Qual o futuro da profissão de influenciador digital?
Se em um passado não muito distante o questionamento quanto a escolha profissional resultaria em respostas como, advogado, médico, engenheiro, professor ou bombeiro, hoje pode-se ouvir: quero ser influenciador…
Apesar de muita gente consumir conteúdo de vários desses novos “profissionais” que ascenderam a essa condição com o crescimento da Internet, é difícil para a maioria e até mesmo para alguns candidatos a influenciador, explicar o que engloba o seu quotidiano ou mesmo se a atividade pode ser vista dessa forma.
O reconhecimento do influenciador digital como profissão
Por ocasião desse post, há no Brasil mais de 2200 ocupações profissionais que são reconhecidas como profissões pelo Ministério do Trabalho e desde fevereiro de 2022, o influenciador digital – ou digital influencer, em inglês – passou a engrossar essa lista, constando devidamente registrada na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) sob o nº 2.534-10.
Ainda não é uma profissão regulamentada, o que exige uma lei associada, a qual só passa a vigorar após tramitação no Congresso Nacional e sanção presidencial.
No entanto, foi um passo importante e em paralelo tem havido movimentos de vários influencers para que os parlamentares trabalhem em torno da regulamentação e já há até iniciativas para um sindicato da categoria.
Qual o futuro da profissão?
Parte da resposta está relacionada e dependente da eventual criação de legislação que regule a profissão, bem como de outras iniciativas, como a criação de sindicatos, associações, conselhos e organizações que apoiem, fomentem e, sobretudo, instituam mecanismos de fiscalização e controle da atividade.
Imagine que não houvesse o mesmo para a profissão de médico. Nesse hipotético cenário, em teoria qualquer pessoa com algum conhecimento de medicamentos e do funcionamento do corpo humano, poderia se autointitular médico e prescrever tratamentos, remédios, fazer consultas e não haveria fiscalização e nem instrumentos para coibir uma atuação inadequada.
Guardadas as devidas proporções, é quase esse o cenário atual para quem pretende atuar como digital influencer.
Um estudo recente realizado pela Nielsen, coloca o Brasil como sendo o país dos influenciadores, uma vez que são mais de 10 milhões se considerarmos os que têm pelo menos 1000 seguidores, nas plataformas Instagram, TikTok e YouTube.
Quando toma-se por base os que tem pelo menos 10 mil seguidores, o número ainda assim, é bastante elevado – são 500.000 influencers.
Tem-se a exata dimensão do que esse ainda elevado número representa, ao sabermos que essa segunda quantidade (500 mil) é maior do que o número de engenheiros e equivale ao número de médicos no país e estima-se um crescimento de cerca de 50% no próximo ano.
Em estudo dessa vez da Hootsuite (We Are Social), aponta que o Brasil é o segundo colocado no mundo, em que os usuários de Internet mais seguem influenciadores – 44,3% das pessoas seguem algum influenciador.
Um último dado a respeito, reforça que em breve devemos ter tantos influenciadores quanto seguidores, já que 75% dos jovens brasileiros revelou que desejam ser influenciadores e que o sucesso financeiro é sua principal motivação para desejarem essa condição.
Apesar da atividade ainda não ser regida pela legislação trabalhista, o seu reconhecimento como profissão está em total conformidade com o ordenamento jurídico brasileiro, especialmente o topo e a base da pirâmide de Kelsen (Constituição, Leis Ordinárias e Costumes) e já serve como ponto de partida para que a atuação na área se desenvolva sob condições mais sólidas e seguras, ao mesmo tempo e por paradoxal que pareça, não assegure que qualquer um possa tentar o mesmo.
Deve ficar claro também, que enquanto não houver legislação, o reconhecimento como profissão, não dá as mesmas garantias legais, nem tampouco caracteriza vínculo empregatício, como por exemplo, é caso do analista de mídias sociais, este sim, pode atuar sob o amparo da legislação trabalhista.
Visto de outra forma, a ausência de regulamentação permite que qualquer um, mesmo a despeito de reunir condições básicas para sê-lo e das consequências da sua atuação, atue como influencer e prejudique tanto aqueles que pretendem fazê-lo de forma profissional, produzindo a precarização do setor, como os seguidores eventualmente.
Tal como em qualquer outra atividade, esses “aventureiros” vão aceitar trabalhos por menos, mas também sem os cuidados, as exigências e o profissionalismo que deveria vir acompanhado. Na outra ponta, há empresas que simplesmente destinam verbas muito menores e distribuem entre dezenas de influenciadores, esperando o mesmo resultado que apenas um poderia lhe dar.
