux, ou apenas distros Linux, como muitos as chamam.

Em outras palavras, podemos dizer que o Linux é a parte central e mais fundamental, responsável pelo funcionamento do computador ou de quaisquer outros dispositivos que o utilizem, como por exemplo, um smartphone.

Ele é o que faz a intermediação entre o hardware e o usuário, além de permitir que uma série de programas sejam executados e também se utilizem do hardware, gerenciando os recursos do sistema como as diferentes memórias (memória RAM, HD ou SSD, cache, MicroSD, etc), os serviços e seus processos, os dispositivos (tela, teclado, web cam, mouse, etc).

Ou seja, é responsabilidade do kernel acessar suas unidades de disco, enviar imagens para a tela, guardar informações na memória ou recuperá-las do SSD, identificar os movimentos do mouse, quais teclas são pressionadas, etc.

Mais que isso, todo programa que você instala no seu computador, também usa o sistema operacional, seja o Linux, seja o Windows, seja o MacOS, seja um quarto.

Portanto, ao criar uma planilha, um arquivo de texto ou imagem e salvá-los em disco, esta operação é executada pelo sistema operacional. Logo, se não fosse o SO (Sistema Operacional), os inúmeros programas não poderiam utilizar adequadamente o hardware.

Mas não para por aí. Para produzir as várias distros Linux, mais coisas são adicionadas ao kernel GNU/Linux:

  • Desktop environment – há diferentes desktop environments e ambientes gráficos, os quais são responsáveis, pela organização das principais ferramentas / recursos da área de trabalho e da aparência que isso tudo tem, respectivamente. É um conjunto de softwares que responde pela interface gráfica de cada distro;

  • Drivers – são os drivers os responsáveis pelo reconhecimento, pela comunicação e pelo uso dos mais diferentes dispositivos de hardware (teclado, monitor, mouse, impressora, etc) pelo usuário e outros softwares. Isso que garante que cada programa instalado, possa enviar saídas visíveis para a tela ou impressora, por exemplo;

  • Pacotes – os pacotes consistem de arquivos que contém tudo o que é necessário para instalar um software, como por exemplo, os arquivos executáveis, as bibliotecas, os arquivos de documentação, os scripts de instalação e de configuração, os metadados (versões, dependências, etc). Todo SO tem ao menos um sistema de gerenciamento de pacotes;

  • Bibliotecas – as bibliotecas são coleções de funções reutilizáveis, que os programas e serviços (e-mail, banco de dados, servidor web, etc) usam para realizar tarefas comuns, como manipular arquivos, realizar codificação de caracteres, realizar cálculos matemáticos, estabelecer troca de dados criptografados (ex: HTTPS), entre outras inúmeras possibilidades.

Enfim, cada “sabor” de Linux disponível, é constituído em cima de um kernel monolítico, o qual contém a maior parte das funcionalidades do sistema operacional e quando combinado com ferramentas e bibliotecas do Projeto GNU, além de outras, forma o sistema conhecido como GNU/Linux ou apenas Linux, como alguns gostam de chamar.

A confusão se faz, porque para efeitos de simplificação, todo sistema operacional que faz uso do Kernel Linux, costuma ser chamado apenas por Linux. Mas agora você já sabe o que é, não é?

O que são as distribuições Linux?

Já antecipamos resumidamente, o que é uma distribuição Linux, certo?

Mas quer entender melhor por que existem tantas?

O fato do Linux utilizar licença GPL, implica entre outras coisas, que o softwares derivado do código fonte original deve ter a mesma licença e, portanto, há liberdade para executar o programa, de estudar como o programa funciona e adaptá-lo às suas necessidades, de redistribuir cópias e há ainda a possibilidade de efetuar melhorias no programa e distribui-lo com tais aprimoramentos, de modo que os usuários finais que o utilizarão, beneficiem-se dele.

Mas estas propriedades, somadas ao caráter colaborativo, acarretaram também que grupos de programadores independentes e até mesmo empresas, criem suas versões personalizadas do kernel originalmente lançado por Torvalds.

Cada uma dessas versões é distribuída à comunidade sob a mesma licença original e por isso, cada uma é chamada de uma distribuição ou popularmente conhecidas no meio, como “distros”.

Cada distribuição tem objetivos específicos, como por exemplo, as distros destinadas aos desktops, que geralmente são mais fáceis de usar para usuários domésticos e amadores. Há distribuições destinadas ao ambiente corporativo, educacional, para rodar em servidores e até para uso científico.

