Fim das redes sociais e o que será delas em 2023

Desde que o Facebook – ou Meta se preferir – anunciou a queda no número mensal de usuários ativos, acompanhada da queda de faturamento trimestral, notícias de cunho semelhante começaram a surgir em outras empresas do setor, bem como matérias e artigos cogitando o fim das redes sociais.

Quem é usuário seja de uma, seja de várias, tem acompanhado com algum interesse e/ou preocupação esse tipo de conteúdo, afinal, será mesmo que elas vão acabar?

Esse tipo de afirmação, que pode parecer exagerada para muitos, têm motivo de ser e é sobre isso que vamos tratar nesse artigo.

Por que se fala no fim das redes sociais?

O tão falado fim das redes sociais, seja em 2023 ou depois, não é apenas uma questão de atrair com títulos sensacionalistas (clickbait) alguns cliques e, portanto, leitores para os artigos que tratam da questão.

Sim, é certo dizer que parece exagero a depender do caso, mas o que está por trás de tudo, tem a ver com fatos recentes e pelos rumos tomados por alguns dos principais serviços do tipo.

No caso do Facebook, uma sucessão de acontecimentos de alguma maneira influenciou o que vem sendo observado, como o anúncio da mudança do nome para Meta e os investimentos e pesquisas no metaverso.

Não que basear a rede social no conceito de metaverso seja ruim, mas pareceu e especialmente para os menos afeitos a tecnologia e que talvez não tenha compreendido as possibilidades envolvidas, uma mudança drástica ou que pelo menos não ia ao encontro das suas expectativas.

É preciso ter em mente que o ser humano é em parte levado pelo que lhe é confortável e conhecido, e assim, mudanças severas tiram-no da zona de conforto e podem assustar alguns, ainda que até então nada de especial tenha mudado.

Do lado da empresa, investidores têm olhado com ceticismo e desconfiança os movimentos comandados por Zuckerberg, o que vem gradativamente ganhando contornos ainda mais negativos com a diminuição dos lucros, com a perda sucessiva de usuários, a fuga de anunciantes e que culminou com milhares de demissões.

Aliás, quando o assunto é corte de pessoal, cenário parecido tem se visto em outras empresas de tecnologia, como no Twitter, que logo após a efetivação da sua compra por Elon Musk, anunciou mais de 11 mil demissões.

Várias outras gigantes de tecnologia estão seguindo os mesmos passos e enxugando seus quadros, o que parece desvinculado das redes sociais, como é o caso da Amazon, mas que por sua vez é um grande anunciante e como sabemos, a receita publicitária é que move a Internet e seus rumos futuros.

Há ainda a questão das discussões e as legislações – como a GDPR e LGPD – que visam tratar da privacidade na Internet, que estão endurecendo e diminuindo os imensos lucros que antes vinham da verdadeira farra em relação ao uso dos dados pessoais dos usuários para movimentar a publicidade online.

Na prática, a Apple vem puxando a fila das empresas alinhadas com esses novos tempos, ao anunciar por meio de suas políticas, que barrará o rastreamento da atividade online das pessoas e a comercialização desses dados para anunciantes. Ela tem inclusive angariando antipatia generalizada com isso.

Soma-se a esses fatos, outros de conhecimento do mercado, como o fim de redes consagradas, como foi o caso do Orkut e do Myspace e outras, como o Google+, que apesar do respaldo tecnológico e de investimentos, nunca alcançou o patamar das principais.

Ou seja, o histórico das redes sociais mostra um comportamento padrão e que até o momento, tem se confirmado. Nascem, evoluem e crescem com razoável rapidez, atingem um ápice ao qual se sucede o seu declínio.

Qual o tamanho desse ciclo e quando ele se encerra, pode variar bastante a depender de cada caso e não se tem uma resposta precisa, exceto que parece inevitável acontecer.

O grande problema tem sido manter a fase do apogeu tão longeva quanto possível, pois quando o declínio começa, tem se mostrado irreversível, ou no máximo, conter seu ímpeto pelo menos parcialmente, pelas seguintes razões:

  • Perda de anunciantes – a perda de anunciantes resulta em imediata redução de receita, a qual alimenta atualizações, novidades e novas tecnologias, manutenção e melhoria da infraestrutura e investimentos diversos. Por exemplo, no caso do Twitter, empresas como Apple, Volkswagen, General Motors e Allianz, entre outras, suspenderam o investimento em publicidade na mais nova empresa de Elon Musk;

  • Usuários – a perda de usuários ativos, especialmente aqueles que abandonam para passar a usar um concorrente direto, acabam por fortalecer o concorrente e reforçam os motivos para os anunciantes diminuírem ou mesmo interromperem a publicidade na rede em declínio, o que acaba por constituir um ciclo vicioso, difícil de reverter ou mesmo conter;

  • Outras redes – o crescimento acelerado de outras redes representa duplo impacto, quando ocorre da migração de usuários da antiga e não porque agora participam de mais um novo serviço, além do antigo. Quem troca uma pela outra, não volta;

  • Mudanças nos algoritmos – as mudanças nos algoritmos e que são responsáveis por como os conteúdos são apresentados, tem sido feitas para tentar copiar recursos de serviços que têm se destacado, como é o caso do TikTok. Dessa forma uma rede pode descaracterizar-se e perder assim o atrativo que motivou a adesão dos usuários mais fiéis. Na prática, quem o faz, em vez de ditar as tendências, apenas apressa-se para seguir os demais;

