Cookies vs FLoC: O que é FLoC, a tecnologia que substitui os cookies?

É mais uma sigla na rica sopa de letrinhas da Internet? Você precisa saber o que é FLoC para continuar navegando? Ele aumenta a segurança e/ou a privacidade? Por que se preocupar – ou não – a respeito?

Há ainda uma série de perguntas, algumas delas sem respostas, que surgiram depois dos recentes anúncios por parte do Google sobre fim dos cookies de terceiros até 2022 e a adoção do FLoC, em substituição aos polêmicos e famosos cookies.

Por essa razão, vamos explicar os principais pontos que envolvem essa polêmica.

O que é FLoC?

FLoC é uma sigla ou acrônimo para Federated Learning of Cohorts e que nomeia a tecnologia criada e em testes por parte do Google fazendo uso do navegador Google Chrome em uma pequena parcela de usuários, visando substituir os cookies e alegadamente resolver questões de privacidade que estão relacionadas ao seu uso.

Em tradução direta, Federated Learning of Cohorts, significa Aprendizagem Federada de Coorte, o que também não esclarece muita coisa.

Não vamos nos aprofundar no conceito, mas coorte é terminologia de estatística e refere-se a pessoas envolvidas em um evento, ou que tenham experiências ou características comum, como por exemplo, o conjunto de pessoas nascidas em dado ano e em determinada localidade, ou indivíduos pertencentes a uma atividade profissional, ou seja, os nichos ou conjuntos de indivíduos reunidos por aspectos comuns.

O objetivo é ainda o mesmo dos cookies e que é identificar comportamentos e interesses, para então fazer o direcionamento da publicidade para cada usuário.

Não se tem ainda detalhamento técnico do seu funcionamento, mas basicamente a tecnologia faz uso de Inteligência Artificial e Aprendizado de Máquina para formar os conjuntos de coorte, de tal modo que assim como no cookie há um ID (identificador) único para o usuário, em torno do qual há características individuais, no FLoC há o ID do grupo ao qual esse usuário pertence.

Esse grupo ou nicho, tem características comuns e que podem ser, interesse por computadores, rock ‘n’ roll, carros, esportes, mesmo gênero, faixa etária, entre outros aspectos. Portanto, a identificação não é mais voltada à persona, mas ao grupo do qual uma persona faz parte e que naturalmente tem um amplo conjunto de características comuns.

Mas para construir esse perfil de grupo leva tempo. Da mesma forma que no caso dos cookies, os hábitos de navegação é que vão determinar a caracterização, mas dessa vez do grupo.

Pelo raciocínio, o seu ID de grupo pode mudar de acordo com a sucessão de acessos feitos. Se por exemplo, em um dado momento os sites acessados indicam um perfil feminino e anteriormente esse dado ainda não havia sido obtido, a partir de então seu novo ID será do grupo que reúne usuários com as características já conhecidas e que pertencem a esse gênero.

A ideia por trás desse conceito, é que a publicidade ainda ocorrerá baseada nos interesses que os usuários demonstram em sua navegação na web, mas sem que os anunciantes conheçam especificamente cada usuário. É com isso que se pretende mais privacidade.

O FLoC resolve o problema da privacidade?

A verdade é que boa parte dos usuários não sabe o que as diferentes tecnologias presentes na Internet podem revelar a seu respeito, nem o que as empresas com ela envolvidas fazem para cumprir a legislação existente – LGPD, no Brasil e GDPR, na Europa – e também garantir que toda a informação a qual detém, estará segura.

Escândalos de vazamento de dados ocorrem em empresas diversas, independente do seu porte e das tecnologias que utilizam para teoricamente resguardar os dados que possuem.

Sabe-se que o FLoC faz uso de criptografia para manipulação e armazenamento dos dados, mas não há muitos detalhes a esse respeito.

Entre o muito que se questiona, é que havendo ainda um ID que designa a qual grupo alguém faz parte e havendo informações sobre o grupo, ainda haverá interesse de cibercriminosos e cruzar dados e chegar ao que já acontece hoje, é perfeitamente possível.

Contestação e ética envolvendo o FLoC

A medida em que o Google dá passos no sentido de implementar o FLoC de modo definitivo em substituição aos cookies, vêm ocorrendo manifestações contrárias de todos os lados, por parte de empresas menores e até mesmo de gigantes, como a Microsoft.

Outros navegadores

Empresas responsáveis pelos principais navegadores, como Firefox, Microsoft Edge (Edge Chromium), Vivaldi, DuckDuckGo, Safari, Opera e Brave, já se posicionaram contrariamente.

