Julho Amarelo: tudo o que é importante saber sobre as hepatites virais
Entre todas as campanhas de cores que acontecem e que vêm se consolidando ano a ano, uma tem amparo por uma lei de 2019, que é a de Julho Amarelo.
Como ocorre com as demais, ao longo de todo o mês de julho, a sociedade civil, as empresas e o Estado, por meio das Secretarias de Saúde dos estados e municípios, bem como pelo Ministério da Saúde, desenvolvem ações das mais diversas direcionadas ao esclarecimento da população e ao combate de uma doença que pode ser fatal.
Mas o que é o Julho Amarelo, por que é importante e como as empresas podem aderir, é o que abordaremos no presente post.
O que é o Julho Amarelo?
Tal como os demais meses que compõem o Calendário Anual de Cores, Julho Amarelo é o mês dedicado a ações de conscientização e combate a um mal que aflige uma parcela importante da população e que nesse caso, são as hepatites virais.
Não se trata apenas de uma luta nacional, tanto que 28 de julho foi criado em 2010 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como o Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais.
O dia foi escolhido para homenagear o cientista Dr. Baruch Blumberg, nascido nessa data e que foi ganhador do Prêmio Nobel, por ter descoberto o vírus da hepatite B e tendo desenvolvido, tanto um teste de diagnóstico eficiente, bem como a vacina para esse tipo de hepatite.
Segundo levantamento da OMS, em todo o mundo vem ocorrendo muitos casos de infecções agudas inexplicadas por hepatite que afetam crianças.
Em função disso, em conjunto com cientistas e formuladores de políticas dos países mais afetados, a OMS está trabalhando para descobrir as causas desse surto, o qual não parece ter origem em nenhum dos 5 tipos conhecidos de vírus da hepatite.
No Brasil, a campanha que envolve um conjunto de ações e de iniciativas direcionadas ao enfrentamento das hepatites virais, com foco na conscientização, na prevenção, na assistência, na proteção das pessoas afetadas, bem como na promoção dos direitos humanos, por meio da lei 14.613/23.
A nova lei altera a lei de 2019, que apenas tornava oficial o mês, porém não previa nenhuma ação específica.
Agora, com a publicação da lei no Diário Oficial, foi institucionalizada a realização de ações que incluem palestras, atividades educativas, veiculação de campanhas de mídia, realização de eventos e a iluminação de prédios públicos com luzes de cor amarela no mês de julho.
Participam diversos órgãos da administração pública e da sociedade civil e recebem cooperação de organismos internacionais com presença e atuação no país e sob os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS).
O que são as hepatites virais?
A compreensão do que é hepatite viral, passa por conhecer o que é genericamente hepatite e que é uma inflamação do fígado. No caso das manifestações virais, como é de se supor, são as causadas por vírus, já que pode ocorrer também pelo uso de alguns medicamentos, álcool e outras drogas, assim como por doenças autoimunes, metabólicas ou genéticas.
Um dos grandes problemas da hepatite, é que nem sempre a doença apresenta sintomas. Por conta das manifestações assintomáticas, não são raros os casos em que a doença evolua para quadros mais graves, como câncer hepático ou cirrose, sem que o paciente tenha um diagnóstico e, portanto, adote o tratamento indicado.
Segundo estudos da OMS, nas Américas estima-se que apenas 18% dos que têm hepatite B, sabem que estão infectados e destes, apenas 3% recebem algum tratamento.
No Brasil os casos com maior incidência na população, são as hepatites do tipo A, B e C, embora existam também os tipos D e E, mas que são menos frequentes.
Para todos os tipos de hepatites virais, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece diagnóstico e tratamento gratuitos.
O que são os tipos de hepatite viral?
A hepatite viral é a forma da doença originária da infecção e inflamação do fígado por vírus, sendo que há tipos diferentes, cada qual recebendo uma letra (A, B, C, D e E) que a distingue e nomeia.
Cada tipo de hepatite viral possui características específicas em termos de transmissão, gravidade, tratamento e prevenção.
Hepatite A
É o tipo com o maior número de casos registrados no país.
Está diretamente relacionada às condições de saneamento básico e de higiene, como por exemplo, água e alimentos contaminados.
Ocorre também a partir do contato com uma pessoa infectada.
É uma infecção leve e se cura sozinha, porém existe vacina, a qual é segura e confiável, de forma que é possível evitar o contágio.
