Preço e valor, qual a diferença? Por que isso importa?
Não é raro ouvir da equipe de Vendas que uma das principais razões para que as vendas não aconteçam, é a constante reclamação dos clientes de que os produtos estão caros, não é mesmo?
Outras vezes, se a reclamação não é explicitamente feita, pode aparecer mascarada sob sucessivos pedidos de descontos ou ainda justificando a não compra, dizendo que o concorrente X tem um preço menor.
O que de fato acontece, é que a relação de valor e preço não estão equilibradas ou proporcionais.
Por isso, no bate-papo de hoje, vamos mais a fundo nos conceitos, procurando encontrar a saída para esse dilema tão comum.
Preço e valor são a mesma coisa?
Intuitivamente, a maioria deve imaginar que preço e valor não são a mesma coisa.
Apesar disso, muitas vezes as palavras preço e valor, são usadas como sinônimo, inclusive nas explicações dadas algumas vezes quando perguntamos, “o que é preço?”: O valor pago por algo; Ou o quanto vale um produto / serviço, por exemplo.
Até mesmo ao consultarmos alguns dicionários, encontramos um termo contido na explicação do outro. Assim, em uma busca pela palavra "valor", a qual pode assumir diferentes definições dependendo do contexto, uma em particular reforça essa confusão:
- Preço ou quantia monetária: O valor de um objeto, serviço ou propriedade, ou seja, o quanto algo custa.
De fato, em termos linguísticos e no uso quotidiano, é comum o uso de ambas as palavras de modo intercambiável e em uma conversa entre amigos, não há problema algum qual escolha das palavras, é .
Porém, nossa discussão ocorre no contexto da comercialização de bens e serviços, seja no trabalho do Departamento de Vendas, seja no Departamento de Marketing (tradicional ou Digital), situações nas quais preço e valor, não são a mesma coisa!
Qual a diferença entre preço e valor?
O primeiro passo para conseguirmos eficácia nas ações comerciais e de Marketing, é nunca usar como se fossem sinônimos.
O segundo, é ter em mente o significado restrito de preço e valor:
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Preço – é a quantia monetária paga por um produto e/ou serviço;
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Valor – é o conjunto das vantagens ou dos benefícios associados ao produto e/ou serviço entregue.
Visto assim, parece simples, não é?
Entretanto, ainda que o preço seja um número que representa a quantia de dinheiro dada em troca de algo, o conceito de valor é um tanto mais complexo e pode envolver uma variedade de fatores.
Valor é um conceito extremamente dinâmico e geralmente varia em função de alguns dos seguintes aspectos:
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Subjetividade – o valor de um produto e/ou serviço, é diferente para cada pessoa;
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Quantificável – não há como quantificar, pois frequentemente envolve aspectos emocionais. Aliás, é comum o uso de expressões como: “isso tem valor sentimental para mim”, ou ainda, “isso é de valor inestimável”, quando alguma coisa tem uma importância extrema para alguém, a ponto de não ser possível quantificar ou usar um parâmetro de mensuração;
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Tempo – o valor muda com o passar do tempo e assim, o grau de importância e a percepção que se tem de algo, pode variar indefinidamente;
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Escassez e abundância – a escassez e a abundância, são condições que frequentemente afetam o valor – e também o preço – que as pessoas dão a algo. O que é raro, costuma ser mais valorizado do que o que tem muita disponibilidade;
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Emoções – os fatores psicológicos e ligados às emoções (ex: ansiedade, frustração, etc), também afetam o como o cliente enxerga valor no produto / serviço;
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Situacional – momentos únicos e especiais, como um nascimento, um casamento, ou uma formatura, são exemplos da influência que as situações podem exercer na percepção de valor;
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Confiança – a confiança do cliente é outro fator crucial, pois está associada a outra necessidade básica do ser humano, que é a segurança. Quanto maiores forem a confiança e a segurança, maior também será o valor percebido.
Há ainda outros aspectos que exercem influência no valor de algo. Por exemplo, é muito mais importante ouvir do seu gestor imediato, que você é um excelente profissional, do que da sua mãe.
Ok, ok, para muitos filhos, ouvir algo do tipo, também é especial, mas em termos práticos, quando a declaração vem de quem é responsável pelo seu emprego, pode significar um aumento, uma promoção ou até a sua estabilidade no trabalho, em um momento que a empresa está reduzindo custos.
Ou seja, valor também é contextual.
E não para por aí.
Para os fãs de uma marca, como é o caso da Ferrari, quanto vale ter um bólido de Maranello estacionado em sua garagem? Ou para uma mãe, uma foto da primeira vez que segurou nos seus braços, o seu primogênito?
O status, os sonhos e os desejos, a sensação de exclusividade, a realização pessoal, as memórias, são outros exemplos de como o valor pode variar.
A importância do Preço
Na hora de precificar os produtos / serviços, é crucial entender todos os aspectos relacionados à marca – e suas respectivas importâncias – e ao que está sendo comercializado, sem o quê, o preço associado não será pago.
