O que você paga pela Internet grátis?
Em meio a todas as mudanças que acompanharam o crescimento da Web, uma característica é evidente: a gratuidade de tudo – ou de quase tudo – que é possível encontrar na rede mundial de computadores!
E a maioria se acostumou com isso, muitas vezes, sem nem questionar como é possível consumir tantas coisas e não ter que dar nem um centavo por nada, não é mesmo?
Mas não é bem assim que funcionam as coisas e se você é um daqueles que não entende o caráter gratuito da Web, chegou a hora de descobrir a verdade!
A história da Internet
Entender o caráter gratuito das coisas no mundo online, passa por conhecer um pouquinho do passado da Internet, quando ela apenas estava começando.
Lá nos primeiros anos, mais precisamente nos meados dos anos 1990, de fato boa parte dos sites que surgiram, eram essencialmente e verdadeiramente gratuitos. Muitos dos que criaram suas primeiras páginas foram motivados pela novidade, pela curiosidade e pelos benefícios que aquele formato de mídia inovador, prometia proporcionar.
Sites como os de hoje, praticamente não existiam. Na maioria eram páginas simples, com algumas linhas de texto, poucas e raras imagens e links. Não eram mais do que versões digitais de um artigo acadêmico, ou talvez ou de um panfleto de produto ou empresa.
Aos poucos, foram surgindo livros que contavam os “segredos” de como criar uma página em HTML e publicá-la e com isso os entusiastas da novidade, ensaiavam como criar conteúdos que pudessem interessar aos poucos internautas que existiam.
Os primeiros sites institucionais das grandes empresas, só começaram se popularizar perto da virada do milênio e basicamente eram uma alternativa de publicidade, que comparativamente aos formatos até então existentes, era muito acessível.
Aliás, foi mais ou menos nessa mesma época, que outros formatos de site começaram a proliferar e se popularizar, como os blogs, portais e sites de conteúdo, bem como os sites especializados em temas. Com isso, veio também a publicidade por meio de banners e que foi a primeira forma de monetização e que por algum tempo, ajudou a pagar parte dos custos para manter um site.
Sim, porque apesar da diversidade crescente de conteúdos disponíveis já ser predominantemente grátis, o custo de produção e manutenção, sempre existiu. O meio para arcar com esses custos, foi basicamente uma adaptação das mídias tradicionais, ou seja, inserção publicitária.
No entanto, outra característica da Internet, exigiu um refinamento daquele modelo – a globalização.
Diferentemente das mídias que a precederam, a Web nunca conheceu barreiras geográficas e outros limites, como de idioma, por exemplo, o que fez com que empresas com uma abordagem global, tivessem destaque e vantagem perante as que pensavam apenas localmente, como foi o caso do Google.
A atuação do gigante das buscas, foi decisiva em muitos aspectos, mas principalmente porque:
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Foi um dos primeiros buscadores a oferecer uma ferramenta de busca inovadoras, disponível em muitos idiomas e com o algoritmo baseado no PageRank, que classificava as páginas com base na quantidade e qualidade dos links que apontam para elas;
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No ano de 2000, lançou o AdWords, um sistema de publicidade pay-per-click que permitiu aos anunciantes exibir anúncios baseados em palavras-chave, tornando a publicidade online mais eficiente e acessível para diferentes tamanhos de empresas;
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Criou o Gmail, um serviço de e-mail gratuito com espaço de armazenamento com 1Gb de armazenamento, totalmente gratuito. e recursos avançados de organização de mensagens;
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Em 2005, o Google adquiriu o YouTube, o líder de vídeos em streaming, por US$ 1,65 bilhão e se tornou o padrão em compartilhamento de vídeos do mundo e o segundo instrumento mais usado para pesquisas na Web;
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O Android, que hoje é sistema operacional mais usado no mundo, foi adquirido em 2005 pela “bagatela” de 50 milhões de dólares e é responsável por equipar boa parte dos smartphones e consequentemente para acessos na Web.
Ou seja, não é exagero dizer que boa parte do que é a Internet hoje, passa pela atuação do líder global das buscas online.
A Internet é grátis?