Por diferentes formas, informaram que vão bloquear em suas respectivas ferramentas o uso da tecnologia, sendo que alguns já o fizeram em suas mais recentes versões.

Monopólio do Google

Outra questão que vem sendo discutida, é o monopólio que isso representa.

Afinal, ter tantos dados valiosos e de tamanho interesse para o mercado de publicidade digital, centralizados nas mãos da já poderosa empresa de Mountain View, não seria uma seria ameaça ao segmento?

Até que ponto esse monopólio não afetará o futuro da Internet?

A questão ética

Embora se diga que o FLoC não deve coletar dados considerados sensíveis e/ou que de alguma forma possam ser usados de maneira discriminatória, como orientação sexual, etnia, religião ou histórico médico, sem o conhecimento detalhado de como funciona a tecnologia, não se pode afirmar nada ainda.

Mas a questão ética vai além.

Ainda não há datas definidas e nem muita informação. No entanto, do pouco que se sabe, o Google está apenas realizando testes em pequenos espaços amostrais de usuários. Porém estima-se que 0,5% dos usuários do Chrome já estão fazendo uso do FLoC.

Todavia, também pelo que se sabe, esse 0,5% dos usuários do navegador mais usado no mundo, não sabem que não estão sob a política de privacidade baseada em cookies, mas outra tecnologia.

Ou seja, o mínimo que se pode dizer dessa atitude, se confirmada, é que falta transparência ao Google ao agir dessa forma.

Não fosse suficiente, embora o Google alegue que o FLoC vem para resolver questões de privacidade, na prática ainda será possível a identificação única do usuário, o que é outro ponto que gera no mínimo desconfiança.

O mercado de publicidade digital

Os anunciantes online e que são outra parte interessada na questão, também está com um pé atrás.

Primeiro porque em se confirmando, torna-os ainda mais reféns de um oligopólio que tem como principais participantes, o personagem central disso – o Google – e o Facebook.

Ainda maior concentração, maior poder, vai na contramão do que todos desejam. Inclusive, há movimentos em vários países, como nos EUA e na comunidade europeia, em que se discute legislação para controlar o poder de mercado dessas gigantes de tecnologia.

O que é melhor, cookie ou FLoC?

A pergunta que não quer calar: o que é melhor, os cookies ou o FLoC?

É preciso compreender o que envolvem ambas situações e, sobretudo, que alternativas podem ser apresentadas. Talvez o melhor seria: o que pode ser melhor que cookies ou FLoC?

O Google ou qualquer outra empresa envolvida, não são bonzinhos. Não são altruístas. Não é essa a razão do Google ser uma das empresas mais ricas do mundo. Ele é o que é, graças às cifras astronômicas que o mercado de publicidade online movimentam e à informação que ele controla.

Os sites e serviços gratuitos na Internet – incluindo a própria ferramenta de busca do Google – são sustentados por um modelo de negócio, em que as informações dos usuários que realizam diariamente esses acessos, são a moeda de troca.

Até que ponto as pessoas estão dispostas a abrir mão de sua privacidade para terem acesso gratuito a tudo que têm hoje?

Os cookies, o FLoC, não são os únicos vilões nisso. Existem muitos métodos utilizados para rastrear pessoas, sendo a maioria por meio do navegador.

Não se pode afirmar propriamente que o mundo digital é um lugar seguro. Ao acessar um site, um grande número de tecnologias pode estar sendo executadas e a maioria de nós não tem conhecimento de quais são elas e como funcionam. Scripts, Java e outras tecnologias rodando nos computadores, podem revelar muito mais do que se imagina.

A solução não é simples, porque envolve a quebra de paradigmas. As pessoas precisam aceitar a pagar por algo que até hoje foi “de graça”, ou senão teremos que nos sujeitarmos a termos nossa privacidade violada.

Também é preciso conhecimento. Como já dissemos, são pouquíssimos aqueles que sabem o que acontece nos bastidores do aparentemente inocente e inofensivo acesso aos sites que frequentamos diariamente.

Por fim, é preciso mecanismos de regulação eficientes e independentes. Legislação como a LGPD, é um ponto de partida. Mas ela deve ser capaz de ajustar-se e evoluir na mesma velocidade que a tecnologia, bem como é preciso fiscalização e controle, do contrário é apenas mais uma “lei que não pegou”.

Conclusão

O FLoC é a alternativa do Google para os cookies e os questionamentos cada vez mais frequentes sobre privacidade dos usuários na Internet. Em tese parece resolver algumas questões, mas dá margem a outros questionamentos importantes sobre segurança e privacidade digitais.

Comentários ({{totalComentarios}})