Liderança Comportamental: Quando e por que é importante?
É razoavelmente comum ouvir nas rodas de RH que as pessoas são contratadas pelo conhecimento que possuem e são demitidas pelo comportamento que apresentam.
Aí você se pergunta: “E o que isso tem a ver com liderança?”.
Tem tudo a ver e é sobre isso que falaremos nesse post, começando por entender o que é uma liderança comportamental, por quais razões esse tipo é cada vez mais importante, mas também como e quando os gestores precisam exercê-la.
Se na sua equipe as “técnicas tradicionais” não funcionam, possivelmente você tenha que mudar seu estilo...
O que é Liderança Comportamental?
A liderança comportamental é o exercício de gerenciar uma equipe levando em consideração os diferentes perfis e comportamentos de cada um dos membros. É um estilo de liderança bastante dinâmico, que muda de acordo com o momento, com as diferentes situações e com as pessoas envolvidas.
Mais do que aplicar “técnicas de gestão”, consiste de:
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Compreender como cada colaborador se relaciona com o gestor e com os seus pares;
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Saber como as pessoas reagem a cada tarefa e à variedade de circunstâncias envolvidas;
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Quais responsabilidades os indivíduos assumem, os porquês e o seu grau de envolvimento em cada projeto;
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Conhecer a disposição em contribuir com o grupo e de perseguir os objetivos coletivos;
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Entender os motivos por detrás de cada comportamento;
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Saber escutar e interpretar as atitudes de cada membro da equipe, bem como do coletivo;
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Respeitar as individualidades e seus limites;
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Nunca esquecer que toda ação, desencadeia uma reação.
Um líder comportamental atua muito mais preocupado com o “como ele faz” e com “o que ele faz”, do que com o que sabe, pois tem consciência que de as suas atitudes têm influência no comportamento e, consequentemente nos resultados da sua equipe.
Portanto, há quem a chame também de liderança relacional, pois é contextual e profundamente ligada às relações no dia a dia da equipe. Baseia-se em elevados graus de observação, capacidade analítica, adaptabilidade e também no estilo facilitador, que é quando se cria um ambiente propício para que as coisas aconteçam.
Por que a liderança comportamental é importante?
Parte da resposta já foi dada: “tem influência no comportamento e, consequentemente nos resultados da sua equipe”.
Se não fosse motivo bastante suficiente, há ainda outras razões que reforçam a importância dos gestores serem capazes de exercer esse estilo de liderança:
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Diferentes gerações – a ocorrência cada vez maior de equipes muito heterogêneas, devido à presença de diferentes gerações no mercado de trabalho;
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Geração Z – relacionado ao aspecto anterior, a geração Z nas empresas tem representado uma série de desafios, alguns dos quais só podem ser superados por meio de liderança comportamental;
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Motivação – é sabido que a motivação e o engajamento dos colaboradores é intimamente dependente do comportamento do seu gestor;
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Clima organizacional – o bom clima organizacional, entre vários fatores, é também resultado da redução dos conflitos e das atitudes de cada membro de uma equipe;
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Turnover – a formação e manutenção de equipes coesas começa pela diminuição do turnover e retenção dos talentos;
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Inovação e criatividade – equipes diversas quando bem lideradas tendem a gerar soluções mais criativas;
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Resiliência organizacional – líderes que sabem lidar de modo eficaz com o comportamento da equipe, fortalecem a capacidade da equipe de enfrentar crises, bem como conduz uma gestão de mudanças mais eficiente;
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Reputação da empresa – um ambiente saudável, com exercício eficaz de liderança, melhora consistentemente a imagem da organização perante os clientes e junto aos futuros talentos;
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Produtividade sustentável – em função de muitos dos benefícios acima, a consequência direta vem na forma de desempenho estável e sustentável no longo prazo.
