Starlink, o que é, como funciona e dúvidas mais comuns

O mês de Maio de 2022 foi marcado por manchetes, notícias e especulações dos motivos que trouxeram Elon Musk ao Brasil.

Entre tudo o que possivelmente foi tratado em sua visita, um assunto certamente tem importância para a questão da conectividade com a Internet – o serviço Starlink.

Possivelmente muita gente já ouviu falar, mas dentre estes, muitos também não são capazes de explicar exatamente do que se trata e como isso pode afetar-nos.

O que é Starlink, como funciona e as respostas para as perguntas mais comuns a respeito da sua ousada proposta, você vai descobrir a partir de agora, nesse conteúdo que preparamos.

O que é a Starlink?

Indo direto ao ponto, a Starlink é o serviço do bilionário Elon Musk e da sua empresa aeroespacial, a SpaceX, que tem a audaciosa pretensão de fornecer acesso à Internet a qualquer localidade do planeta, mesmo nas regiões mais remotas e afastadas, fazendo uso de uma gigantesca infraestrutura baseada em satélites e outras tecnologias.

O serviço quando estiver em seu auge, prevê contar com uma rede de até 40.000 (40 mil!) satélites que devem estar na chamada órbita baixa, que no caso é de cerca de 550 Km, formando uma constelação que é capaz de cobrir todo o globo terrestre.

Para efeitos de comparação, os antigos satélites geoestacionários orbitam a altitudes que variam entre 36.000 e 42.000 quilômetros, ou mais de 70 vezes mais elevados em relação à superfície terrestre.

Graças à quantidade de satélites, bem como a altitude que orbitam, é possível por meio de antenas na terra, trocar dados usando a faixa de frequência Ka, que é compreendida entre 27 e 40 GHz, que são as frequências mais altas e o maior espectro de banda para operar e que é próxima da faixa de frequência do 5G no Brasil, a qual abrange frequências entre 26 e 28 GHz.

Estando mais baixos que os satélites geoestacionários e não estáticos em relação a um ponto terrestre, como os primeiros, mas movendo-se ao redor do planeta e em grande quantidade, a ideia é que sempre exista um satélite razoavelmente próximo da antena dos usuários, reduzindo o tempo necessário para a troca de dados – a chamada latência.

Atualmente a empresa SpaceX, tem autorização para lançar “apenas” 30.000 satélites, do total de 40.000 que pretendem. No entanto, uma quantidade bem menor – inferior a 1700 – já é suficiente para garantir uma camada de cobertura total do planeta.

Com isso, pretende-se que seja possível oferecer conectividade mesmo para as localidades mais afastadas de qualquer centro urbano e que atualmente não contam com sinal para acesso de Internet, por falta da infraestrutura necessária nos modelos mais comuns de acesso que a maioria de nós conhece e usa.

O acesso à Internet por meio de satélite não é exatamente uma novidade. Já existe desde os anos 90.

No entanto, as alternativas anteriores têm uma série de diferenças, como velocidades de download e especialmente de upload, bastante limitadas. Há ainda restrições no tráfego e latência bastante elevada, que faz com que o atraso ou delay seja grande, atrapalhando aplicações em tempo real, como comunicação e jogos online, por exemplo.

As diferenças entre o acesso à Internet por meio de satélite que já conhecíamos e o novo serviço da SpaceX, deve-se predominantemente pela quantidade de satélites e a distância da órbita. Nos serviços conhecidos e antigos, um, dois ou no máximo três satélites são responsáveis por servir de rota para os dados de todos os usuários, reduzindo assim a largura de banda disponível. A grande altitude produz a elevada latência, pois a distância que as ondas precisam percorrer é dezenas de vezes maior.

Já com o Starlink, há a perspectiva de velocidades similares e em alguns casos até superiores ao que temos em muitos serviços por cabo e até fibra ótica e latências apenas ligeiramente superiores.

Como é o uso e instalação do Starlink?

Você já sabe que em vez de um cabo em um poste ou subterrâneo, ligando sua casa ou empresa ao seu provedor de acesso, os dados usam ondas de rádio frequência bem elevadas e em um amplo espectro.