  • Gerações – as novas gerações, as quais têm influência na determinação do que é tendência, é menos fiel e não têm o menor apego, se decidir que uma nova rede lhe atende melhor ou apresenta-se de uma forma que lhe agrade mais;

  • Facilidade – o crescimento do já citado TikTok, mostra que a facilidade de uso e de consumo do conteúdo, é algo que agrada o usuário e que vai na contramão do que algumas experiências de metaverso exigiriam dos usuários, como os óculos de realidade virtual. Pareceu para muitos que estão querendo complicar, quando o que o usuário quer, é simplificar;

  • Segurança – os vazamentos de dados que vem sendo noticiados periodicamente e que não escolhe vítimas, tem deixado os usuários reticentes e preocupados. Não é de hoje o movimento de restringir o perfil e tudo o que envolva dados pessoais e valorizar os serviços que oferecem recursos voltados para privacidade e segurança no ambiente digital;

  • Desinformação – uma das molas propulsoras da Internet, foi a democratização da informação, no entanto, há algum tempo as redes sociais têm servido como instrumento para o inverso, ou seja, a desinformação e as fake news. As redes sociais estão diante de um dilema, uma vez que permitir ou não exercer controle, parece conivência e reprimir, parece censura;

  • Discurso de ódio – de modo similar ao problema anterior, discurso de ódio, racismo, xenofobia, misoginia e manifestações relacionadas, são outro problema que vem ganhando contornos preocupantes e que cujo tratamento por parte de cada empresa, é necessário mas que certamente desagrada a parte afetada;

  • “Lei do ex” – essas dezenas de milhares de ex-funcionários que estão sendo demitidos em quase todas as empresas do setor, carregam consigo várias informações estratégicas a respeito de suas antigas empresas e que podem ser decisivas para um concorrente direto ou mesmo para eles próprios criarem um novo. Aliás, isso não é nada raro no mercado;

  • Redes Antissociais - diversos aspectos da "evolução" das redes têm sido motivo para redefini-las como redes antissociais e que inclusive é uma das razões pelas quais muita gente tem encerrado suas contas em todas.

As redes sociais vão mesmo acabar?

Nesse ponto, já deve estar claro que não, as redes sociais não vão acabar, seja em 2023 ou mesmo depois.

O que é certo, é que algumas dessas que foram ou ainda mantêm-se como líderes, em algum momento verão seu declínio e que talvez não signifique que a empresa por trás também encerre suas atividades.

É normal e até esperado que ao enxergarem que reverter esse movimento é ineficiente, façam o que já fizeram outras vezes, ou seja, comprem aquela que ameaça o líder do segmento e que tem no Mastodon e Koo, dois possíveis candidatos.

Não que qualquer uma das duas ofereça risco à hegemonia das líderes.

No fim das contas, Zuckerberg e sua turma, usarão alguns dos bilhões já ganhos para manterem-se no topo, seja sob uma nova rede comprada ou destruindo literalmente quem pudesse crescer, reforçando o quanto os oligopólios ameaçam o futuro da Internet e não apenas das redes sociais.

E também para justificar porque se fala em ditadura das Big Techs.

A questão talvez seja dar respostas a outras perguntas que sejam mais apropriadas: Qual será o futuro das redes sociais? Ou, quais as futuras tendências? Quem será o próximo a ditar os rumos? Quando e por que as redes se tornaram antissociais? Teremos novamente em um futuro próximo, a volta de uma rede social “clássica”?

Aliás, essa última pergunta nos suscita uma constatação: desde o fim do Orkut, as redes sociais estão cada vez menos sociais e mais antissociais, mais afastando e ajudando a criar bolhas, do que tendo como objetivo primordial o que o nome e a proposta sugerem.

A supor pelo que vem sendo a bússola da maioria, a última resposta também é não. Não porque as novas gerações e que são o principal termômetro dessas mídias, não tem a interação social no topo das suas prioridades, afinal a maioria nasceu e cresceu constituindo “amigos” que são “conhecidos” apenas no ambiente digital e seguindo “estranhos”, apenas porque compartilham alguns pontos em comum.

O Orkut foi uma rede para os nativos analógicos, mas as atuais são pensadas apenas para os nativos digitais.

Além disso, a primeira rede de sucesso mundial, nasceu como um projeto de um dos funcionários do Google e que apesar de também exigir lucro para manter-se vivo, não foi a sua primeira e principal motivação, diferente das atuais que precisam mostrar-se negócios altamente lucrativos.

Não que haja algum problema nisso, mas como em qualquer área de atuação, lucro deve ser consequência de ações empresariais norteadas por um consistente conjunto de políticas e de uma cultura orientada ao cliente, que nesse modelo de negócio, é chamado de usuário.

Como última curiosidade e para produzir uma reflexão, há apenas dois segmentos que chamam seus clientes de usuários - o de drogas (lícitas ou não) e o de tecnologia. Apenas coincidência?

Conclusão

Movimentos de demissões, perda de usuários ativos, queda na receita publicitária e o surgimento de novos concorrentes, colocam em xeque o futuro das redes sociais.

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