Muitos dos conceitos da liderança comportamental moderna evoluíram de modelos como a liderança situacional (detalhado no post “Como desenvolver liderança sobre equipes de trabalho?”), que ensina que o estilo do líder deve mudar conforme a maturidade do colaborador em relação à tarefa
Tipos de liderança comportamental
Existem diferentes estilos que podem ser aplicados conforme o contexto:
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Estilo |
Foco |
Pontos fortes |
Pontos fracos |
Quando aplicar |
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Democrática |
Participação e colaboração |
Incentiva participação e aumenta o senso de pertencimento |
Decisões lentas e pouco consenso |
Projetos criativos e que exigem engajamento coletivo, definição de processos, melhorias contínuas |
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Autoritária |
Direção clara e rapidez de reação |
Maior agilidade e alinhamento imediato |
Desmotivação e pouca iniciativa |
Crises, prazos críticos, baixa maturidade e pouca experiência da equipe |
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Liberal |
Autonomia e confiança |
Velocidade e inovação em equipes experientes |
Falta de direção, desalinhamento e maior chance de conflitos |
Grupos maduros e colaboradores especialistas |
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Situacional |
Adaptação ao contexto |
Flexibilidade e boa capacidade de ajuste |
Insegurança e maior imprevisibilidade |
Ambientes dinâmicos e em constante mudança |
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Facilitadora |
Ambiente favorável |
Colaboração, iniciativa e segurança psicológica |
Dependência e paralisia em condições adversas |
Integração de equipes, mudança cultural, aprendizado |
Entender como as mudanças de postura podem gerar resultados completamente diferentes, fica evidente ao confrontarmos dois estilos quase que antagônicos.
Por exemplo, o estilo liberal é marcado pela confiança e autonomia concedidas à equipe. Aqui, o gestor atua removendo barreiras e deixando que os colaboradores decidam como executar as suas tarefas. Esse modelo costuma funcionar muito bem em equipes maduras, compostas por profissionais experientes e altamente qualificados, que sabem se organizar e entregar resultados sem necessidade de supervisão constante.
O grande benefício é a agilidade e a sensação de pertencimento, mas o risco está em perder o alinhamento se não houver metas precisas e pontos de controle definidos.
Já o estilo autoritário segue o caminho oposto. Nele, o gestor centraliza as decisões e define com clareza o que deve ser feito, como e em que prazo.
Esse modelo pode ser extremamente eficaz em situações de crise ou quando há urgência, pois garante rapidez e uniformidade na execução. Por outro lado, se exercido com frequência, pode gerar desmotivação, reduzir a criatividade e afastar talentos, já que limita a autonomia e a iniciativa da equipe.
Quando exercer a liderança comportamental?
A liderança comportamental se torna especialmente necessária em situações em que o comportamento da equipe é determinante nos resultados que ela apresenta.
Alguns exemplos típicos:
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Durante uma crise operacional – imagine que uma falha em um sistema paralisa parte da operação. O gestor que exerce liderança comportamental não apenas dá ordens rápidas, mas observa como cada membro reage à pressão. Ele direciona quem mantém a calma para tarefas críticas, apoia quem demonstra insegurança e mantém a comunicação clara. O resultado é uma equipe que, mesmo sob estresse, consegue agir de forma coordenada e restabelecer a operação;
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Na integração de novos colaboradores – quando alguém é integrado à equipe (onboarding), não basta ensinar processos. O líder comportamental percebe como o novo integrante interage com os pares, se busca ajuda ou se tende ao isolamento. Ao adaptar sua postura – oferecendo mais proximidade ou incentivando autonomia – o gestor acelera a adaptação e evita que o novo colaborador se sinta deslocado, aumentando a retenção e o engajamento;
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Em mudanças estratégicas – grandes e importantes mudanças geram insegurança e resistência. O líder comportamental identifica nos diferentes perfis, os que se animam e os que demonstram medo da mudança. Ao ajustar a sua comunicação e agir de acordo com as diferentes posturas, ele transforma resistência em colaboração, medo em confiança, garantindo que a equipe se alinhe mais rápido ao novo objetivo;
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Quando há queda de motivação – se um colaborador antes engajado começa a apresentar queda de desempenho, o líder comportamental não se limita a cobrar resultados. Ele observa o contexto, conversa em reservado, ajusta o tom e busca compreender o que está por trás da mudança. Essa abordagem pode recuperar a motivação e evitar a perda de um talento;
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Em conflitos internos – quando dois membros da equipe entram em atrito, o gestor que exerce liderança comportamental não apenas impõe uma solução. Ele analisa os comportamentos, entende os motivos e conduz o diálogo de forma que ambos se sintam acolhidos. O resultado não se resume a uma boa gestão do conflito, mas também o fortalecimento da confiança no líder e no grupo.