Hepatite B
É o segundo tipo com maior incidência na população brasileira.
A maior proporção de transmissão, ocorre por via sexual e contato sanguíneo. Ou seja, por meio de contato com sangue e fluidos corporais infectados (como sêmen e secreções vaginais), relação sexual desprotegida, pelo compartilhamento de materiais no uso de drogas injetáveis, inaladas e pipadas e uso de materiais não esterilizados (alicates de unha, aparelhos de barbear e depilar, instrumentos de tatuagem e piercings, materiais cirúrgicos ou odontológicos).
Em outras palavras, há uma série de situações quotidianas que podem expor uma pessoa ao vírus do tipo B, como por exemplo, a ida ao salão de cabeleireiro ou barbeiro em que haja o uso de certos instrumentos sem a devida esterilização ou o uso de itens não descartáveis, como da lâmina de barbear.
Sexo seguro, com uso de preservativo, além da vacinação, cuja vacina para esse tipo é segura e confiável, são algumas das práticas indicadas para prevenção.
Hepatite C
Transmitida principalmente pelo contato com sangue contaminado, como compartilhamento de seringas ou equipamentos para uso de drogas injetáveis.
É considerada a maior epidemia da humanidade atualmente, sendo que se estime que os casos de hepatite do tipo C, superem em cinco vezes os casos de AIDS/HIV.
Uma das razões da grande disseminação desse tipo, é que tal como o tipo B, são manifestações “silenciosas”, porque a pessoa não apresenta sintomas.
A hepatite C é a principal causa de transplantes de fígado, sendo que a doença pode evoluir e causar cirrose e câncer de fígado.
Para esse tipo, não há uma vacina que confira proteção. No entanto, existem medicamentos que devem ser ministrados para o tratamento adequado e cura, os antivirais, sendo alguns disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), como a Ribavirina.
Hepatite D
Causada pelo vírus da hepatite D (VHD), esse vírus só infecta aqueles que já são portadores do vírus da hepatite B, razão pela qual a incidência desse tipo ser menor que os três anteriores.
Outro fator que explica o menor número de casos, é que a infecção ocorre por meio de contato com sangue ou fluidos corporais infectados e, portanto, menos variedade de situações que o tipo B, por exemplo.
A hepatite D crônica é considerada a forma mais grave de hepatite viral crônica, com progressão mais rápida para cirrose e um risco maior de morte, sendo que a taxa de mortalidade desse tipo de hepatite, é equiparada ao HIV e a tuberculose.
Hepatite E
Transmitida por meio de contato com o vírus do tipo E (VHE), dá-se principalmente por via digestiva (transmissão fecal-oral), geralmente com a ingestão de água e/ou alimentos contaminados.
É o tipo que produz epidemias nas regiões em que as condições de saneamento básico são precárias ou inexistem, com fontes e mananciais contaminados, falta de higiene pessoal apropriada e alimentos contaminados e que não recebem higienização adequada.
A maioria das infecções é aguda e se resolve espontaneamente, como no tipo A.
A hepatite E não se torna crônica, mas é preciso mais cuidados e acompanhamento no caso de mulheres grávidas que forem infectadas, pois elas podem apresentar formas mais graves da doença.
Como ocorre o contágio da hepatite
Embora tenhamos abordado as principais formas de acordo com o tipo de hepatite, é sempre oportuno conhecer todas as formas, de modo a que possamos nos cercarmos de cuidados, os quais servem também para prevenção de outras doenças infectocontagiosas.
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Contágio fecal-oral, especialmente em locais com condições precárias ou inexistentes de saneamento básico;
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Fontes de água contaminada, como poços próximos de fossas ou rios que recebem esgoto sem tratamento, águas de alagamentos / enchentes;
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Higiene pessoal inadequada;
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Alimentos sem manipulação adequada e higienização. Peixes, mariscos e frutos do mar, devem ser bem cozidos, especialmente quando não se sabe a procedência;
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Contato com sangue contaminado, através do compartilhamento de seringas / agulhas;
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Tatuagem e piercing, quando o equipamento utilizado não foi esterilizado;
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Lâminas de barbear, alicates de unha e quaisquer objetos perfuro-cortantes;
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Da mãe para o filho durante a gravidez, na chamada transmissão vertical;
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Por meio de transfusão de sangue ou hemoderivados.
