Setembro Amarelo e os esforços para prevenir o suicídio

É inquestionável que todas as campanhas de cada mês do ano e suas respectivas cores, envolvem questões relevantes, mas se há entre eles um que merece atenção ainda mais especial, é o Setembro Amarelo.

Não por outra razão, senão porque ao falhar em alcançar seus objetivos, em muitos casos pode não haver uma segunda chance!

O que é o Setembro Amarelo e as principais ações e campanhas que acontecem durante todo o mês, é o nosso assunto hoje.

O que é o Setembro Amarelo?

No Calendário Anual de Cores, o nono mês do ano foi escolhido para concentrar ações e campanhas de prevenção ao suicídio, tendo ficado conhecido como Setembro Amarelo.

Desde de 2003 – quando aconteceu pela primeira vez – a Organização Mundial da Saúde em conjunto com a International Association for Suicide Prevention (IASP) e a World Federation for Mental Health (WFMH), vem promovendo todos os anos, no dia 10 de Setembro, o “Dia Mundial da Prevenção do Suicídio”.

Em 2011, em 40 diferentes países já ocorriam ações em direções semelhantes e visando conscientizar e alertar sobre a importância de discutir a questão.

No Brasil, seguindo o conceito que já vinha sendo adotado no caso do Outubro Rosa, ou seja, de não destinar apenas um dia, mas o mês inteiro para concentrar campanhas, pela primeira vez em 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), iniciaram ações voltadas à conscientização da importância de valorizar a vida e da prevenção ao suicídio.

Desde então, ano a ano, o mês de Setembro vem se consolidando no calendário anual de cores e ganhando participação e envolvimento dos mais diversos entes da sociedade.

Por que o amarelo para identificar setembro?

A escolha do amarelo para o “Dia Mundial da Prevenção do Suicídio” por parte da OMS e que posteriormente foi adotada para a campanha do mês inteiro no Brasil, teve origem em um caso trágico, como costumam ser todos.

Bem antes da instituição do 10 de Setembro, mais precisamente em 8 setembro de 1994, o suicídio de Mike Emme, um jovem dos Estados Unidos e os fatos que se sucederam, além da comoção gerada, foram simbólicos na adoção da cor amarela.

Mike comprou e restaurou por completo um Ford Mustang 1968, pintando-o de amarelo brilhante. Além de suas habilidades mecânicas, também ficou conhecido por ajudar outros adolescentes, amigos e mesmo pessoas que ele nem conhecida, recebendo o apelido de "Mustang Mike".

Apesar de parecer para todos que além de apaixonado por seu carro e amado por seus amigos e família, ser um jovem entusiasmado, engraçado e caridoso, ninguém conseguia imaginar o momento que ele estava vivendo.

Naquele fatídico 8 de Setembro, às 23:52h, seus pais chegaram em casa e encontraram Mike Emme morto com um tiro dentro de seu tão amado Mustang amarelo. Ao seu lado um triste bilhete: “Mãe, pai, não se culpem. Eu amo vocês. Com amor, Mike. 11:45 pm”.

Por favor, não faça isso, por favor fale com alguém”. Essas palavras, ditas pela família de Mike, foram colocadas em folhas de papel amarelo brilhante, juntamente com números de telefone e para quem ligar, caso quisessem ter ajuda. Adolescentes também anexaram laços de fita amarela e os enviaram por correio para diversos destinos, para amigos, conhecidos e entes queridos.

Em três semanas uma menina conseguiu ajuda, ao entregar um desses papéis que chegou a ela, para sua professora.

As mensagens – aqueles pedaços de papel amarelos – se tornaram a marca registrada do programa – o cartão Ask 4 Help! (Peça por ajuda!).

Desde então, uma comunidade se organizou em torno da causa, cujo site é o Yellow Ribbon.

Qual a importância do Setembro Amarelo?

Como dissemos, todos os meses e suas respectivas motivações, são importantes. No entanto, falhar no propósito da campanha, tem consequências irreversíveis.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019, foram registrados mais de 700 mil suicídios em todo o mundo, porém estima-se que haja subnotificação, por várias razões, como por exemplo:

  • Suicídio é um assunto considerado tabu e rodeado de estigmas e até preconceitos, seja por questões de cunho cultural, religioso ou até mesmo por medo e vergonha, sendo que há até países em que o comportamento suicida é considerado crime e passível de punição;

  • É comum uma visão superficial e simplista do tema, quando geralmente se pensa que quem cometeu suicídio, apenas desistiu por não ter força ou ser incapaz de lidar com eventuais dificuldades, revelando que há pouca informação fundamentada a respeito;