Para isso, você precisa adquirir um kit que é composto de uma base em tripé, uma fonte, um roteador, a antena parabólica, que faz a recepção e emissão das ondas e que tem tamanho similar aquelas usadas em serviços como Net ou DirecTV, bem como os cabos que conectam fisicamente tudo.

A fonte contém duas entradas RJ-45, sendo uma para o cabo que vem da antena e a outra serve para o cabo que vai ao roteador sem fio, já em padrão 802.11ax, ou seja, é preparado para o Wi-Fi 6. Os cabos transmitem dados e energia, o que reduz a quantidade de fios que temos nos aparelhos que estamos acostumados.

O cabo que une fonte e antena, tem 30 metros, uma vez que a antena precisa ser instalada em ambiente externo, pois tem necessidade de ter visada para os satélites.

O conceito de visada para satélite, é de que na linha imaginária formada entre ele e a antena, não exista obstáculo físico que impeça de enxergá-lo, se isso fosse possível a olho nu.

Obviamente, em condições normais e na altitude final de operação, não é possível enxergarmos sem algum recurso auxiliar, mas as ondas de rádio frequência não devem ter algum tipo de obstrução na área de visada, porque esse comprimento de onda usado não é adequado para “contornar” obstáculos físicos.

Completa a lista necessária para começar a usar, o app do Starlink, disponível para Android ou iOS. É por ele que entre outras coisas, você descobre se o local que você escolheu para posicionar a antena é bom em termos de visada para os satélites disponíveis.

Montagem e instalação do kit é bastante simples e o mais difícil – porém não tanto – talvez seja definir o local externo em que a antena será posicionada, sendo indicado o lugar mais alto possível para ter poucas áreas com obstáculos físicos que possam impedir a visada, como um prédio ou a copa de uma árvore, o que é chamado também de área de sombra.

Após o Starlink ser iniciado, a antena irá posicionar-se automaticamente procurando um satélite próximo baseado no teste de obstrução e visada feito anteriormente e começará a emitir o sinal de Wi-Fi, geralmente sob o nome Starlink seguido de um número de 5 dígitos.

A primeira conexão é feita sem credenciais e nesse primeiro acesso você deve informar o nome da rede e atribuir uma senha. Muito semelhante aos passos da configuração do seu roteador Wi-Fi convencional.

Após esses poucos passos, você será automaticamente desconectado e a seguir será solicitada a conexão autenticada, usando o nome de rede definido e a respectiva senha.

Resumidamente, com tudo instalado e as poucas etapas de configuração no app feitas, o equipamento começa a operar.

Leva um tempo até conseguir conexão com a Internet. Durante esse intervalo, o sistema do Starlink busca tudo relacionado à infraestrutura da região em que se está localizado, como por exemplo, os satélites próximos, além de outros fatores que veremos a seguir.

Como funciona o Starlink?

O papel do kit é receber e enviar sinais de rádio para o satélite mais próximo disponível. A antena conta com um motor de passo interno, que realiza o movimento automático para posicioná-la idealmente. Logo, nenhum ajuste manual na posição da antena, precisa ou deve ser feito.

A infraestrutura é formada pelas antenas dos usuários, os satélites, os gateways e os POPs (Point Of Presence) ou “Pontos de Presença” em português.

Os dados recebidos e transmitidos pelos satélites, são trocados na Terra, com os chamados gateways e que nada mais são do que antenas maiores, mais sensíveis e de maior capacidade de transmissão de dados que aquelas usadas pelos usuários e que enviam os dados para os POPs, sendo que estes estão localizados em data centers.

Entre gateways e POPs, as conexões são físicas por fibra ótica.

Eis como a rede da Starlink troca dados com as demais redes que compõem a Internet. Ou seja, os gateways e os POPs nos data centers, são a parte da infraestrutura responsável por conectar e integrar-se fisicamente a todo o resto que já utilizamos.

No Brasil, o único POP existente em Maio de 2022, está fisicamente no data center Equinix SP4, em Barueri, São Paulo.

Na imagem a seguir, obtida no site Starlink.sx, é possível visualizar o POP citado (triângulo roxo), bem como os gateways (pontos amarelos) mais próximos, os satélites nas imediações (pontos azuis) e com quais gateways eles estão “comunicando-se” (linhas pontilhadas amarelas).

