Tecnologia: Quando seu concorrente não é quem você pensa que é!
Até alguns poucos anos atrás, era muito claro para os decisores e gestores saber quem eram os concorrentes. Se seu negócio era aviação comercial, os concorrentes eram as outras empresas de aviação comercial e ponto! Não havia dúvidas, não havia surpresas.
Mas os tempos são outros, as necessidades e especialmente a tecnologia, mudaram radicalmente vários paradigmas e um deles, é o da concorrência em determinados segmentos de negócios.
Entenda o que mudou e o que fazer, quando seu concorrente já não é mais quem você pensa que é!
O paradigma da concorrência
Especialmente para aqueles que nasceram e cresceram como profissionais de um segmento de mercado ou como empresas, há aproximadamente duas décadas atrás, determinar quais eram os produtos ou serviços e as empresas concorrentes, era fácil.
Era óbvio. Rapidamente qualquer um era capaz de citar os cinco principais nomes com os quais disputava-se uma fatia do mercado (Market Share).
Porém já naquela época, algumas coisas começaram a mudar sutilmente.
Os primeiros segmentos a serem afetados, não conseguiram enxergar que novos tempos se aproximavam e que alguns fatores novos e inesperados, consolidavam-se de modo irreversível e que mudariam radicalmente o que eles sempre acreditaram.
Vamos nos apoiar na citação inicial deste artigo e considerar as empresas de aviação comercial.
Entre os nichos de consumidores que eles sempre atenderam, quase sempre houve o grupo de clientes que usavam o serviço para fazer negócios. Ainda existe essa classe de passageiros – a classe executiva -, a qual não pode ser desprezada, mas não é mais o que foi em um determinado momento no passado.
O que mudou? A tecnologia! As empresas não perderam clientes umas para as outras, mas todas perderam para a tecnologia.
Se antes muitos negócios só aconteciam por necessidade presencial dos homens chave das empresas, deslocando-se por avião até os lugares onde os negócios seriam fechados, com adventos como e-mail, vídeo conferência, fax, Internet, entre outros recursos, esses decisores importantes não tinham mais a necessidade de ausentar-se por horas ou até dias de seus postos de trabalho.
Agora muitas reuniões aconteciam a partir de suas salas e uma vez fechado o negócio, imediatamente o executivo poderia voltar-se a outras ações estratégicas e importantes.
Esforços, recursos, pessoas e tempo poupado! Em outras palavras, dinheiro!
As empresas de aviação não estavam preparadas para isso. E ainda que soubessem antecipadamente que isso aconteceria um dia, talvez não conseguissem reagir, porque independente do segmento em que atuam, as pessoas tem dificuldade de atuar fora do seu paradigma, ou seja, da forma que estão preparadas para como as coisas devem acontecer.
E realmente é difícil imaginar como reagir diante de um cenário como esse, não qual não foi uma nova empresa com uma abordagem inédita ingressando no mercado, mas a conjunção de vários novos produtos / serviços, com finalidades outras que não aquelas para as quais nasceram, mas que acabam por arrebanhar um contingente importante de seus clientes.
O avanço da tecnologia rompendo fronteiras
Há inúmeros exemplos e situações reais que podem ilustrar como a tecnologia ao mesmo tempo que trouxe uma lista infindável de benefícios, rompeu com paradigmas consolidados em todas as áreas.
Mas é quase certo que um passou desapercebido como ameaça a todos os setores da atividade comercial / econômica – o telefone.
Em 1876 quando Alexander Graham Bell, requereu a patente para o telefone, por mais visionário que fosse, provavelmente não vislumbrou o que essa invenção seria capaz de mudar.
É verdade que hoje o telefone não é mais apenas telefone e é justamente isso que faz dele atuar como ponto de inflexão em tantos movimentos de empresas e segmentos.
Afinal, quantos são os inventos que não se alteram ao longo de mais de um século? Não deveria ser o telefone o único a manter-se inalterado.
Mas também é fato que apenas a partir do telefone celular, novas possibilidades foram enxergadas e viabilizadas, conforme novas tecnologias se tornaram disponíveis e acessíveis do ponto de vista comercial.
Os primeiros aparelhos tinham o propósito que se espera de um telefone, ou seja, fazer ligações telefônicas. Mas com o tempo, se tornaram filmadoras, câmeras fotográficas, televisores, armazenamento de arquivos, editor de textos e planilhas e ainda prover ao toque de um dedo, milhares de serviços!
Com isso, a venda de filmadoras não é mais a que poderia ser, a de máquinas fotográficas também não e nem mesmo os notebooks têm mais o mercado de antes.
Até mesmo a venda de comida pronta congelada em certa medida foi afetada. Por que colocar algo congelado no micro-ondas, se eu tenho na ponta dos dedos, uma série imensa de opções em 30 minutos ou menos, por intermédio de um aplicativo?
