Os diferentes problemas do uso excessivo do celular

Não consegue resistir ao som ou ao sinal piscante de uma nova notificação? Saberia responder quantas vezes por dia olha para a tela do celular? E quanto do seu tempo acordado você gasta olhando para uma tela qualquer?

A depender dessas respostas e do quanto o celular faz parte do seu dia, é possível que existam uma série de problemas que já acontecem ou acontecerão com você.

Se até agora você só via as vantagens do celular, saiba que seu uso além de determinados limites, pode trazer também consequências negativas e é sobre isso o nosso bate-papo de hoje.

O celular e a transformação digital

Ninguém é no mínimo imprudente ou cego, ao não reconhecer os benefícios e a contribuição da transformação digital em nossas vidas, nem tampouco do celular em uma e na outra.

O celular não exerceu o mesmo protagonismo como instrumento de transformação digital, que tiveram o PC e a Internet, mas em algum momento ele cumpriu sim função importante no processo.

Um olhar comparativo do que eram nossas vidas antes da popularização do PC e a partir da Internet, produz uma lista quase interminável de diferenças e ganhos em termos do acesso à informação, dos ganhos de produtividade e economia de tempo, da melhora na comunicação, dos benefícios decorrentes da globalização, para citar apenas alguns dos principais.

O celular apenas tornou portátil ou móvel o acesso a tudo isso.

Na medida em que ele foi ganhando mais poder de processamento, mais memória para servir a esse mesmo processamento e para armazenar crescente volume de dados e suportar a instalação de mais e mais programas, telas cada vez maiores, múltiplas câmeras e evoluindo a conectividade, passou a ser um dos principais meios para ao universo digital.

Para alguns, especialmente nos países menos desenvolvidos, a principal ou a única porta de acesso à inclusão digital.

Logo, é inegável o valor do dispositivo que nasceu para ser apenas uma alternativa para colocar as pessoas falando umas com as outras, mas que por reunir atualmente uma série de tecnologias, já revolucionou o modo de se fazer muitas coisas.

Só quem perdeu muito tempo em uma fila de banco, precisou consultar uma lista telefônica, comprou filmes fotográficos e depois os deixou no laboratório fotográfico ou frequentou um fliperama ou usou um Atari, sabe quanta diferença ele fez!

Os números do uso do celular no Brasil

Ele acompanha muita gente, da hora em que acordam até a hora em que dormem. Mais ainda, já que muitas vezes apanhar o celular antes de nem mesmo abrir direito os olhos e colocá-lo ao alcance das mãos como último gesto antes de fechá-los, é a rotina de cada vez mais pessoas.

E ao longo do dia, é o responsável por várias pausas durante o trabalho, divide as atenções com as refeições, é usado durante boa parte do trajeto vindo ou voltando para casa, é responsável por silenciar a conversa na roda de amigos durante o happy hour ou ao aumentar as perigosas e irresponsáveis violações de trânsito dos motoristas.

Encontrar alguém sem um nas mãos, no ônibus, no metrô ou esperando em uma fila qualquer, é quase impossível!

Segundo um estudo da Eletronics Hub e que teve como base o relatório digital anual de 2023 da Datareportal, os brasileiros estão entre as pessoas no mundo que mais tempo passam em frente a uma tela (PC, notebook, tablet ou smartphone), considerando o percentual de horas acordadas em relação ao tempo de tela para cada categoria de dispositivo.

De acordo com os dados apresentados, o brasileiro é o segundo lugar no ranking de horas acordadas na frente das telas, independentemente do dispositivo, com 56,61% do tempo ou em números absolutos, mais de 9 horas e meia por dia. Perdem apenas para os sul-africanos, cujo percentual é de 58,21%.

Quando considerado apenas o smartphone, o valor ainda surpreende, já que os usuários dedicam quase um terço das horas acordadas, ao celular (32,4%).

Na contramão, de todos os 45 países listados, o Japão ocupa a última posição com apenas 21,7% do tempo em que passam acordados, com olhos em uma tela qualquer, apesar de ser um dos países com maior índice de acesso às tecnologias associadas.

Na China, onde há a maior quantidade de smartphones do mundo e o país que tem um dos maiores investimentos no 5G, os usuários dedicam apenas 19,5% do seu tempo aos celulares.

