Lentidão com a Internet por conta da quarentena do coronavírus?

Ao longo dos últimos dias, especialmente desde o último dia 23 de março, quando houve a ampliação de ações de fechamento do comércio e limitação ou mesmo a interrupção na atividade de empresas que não prestam serviços considerados essenciais, no intuito de frear o avanço do coronavírus, aumentaram os relatos de lentidão no acesso a determinados serviços e sites na Internet.

Mesmo sites e serviços populares apresentam lentidão no acesso ou mesmo indisponibilidade em alguns momentos, especialmente a partir de certas localidades e condições. A Internet está preparada para o aumento de demanda decorrente do aumento consumo de dados?

Entenda como o coronavírus afetou a Internet

A partir do momento em que governos, no Brasil e no mundo, determinaram medidas de isolamento social, como meio para tentar frear o contágio de novas pessoas e consequentemente a disseminação do COVID-19, o contingente de pessoas confinadas em suas casas, aumentou sobremaneira.

De modo geral, mesmo em dias em que a atividade profissional é a mais baixa, como em domingos ou feriados, a quantidade de pessoas fora de casa, passeando, viajando, fazendo compras, indo à praia, bares e restaurantes, é representativa e em geral durante esses momentos, não estão usando a Internet ou no máximo o fazem por breves instantes usando seus smartphones.

Agora o cenário é outro e temos um elevado número de pessoas em casa, sendo que algumas delas realizando teletrabalho, no que é conhecido como regime home office, ou em outras ações que geralmente envolvem em diferentes graus, o tráfego de dados na Internet e impactando na velocidade da rede:

  • Teletrabalho – o próprio teletrabalho em alguns casos, consome mais dados:

    • Algumas empresas ou segmentos ou mesmo algumas áreas críticas e sensíveis de alguns negócios, exigem conexões à sistemas específicos dentro da empresa, que na modalidade presencial, faz uso apenas de conexões locais (LAN) e, portanto, sem tráfego de Internet;

    • Acesso via VPN, de forma a garantir a segurança dos dados trafegados;

    • Quando é necessário acessos remotos a desktops / estações de trabalho que contém licenças ou dados específicos e se tem que acessar;

  • EAD – algumas universidades e escolas que já dispunham de know-how, estão fornecendo aulas em regime de ensino a distância, que normalmente consome um grande volume de dados, pois as aulas geralmente são transmitidas usando streaming de áudio e vídeo, além de eventuais arquivos que compõem material de apoio, como apresentações e PDFs;

  • Streaming de vídeo – normalmente serviços como o Netflix e o YouTube já constam como os maiores consumidores de tráfego global de dados na Internet. Com a grande quantidade de pessoas em casa e que não estão com tempo ocupado em teletrabalho ou EAD, tem aumentado significativamente a audiência desses serviços;

  • Smart TVs – pelas mesmas razões dos serviços de streaming de vídeo, os aparelhos de TV – especificamente as que têm conectividade com Internet – têm ficado ligados em horários que normalmente não eram utilizados;

  • Notebooks e desktops – em condições normais, os acessos a muitos sites ocorre predominantemente por dispositivos móveis, carregando a versão mobile que geralmente requer menor tráfego de dados. Já em casa, cresce o número de acessos por notebooks e desktops, os quais oferecem uma navegação mais confortável devido às telas maiores e o uso de mouse e teclado, mas que normalmente corresponde às versões mais pesadas dos sites e mesmo de redes sociais, que nos smartphones ocorre por meio de apps;

  • Conexões domésticas – muitas conexões domésticas têm velocidades superiores aos serviços de dados móveis, bem como maior estabilidade e volume de consumo, fazendo com que a navegação permita acessar maior quantidade de conteúdo no mesmo intervalo de tempo;

  • Transações online – observou-se um aumento significativo de transações online, como pagamento de contas e principalmente as compras no comércio eletrônico, que em alguns segmentos, já apresentam um aumento de 180% nas transações online;

  • Operadoras de telefonia – a maioria das empresas de telefonia, apresentou importante aumento nos planos de dados móveis oferecidos. Empresas como Claro, Tim e Vivo, anunciaram medidas como liberação de vários canais de TV por assinatura para todos os planos contratados, quando fornecem esse serviço, bônus que concedem mais tráfego de dados até mesmo em planos pré-pagos, aumento das velocidades, isenção do tráfego de dados para determinados serviços, como acesso ao Microsoft Office 365 e ferramentas e serviços relacionados ao coronavírus, como o app de informações do UNA-SUS.

