O que é pauta ESG e por que é tão importante?
Em meio às muitas siglas, a “sopa de letrinhas”, a terminologia e o jargão técnico que estão inundando todo texto até das mais simples notícias do nosso quotidiano, uma vem ganhando cada vez mais espaço no noticiário, especialmente aquele relacionado com o mundo corporativo – a pauta ou agenda ESG.
Se no Brasil ainda parece ser apenas uma tendência, em muitos lugares do mundo já é uma realidade, uma necessidade para qualquer empresa que se preocupe com seu futuro, com sua perpetuação no mercado.
É provável que se você está aqui, é porque quer entender o que é ESG, seus conceitos e sua importância. Então vamos a isso…
O que é pauta ou agenda ESG?
ESG é o acrônimo para Environmental, Social and corporate Governance, que traduzida para o português, significa ambiental, social e governança corporativa.
De forma resumida, é pautar a condução de uma organização concretamente fundamentada em aspectos ambientais, sociais e administração da empresa.
Compreender adequadamente a pauta ESG e sua influência no cenário corporativo, requer compreender melhor cada uma das três partes.
Pauta ou agenda ambiental
A pauta ambiental refere-se ao conjunto de diretrizes e informações relacionadas ao meio ambiente, a sua preservação, o emprego de métodos produtivos sustentáveis e que não o agridam ou o façam minimamente, produção e descarte de lixo eletrônico, extrativismo mineral e vegetal, as consequências climáticas que todas essas ações produzem e ainda uma longa lista de questões que afetam em diferentes graus o meio ambiente.
Esse não é um tema novo. Em 1972, a ONU criou o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, cuja sigla é UNEP (United Nations Environment Programme), órgão que atua como um defensor autorizado do meio ambiente global, por meio da definição de uma agenda ambiental global e do desenvolvimento sustentável, dentro do sistema da Organização das Nações Unidas.
Mas só ao longo das últimas duas décadas, o assunto tem sido enxergado com a importância que merece.
Exemplos reais não faltam. A União Europeia tem exigido que o Brasil se comprometa com metas de sustentabilidade, entre elas a redução de desmatamento na Amazônia, como uma condição básica para firmar um acordo de livre-comércio com o Mercosul.
Até mesmo o investimento estrangeiro ameaça não vir ao país, se não houver um comprometimento visível, claro e objetivo em termos de redução do desmatamento da Amazônia.
A Amazônia é o lado mais aparente da questão, dada a sua importância não só nacional, mas global.
Mas o Brasil não é o único vilão quando se fala em agenda ambiental e o desmatamento das florestas tropicais, não é a única ou a maior preocupação ecológica.
Elon Musk, o famoso CEO da Tesla e de outras empresas, tem se visto diante de vários problemas e questionamentos relativos ao meio ambiente.
Se por um lado os carros elétricos que a Tesla e outras empresas estão produzindo, prometem acabar com emissões de poluentes decorrentes da queima de combustível, há uma lista grande de desafios cujas soluções ainda não estão muito claras a todos que têm alguma preocupação com o futuro do nosso planeta:
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Extrativismo e uso de recursos do meio ambiente – a produção das baterias que equipam os veículos elétricos, faz uso de recursos minerais diversos e sua extração e processamento para uso por parte da indústria, tem consequências ao meio ambiente e até mesmo sociais, como no caso do uso de mão de obra infantil e/ou de condições análogas à escrava em países como o Congo;
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Descarte e reciclagem – ao fim da vida útil das baterias e demais componentes, é gerado grande volume de lixo, que contém uma série de subprodutos de elevado potencial poluente. Como será feito o descarte e quais as possibilidades de reciclagem desse material, são algumas das perguntas ainda sem respostas;
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Manutenção / funcionamento – a partir de qual fonte vem a energia elétrica que alimenta esses veículos? Ou seja, nos casos em que a produção de energia elétrica necessária para recarregar tais veículos, vier de usinas termoelétricas que fazem uso da queima de combustíveis, a fonte produtora de poluição ainda existirá;
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Nova infraestrutura – uma nova infraestrutura de fornecimento de matéria-prima, componentes e mesmo de produção desses novos produtos, precisa ser criada e/ou expandida para atender o crescimento de consumo. Uma nova fábrica da Tesla na Alemanha, foi responsável pela derrubada de uma área de 92 hectares de mata para ser construída, entre outros impactos para o meio ambiente. Parte do impasse nesse caso específico, foi resolvido com o compromisso da Tesla em reflorestar outra área com o plantio de três árvores para cada árvore derrubada.
Esses são apenas alguns dos aspectos que a nova tecnologia que um primeiro momento mostra-se ecologicamente melhor, mas que traz outros tipos de impacto ambientais e até mesmo em outras esferas, como econômica, social e até mesmo política.
Pauta ou agenda social
O segundo pilar do ESG, é a agenda social.
A pauta social refere-se ao conjunto de políticas que objetivam prover condições dignas e humanas, igualitárias e de bem-estar geral, internamente aos colaboradores da corporação e externamente, na sociedade da qual ela faz parte.
Se no passado o bem-estar social era visto apenas como papel do Estado, nas esferas federal, estadual e municipal, já há algum tempo as organizações privadas – especialmente as mais poderosas – precisam fazer parte desse compromisso, aos olhos da mesma sociedade em que elas estão inseridas.
Mais do que deter o poder de transformar, desenvolveu-se a compreensão de que uma empresa é capaz de melhores índices de produtividade, maiores margens de lucros e menores custos, se ela é capaz de atender as necessidades fundamentais dos seus colaboradores, tais como saúde, educação e alimentação, resultando no que se chamou de responsabilidade social corporativa (RSC).