A “disputa” entre Linux e Windows

Desde os anos 90, quando nasceu o Linux, o Windows ganhou um destaque sem precedentes em termos comerciais e de maneira quase hegemônica, esteve presente em praticamente todo computador pessoal. Mas as diferentes distribuições e o caráter democrático inerente ao fato de ser open source (código aberto), fez o Linux avançar e conquistar uma parcela importante de usuários que antes praticamente não tinha alternativas.

Um dos principais fatores que contrapuseram os dois sistemas operacionais, foi a postura da Microsoft em relação ao crescimento do Linux como um sistema operacional de código aberto, mais do que o fato de ser um concorrente.

Atualmente a Microsoft realiza um movimento em direção ao software de código aberto e até mesmo tem uma distribuição Linux, o Azure. Mas nem sempre foi assim e já até mesmo questionou com veemência, iniciativas semelhantes.

Conforme o Linux começou a ganhar terreno, começamos a ver grupos defendendo um e o outro sistema operacionais, em embates diversos, como por exemplo, qual o melhor, ou qual o mais seguro, ou qual o menos exigente em termos de hardware, como é o caso do Ubuntu como alternativa aos usuários do Windows 10, para aqueles que não podem atualizar para o Windows 11, por conta do TPM 2.0.

O lado bom disso tudo, é que o consumidor ganha ao dispor de variadas opções para algo tão importante e presente no nosso quotidiano.

Exemplos de uso do Linux

Pouca gente sabe, mas o Linux está mais presente do que se imagina no nosso quotidiano e muitos sistemas operacionais são baseados no kernel Linux, para além das muitas distribuições existentes:

  • Android – o popular SO móvel Android, presente em inúmeros smartphones, é baseado no kernel Linux;

  • Smart TVs – muitos sistemas presentes em smarTVs, como o webOS (LG) e o Tizen (Samsung), foram desenvolvidos a partir do Linux;

  • Roteadores / modems – a maioria dos equipamentos de rede doméstica e empresarial (roteadores Wi-Fi e modens), roda Linux para gerenciar a conectividade e os protocolos Web;

  • Centrais multimídia – sistemas como Android Auto e Infotainment, de marcas como Tesla, GM e Volkswagen são desenvolvidos a partir do Linux;

  • Supercomputadores – todos os 500 supercomputadores mais poderosos do mundo. rodam alguma distro Linux;

  • Internet – grande parte dos serviços e da infraestrutura da Internet, roda sobre distribuições Linux diversas (Ubuntu Server, CentOS, Debian, CloudLinux, etc), estando presente em mais de 90% dos servidores web, em serviços de cloud computing, servidores de DNS, etc. Ou seja, a estabilidade, a segurança, a flexibilidade e a performance do Linux, tudo isso sobre Licença livre, constitui um cenário ótimo para a infraestrutura da Internet;

  • Dispositivos IoT – uma infinidade de dispositivos de IoT (Internet of Things ou Internet das Coisas), como eletrodomésticos inteligentes, câmeras de segurança, wearables, além de assistentes virtuais inteligentes, aos quais muitos estão conectados, usam Linux embarcado;

  • Videogames e consoles – o Steam Deck roda SteamOS, uma versão do Arch Linux, sendo que outros consoles também usam Linux para emulação e desempenho.

Ou seja, ao longo do seu tempo de vida, o kernel Linux se mostrou bastante versátil e competente para uma série de usos.

Muito se diz sobre o Linux, sendo que algumas afirmações são infundadas e outras têm sentido, mas muito do que se diz é resultado de não se conhecer profundamente o Linux, afinal temos vivido em um mundo que até pouco tempo, era dominado por pouquíssimas empresas.

Entre tudo que se comenta, possivelmente o mais comum é ouvir dizer que o Linux é um sistema para usuários avançados e que até mesmo a sua instalação, exige que o usuário seja um expert em informática. Não é verdade!

Há muitos anos atrás, isso era quase uma verdade, porém já temos uma quantidade grande de versões bastante amigáveis e muito semelhantes ao próprio Windows, em termos de usabilidade.

Quer descobrir o que procede e o que não, em relação a tudo o que se fala sobre o sistema do pinguim? Então recomendamos a leitura do post “Mitos e verdades sobre o Linux”.

Conclusão

O Linux é um sistema operacional, desenvolvido de forma colaborativa por pessoas ao redor do mundo, mantido sob o conceito de software livre e que atende aos mais diversos propósitos e necessidades, através de diversas distribuições. Já não é mais apenas uma promessa, mas sobretudo, uma realidade presente no nosso dia a dia, figurando como uma alternativa em um mundo competitivo e globalizado.

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