O contágio por meio de transfusão sanguínea no Brasil, atualmente é considerado de baixíssimo risco, uma vez que os procedimentos da coleta por parte dos hemocentros, conta com maior controle e a melhoria das tecnologias de triagem de doadores, além da utilização de sistemas de controle de qualidade mais eficientes.
Existe recomendação por parte do SUS que todas as pessoas com mais de 45 anos de idade façam o teste, em qualquer posto de saúde e, portanto, é gratuito. Isso porque as infecções causadas pelos vírus das hepatites B ou C frequentemente se tornam crônicas.
Como nem sempre apresentam sintomas, muitas pessoas desconhecem ter a doença, possibilitando que ela evolua ao longo de anos. O problema se torna especialmente mais grave, porque o avanço da infecção compromete o fígado, agravando-se em uma fibrose avançada ou cirrose, que podem levar ao desenvolvimento de câncer e a necessidade de transplante do órgão.
Em caso de resultado positivo, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento para todos os tipos de hepatite, independentemente do grau de lesão do fígado.
Quais os sintomas das hepatites virais?
É preciso ter em mente que nem todo tipo de hepatite viral produz sintomas. Sendo assim, é importante efetuar o teste gratuito em um posto de saúde.
Porém há casos em que há sintomas, os quais podem ser:
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Mal-estar geral e uma série de sintomas associados, como febre, cansaço, dores articulares, dor abdominal, dores de cabeça, náuseas e frequentemente vômitos;
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Icterícia, que é um termo usado para descrever a coloração amarelada ou alaranjada da pele e das conjuntivas (“branco dos olhos”), causada pelo acúmulo de bilirrubina no sangue, a qual não é metabolizada pelo fígado devido à infecção / inflamação;
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Acolia fecal (as fezes ficam com aspecto esbranquiçado, semelhantes a massa de vidraceiro);
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Colúria (urina escura, causada pela eliminação do pigmento chamado de bilirrubina, que normalmente seria metabolizado pelo fígado).
Como as empresas podem promover o Julho Amarelo?
Naturalmente que a primeira ação que vem a mente da maioria, está relacionada com o mais fácil e mais comum, como a comunicação visual, por meio de cartazes, banners, bottons e todo tipo de material impresso que ajude a lembrar que a empresa passa pela campanha do Julho Amarelo.
Embora importante, ainda é pouco, visto que há um pequeno conjunto prático e ativo de ações, que se não está ao alcance de todas, está da maioria das empresas, cabendo aos Recursos Humanos coordenar as ações possíveis:
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Informação – como na maioria das campanhas do gênero, um dos pilares é a informação. Como vimos, há tipos “silenciosos” de hepatite e só o conhecimento produz a conscientização necessária. Se nem toda empresa pode promover uma palestra com um profissional de saúde, a divulgação e circulação de material semelhante ao presente conteúdo, é possível para todas;
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Higiene – vimos também que o contágio muitas vezes acontece por condições de higiene inadequadas. Práticas simples e acessíveis, como higienização frequente das mãos, adoção de copos descartáveis, ambiente de trabalho e banheiros adequadamente limpos, especialmente se há instalações para refeições, são algumas das medidas básicas;
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Educação – hábitos só se consolidam ao longo do tempo e da repetição, sendo que a empresa tem papel importante nesse processo, seja por meio da informação, da comunicação visual, do comportamento da maioria e da conscientização. Promover hábitos mais saudáveis e que contribuem para evitar as formas de contágio, pode ser papel das empresas;
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Intranet – se a empresa tem intranet, colocar a campanha para acesso dos colaboradores, é uma ação possível e acessível;
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Newsletter – as empresas que enviam newsletter para seus clientes, podem incluir link de um artigo semelhante ao presente, de forma a contribuir como mais um ente da sociedade no processo de difusão da informação;
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Testagem – a testagem é a única maneira eficaz de diagnóstico da hepatite e sendo gratuita, a empresa deve incentivar que tanto todos os colaboradores a façam, bem como seus familiares.
Quando uma empresa se engaja verdadeiramente na campanha de Julho Amarelo, ela age com responsabilidade social e contribui diretamente para a qualidade de vida no trabalho, para a saúde e o bem-estar do seu capital humano.
Conclusão
Julho Amarelo é o mês destinado ao conjunto de ações de conscientização, prevenção e combate aos diferentes tipos de hepatites virais.