Problemas e consequências do uso excessivo do celular

Antes de listarmos e comentarmos o lado negativo desse dispositivo tão integrado ao nosso quotidiano, é preciso destacar que:

  • Não é intenção demonizar seu uso, mas de estimular seu uso com moderação e de modo a minimizar os possíveis malefícios e maximizar os benefícios, os quais já concordamos que são muitos;

  • Algumas das consequências negativas são de ordem sanitária, o que significa dizer que na constatação de que são reais os problemas, é necessário recorrer ao auxílio especializado;

  • Os problemas listados não necessariamente estão presentes em todos os casos de usuários abusivos, bem como o grau de interferência de cada um, é variável.

As consequências negativas que o uso excessivo do celular pode acarretar, são muitos e em alguns casos, bem específicas, razão pela qual trataremos apenas das mais comuns e frequentes e as agruparemas em grandes grupos por similaridade.

1. Produtividade no trabalho e nos estudos

Essa é uma das muitas frentes em que pesquisas tem sido feitas no sentido de identificar o quanto o celular afeta as pessoas – a produtividade no ambiente de trabalho e nos estudos.

Os números variam, mas o que não muda é que todas são unânimes em apontar uma queda entre 10% e 15% na produtividade de quem tem livre acesso ao celular durante o trabalho ou enquanto está estudando.

E não precisa nem mesmo ser o acesso ou o manuseio do aparelho, geralmente envolvendo questões alheias ao trabalho e que podem ser motivo para interromper uma atividade ou nos piores casos, servir como um motivo para procrastinar.

Segundo especialistas, apenas ouvir o som de uma notificação, é suficiente para tirar a concentração, já que há a curiosidade em pensar no que se trata, o que em determinadas tarefas significam minutos preciosos até recuperar a linha de raciocínio ou então, um pequeno erro cometido, que precisa de algum tempo para ser corrigido.

Dependendo do grau de interferência, pode acarretar em retrabalho e suas conhecidas consequências.

É preciso lembrar também, que é muito comum que o aparelho esteja usando a rede Wi-Fi da empresa, o que significa um elo de insegurança ou uma via a mais de acesso para as mais variadas ameaças do mundo digital.

Simplesmente proibir o uso do aparelho, não é uma medida simpática. Em vez disso, é importante ter uma política clara visando a conscientização do seu uso moderado, divulgá-la, bem como incluir nas ações de Endomarketing as diretrizes dessa política.

2. Interferência nos relacionamentos

Se por um lado o celular serviu para encurtar as distâncias e facilitar a comunicação e os relacionamentos, como havia sido com o telefone fixo, por outro o que temos visto ultimamente, é justamente o contrário.

Uma pesquisa realizada pela Kaspersky Lab revelou que 55% dos casais já brigaram por causa do uso excessivo do dispositivo por parte do companheiro.

Mas o phubbing – resultado da junção dos termos snubbing (esnobar) e phone (telefone) em inglês – que significa o ato de ignorar as pessoas em detrimento da atenção dispensada ao celular, não fica restrita aos casais. É comum ver essa situação e muitos lugares públicos em que há duas ou mais pessoas reunidas e que em vez de conversarem entre si, estão concentradas demais respondendo um Zap ou interagindo em uma rede social.

Aliás, esse tipo de comportamento, é um dos principais motivadores de muitos as reclassificarem como redes antissociais.

O distanciamento, a menor comunicação, o não acompanhamento evolutivo, bem como um menor compartilhamento de momentos fundamentais entre pais e filhos, tem tido no uso desmedido do celular, uma explicação frequente.

Um estudo com milhares de crianças e adolescentes entre 8 a 13 anos de vários países (Brasil, Austrália, Canadá, França, Reino Unido, Alemanha, República Tcheca e Estados Unidos), identificou que cerca de um terço delas se sentia sem importância quando seus pais estavam distraídos com seus telefones.

De acordo com os pesquisadores, as crianças disseram que tinham de competir com a tecnologia pela atenção dos pais, e 28% das mães e pais reconheceram o problema.

Além disso, 54% das crianças acham que os pais passam muito tempo ao telefone. Cinquenta e dois por cento das mães e pais concordaram com seus filhos e temiam que eles estivessem dando um mau exemplo para eles.

Para se desenvolverem adequadamente, especialmente em algumas etapas da infância, as crianças precisam se sentirem seguras e receberem atenção dos seus pais, bem como vivenciarem momentos de socialização em família.

Além disso, é preciso atentar para o exemplo. Não há como cobrar uma geração que faça diferente do que ela viu seus pais fazendo.