Mais que isso, ao estipular um preço, é preciso ter em mente outras questões:
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Política comercial – precificação adequada é parte da política comercial da empresa, tendo estreita relação e influência nas estratégias comerciais da empresa;
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Concorrência – o preço pode ter peso na decisão de compra dos consumidores, especialmente em determinadas classes sociais, fazendo-os optar por uma marca ou outra;
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Imagem – deve ser condizente com a imagem da marca associada. Preços muito baixos podem sugerir qualidade inferior. Já os mais elevados, podem – não necessariamente – dar a ideia de maior qualidade, mais tecnologia embarcada ou outras características;
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Sustentabilidade – estipular preços inadequados e incompatíveis, pode levar à perda de clientes, margens baixas e até inviabilidade do negócio a longo prazo;
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Lucratividade – deve assegurar que os custos de produção, operação e distribuição sejam pagos, ao mesmo tempo que garante a margem de lucro desejada.
A importância do Valor
Tão importante quanto uma precificação precisa, é saber trabalhar o valor associado.
A dificuldade, como seria de se imaginar pelo que já comentamos, deve-se ao seu caráter extremamente dinâmico e aos vários aspectos que afetam a sua percepção nas mais diferentes pessoas.
O primeiro ponto vital em nosso trabalho, é ter muito claramente quem é o cliente e conhecê-lo, tão bem quanto possível, afinal conforme já vimos, o valor é diretamente dependente das diferenças individuais ou subjetivas desses clientes.
Dito de outra forma, é o quão bem um produto consegue suprir as necessidades, desejos e expectativas dos consumidores. Quanto maior for a lista atendida, maior valor intrínseco aquele produto tem para o cliente em potencial e consequentemente maior valor monetário ele se dispõe a pagar.
Sendo assim, há de um lado o que os consumidores precisam, desejam e esperam de cada produto / serviço e do outro, o conjunto de características e respectivos benefícios que cada produto contém.
E aqui a palavra-chave, é benefício!
Características não vendem! O que vende é o benefício que cada uma delas ela proporciona.
Ao trabalhar corretamente o valor, consegue-se:
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Preços – quanto maior for o valor percebido, maior disposição em pagar a quantia monetária (preço) pedida. Também menos concessões de descontos, menor necessidade de promoções, prazos de pagamento também menores, o que no final também afeta o preço e aumenta a lucratividade;
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Diferenciação – produtos / serviços de maior valor agregado, costumam se diferenciar em relação aos seus concorrentes, geralmente por entregar benefícios diversos, como melhor qualidade, mais tecnologia, inovação, etc;
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Imagem da marca – outra consequência de alguns dos benefícios acima (ex: qualidade e inovação), é a construção de imagem positiva da marca e, portanto, contribui para o trabalho branding;
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Fãs e fidelização – marcas que conseguem associar seus produtos / serviços aos benefícios mais importantes (ex: durabilidade, segurança, etc), têm mais chances de conquistar fãs e fidelizar seus clientes;
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Solidez – produtos / serviços que entregam um conjunto amplo e consistente de benefícios, tornam a empresa menos suscetível às oscilações econômicas e à concorrência;
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Vendas – as objeções tendem a diminuir, a resistência à marca também, além das indicações (Referral Marketing) aumentarem, especialmente por parte dos clientes fiéis, o que resulta em aumento das vendas.
Como trabalhar o binômio preço / valor?
De forma indireta, parte da resposta à pergunta acima, já foi dada. Mas em termos práticos, especialmente aqueles que não têm a experiência necessária, é preciso ir além.
O primeiro ponto que deve ficar claro, é que nem sempre será possível adequar características a benefícios que atendam a todos, tanto porque o que pode valer muito para uns, pode não valer tanto para outros e porque as necessidades, desejos e expectativas variam com o tempo e/ou com a situação, como já vimos.
Outro fator que muitas vezes não é considerado pelas empresas, nem pelo pessoal do Marketing, nem pelo de Vendas, é que essa tríade formada por necessidades, desejos e expectativas, além de variar de uma pessoa para outra, dentro de um mesmo grupo, não é tudo:
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A própria diversidade existente de marcas e de produtos concorrentes, faz-nos constatar que diferentes pessoas têm diferentes percepções acerca de um mesmo produto. Se não fosse assim, haveria um único representante de cada classe de produtos. Todos comprariam a mesma marca de biscoitos, de celulares, de roupas, de shampoo, de carros ou de qualquer coisa que você consiga imaginar;
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O simples fato de haver uma diferenciação de gênero no seu público consumidor, implica diferenças decisivas quanto à compra. Mulheres em geral tendem a considerar o fator moda como necessidade, enquanto homens tendem a enquadrar esse aspecto no grupo dos desejos ou expectativas e alguns nem mesmo atentam para isso como relevante no processo de compra.
Com todas essas ressalvas em mente, o roteiro que apresentaremos a seguir é destinado a uma abordagem comercial baseada na ótica, no ponto de vista do cliente e, portanto, resultante da interação e dos feedbacks obtidos.