  • Consiste de uma condição complexa e que não está restrita a um grupo específico. Pode ocorrer em indivíduos de diferentes origens, classes sociais, idades, orientações sexuais e identidades de gênero;

  • Como muitas vezes o comportamento do suicida envolve atitudes perigosas e que colocam em risco a própria vida, como dirigir perigosamente, beber descontroladamente, envolvimento em brigas constantes, etc, quando as consequências são fatais, os casos não são notificados como tal, pois não há como determinar se um acidente de carro, afogamento, outro tipo de acidente fatal ou overdose por drogas ilícitas, foi intencional ou não;

  • Diferentes estudos revelam que apenas 50% dos adolescentes que confirmaram ter tentado suicídio, procuraram auxílio médico em algum momento, ou seja, o número de tentativas de suicídio tratadas em hospitais, não reflete o universo de pessoas suscetíveis a essa condição.

Por esses motivos, imagina-se que o número real seja em torno de um milhão de casos. No Brasil, os registros se aproximam de 14 mil casos por ano, ou seja, em média 38 pessoas cometem suicídio por dia no país. São em termos médios, mais óbitos do que os decorrentes de HIV, malária ou câncer de mama e ainda guerras e homicídios.

E se esses números já não fossem suficientes para justificar destinar um mês ao tema, há ainda outras razões:

  • Sabe-se que praticamente 100% de todos os casos de suicídio estão relacionados às doenças mentais, principalmente não diagnosticadas ou que foram tratadas sem o devido acompanhamento. Dessa forma, a maioria dos casos poderia ter sido evitada, se esses pacientes tivessem acesso ao tratamento psiquiátrico e informações de qualidade;

  • Diagnosticar e tratar doenças psiquiátricas é a principal medida para evitar suicídios. Todavia, apesar do fato que a depressão ou o transtorno bipolar, entre outros transtornos mentais, podem acometer qualquer pessoa, independente de sexo, idade, personalidade ou condição social, são condições que ainda enfrentam resistência e preconceito por parte de muitos;

  • Apesar dos números relativos de suicídios terem diminuído na maioria dos países europeus, houve aumento da taxa em países latino-americanos e no Brasil, reforçando a ideia de que fatores ambientais têm influência na questão;

  • A informação ampla e irrestrita, a quebra de estereótipos, é essencial no aprendizado necessário para ajudar o próximo e é a melhor saída para lutar contra esse problema tão grave. É essencial que as pessoas próximas saibam identificar quando alguém está pensando em se matar e a ajude por meio dos mecanismos e instrumentos existentes e adequados, mas especialmente recorrendo à assistência especializada, como psicólogos e psiquiatras.

Quais os sinais que o suicida dá?

Ainda que não sejam indicadores 100% precisos e não necessariamente alguns isoladamente não sejam a certeza de que alguém esteja pensando em suicídio, há alguns sinais normalmente presentes e que devem servir de alerta para as pessoas eu seu entorno, especialmente quando vários deles se manifestam:

  • O tipo de publicação feita, bem como os conteúdos que alguém acompanha nas redes sociais e que incentivam o suicídio ou outros comportamentos associados;

  • Estados de depressão frequentes, angústia prolongada e tristeza excessiva;

  • Falta de prazer e envolvimento nos momentos que normalmente as pessoas do seu convívio se alegram;

  • Alterações radicais de humor em momentos aparentemente inexplicáveis, sentimento de vingança e irritabilidade reiterada;

  • Existência de sentimentos de culpa e/ou de vergonha perante situações que não se justificam;

  • Isolamento e distanciamento da família, dos amigos e dos grupos sociais, principalmente se anteriormente a pessoa tinha uma vida social ativa;

  • Adoção de atitudes e comportamentos perigosos, como dirigir arriscadamente, uso excessivo de álcool e drogas, brigas constantes, agressividade excessiva e injustificável;

  • Desapego repentino pelas coisas e bens pessoais, doando-os ou apenas se desfazendo deles e ações que parecem a preparação para uma possível ausência e particularmente quando os contatos são feitos em tom de despedida;

  • Abandono de planos para o futuro ou quando se abre repentinamente e sem justificativa dos seus antigos sonhos e desejos;

  • Mudanças extremas na rotina, deixando de visitar pessoas e lugares que antes frequentava e que lhe davam alegria, bem como atividades que eram prazerosas;

  • Mudança nos hábitos de sono e alimentação e a falta de preocupação com a própria saúde;

  • Alguns suicidas verbalizam seu estado por meio de frases como “a vida é perda de tempo”, “se eu morrer nada mudará” ou “não vão sentir minha falta”, ou ainda não tão diretas, como “não há solução para os meus problemas”;

  • Forma desinteressada diante de situações que normalmente produzem stress e comoção, como desemprego, morte de pessoas próximas, acidentes e tragédias.