3. Distúrbios psicológicos

Dois dos principais problemas relacionados com o tema, são a dependência digital e a nomofobia, que são respectivamente, os prejuízos na vida pessoal, social ou profissional do indivíduo que tem necessidade – incontrolável na maioria das vezes – de utilizar os meios digitais de modo excessivo e o medo inconsciente de ser ver privado do aparelho celular ou de dispositivos eletrônicos equivalentes, como em determinadas situações, o tablet.

Ambas as situações vêm sendo tratadas tanto como transtornos de ordem comportamental e, portanto, tratados no campo da psicologia e do outro lado, há profissionais que classificam como uma patologia e sendo assim, objeto de estudo e tratamento da psiquiatria.

Em alguns países a dependência digital e a nomofobia recebem atenção do Estado e são vistas como questões de saúde pública, sendo consensual os prejuízos para o indivíduo e para os círculos familiares, sociais e profissionais dos quais ele faz parte.

Entre as muitas consequências, especialmente nos casos mais severos, especialmente quando a pessoa se vê privada de atender sua necessidade, manifesta reações como ansiedade, agressividade, desconforto físico e mental, irritabilidade e até mesmo depressão, comportamentos que algumas vezes se assemelham àqueles que sofrem síndrome de abstinência de algumas dependências químicas.

Questões como isolamento ou distanciamento de pessoas dos seu círculo de convívio, bem como a preferência por contatos virtuais, são também comuns e esse tipo de comportamento a longo prazo acaba por agravar o problema anterior – os relacionamentos.

Não fossem motivos suficientemente bons para repensar a presença e o papel do celular no dia a dia, tem-se demonstrado também que seu uso sistemático, tem afetado negativamente os mecanismos responsáveis pelo pensamento e aprendizado.

Se antes usávamos o raciocínio lógico e as lembranças do que vivemos e aprendemos, agora diante das mais diversas situações uma “googada” resolve. Isso pode ser particularmente preocupante no caso das crianças, que ainda precisam criar essas conexões cerebrais que os adultos já criaram em um passado livre desse tipo de recurso.

4. Problemas de saúde

Certamente que o maior grupo em termos das possíveis consequências do uso abusivo do celular, são os relacionados com a saúde física. A lista é grande:

  • Oftalmológicas – as consequências oftalmológicas são especialmente graves, porque uma vez instaladas, boa parte delas são irreversíveis, como é o caso da miopia ou a degeneração da mácula, sendo que impossível perceber os problemas a curto prazo;

  • Ortopédicas – problemas de posturas incorretas e mantidas por muito tempo, bem como movimentos repetitivos ocasionam lesões como tendinites nos dedos, nos pulsos e até nos cotovelos, bem como dores nos ombros e pescoço;

  • Sobrepeso – a relação entre o ganho de peso e o uso do celular, deve-se tanto pela piora da qualidade das refeições, seja porque é um público em que o sedentarismo é mais frequente;

  • Qualidade do sono – o hábito de levar o aparelho para a cama e manter as notificações ativas durante a noite, afetam a qualidade do sono e costumam produzir insônia. Noites ruins de sono, principalmente quando se tornam frequentes, podem acarretar ou agravar diversos outros problemas de saúde.

5. Segurança

Os casos de acidentes com pessoas que não conseguem desviar o olhar das telas ao usar uma escada rolante ou ao até ao atravessar uma rua, são cada vez mais frequentes. O pior é quando envolvem terceiros.

Mas há uma consequência cujos números acendem o alerta do quão grave é a questão e as dimensões que vem tomando, que é o uso ao volante.

Estudos e pesquisas revelam que o uso de celulares enquanto se dirige, supera riscos por ingestão de álcool, podendo aumentar o risco de acidentes em até 400%.

De acordo com a ABRAMET (Associação Brasileira de Medicina do Tráfego), os acidentes decorrentes do uso do aparelho celular pelos motoristas, já é a segunda causa por morte no trânsito no país, ficando abaixo apenas do excesso de velocidade.

Um condutor que permanece por apenas 4 segundos com os olhos no aparelho, dirigindo a 48 Km/h, percorre 60 metros sem estar atento ao que está ocorrendo na via. A 72 Km/h, a distância sobe para 80 metros, ou seja, o equivalente a aproximadamente 20 carros populares enfileirados.

As consequências desse hábito tão perigoso para si próprio e para terceiros, tem sido cada vez mais enfatizadas nas campanhas de Maio Amarelo.

Conclusão

O celular constitui um dos principais avanços e benefícios da tecnologia, mas o uso indiscriminado e em excesso, pode trazer graves consequências a todos.

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