E se já não bastasse tudo isso, o smartphone ou o telefone moderno, por paradoxal que pareça, veio para romper até mesmo com aquilo para o que o telefone foi criado.
Ainda há muita gente que os usa para ligações telefônicas, mas cada vez mais aplicativos estão dando outras opções de comunicação entre pessoas, deixando algumas operadoras de telefonia de cabelos em pé!
Portanto, o aparelho que a maioria das pessoas têm em seus bolsos ou bolsas, não nasceu e não foi desenvolvido senão para colocar as pessoas em contato a distância, mas tem afetado vários segmentos que nunca poderiam imaginar que o teriam como concorrente indireto.
Certamente a concorrência mudou muito!
Há também situações mais óbvias e previsíveis, como o clássico caso Netflix X Blockbuster.
Mas não é nosso propósito questionar aqueles a quem cabia decidir sobre suas estratégias e rumos, mas apenas lançar um alerta sobre a necessidade de aprender a olhar além e se reinventar e isso, foi algo que a Blockbuster não fez, mesmo tendo sido ela própria um caso de quebra de paradigma.
A lista de segmentos que estão sendo afetados em maior ou menor grau por concorrentes indiretos, é imensa e vai desde o jornal que seu pai costumava comprar na banca de jornal, que também está sucumbindo aos poucos, passando pela indústria papeleira, pelas salas de cinema onde alguns de nós demos nosso primeiro beijo e pelos táxis que antes esperávamos que viessem por uma rua deserta no meio da noite.
As convicções, os modelos e tudo aquilo que você aprendeu a se acostumar, não têm mais lugar em um mundo em que a tecnologia proporciona diariamente novas formas de se fazer as coisas.
Nesse mundo em que novas tecnologias surgem o tempo todo, seu concorrente pode vir de qualquer lado e provavelmente, de onde você menos espera.
Pode-se mesmo ousar dizer, que alguns produtos e serviços modernos, estão assumindo pluralidade de utilização, destinação e significação e que tem no smartphone um dos seus expoentes máximos.
Da mesma forma, conclui-se que a concorrência também assume esta condição plural e porque não dizer, metamórfica.
O que fazer?
A quantidade de variáveis é imensa e por essa razão, não é um trabalho fácil.
Se assim fosse, grandes organizações de todos os segmentos, não sucumbiriam da forma que vem acontecendo.
No entanto, há posturas e ações que podem ser adotadas no sentido de tentar acompanhar os avanços que surgem diariamente e desta forma, não perder um terreno demasiadamente grande para os concorrentes, o que pode ser irrecuperável:
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Manter-se tão atualizado quanto possível. Empresas que param no tempo, não estão suscetíveis apenas aos novos e inesperados concorrentes, mas aos tradicionais também, quando estes incorporam novos modelos e inovam em várias frentes;
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Procurar diversificar sua gama de atuação. Empresas com linhas restritas de produtos / serviços, sofrem de modo mais intenso avanços vigorosos sobre seus produtos / serviços;
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Exercitar a “macro visão” e a visão holística, ou seja, não olhar apenas para seu segmento. Procurar ampliar o que se vê em termos de alternativas e o todo dos negócios, não menosprezando nem mesmo os menores movimentos feitos em sua direção;
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Pesquisar e ouvir os clientes, procurando detectar tendências e necessidades e desejos que ainda não são atendidos pelo seu produto / serviço, nem pela concorrência tradicional ou a nova concorrência;
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Não ter receio de avançar sobre áreas que não são tradicionalmente integrantes dos seus negócios. Da mesma forma que fazem os concorrentes invisíveis, quando desembarcam no segmento em que você atua;
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Desenvolver talentos e delegar. Empresas centralizadoras, restringem-se aos talentos e habilidades dos poucos que concentram o poder e as decisões. Elas não conseguem ir além de onde essa meia dúzia de pessoas é capaz de ir. Se quem dita os rumos, é menos do que meia dúzia, os horizontes são ainda mais próximos. Por outro lado, boa parte das empresas mais prósperas e que têm atuação mais diversificada, investem no capital humano criativo. Elas incentivam e premiam quem tem tais habilidades.
Conclusão
A conceituação de concorrência como foi conhecida ao longo de séculos, caiu por terra. Em termos práticos, produtos e serviços que nasceram para atender determinadas expectativas, estão avançando sobre outras áreas na medida em que oferecem múltiplas funcionalidades e benefícios, que invariavelmente vão sobrepujar produtos e serviços antes consolidados em seus nichos. Demorar a reagir a este movimento de plurissignificação e metamórfico de produtos e serviços, pode muitas vezes significar a extinção dos seus negócios tradicionalmente mantidos.