Starlink - Ponto de Presença (POP) e gateways

Por ocasião desse post, já há mais de 2200 satélites, os quais têm sido enviados pelos foguetes Falcon 9, da SpaceX, cada qual transportando algo entre 50 e 60 satélites por lançamento.

No futuro, a medida que a rede de satélites crescer, o projeto prevê que exista troca de dados entre os satélites, fazendo uso de laser, para otimizar as menores distâncias com gateways e pop’s.

Dessa forma, considere um usuário localizado em uma ilha ou mesmo em um navio, no meio do oceano Atlântico, equidistante da América do Sul e da África, em que os gateways mais próximos podem estar muito distantes, mas com vários satélites orbitando no caminho entre ambos, podem servir como ponte de transmissão dos dados, fazendo essa comunicação por laser.

Starlink no Brasil – esclarecendo algumas mais algumas coisas

Bem, se você como a maioria achou tudo muito bacana, inovador e que pode ser uma alternativa interessante, antes de procurar como assinar o serviço, precisa saber mais algumas coisas a respeito, bem como as condições em que Starlink chegou aos brasileiros.

Preço do Starlink

A política de preços da empresa é a mesma adotada nos EUA, onde o plano de assinatura mais barato residencial é de US$ 110,00 e o kit sai por US$ 599,00 sem impostos.

Aqui também usa a mesma política de divulgar valores sem impostos, porém aplicando o câmbio. Portanto, dependendo da variação do câmbio quando você estiver lendo essa matéria, os valores podem ter sofrido alterações.

No mês de Maio de 2022, o site da empresa apresenta a mensalidade do serviço, como sendo de R$ 530,00 e o kit saindo por R$ 3.000,00, ambos sem impostos.

Há incidência de aproximadamente 40% de impostos sobre o serviço e 50% sobre o kit. Portanto, isso deve ser acrescido para você descobrir quanto vai pagar se quiser ter acesso à rede mundial de computadores usando o Starlink.

Sim, é bastante mais caro que os serviços convencionais e só caberá no bolso de uns poucos!

Alternativa a outros serviços

O Starlink não é e pelo menos no curto e médio prazo, não pretende ser alternativa aos serviços por cabo, sejam ou não de fibra ótica.

Pode ser oportuno comparar questões como velocidade de download e upload e latência, apenas para termos ideia do quão bom é. Fora dessa situação, não faz sentido comparações ou considerar como alternativa, visto que pelo menos no momento ele surge como opção para aqueles que só têm o acesso por satélite convencional ou nem isso.

Sendo assim, argumentar que os serviços de fibra ótica, por exemplo, entregam um desempenho similar, mas por valores muito inferiores, não faz sentido. Quem tem essa opção, não deve considerar migrar para o Starlink. Pelo menos não agora ou no futuro próximo.

Cobertura e infraestrutura do Starlink

Em 2022 a quantidade de satélites e principalmente de gateways e POPs em território brasileiro, ainda é pequena.

Como informamos há apenas um POP na região metropolitana de São Paulo. Os gateways, que são um elemento fundamental para a conectividade, também são poucos e estão localizados próximos a alguns dos maiores centros urbanos.

A consequência disso, é que a partir de uma determinada região geográfica, o satélite fica sem comunicação com um gateway. É o caso por exemplo, de um satélite passando sobre Santarém (PA) ou mesmo Manaus (AM) e o gateway mais próximo, está em São Gonçalo do Amarante, no Ceará e não está suficientemente próximo para conectar-se.

Starlink - Sem gateway e serviço sobre Manaus e SantarémPortanto, a infraestrutura implantada e funcional atualmente, não dá cobertura justamente para as regiões com menor adensamento populacional e mais isoladas geograficamente e que são aquelas em que a tecnologia visa contemplar.

Somente as zonas rurais dos estados mais ricos, localizados próximos à região costeira e com os maiores centros urbanos, podem beneficiar-se do serviço.

Outra questão relacionada com a infraestrutura ainda diminuta, é que conforme aumenta a distância entre gateways e satélites, aumenta a latência e, portanto, em regiões mais afastadas e com menor quantidade de gateways tende a aumentar a latência e a conexão ser menos adequada para aplicações que requerem baixa latência.