Não, a Internet não é grátis, embora para muitos pareça que sim!
De fato, não é preciso pagar nenhuma taxa ou mensalidade para fazer qualquer busca no Google ou para ter uma conta “básica” no Gmail.
Como diz o antigo ditado, “não há almoço grátis”.
E se você pensa que o “pagamento” é na forma de alguma publicidade exibida a cada clique, a cada acesso, tal como sempre foi ao ver um canal de TV, essa é apenas a ponta do iceberg, ou se preferir, é o que está aparente.
A publicidade online, é apenas umas das formas que o Google ganha dinheiro, bem como outras big techs atuantes no universo digital, como a Meta (dona do Facebook, Instagram e WhatsApp), para citar apenas a maior delas.
Mas o que garante a eficiência dessa publicidade, bem como outros aspectos que também servem aos mecanismos de monetização existentes, é o conjunto de dados a respeito de cada internauta. É o que tem real valor.
Dito de outra forma, é pela violação da privacidade que boa parte das pessoas ignora ou acredita não ser importante, que empresas como Google e Meta, literalmente fazem fortuna.
Elas justificam como algo legítimo diante de uma Internet que predominantemente é gratuita e que é isso que a sustenta da forma que é. Em outros casos, alegam que é útil e ajuda você a encontrar o que quer. Há até os que usam como argumento para melhorar os serviços que prestam.
Qualquer que seja o caso, tiram de cada um o poder de decidir o que terceiros podem saber a seu respeito. Invadem a privacidade, a intimidade de todos, mesmo por detrás de portas e janelas fechadas.
Atualmente, fazendo uso de um conjunto de tecnologias, como big data, machine learning e inteligência artificial, muitas dessas empresas sabem mais sobre cada um de nós, do que nós mesmos sabemos.
Sabem quantos cliques damos, quais conteúdos mais consumimos, com que outros internautas nos relacionamos, o que compramos, aonde vamos, o que comemos, com que frequência e quanto tempo dedicamos a cada coisa e tudo isso e até vários de nossos segredos não revelados nem aos amigos mais íntimos, com elevado grau de precisão.
Essas informações são compartilhadas com os chamados “parceiros” e que nada mais são do que um eufemismo para os clientes responsáveis por seus faturamentos milionários.
E cada vez que você adere ao quase monopólio criado por elas, usando o navegador, o sistema operacional, o mecanismo de busca, a rede social líder ou a IA generativa, acaba por reforçar essa hegemonia e paga com a moeda de troca mais valiosa da atualidade – conhecimento a seu respeito.
Em outras palavras, ao usufruir dessa suposta gratuidade, você está trabalhando de graça!
As consequências da Internet grátis
Há muita gente que não vê problemas em abrir mão da sua privacidade em troca de dispor de um conjunto de serviços web gratuitos.
Entretanto, é importante ressaltar que as consequências podem ser mais severas do que simplesmente dar conhecimento de informações pessoais a alguma empresa:
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Segurança online – as principais empresas da Internet, são também as mais visadas pelos criminosos digitais. Assim, no caso de invasões e vazamentos, seus dados são usados nas muitas formas de golpes e crimes virtuais que acontecem;
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Segurança física – a integridade física pode estar sob ameaça a depender de quais informações a seu respeito forem acessíveis por parte de terceiros e quem são eles;
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Privacidade – para além da empresa a qual você abre informações de natureza pessoal, terceiros que eventualmente você não gostaria, podem também ter acesso;
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Carreira – a vida profissional e a influência sobre o seu futuro, também dependem da preservação e independência da sua vida pessoal;
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Reputação – a exposição involuntária e descontrolada, pode acarretar danos morais, à imagem, o bullying e o linchamento virtual, os quais podem trazer prejuízos diversos;
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Vigilância – sua atividade online pode ser monitorada por empresas, governos ou até hackers, que podem usar essas informações, acarretando prejuízos de diferentes naturezas.
Conclusão
O acesso à variedade de conteúdos e serviços “gratuitos” na Internet, na verdade são pagos com a moeda de troca mais valiosa da atualidade, a privacidade.