Cibersegurança acessível para micro e pequenas empresas

Duas crenças perigosas ainda prevalecem nas micro e pequenas empresas: a de que investir em segurança cibernética é caro demais, e a de que, devido ao seu porte, elas não são alvos potenciais dos criminosos digitais. Ambas são infundadas!

No Brasil, as MPEs (Micro e Pequenas Empresas) representam mais de 90% dos negócios ativos, formando um vasto e, conforme veremos, vulnerável ecossistema. Dados de 2025 indicam que aproximadamente 73% das pequenas e médias empresas no país sofreram algum tipo de incidente cibernético, indicando crescimento em relação aos anos anteriores.

Isso acontece porque os criminosos sabem o que muitos gestores ainda ignoram: pequenos negócios geralmente têm menos recursos técnicos, não têm orçamento dedicado e falta conhecimento especializado em proteção digital, tornando-os alvos mais fáceis e lucrativos do que se imagina.

A boa notícia é que mudar esse panorama, não necessariamente é caro ou complicado. Com medidas práticas, conscientização e ferramentas acessíveis (muitas delas gratuitas), é possível reduzir drasticamente os riscos e garantir a continuidade e a reputação do seu negócio.

Vem com a gente para descobrir como...

Entendendo os principais erros na segurança digital

Conhecer as falhas mais comuns é o primeiro e mais crucial passo para construir uma defesa eficaz. As ameaças exploram brechas que vão muito além da tecnologia e estão intimamente ligadas a processos, comportamentos e decisões.

Abaixo, listamos as principais portas que são utilizadas para as ameaças entrarem em uma empresa:

  • Desconhecimento e desinformação – a falta de informações claras e atualizadas sobre as ameaças digitais cria um ambiente propício para ataques. Muitos gestores e colaboradores não conhecem sequer os mecanismos básicos usados pelos criminosos digitais, tornando essas empresas alvos fáceis;

  • Pirataria de software – o uso de programas não licenciados ou "crackeados" (software pirata) é um risco real e muitas vezes subestimado. Além das questões legais, esses programas são veículos frequentes para infecção por malwares (softwares maliciosos), pois seus instaladores são modificados para incluir códigos nocivos. Eles também não recebem atualizações de segurança críticas, criando brechas permanentes;

  • Desatualização de sistemas – por conta da baixa disponibilidade de recursos, pelo desconhecimento e pelo mito infundado que não são visados, é comum encontrar nos pequenos negócios, diversos sistemas desatualizados, alguns porque já foram descontinuados, como é o caso do Windows 10, que dois meses após o fim do suporte, ainda tem uma participação superior a 40% e que não receberá mais atualizações críticas;

  • Comportamentos de risco – o fator humano é, sabidamente, um elo frágil na cadeia de segurança. Comportamentos negligentes ou baseados em crenças equivocadas e falta de informação, são a porta de entrada para muitos dos incidentes, como por exemplo:

    • Clicar em links ou baixar anexos de e-mails quaisquer;

    • Usar senhas fracas e adotá-las em vários serviços e sistemas;

    • Conectar dispositivos pessoais não verificados à rede da empresa;

    • Acessar sistemas corporativos por meio de redes Wi-Fi públicas inseguras.

  • Ausência de Política de Segurança em TI – acreditar que uma política formal de segurança em TI é "coisa de grande empresa", é um erro comum. Mesmo que simples, uma política desse tipo define comportamentos, procedimentos, responsabilidades, regras e limites. Sem ela, a segurança fica à mercê do acaso e do bom senso individual, que nem sempre existe;

  • Falta de ferramentas básicas de proteção – muitas empresas operam com a proteção mínima, ou pior, nenhuma, por inacreditável que pareça. Um conjunto básico de ferramentas é essencial e não precisa ser custoso. A ausência de um antivírus / antimalware atualizado, de um firewall configurado (mesmo o do roteador) e o uso de VPNs para acessos remotos, deixa a empresa vulnerável a a ataques e invasões;

  • Gestão frágil de credenciais e acessos – uso de senhas como "123456" ou o nome da empresa ainda são surpreendentemente comuns. Pior ainda é a falta de um protocolo de Autenticação em Dois Fatores (2FA ou MFA), que adiciona uma camada de segurança essencial. A falta de controle de acessos – como ex-funcionários que mantêm credenciais ativas – ou permissões excessivas a colaboradores, constituem falhas críticas.

Quais as principais ameaças digitais e consequências?

Conforme mencionamos, muitos negócios estão expostas a um universo de riscos cibernéticos. Conhecer essas ameaças representa outro passo decisivo na direção da conscientização e do preparo da equipe para reconhecê-las e evitá-las.