Mas antes de mais nada, responda às seguintes perguntas e faça uma reflexão:
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Os compradores de um produto absolutamente idêntico, compram pelas mesmas razões?
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Você acertou em todas as compras que fez em sua vida? Elas satisfizeram todas as necessidades e expectativas que você tinha antes da compra?
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As compras feitas não poderiam ter sido melhores? Se sim, por que não foram?
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Você já pensou porquê fez compras erradas ou porquê não tomou melhores decisões?
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Como os vendedores poderiam tê-lo ajudado nessas ocasiões? E, por que não o fizeram?
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Pense em alguma coisa que você comprou e que valeu a pena ter comprado.
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Pense em algo que você pagou barato, mas que não valeu a pena.
Então, quais foram suas reflexões?
Possivelmente, você concluiu que pessoas compram aquilo que vale a pena, que entrega benefícios, que é vantajoso. Portanto, pessoas compram valor.
Felizmente, valor é algo que pode ser expresso matematicamente, por meio de uma fórmula – a “Fórmula Matemática do Valor”:
A conclusão lógica e imediata dessa abordagem, é que para vender valor, é preciso aumentar o numerador, de tal forma que você não precisará diminuir o denominador. Em outras palavras, não tem que diminuir o preço.
Como aumentar o numerador / aumentar o valor?
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Qualidade – não se trata apenas de qualidade do produto e/ou serviço ou do pós-venda, mas durante a venda. Porque uma venda pode ser realizada, bem realizada ou muito bem realizada. Portanto, procure prestar um atendimento personalizado e de qualidade;
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Resultado – o cliente quer o resultado daquilo que compra. Para tanto, o vendedor precisa vender todas as aplicações do produto e/ou serviço que são resultados, e não meios. Segundo definição, estas aplicações são “propriedade dos objetos que satisfazem as necessidades econômicas do homem”;
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Confiança – você compraria de alguém em quem não pudesse confiar? Opostamente, o que aconteceria se sua confiança nela fosse plena? Por isso, procure conquistar a confiança de seus prospects desde o primeiro contato;
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Diferenciação – a diferenciação exerce enorme fascínio porque pessoas gostam de exclusividade. Se o vendedor for diferenciado, se sua abordagem for diferenciada, se seu comportamento for diferenciado, se suas soluções forem diferenciadas e – de quebra – se o posicionamento de seu produto e/ou serviço for diferenciado, o que você acha que acontecerá?;
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Expectativas – a habilidade do vendedor de fazer perguntas e comentários que estimulem o prospect a pensar, raciocinar, refletir e concluir por si mesmo – e não pela argumentação do vendedor – pode produzir ótimas expectativas pela solução apresentada;
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Relacionamento – todo ser humano é sensível a qualquer relacionamento, por isso quanto maior e melhor for o relacionamento, melhor o ambiente de compra. Primeiro, comece criando empatia com seu cliente e gradativamente, vá construindo o relacionamento. Quando falamos da confiança que você precisa conquistar, ela deve começar com o relacionamento.
Naturalmente, que a depender do que se está vendendo ou comprando, o numerador pode ganhar outros componentes, como a experiência de consumo, que envolve tudo aquilo que o cliente vivencia em um restaurante ou em uma viagem de férias, por exemplo.
Como focar no valor do cliente?
Conforme mencionamos, todo o trabalho anterior, precisa ser feito sob o enfoque do cliente e, portanto, é preciso saber o que tem valor para ele.
Sendo assim, é essencial sempre adotar uma postura baseada nas respostas refletidas às seguintes questões:
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Você conhece suficientemente bem as necessidades, desejos e expectativas do seu público-alvo e trabalha os benefícios de modo que seja fácil e claro para o cliente identificá-los?
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O seu conhecimento sobre o que os consumidores precisam, desejam e esperam, é a sua percepção, o que você acha, ou é resultado de pesquisas, do que eles dizem e dos contatos feitos nos canais de atendimento e suporte e que você viu explicitamente manifestados pelos consumidores?
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Aspectos como segurança, qualidade, confiabilidade, durabilidade, flexibilidade, entre outros benefícios, estão evidentes na abordagem que é feita dos produtos / serviços fornecidos, ou é subjetiva e interpretativa?
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Há garantias, seja por meio de termos e compromissos, seja por depoimentos e avaliações de clientes ativos, quanto ao cumprimento de tudo o que os seus produtos / produtos se propõem entregar?
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Questões relevantes associadas ao que a maioria dos clientes costuma indagar e que podem fazer a diferença entre comprar e buscar a concorrência, são tratadas abertamente ou são evitadas?
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Como a empresa trata as reclamações dos clientes? Ela as evita, contesta ou apresenta soluções e alternativas?
Conclusão
Uma real proposta de valor aos clientes, evita que as empresas tenham que dar cada vez mais descontos e sacrificar suas margens e sua saúde financeira.