Por fim, ainda há poucos usuários no país, mas como ficarão as velocidades conforme houver aumento de usuários?

Se não houver um crescimento da infraestrutura que acompanhe, há a tendência do desempenho degradar, já que um satélite dispõe de uma largura de banda definida e finita. É como no seu roteador, em que a medida em que mais usuários dividem o sinal, cada um observa diminuição do desempenho por ter que compartilhar a banda com mais pessoas / dispositivos.

Portabilidade do Starlink

Embora haja casos em que as pessoas tenham assinado o serviço para um endereço e estejam usando-o em outro, a portabilidade precisa ser contratada e o valor de 25,00 dólares, com a devida conversão e impostos, precisa ser pago.

A portabilidade refere-se à possibilidade de você poder contratar o serviço para um endereço, mas levar o kit para sua casa de campo ou praia, ou até mesmo para um outro estado.

Segurança e controle do Starlink

Assim como no caso da portabilidade, essa não é uma questão exclusiva do serviço no Brasil.

Para o atual modelo de roteador e nessa fase do serviço, ainda considerado em fase beta, ao tentar acessar o aparelho da Starlink pelo navegador, digitando-se 192.168.0.1 ou outros endereços usados como padrão pela maior parte dos roteadores sem fio, não há uma interface de administração.

Esse é um recurso essencial, uma vez que permite que se faça configurações avançadas, como filtragem e controle de tráfego, fechar ou liberar portas, bloquear ou permitir determinados endereços MAC (Mac Address), mudar o DNS, determinar DHCP dinâmico / automático ou estático, entre outros aspectos que são essenciais para a segurança do Wi-Fi e controle do uso do sinal.

Compra e propriedade do kit Starlink

O primeiro grande problema já citado, é o valor do kit, o câmbio e impostos, que tornam a adesão ao serviço restrita àqueles que têm um poder aquisitivo maior.

Mas há outras implicações.

Se eventualmente você cancela o serviço, você fica com um equipamento caro e sem serventia alguma.

Nos serviços que estamos acostumados, os aparelhos necessários são cedidos em regime de comodato, ou seja, são de propriedade do serviço e ficam sob sua custódia e usufruto apenas enquanto durar a prestação dos serviços.

Havendo a necessidade de manutenção, troca do equipamento, upgrade, o serviço o faz sem custos. Com equipamento próprio, qualquer manutenção, quebra ou melhoria para um superior ou mais atualizado, exigirá gastos adicionais do usuário.

Digamos que o cabo de 30 metros fornecido junto com o aparelho seja insuficiente para atingir a fixação da antena em um ponto de boa visada. Nesse caso, quaisquer adaptações e afins, será preciso recorrer ao suporte da Starlink, porque simplesmente você não pode fazer ou mandar fazer um cabo maior e substituí-lo, pois é um cabo especial e fixado internamente na antena.

Desempenho do Starlink

O desempenho do equipamento é outro fator que sofre influência decisiva da infraestrutura implantada e do ainda reduzido número de usuários brasileiros.

Há uma boa quantidade de sites especializados, blogs e canais no YouTube em que foram feitos testes de velocidade e os valores para download, upload e latência, estão de acordo e até superam o que é divulgado pelo Starlink e alguns serviços de fibra ótica.

No entanto, observa-se que a grande maioria foram feitos em regiões relativamente próximas de gateways, mas nos poucos casos de regiões mais afastadas, o desempenho cai, apesar de ainda estar dentro do limite inferior, reforçando a tese de que a proximidade com os gateways é fator crucial de performance.

Outro aspecto que precisa ser considerado, é que o serviço tem oscilações e quedas de conectividade, que mesmo sendo rapidamente restabelecidas, afetam o todo. No download de arquivos grandes e que demandam tempo para conclusão, as oscilações e quedas fazem-se notar e resultam em velocidades médias de acordo com muitos serviços que já estamos acostumados.

Conclusão

O Starlink é o serviço inovador de conectividade para Internet, com uma proposta ousada e para um público distinto, com qualidades e defeitos importantes.

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