Abaixo, detalhamos as ameaças mais comuns as quais as empresas estão expostas:

  • Phishing e Engenharia Social – o phishing e a engenharia social, frequentemente combinados, são a ameaça número um para qualquer negócio. Criminosos se passam por instituições confiáveis (bancos, fornecedores, órgãos governamentais) por meio de e-mails, mensagens no WhatsApp ou sites falsos / fraudulentos. O objetivo é induzir o usuário a clicar em links maliciosos, baixar anexos infectados ou divulgar dados sensíveis como logins e senhas. Uma variante sofisticada, o spear phishing, direciona ataques específicos a funcionários-chave, usando informações reais da empresa coletadas previamente;

  • Ransomware – o ransomware é uma praga digital com crescimento expressivo e com maior potencial de prejuízo. É um tipo de malware que pode criptografar todos os arquivos e sistemas da empresa, tornando-os inacessíveis. Os criminosos então exigem o pagamento de um "resgate", geralmente em criptomoedas, para liberar os dados. Para MPEs, o impacto vai além do valor exigido, como a perda de clientes, processos interrompidos, danos à reputação e, em muitos casos, levando ao fechamento do negócio;

  • Roubo e vazamento de dados – empresas de todos os portes armazenam dados valiosos, como cadastros completos dos clientes (nome completo, CPF, endereço, e-mail, etc), informações financeiras, propriedade intelectual e dados de cartões de crédito. Esses ativos são visados por terem valor de venda na dark web ou são usados em fraudes diretas. Um vazamento pode acarretar multas pesadas pela LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), processos judiciais e danos irreparáveis à imagem da empresa no mercado;

  • Ataques a dispositivos móveis (BYOD) – com o crescimento do trabalho híbrido e do home office, muitos colaboradores acessam e-mails e sistemas da empresa por smartphones e tablets pessoais (prática conhecida como BYOD – Bring Your Own Device). Esses dispositivos, muitas vezes não têm proteção adequada, ou pelo tipo de uso, são alvos fáceis. Ameaças incluem apps maliciosos disfarçados de aplicativos legítimos, redes Wi-Fi inseguras interceptadas e o furto físico do aparelho com dados corporativos;

  • E-mail Spoofing e falsificação de domínio – o spoofing uma ameaça diretamente relacionada ao phishing, mas com um nível técnico mais alto. Nesse caso, os criminosos falsificam o endereço de e-mail do remetente, fazendo com que uma mensagem maliciosa pareça vir de um parceiro, cliente ou até mesmo de outro departamento da própria empresa. Essa técnica é particularmente eficaz para fraudes financeiras, onde se envia uma falsa "atualização de dados bancários" ou "boleto vencido", ou qualquer golpe baseado em confiança;

  • Malwares e Cavalos de Troia (Trojans) – diferentemente do ransomware que "sequestra" dados, outros malwares podem roubar informações silenciosamente (spyware), transformar o computador em um "zumbi" para ataques a terceiros (botnets para ataques DDoS), ou abrir portas ou vulnerabilidades (backdoors) para acesso remoto pelos criminosos. Muitas vezes entram via anexos de e-mail ou downloads de conteúdos diversos;

  • Ataques a contas em redes sociais e marketplaces – as empresas que usam Instagram, Facebook, LinkedIn ou marketplaces como Mercado Livre para vendas e ações de Marketing, o sequestro de contas tem sido um problema crescente. Criminosos buscam acessar essas contas (por senhas fracas ou phishing) para aplicar golpes em clientes, destruir a reputação da marca ou até chantagear a empresa pelo resgate do perfil.

Esses ataques raramente são ações isoladas e pontuais. Um simples clique em uma mensagem de phishing pode instalar um ransomware. Um malware pode ficar meses roubando dados antes de ser descoberto. O resultado final é quase sempre o mesmo: perdas financeiras, paralisação operacional, piora da reputação da marca e, em casos extremos, o fechamento definitivo do negócio.

Medidas práticas e acessíveis para proteger seu negócio

Agora que entendemos os erros e ameaças, chegamos à parte mais importante – a ação.

Mas como antecipamos, a maioria das medidas eficazes de segurança não exige grandes investimentos, mas sim organização, disciplina e até uma mudança de cultura.

Implemente essas etapas gradualmente, começando pelas mais críticas.

1. Capacitação Contínua da Equipe (Seu Primeiro Firewall Humano)

Treinar pessoas não é custo, é investimento em proteção.

Inicie com o básico, com uma reunião mensal de 15-30 minutos para discutir ameaças atuais e apresentar materiais “educativos”, como reportagens que foram veiculadas na mídia especializada, de preferência casos que ocorreram com empresas nacionais, como falsos boletos, e-mails do Serasa ou do Banco Central.

Esse tipo de ação mostra o quão convincente alguns ataques podem ser e que há ameaças reais diariamente.

Lembre-se que há farto material acessível na Web sobre segurança cibernética, como em nosso blog, o qual pode ser usado para treinamentos dirigidos, discussões e conscientização.

Crie um canal de alerta, como um grupo no WhatsApp, uma conta de e-mail interna, para que qualquer colaborador possa reportar imediatamente algo suspeitoa.

2. Fortalecimento das credenciais de acesso

Sistemas de autenticação simples e senhas fracas, são como portas abertas que facilitam a ação dos crackers (hackers do mal).