Apesar de todo esse significativo aumento de demanda, em linhas gerais a velocidade da Internet em algumas situações, tem se mantido dentro de padrões aceitáveis.

Nos data centers, bem como em muitos pontos da infraestrutura da Internet, existem mecanismos de resiliência, redundância e capacidade de operar mesmo sob picos de demanda. Em linhas gerais, muitas infraestruturas são dimensionadas para operar em cerca de 50% de sua capacidade máxima, o que significa que podem praticamente dobrar sua capacidade de oferta de serviço.

No entanto, houve demandas que superaram em muito a capacidade instalada de alguns serviços, como foi o caso do Microsoft Teams na Europa.

O que está sendo feito para manter o Brasil conectado?

Todos os elos integrantes em diversas esferas, vêm aos poucos se mobilizando para garantir que o elevado aumento de demanda observado, não se traduza em um colapso ou mesmo evitar que os gargalos aconteçam.

Uma das iniciativas nesse sentido, partiu da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), órgão do governo federal, que no último dia 20 de março, firmou um compromisso com o setor de telecom, no sentido de oferecer garantias para manter o país conectado.

São signatários do compromisso, até o momento da publicação deste artigo, a própria Anatel, a ABRINT (Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações), NEO, Telcomp, Sinditelebrasil (Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviços Móvel Celular e Pessoal), Algar Telecom, Claro, Nextel, Oi, Sercomtel, Telefonica e Tim.

Entre o conjunto de medidas que compõem o acordo, destacam-se:

  • Plano de ação para manter os serviços disponíveis mesmo diante do aumento de demanda;

  • Prioridade aos órgãos que fornecem serviço de utilidade pública, como postos de saúde e hospitais;

  • Gratuidade no acesso ao aplicativo com informações do coronavírus;

  • Instituição de um gabinete de crise, orientado a ações de contraposição aos efeitos da crise;

  • Criação de um grupo, que entre outras atribuições, vai avaliar em caráter permanente as condições de tráfego e capacidade das redes de telecomunicações;

  • As equipes técnicas, administrativas e de atendimento mantenham-se operacionais, desde que observando os protocolos de segurança relacionados com a saúde dos colaboradores e da população em geral, bem como as possíveis restrições de mobilidade impostas pelo poder público.

Paralelamente a isso, empresas fornecedoras de conteúdo, como por exemplo, o Netflix, estão adotando medidas no sentido de minorar as demandas. Especificamente no caso do Netflix, vai ser colocado em prática a redução da qualidade de transmissão de vídeos. Espera-se que com a medida, ocorra uma redução de cerca de 25% do tráfego de dados produzido pelo serviço.

Outros serviços também devem adotar ações similares, com o mesmo objetivo, como Facebook e Instagram, YouTube e Amazon Prime.

Porém é importante salientar que em algumas situações, o problema ocorre no que se chama “a última milha”, em que infraestrutura pode não ser adequada para o aumento de demanda ocorrido, ou mesmo, quando na entrada de uma residência é entregue os valores nominais contratados, mas há concorrência interna entre os usuários, que estão fazendo download de conteúdo, jogando online, navegando, entre outros. Ou seja, dois ou mais usuários estão esgotando parte da disponibilidade de tráfego ou da largura de banda disponível.

Conclusão

A demanda por tráfego de dados, aumentou a taxas importantes, em função da mudança no consumo decorrente do isolamento social e do teletrabalho, significando em alguns casos um congestionamento de dados em alguns pontos da Internet, impactando diretamente na velocidade de acesso a sites e serviços diversos.

Comentários ({{totalComentarios}})