Em resumo, o “quando” está ligado a contextos de maior sensibilidade, nos quais o comportamento humano pode ter mais peso do que a técnica e o conhecimento.
Como exercer a liderança comportamental?
Antes de falarmos das atitudes práticas, é importante destacar que esse estilo de liderança se torna mais natural quando o gestor possui um perfil compatível.
Empatia, inteligência emocional, racionalidade e humanidade são exemplos de características que facilitam o exercício da liderança comportamental, pois tornam suas ações mais autênticas e consistentes. Isso não significa que apenas quem já tem essas qualidades pode liderar bem, mas sim que elas ajudam a transformar atitudes em resultados de forma mais genuína e espontânea.
Atitudes práticas para exercer a liderança comportamental
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Ser exemplo para a equipe (Liderança pelo Exemplo) – mais do que cobrar comportamentos, o líder deve demonstrá-los no dia a dia. Se valoriza pontualidade, deve ser pontual; se exige respeito, deve tratar todos com respeito;
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Benefício – gera credibilidade e facilita que os colaboradores sigam o comportamento desejado;
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Conhecer os perfis – não é preciso ter um software caro, mas utilizar ferramentas de comportamento como base para entender as tendências naturais de cada colaborador, como por exemplo, quem é mais rápido na ação, quem foca em detalhes, quem naturalmente gosta de colaborar, etc;
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Benefício – ajuda o líder a prever reações e a ajustar a comunicação com base em dados, não apenas em intuição;
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Saber dar e receber feedback – transmitir mensagens de forma adequada (escolhendo momento, canal e tom) e também estar aberto a ouvir o feedback da equipe, é essencial;
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Benefício – fortalece a confiança, corrige desvios sem constrangimento e permite que o líder também evolua;
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Acompanhar de perto – realizar conversas rápidas ou checkpoints curtos para acompanhar o andamento das tarefas, sem controlar cada detalhe;
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Benefício – evita surpresas negativas, mantém o ritmo e preserva a autonomia da equipe;
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Escolher o tom na comunicação – ajustar firmeza ou acolhimento conforme a situação e a maturidade da equipe, preocupando-se sempre em solucionar os problemas de comunicação;
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Benefício – garante que a mensagem seja entendida corretamente e evita ruídos ou interpretações equivocadas;
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Dar autonomia com limites – delegar tarefas definindo objetivos, prazos e critérios de sucesso antes de deixar a equipe decidir como executar;
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Benefício – estimula a iniciativa e a responsabilidade sem perder o alinhamento com os resultados;
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Criar ambiente de confiança – confiança é a base de todo bom relacionamento, por isso o líder deve incentivar que os colaboradores expressem opiniões, criem soluções, façam perguntas e aprendam com erros sem medo de punição ou julgamentos;
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Benefício – aumenta engajamento, promove a inovação, estimula o desenvolvimento de talentos e fortalece o espírito de equipe;
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Praticar autoconhecimento – reconhecer padrões pessoais de comportamento e ajustar sempre que necessário;
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Benefício – evita que vícios individuais prejudiquem a equipe e torna o líder mais equilibrado;
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Observar e reconhecer sinais – perceber pequenos comportamentos, como silêncio constante, atraso ou mudanças de humor, os quais podem indicar problemas maiores;
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Benefício – permite intervir cedo, prevenindo crises e mantendo o clima organizacional saudável.
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Conclusão
Liderar é, antes de tudo, lidar com pessoas. O conhecimento técnico abre portas, mas é o comportamento do líder e da equipe que sustenta resultados no longo prazo. A liderança comportamental é um exercício obrigatório para gestores que querem construir equipes engajadas, produtivas e preparadas para os desafios de um mercado em constante transformação.