Aos poucos também se enxergou que esse tipo de ação produzia frutos, quando políticas com os mesmos objetivos eram aplicadas na sociedade como um todo e não apenas internamente, fazendo nascer responsabilidade social empresarial (RSE).
A responsabilidade social caracteriza-se por alguns princípios, tais como:
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Permanente – políticas de responsabilidade social são permanentes e não ações isoladas e ocasionais;
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Inclusão Social – as ações visam incluir as camadas da população que não têm atendidos direitos fundamentais;
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Meio ambiente – leva em consideração que não é possível dissociar o bem-estar da sociedade e o meio ambiente. Ou seja, uma empresa não pode ao mesmo tempo investir em políticas público-privadas de saneamento básico e poluir os rios.
É preciso haver coerência entre discurso e prática, especialmente porque o que a empresa “fala” para a sociedade deve ser percebido por seus clientes internos e seus parceiros de negócios.
Assim, de nada adianta uma empresa que alegadamente mantém um programa de responsabilidade social e compra insumos produzidos a partir de mão de obra infantil ou que a matéria-prima desses insumos, seja obtida por seu uso, ou faz a distribuição dos seus produtos por uma terceira, que não adota políticas de inclusão social em seu quadro de funcionários.
A responsabilidade social deve se estender por toda a cadeia produtiva, do início ao fim.
Governança Corporativa
O terceiro componente do tripé do ESG, é a governança corporativa.
Governança corporativa, é dotar a corporação de mecanismos diversos de administração baseada em transparência, monitoramento e controle, relacionamento entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e demais interessados, bem como instituir boas práticas, visando seu desenvolvimento ao longo do tempo.
Resumidamente, é pensar na administração da empresa de forma ética, clara aos olhos de todos interessados (investidores, gestores, sócios, colaboradores, clientes, parceiros, etc), eficaz, longeva, sem esquecer dos resultados.
É garantir também que entre outras coisas, as parcerias que a empresa estabelece, são com empresas com os princípios e valores similares.
Empresas que empregam governança corporativa, vão na contramão de grandes escândalos do setor, como a corrupção na Siemens, a fraude fiscal na Nissan – Renault, ou mesmo o conhecido caso da JBS em terras brasileiras.
Isso porque uma vez instituídos os princípios da governança corporativa, os processos de administração da empresa são aprimorados de tal maneira, que se não chegam a inviabilizar ações como as observadas nos casos acima, tornam muito difícil que aconteçam.
E se eventualmente acontecem desvios do tipo, sua identificação e os mecanismos para correção dos rumos, são mais factíveis.
Aplica-se governança corporativa desde a tomada de decisões estratégicas, até a prestação de contas referentes a tais decisões.
Assim, iniciar um novo projeto novo, requer aprovação de um conselho de administração composto por sete ou mais membros (sempre em número ímpar para evitar empates nas decisões), exercendo o papel de mantenedores dos princípios, valores, do objeto social e do próprio sistema de governança da organização, mas podendo também ir além, como o monitoramento da diretoria e atuando como elo entre esta e o quadro societário, por exemplo.
A governança fundamenta-se em prestação de contas e transparência das ações, por meio de relatórios e informações relativas ao desempenho da organização como um todo, isonomia ou igualdade entre as partes (sócios e demais interessados, como os investidores) e a responsabilidade corporativa, a qual refere-se a viabilidade financeira e comercial da instituição no curto, médio e longo prazos, bem como o zelo pelos seus diferentes capitais (financeiro, intelectual, humano, social, ambiental, etc).
Por que a pauta ESG é importante?
Deve ter ficado claro que empresas que investem na agenda ESG, demonstram preocupação ambiental e ecológica, contribuem para uma sociedade mais justa, igualitária e em que o bem-estar é um bem comum, além de serem elas mesmas mais organizadas, éticas, corretas e com tendências de produzirem melhores resultados sob diferentes óticas.
Em termos de mercado, há o consenso de que o potencial de investimento de uma empresa que atua pautada no ESG, também é mais promissor, por razões óbvias.
Cada vez mais os consumidores fazem escolhas com base em aspectos que vão além de preço, qualidade do produto e do serviço associado, pós-vendas e outros aspectos mais imediatos.
Não basta mais ao Marketing das empresas mostrar o quão bom é o produto em atender as necessidades básicas do consumidor.
É preciso ir além e evidenciar que para isso, a empresa tem uma atuação sustentável no uso das suas matérias-primas, bem com igual postura na sua cadeia de fornecedores, que seus colaboradores e a comunidade beneficiam-se de ações de inclusão social e que ela não está envolvida em compras superfaturadas ou sonegação fiscal.
Mais ainda, para alguns desses consumidores, esses aspectos são tão importantes quanto a qualidade do produto ou serviço que consomem, ou o preço que pagam.
Há até aqueles que estão dispostos a pagar mais, só por saberem que a empresa é responsável por uma causa social com a qual simpatizam.
O bom, bonito e barato, já não basta. Cada vez há menos pessoas dispostas a colocar seu dinheiro – seja como consumidores ou como investidores – em uma empresa que não tenha uma visão e atuação holística, ou seja, em que tudo importa.
Conclusão
Pauta ou agenda ESG, é o conceito que institui nas empresas políticas que visam sua atuação com respeito às questões ambientais e ecológicas, torná-las responsáveis socialmente e sob uma administração ao mesmo tempo eficaz, transparente, rentável e ética.