Por mais que o influenciador atue junto ao Marketing Digital de uma empresa cliente, seu trabalho é encarado como prestador de serviço ou autônomo, sendo necessário celebrar um contrato entre as partes e devendo ser feito com assessoria jurídica especializada.
Em outras palavras, apesar da Constituição e algumas leis assegurarem alguns direitos, a completa proteção aos trabalhadores da área e a limitação da atuação exclusivamente por parte daqueles que pretendem atuar de modo profissional, dependem de que os projetos de lei existentes saiam do papel.
Como se tornar um profissional na área?
Independente da regulamentação, o fato de figurar na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) já pressupõe uma série de “obrigações” ao profissional da área.
A própria tem uma lista de recomendações de habilidades e competências que o profissional da área deve ter, como habilidade de fazer networking, boa capacidade comunicativa, proatividade, criatividade e iniciativa e que nada mais são do que características desejáveis para desempenhar adequadamente.
De forma mais objetiva, em estudo da mesma CBO sobre atividades do profissional, ela os agrupa em 7 categorias:
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Gestão das redes sociais;
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Monitoramento de mídias sociais;
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Elaboração de planejamento estratégico de Marketing Digital;
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Desenvolvimento / planejamento de produção de conteúdo;
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Gestão de Marketing de Influência;
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Administração de atividades de relacionamentos com o público / seguidores;
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Gestão de resultados de avaliação de desempenho.
Em termos práticos, significa que assim como se exige de um engenheiro ou de um médico, um conjunto de disciplinas de modo que sejam capazes de desempenhar adequadamente suas profissões, do influencer também se espera que ele invista em formação própria com vistas a esse conjunto de competências.
Mas uma vez que não existe uma faculdade ou cursos de nível superior, voltados a formar influenciadores, o que fazer?
Quem pretende atuar na área, precisa se profissionalizar, mesmo que o começo seja casual ou apenas um passatempo ou hobby.
A informalidade precisa dar lugar a um comportamento a altura da responsabilidade que se pretende ao ser capaz de influenciar pessoas e que tanto no papel de empresa (ex: MEI) ou como profissão regulamentada, produz desdobramentos também no âmbito legal.
Além disso, o Código de Defesa do Consumidor (CDC) e o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) já preveem punições para determinadas situações em que a atuação de um influencer configure relações de consumo e publicidade.
De modo geral, é altamente desejável fazer cursos e treinamentos nas seguintes áreas:
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Marketing – ter bons conhecimentos em Marketing, seja o tradicional, seja o Digital, é essencial para que as ações adotadas, baseiem-se em conceitos e não apenas em intuição e experiência. Especificamente no caso do Marketing Digital, há uma série de temas sob ele, que são fundamentais, como Marketing de Conteúdo e SEO, por exemplo;
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Administração – vários dos fundamentos de Administração são importantes na atividade, noções de planejamento (planejamento estratégico, planejamento de conteúdo, etc), administração do tempo, análise estratégica de mercado, custos, métricas e indicadores, etc;
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Psicologia – a psicologia aplicada em publicidade e as questões decorrentes, como por exemplo, como se dão relações de consumo e dos clientes com as marcas e empresas;
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Atualidades – atualidades e noções básicas socioeconômicas, também são desejáveis e que podem contribuir para dar alguma previsibilidade no segmento em que se atua, bem como a posicionar melhor os conteúdos produzidos;
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Tecnologia – especialmente a tecnologia associada a Internet e que compreende desde as redes sociais e seu funcionamento, os principais serviços e recursos, como também software (aplicações) e hardware (câmera, microfone, etc) que servem como ferramentas para realizar o trabalho;
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Ética – a ética é tão essencial, que boa parte das faculdades incluem na grade curricular de muitos cursos de formação superior, um semestre dessa disciplina e que no quotidiano será útil para nortear as relações com seguidores e com as empresas para as quais se prestarão serviços;
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Oratória – a oratória ou a capacidade de falar e expressar-se bem, com fluidez, com retórica, em público, especialmente pelo crescimento no consumo de conteúdos audiovisuais, é outro aspecto que merece atenção na formação profissional.
Naturalmente que aquele que deseja se desenvolver na profissão de influenciador digital, precisa também conhecer tanto quanto possível do tema central ou principal que trata seu conteúdo e evitar invadir a área de outros profissionais.
Ou seja, você até pode ser um influenciador na área de nutrição e, portanto, falar a respeito, desde que seja um nutricionista.
Conclusão
A atividade que começou como um hobby, hoje em dia é uma profissão que requer do influenciador digital um conjunto amplo de competências e formações.