  • Abandone as senhas impossíveis – ensine um método de como criar uma senha segura e fácil de memorizar, ou implemente o conceito de "frase-senha". Exemplo: "Como2PaesNoCafeDaManha!" é longa, tem maiúsculas e minúsculas, números e caracteres especiais, além de ser fácil de lembrar;

  • Implemente um gerenciador de senhas – para senhas que não podem ser frases (como de sistemas bancários) ou caracteres especiais, use um gerenciador de senhas. Aplicativos como o Bitwarden têm versões gratuitas que funcionam bem. Ensine a equipe a usar, sendo que uma senha mestra forte guarda todas as outras;

  • Autenticação em Dois Fatores ou Multi-Fator (2FA / MFA) – essa não deve ser uma opção. Ative em todos os serviços que oferecerem essa alternativa, como no e-mail corporativo, redes sociais, bancos, WhatsApp Business. Use um app autenticador (ex: Google Authenticator ou Microsoft Authenticator) em vez de SMS quando possível;

  • Domínio próprio para e-mail – utilize seu próprio domínio para o serviço de e-mail e faça uso de protocolos como SPF, DKIM e DMARC, devidamente configurados, que reduzem as chances de spoofing e falsificação de e-mails.

3. A “Regra de Ouro” do Backup – 3-2-1

Quando tudo falhar ou quando um imprevisto acontecer e, pode acontecer, o seu seguro contra ransomwares ou outros tipos de “desastres”, é uma boa rotina de backup.

Um modelo bastante confiável, é a conhecida estratégia 3-2-1 e que consiste de:

  • 3 cópias totais dos seus dados;

  • Em 2 mídias diferentes (ex: HD externo + nuvem);

  • Sendo que 1 das cópias deve ser armazenada obrigatoriamente fora da empresa (na nuvem ou em outro local físico).

Automatize o processo para não depender de ações manuais e as consequências disso. Use a função de backup automático do Windows/Mac ou softwares gratuitos como o Veeam Agent.

Teste a restauração dos dados pelo menos uma vez por trimestre.

4. Higiene digital básica

O processo de "higiene digital" evita boa parte das infecções e respectivas dores de cabeça.

  • Atualizações – essa é uma prioridade. Configure todos os sistemas (Windows, smartphones, roteador) para atualizar automaticamente, com ênfase no Patch Tuesday. Atrasos de alguns dias podem ser fatais, especialmente nos casos de bugs ou vulnerabilidades críticas;

  • Antivírus / Antimalware – conforme já dito, é essencial. O Windows Defender (já incluído no Windows 10/11) é robusto e gratuito. Para uma camada extra, considere o PSafe ou Avast, que têm versões gratuitas ou planos muito acessíveis para empresas. Qualquer que for o caso, é altamente recomendável uma varredura completa semanal;

  • Firewall – mantenha ativados o firewall do Windows e do roteador. São barreiras adicionais essenciais;

  • Navegador – os navegadores se tornaram programas de uso frequente e são um meio de acesso para a Web, razão pela qual demandam cuidados. Atualize-os regularmente e mantenha apenas as extensões / Add-Ons essenciais.

5. Proteção de acesso e redes

Controle quem pode e como são acessados os seus sistemas.

  • Wi-Fi segregado – se possível, crie duas redes Wi-Fi no seu roteador, sendo uma principal apenas para equipe e dispositivos da empresa, e uma "para visitantes" isolada da rede interna;

  • Segurança do roteador – há uma série de procedimentos e configurações que devem ser implementados que fortalecem a rede sem fio. Para mais detalhes, veja o post “Roteador Wi-Fi: 13 dicas importantes de segurança”;

  • Rede cabeada – quando possível, dê preferência à rede de computadores cabeada, que mesmo sendo menos prática, é mais segura que as redes sem fio;

  • VPN para acesso remoto – se alguém precisa acessar arquivos internos ou sistemas da empresa remotamente, considere usar uma VPN. Muitos roteadores modernos já têm essa função, ou use soluções como OpenVPN (gratuita para pequeno número de usuários);

  • Controle de acesso físico – bloqueie com senha computadores quando estiverem ociosos e só acesse pendrives externos, após uma checagem completa quanto a malwares.

6. Política de Segurança da Informação (PSI)

Essa medida não deve ser vista como “burocracia desnecessária” ou algo restrito aos grandes. Sobretudo, deve ser prática, concisa e muito clara.

Comece criando um documento de 1-2 páginas com as regras básicas, como por exemplo:

  • Quais sistemas cada cargo pode acessar;

  • Como criar e armazenar senhas;

  • O que fazer ao receber um e-mail suspeito;

  • Regras para uso de dispositivos pessoais (BYOD);

  • Regras e condições para instalação de software ou apps em dispositivos de trabalho;

  • Procedimento em caso de perda ou roubo de dispositivo.

Compartilhe com todos e revise anualmente.

Conclusão

A cibersegurança não é um luxo, mas uma necessidade básica para qualquer empresa. Com medidas simples, acessíveis e adaptadas à realidade atual, micro e pequenas empresas podem reduzir drasticamente os riscos de ataques digitais. Mais do que proteger dados, investir em segurança significa garantir a continuidade das operações, preservar a reputação da marca e conquistar a confiança dos clientes.

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