O que fazer diante de uma pessoa que dá sinais de suicídio?

O primeiro passo é compreender que essa pessoa precisa de ajuda de um profissional especializado no assunto. Recorrer a um, é essencial, até para saber qual o melhor caminho e que providências precisam ser tomadas.

Também é fundamental não julgar e principalmente não menosprezar o sofrimento do indivíduo. Quando alguém decide terminar com a própria vida, é sinal de que está sob forte stress e uma situação limite. Os seus pensamentos, sentimentos e ações são intensos.

A pessoa nessa condição, pensa constantemente sobre quais os meios de dar fim ao seu sofrimento, sendo incapaz de discernir e encontrar formas de enfrentar ou de resolver sua angústia. A distorção que o esgotamento emocional impõe, faz com que a pessoa não veja outra saída.

Erroneamente algumas pessoas dizem coisas, como: “Tanta gente em situação até pior e ninguém desiste”, “Já vivi momentos piores e não me matei”, ou “Isso que está fazendo, é para chamar atenção”. Além de não contribuir em nada, atitudes semelhantes podem apenas aumentar a convicção que ele não tem alternativa e não é capaz de encontrar solução para o que o aflige.

Além de assessoramento profissional, há entidades que podem contribuir com informações sobre quais ações adotar:

  • O Centro de Valorização da Vida (CVV) realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, além de um site dedicado ao tema;

  • Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos – ABRATA;

  • A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), mantém um site sobre Setembro Amarelo, que é constantemente atualizado para tratar do assunto.

O Setembro Amarelo nas empresas

Tal como nas demais campanhas de cores, o Setembro Amarelo também pode ser promovido nas empresas e é uma forma de exercer sua responsabilidade social.

Mesmo nas micro e pequenas empresas e que devido ao seu porte nem sempre têm uma área de Recursos Humanos apta a instituir uma campanha ampla, já há consultorias de RH habilitadas e, portanto, capazes de assessorá-las nesse sentido.

No próprio site do Setembro Amarelo mantido pela ABP e CFM, que mencionamos anteriormente, há uma série de informações úteis que podem ser utilizadas pelas empresas que decidirem por se engajar na questão, como um PDF com diretrizes para divulgação e participação na campanha da entidade.

É importante lembrar, que em muitos casos e particularmente nos grandes centros urbanos, é comum que as pessoas passem mais tempo do seu dia no trabalho, do que nos demais círculos sociais. Sendo assim, as experiências e momentos na empresa, podem pesar e ter influência em alguém com disposição ao suicídio.

O conjunto de ações que compõem a campanhas nas empresas, pode incluir:

  • Informação – como na maioria das campanhas do gênero, um dos pilares é a informação. Assim, Se nem toda empresa pode promover uma palestra com um profissional especializado, a divulgação e circulação de materiais e conteúdos como o presente post, contribuem para que as pessoas próximas de alguém que precisa de ajuda, saibam reconhecer os sinais e, portanto, sejam capazes de agir;

  • Intranet – se a empresa tem intranet, colocar a campanha para acesso dos colaboradores, é uma ação possível e acessível;

  • Newsletter – as empresas que enviam newsletter para seus clientes, podem incluir link de um artigo semelhante ao presente, de forma a contribuir como mais um ente da sociedade no processo de difusão da informação;

  • Comunicação visual – os já conhecidos bottons, cartazes, banners e os laços de fita amarela, embora pareçam pouco, contribuem para romper com os tabus que envolvem o tema. É o momento para desmistificar as doenças mentais, combater o preconceito e até eventual discriminação na organização, encorajando tanto aqueles que precisam, quanto as pessoas próximas, a buscar ajuda quando for o caso;

  • Site da empresa – se a empresa resolveu por aderir e engajar-se nas diferentes campanhas realizadas durante o mês, fazer constar no site institucional, ou elaborar um artigo para o blog, é uma boa prática, pelas mesmas razões da comunicação visual;

  • Clima organizacional – essa é uma ação para o ano todo e que pelo fato do grande número de horas que as pessoas passam no trabalho, promover um bom clima organizacional contribui positivamente também nesse aspecto;

  • Qualidade de Vida no Trabalho – outro fator que pelas mesmas razões do anterior, deve ser motivo de atenção durante todo ano, é a promoção da qualidade de vida no trabalho;

  • Assistência médica – as empresas que podem, devem certificar-se que os planos de assistência médica dos colaboradores deem cobertura psiquiátrica.

Conclusão

Setembro Amarelo é o mês dedicado em dirigir nossa atenção àqueles para os quais muitas vezes já não há mais respostas e saídas, senão o suicídio.

 
 

 

 

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